domingo, 6 de setembro de 2015

Uma interessante experiência

Era mais um fim de semana em que eu estava numa grande expectativa para um show que eu ia, mais um de muitos que normalmente vou, sendo que dessa vez, finalmente não iria sozinho como na maioria das vezes vou, Caio iria comigo. E além disso, dessa vez haveria uma outra coisa "peculiar", para vocês entenderem melhor essa parte explicarei tudo detalhadamente desde o princípio.
Já faz um tempo que meu pai finalmente conseguiu uma casa própria, isso depois de morar um bom tempo de favor na casa da minha avó após a separação, enfim, e desde então eu tenho passado alguns fins de semana com ele. E claro, já estamos no ponto em que ele me entregou uma cópia da chave da casa e disse que sempre que eu precisasse poderia ir lá (claro, dando um aviso antes de que estava indo).
Agora finalmente chegando no ponto em que eu quero, naquele fim de semana meu pai teve que viajar a trabalho e o show em que eu ia era lá pelas bandas da casa dele, ou seja, eu iria dormir na casa dele sozinho, já que pra mim seria muito mais vantagem voltar andando do local do show para lá do que pegar um táxi para a minha casa, e mais econômico também, certamente.
Enfim, acho que já enrolei vocês demais e vamos para o que interessa.
Para mim seria uma experiência até que interessante dormir sozinho na casa do meu pai, principalmente porque eu teria que me virar por exemplo para fazer meu próprio jantar e também para deixar a casa limpa (a segunda parte principalmente, caso eu não quisesse problemas com o meu pai), e eu sinceramente gostava dessa ideia, mesmo que apenas por uma noite e uma manhã. O show estava marcado para começar as dez da noite, mas as quatro e pouca da tarde eu cheguei na casa e fui me acomodando, coloquei minhas coisas no quarto, armei e forrei a cama, pus o que tinha que colocar no banheiro, e depois de tudo isso arrumado, peguei um pacote de biscoito na despensa e fiquei no meu laptop.
Fiquei fazendo basicamente as mesmas coisas que eu faço quando estou no meu quarto em casa, navegando pela internet, ouvindo música, assistindo séries, e por ai vai. E assim fiquei até dar a hora de ir, enquanto isso aguardava notícias de Caio sobre que horas ele iria para lá, já que eu estava estupidamente perto do local do show, era só ele me dizer a hora que estava saindo que já iria andando para lá.
Quando deu próximo das sete da noite, fui preparar meu jantar, que seria apenas um sanduíche misto, nada muito sofisticado. Fiz meu misto quente e o comi, tinha passado um pouco do ponto, mas nada que prejudicasse muito, ainda assim o gosto estava bom.
Ainda esperei umas duas horas e meia até Caio me mandar uma mensagem dizendo que já estava indo pro local, era o tempo que eu tive para eu me arrumar por completo, e enquanto ele não me dava a confirmação fiquei assistindo qualquer merda na televisão.
Após ele mandar a mensagem, segui o meu caminho até o local, não seria nem dez minutos de caminhada, era realmente estupidamente perto. Chegando lá os portões já tinham sido abertos, mas eu já sabia que ainda iria demorar um pouquinho para o show começar (sempre demora), liguei para Caio quando cheguei, e ele disse que estava no ônibus não muito longe dali, então me sentei próximo ao portão e fiquei o aguardando.
Depois de quase meia hora de espera, ele finalmente tinha chegado, quando o avistei, levantei meu braço para que ele me visse também, de longe, percebia-se que Caio não parecia muito "bem", aparentava estar meio desorientado, ou coisa assim, não sabia explicar exatamente, só sei que ele não estava no seu estado normal.
Até que a gente finalmente se aproximou, quando nos cumprimentamos, foi que deu pra perceber que realmente Caio estava um pouco "desorientado", se é que você entende o que eu quero dizer.
- Ei, Caio...
Ele pareceu um pouco confuso na hora que respondeu.
- Hã?... Ah... Fala... - disse ele
- Você ta bem? - perguntei enquanto entrávamos.
- Cl-Claro... errrr... Por que eu não estaria?
- Porque você parece... sei lá... meio tonto... entende?
