quarta-feira, 28 de maio de 2014

Casos complicados

Foi um dia em que eu cheguei um pouco mais cedo na faculdade, o motivo foi o meu amigo Roger, ele é aquele meu amigo cujo eu voltei a ter contato depois do meu acidente, ele também estuda na federal, faz Direito de manhã e está no 2º período. Desde o acidente que a gente tem se falado bastante, até já chegamos a sair de vez em quando. Já fazia um tempo que a gente não se falava direito, e nesse dia a gente marcou de almoçar junto para manter a conversa em dia, era uma terça-feira, um dos dias que ele largava mais cedo da aula.
Cheguei por lá eram umas 11:15, minha aula começaria de 13:00 e Roger largava de 11:30, primeiramente mandei uma mensagem pro celular dele avisando que eu já tinha chegado e me sentei pra espera-lo. Fiquei ouvindo música no meu Ipod pra ver se assim o tempo passava mais rápido, até que exatos 15 minutos depois, Roger sai da sala, eu estava num banco na frente do prédio em que ele estudava, não demorou muito para ele me achar.
Já formos conversando até o self-service que tinha lá por perto, ficamos falando primeiramente sobre o quanto a faculdade está tomando o nosso tempo, estávamos no fim do semestre e as provas finais estavam perto, e o que não faltava era assunto pra gente estudar, ou então trabalho pra fazer. Chegando ao restaurante, fizemos nossos pratos e nos sentamos para comer, continuamos a conversar sobre coisas aleatórias.
Até que Roger falou:
- Ei Brian!
- Late! - falei
- Acho que nem te falei ainda.
- Do que?
- Tipo, lembra daquela menina que eu te falei daquela vez, a Justine?
- Justine? - perguntei
- Justine... - falou ele - a menina que...
Ele parou de falar e olhou pro lados.
- A menina que...? - perguntei
Ele respirou fundo e sussurrou.
- A menina que eu to afim.
- Ah tá... - falei - tu não tinha me dito o nome dela antes.
- Ah tá, foi mal, e também que garantir que não tinha ninguém la da sala por perto pra ouvir, porque você sabe né? Se alguém ouvisse era bem capaz de colocarem no SPOTTED da universidade no facebook.
- Ah, sei muito bem, a galera lá não perde uma chance, mas enfim, continue!
- Bom, é que não sei se você sabe, mas minhas provas acabam na próxima sexta, ai a galera na sala ta marcando pra gente comemorar o fim das provas no sábado a tarde, e ela disse que ia.
- Bem, e deixa eu adivinhar, você vai tentar algo com ela lá, certo?
Roger pensou um pouco, e disse:
- Mais ou menos isso!
- O que vai ser essa "comemoração" inicialmente? - perguntei - Ida pra um bar, pra uma balada, churrasco na casa de alguém, o que?
- Churrasco! - respondeu ele
- Bom, mas então, como tu pretende "chegar" nela?
- Eu não consegui pensar bem nisso, ainda.
- Nenhum plano, ainda?
- Bom, essa é a parte que você pode me ajudar.
- Cara, não sei se você sabe, mas minha experiência nesse tipo de coisa não é lá das melhores não.
- Mas eu garanto, você tem mais experiência do que eu.
Ri e disse:
- Tá bom então, vou tentar pensar em algo aqui, mas vale ressaltar que eu no seu lugar estaria na mesma situação, ou então até pior!
Pensei um pouco, e então perguntei:
- Primeiramente, o quão próximo dela você é?
- Bom... - disse ele - acho que podemos dizer que a gente conversa casualmente, sabe?
- "Acho que podemos dizer", essa foi ótima. - falei rindo - defina "casualmente".
- Tipo... - pensou e depois disso - todos os dias?
Comecei a rir e disse:
- Sei não, hein?
- Sim, mas chegue no seu ponto! - falou ele
- Bom, se você já fala com ela constantemente isso já torna as coisas um pouquinho mais fáceis.
- Então, qual é a sua dica?
Pensei por alguns segundos, Roger ficou aguardando atentamente minha resposta, então eu disse:
- Toma coragem e fala com ela!
- Mas... - ia dizendo ele antes de eu interrompe-lo
- Cara, como eu disse, minha experiência nesse tipo de coisa é uma bosta, eu no seu lugar ou faria isso ou não faria absolutamente nada. - falei rindo
- Alguma vez deu certo, no seu caso? - perguntou Roger
- Se eu me lembro bem, só no meu primeiro namoro, o do segundo você sabe bem como foi a história.
- É, lembro bem. - disse ele rindo
- Mas se quiser eu posso te contar uma história de quando deu errado.
- Conte-me!
- Tipo, foi quando eu fui o príncipe do aniversário de 15 anos da minha prima...