- Errrr... pareço? - questionou ele
- Sim! - respondi
Ele ficou alguns segundos calado, provavelmente processando aquilo tudo, até que finalmente respondeu:
- Ah, sim... é que antes de vim pra cá eu tava na casa de um amigo tomando uma, sabe?
"Puta que pariu, serio mesmo?" pensei na hora
- O quanto você tomou? - perguntei
- Rapaz... - eu não gostava daquele tom - digamos que eu e outro doido lá acabamos com meia garrafa de tequila, mais ou menos.
"Vish, fodeu" pensei.
O cara já chegou meio bicado, e conhecendo a criatura bem eu sabia que ele ainda iria beber mais alguma coisa lá dentro, ou seja, provavelmente em algum momento eu teria que ser babá de bêbado.
Quando finalmente estávamos na parte de dentro, os "roadies" ainda estavam arrumando os equipamentos para a banda de abertura (que eu particularmente nem estava muito afim de ver), enquanto isso, eu e Caio nos sentamos e começamos a conversar sobre como tava as nossas vidas, e assim ficamos mesmo quando a banda de abertura entrou no palco, não estávamos muito interessado na mesma, isso sem falar que era chata pra cacete.
E como eu já previa, ao longo que a conversa andava, Caio resolveu comprar alguma coisa para beber, na hora eu esperava que fosse apenas uma lata de cerveja, mas ele resolveu pagar caro por uma dose de whisky.
"Isso vai dar merda!" pensei na hora.
E pra piorar, aquela não foi a única dose deles, resumindo tudo, ele simplesmente torrou a grana toda com whisky e vodka, e aos poucos o efeito do etílico começou a afeta-lo, tanto que ele já estava no ponto que não falava mais nada com nada, e cá entre nós, aguentar Caio bêbado é uma merda.
Depois de quase duas horas, finalmente a banda principal entrava no palco, e claro, nessa hora deu para ignorar o fato de que Caio estava bêbado, aliás, ele mesmo tinha parado de encher o saco pra curtir, assim como o resto das pessoas que estavam presentes.
Resumindo tudo, e assim se passou uma hora e meia de show, onde mal deu pra perceber o estado alterado em que Caio se encontrava, felizmente, durante isso tudo ocorreu bem. Foi tudo muito bom, o show foi bem proveitoso e coisa e tal, mas um "pequeno" problema estava por vir.
Minha volta para casa já estava definida, iria voltar andando para a casa do meu pai, que como eu já disse anteriormente, era estupidamente perto, mas o problema seria a volta para casa de Caio, diferente de mim, ele morava muito longe dali, e eu sabia que ele estava sem grana pro táxi, e deixar ele pegar um ônibus naquela situação deplorável não era uma boa ideia, ainda mais porque era quase duas da manhã, horário que demora para passar um.
- Ei Caio! - falei, a gente já estando do lado de fora.
- O-Oi. - falou ele
- Tu vai voltar como?
- E-Eu? Errrrr... vou voltar de ônibus, o-o-oras...
- Certeza?
- P-Por que não?
- Olha como você ta.
- E-E-Eu to bem, é tr-tranquilo.
- Não é melhor você pegar um táxi?
- E quem disse que eu to com grana?
Foi quando de repente Caio parou para pensar, e transpareceu um ar de preocupação.
- P-Pera aí! - falou ele checando os bolsos
Foi assim que ele percebeu que não tinha dinheiro o suficiente nem para pagar a passagem de ônibus.
- Fodeu, e a-agora? - disse ele
Eu não acreditava no que eu iria sugerir, afinal, não tinha autorização do meu pai para isso, mas era melhor do que deixar o meu amigo na mão.
- Cara, vamos fazer o seguinte, estou indo andando agora para a casa do meu pai, tu vem comigo, dorme lá e amanhã de manhã tu volta pra casa.
- Não vai dar estresse com teu velho não? - questionou ele
- Ele ta viajando, e qualquer coisa eu me explico com ele depois, relaxa.
Caio ficou pensando um pouquinho, mas depois disse:
- E-Está bem, então...
E assim ele me acompanhou até a minha casa, tive que ajuda-lo na caminhado, certamente ele estava um pouco desequilibrado, eu estava quase tendo que carrega-lo pelo ombro, e a parte mais chata foi ter que aguentar as merdas que ele falava durante todo o caminho, mas o que era normal.