- Pera aí... - interrompeu Roger- príncipe?
- Cala a boca e deixa eu contar... - falei enquanto Roger ria da minha cara - enfim, e tinha uma das madrinhas que eu tava de olho, ai pronto, sempre que tinha ensaio da valsa eu conversava com ela e tals, ai beleza, tudo parecia dar certo, até que chegou o dia da festa.
Roger ouvia atentamente
- Cheguei no local ela tava lá sentada sozinha, beleza, já podia começar a por meu plano em prática...
- Que era...? - falou Roger me interrompendo de novo
- Cala a boca e deixa eu contar! - falei - enfim, me sentei com ela, a gente começou a conversar de boas, ai beleza, tudo parecia dar certo.
- Por que só "parecia"?
- Porque ai chegou umas amigas dela na festa, e depois disso, só fiz sobrar, elas falavam lá e eu ficava com cara de tacho olhando completamente perdido.
- Ah, entendo!
- Até que chegou a hora da valsa, já era uma coisa porque tinha uma parte que eu dançava com ela, depois foi as homenagens para a aniversariante, aquele blá blá blá todinho, fotos e coisa e tal, até que terminou isso tudo e todos foram para a pista de dança.
- E aí?
- E aí que tudo começou a dar errado MESMO! - falei - inicialmente fiquei lá sobrando e ela e as amigas foram dançar, ela já tinha tomado uns coquetéis e chegou uma hora que ela estava praticamente fazendo um pole dance numa pilastra que tinha lá.
- Mas que... - ia falando Roger
- Calma que o pior ta por vir... - falei - até que eu tomei coragem e chamei ela pra dançar.
- E então?
- E então ela disse "não, obrigada, to muito melhor aqui dançando com o poste".
Instaurou-se um silêncio profundo na mesa depois de eu ter dito isso, Roger ficou completamente intrigado com o que eu disse.
- Sério, velho? - falou ele
- Pois é... - disse eu - foi triste.
- E depois, o que tu fez?
- Me sentei e só fiz comer pelo resto da festa, não tem auto-estima que sobreviva a uma dessas.
- Caramba!
- Por isso eu te digo uma coisa, se nessa festa a coisa não der certo, pense pelo lado bom, pior que isso com certeza não vai ser!
Roger começou a rir, e eu também, afinal, era rir pra não chorar.
Pouco depois a gente terminou nossos almoços, pagamos a conta e Roger foi pra casa e eu fui para a minha aula.
Passaram-se quase duas semanas, era domingo à tarde e eu estava em casa no meu computador fazendo coisas aleatórias, falando com o pessoal nas redes sociais, enfim, até que Roger me chamou no Skype, atendi, e nos cumprimentamos "oi, tudo bem?" e coisas do tipo. Então eu resolvi perguntar:
- Aí, fosse no tal churrasco?
- Ah cara, nem me fale nisso. - respondeu ele
- Eita, já vi que as coisas não foram boas por lá.
- Não foram, MESMO!
- Conte-me o que aconteceu.
- Bom... - começou ele - cheguei por lá e a vi inicialmente, ela já estava falando com o pessoal, cumprimentei ela e os outros e me sentei perto dela, hora ou outra a gente trocava umas palavras, mas era só isso, porque boa parte do tempo eu não tinha coragem de falar mais nada.
Eu ouvia atentamente.
- Ai começou a bebedeira e outros também começaram a dançar, foi então que eu resolvi tomar uns goles pra ver se eu me soltava mais.
- Achei que você não fosse de beber. - falei
- Só de vez em nunca mesmo, e eu precisava me livrar da timidez. - disse ele
- Enfim, prossiga!
- Até que se passou um tempo e aí eu resolvi finalmente "ir pra cima" e falei com ela, disse que eu era afim dela e disse também que queria ficar com ela.
- E ela?
- Disse que não e ainda falou que eu só estava falando aquilo porque eu tava bêbado.
- Eita... - falei - tua auto-estima deve tá uma bosta agora, né?
- Com certeza! - falou ele
- Falasse com ela depois disso?
- Não, e sinceramente, nem coragem eu tenho pra isso.
- Te entendo!
Pensei um pouco e disse:
- É velho, o jeito agora é não se abalar, ficar de cabeça erguida, e se ela realmente não quiser falar com você depois disso, não force porque senão é pior.
- É né? - disse ele bem desanimado
- Fique tranquilo, pode não ter sido essa, mas outras virão, vá por mim.
- Assim espero!
Depois disso mudamos de assunto, falamos de algumas coisas aleatórias e depois de 1 hora de conversar Roger desligou a chamada. Assim que ele desligou, peguei meu violão e comecei a tocar umas músicas românticas que eu conhecia, e então pensei: "Pobre desiludido, não sabe nem do pior".


Brian