Chegando em casa, a primeira coisa que eu fiz foi acomodar Caio na minha cama (eu iria dormir na cama do meu pai), isso depois de molhar um pouco a cabeça dele embaixo do chuveiro e o dar um copo d'água, claro. Antes dele apagar por completo, deixei um balde do lado da cama para se caso ele quisesse vomitar (e o ameacei caso ele ousasse vomitar na cama rs).
Após ele dormir, eu antes de tudo mandei uma mensagem para o meu pai avisando desse "imprevisto" e também para a família de Caio, para que ninguém ficasse preocupado com ele. Feito isso, tomei um banho rápido e gelado e fui dormir.
Na manhã seguinte, acordei umas nove e pouca, depois de enrolar um pouco na cama, me levantei e fui ver a situação de Caio, ele ainda se encostrava desmaiado (e felizmente, nenhum sinal de vômito nem no balde e nem em canto nenhum), então depois de checar isso fui tomar um banho e fui preparar o que comer tanto para mim quanto para ele.
Não fazia ideia do que Caio normalmente comia no café da manhã (isso sem falar que se ele acordasse apenas mais tarde já seria horário de almoço), então fritei alguns ovos e preparei um sanduíche para ele, e enquanto isso preparava um para mim também. Foi quando eu comecei a pensar nessa situação toda, tipo, sei lá, aquilo meio que ainda soava um pouco estranho para mim, não sei se vocês me entendem, mas é que apenas me imaginava enfrentando esse tipo de situação daqui há alguns anos, quando realmente tivesse minha casa própria, mas por um lado também era interessante, tipo, é meio que uma experiência nova de vida, enfim.
Pouco depois da comida estar pronta, Caio tinha acordado e chegou na cozinha.
- Acordou com o cheiro da comida, foi? - falei rindo
- Possivelmente... - falou ele - que ressaca, velho, na moral.
- Eu falei pra pegar leve.
- Bote fé!
Depois de alguns segundos calado, Caio perguntou:
- Que horas são?
- Dez da manhã.
Ele não falou nada, apenas pegou um copo e bebeu um pouco de água.
- Com fome? - perguntei
- Ah, sim, sim... - falou ele pegando o sanduíche que o ofereci - ei cara, tu por acaso avisou aos meus pais que eu to aqui?
- Sim, sim...
- Ah, beleza, valeu. - disse ele dando uma grande mordida no sanduíche.
Enquanto comíamos, eu o perguntei o que ele lembrava da noite anterior, ele disse que algumas coisas lembrava vagamente, outras nem tanto, mas lembrava do caminho até a casa do meu pai e de boa parte do show. E depois da gente conversar algumas coisas sobre o show e terminar de comer, Caio disse:
- Valeu mesmo cara, por deixar eu passar a noite aqui.
- Nada, cara, nunca que deixaria um amigo na mão. - falei
- Se eu puder te retribuir de alguma forma, é só falar.
Foi então que eu pensei, e disse:
- Sim, há uma forma...
- Qual? - perguntou ele
- Você pode me ajudar a arrumar a casa antes de irmos.
- Ah.. Claro, claro. - disse ele
Ele tomou mais um copo d'água, e depois falou:
- Se importa se eu usar o seu chuveiro?
- Claro que não, fique a vontade... - falei - vou te arrumar uma toalha.
- Beleza... - disse ele - e ei, uma última coisa.
- O que?
Caio pareceu meio sem graça de pedir isso, mas assim fez:
- Se não for pedir demais da minha parte, tu pode me emprestar o dinheiro da passagem? Como bem sabe, torrei tudo que tinha ontem.
- Sim, claro... - falei
- Beleza! - respondeu ele indo para o banheiro.
Quando Caio terminou de tomar banho, assim como combinado, ele me ajudou a deixar a casa arrumada, como se ninguém tivesse a utilizado naquele tempo em que estivemos lá (enquanto isso, para não ficasse chato, deixei uma músicas que a gente curte tocando no computador).
Terminada a arrumação, peguei minha coisas e fui com Caio para a parada de ônibus, onde de lá cada um pegaria seu rumo, ainda se lembrando na louca noite que tivemos.

Brian