terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Mais uma daquelas conversas com a minha consciência

Aquele era mais um daqueles dias estressante em que eu simplesmente não devia ter levantado da cama, mais uma vez tive que aguentar calado as frescuras da minha família em casa, o que aconteceu exatamente eu prefiro não comentar pra não acabar passando mais raiva, mas eu posso dizer que sempre que essas coisas acontecem eu acabo com coisas entaladas na gargantas, boa parte delas são verdades que eu queria muito jogar na cara da pessoa, mas nunca faço. Ai você me pergunta o porquê, simplesmente porque eu sempre acabo dando uma de "bonzinho" e deixo passar pra não criar mais confusão, o que me faz muito mal, principalmente porque nos momentos em que estou sozinho eu sempre fico remoendo aquilo tudo, e também penso em coisas que eu poderia ter dito, e acabo sentindo mais raiva ainda.
E pior ainda, como isso é uma coisa que eu faço desde que me entendo por gente, nessas horas eu começo a lembrar de coisas que me fizeram passar raiva no passado e que eu também deixei passar, e pior de tudo, boa parte dessas coisas aconteceram a anos atrás, mas ainda assim eu fico relembrando delas e sentindo a mesma raiva que eu senti na época, outra consequência disso é quando eu vou desabafar alguma dessas coisas com alguém, o sentimento de raiva sempre me sobe a cabeça e sempre acabo contando o acontecimento gritando de raiva, meus amigos sempre comentam isso quando ocorre.
Bom, era uma quarta-feira, era quase dez da noite e todos aqui em casa tinham ido dormir, para o meu alívio, finalmente eu teria um momento de paz, mas ainda assim aquilo tudo estava entalado na minha garganta, eu simplesmente não parava de pensar naquelas merdas todas, e certamente, eu começava a lembrar das outras coisas no passado que me fizeram passar raiva (em alguns casos, coisas que aconteceram a muitos anos atrás).
Até que depois de uma hora mais ou menos eu fui me deitar um pouco, pra ver se assim eu conseguia esfriar um pouco a cabeça, então depois de ficar uns vinte minutos rolando de um canto pro outro na cama, o sono começou a vir, e aos poucos eu acabei dormindo.
E quando me dei conta, eu abri meus olhos novamente, ai vi que tudo ainda estava ligado no meu quarto, então me levantei ainda sonolento para desligar tudo, sendo que antes de tudo eu iria olhar no meu celular a hora, quando o peguei eu estranhei uma coisa. Havia um vídeo passando nele, sendo que eu não estava fazendo nada no celular antes de pegar no sono, foi então que eu olhei melhor e vi que era um vídeo de um daqueles momentos que eu fico lembrando e tendo raiva.
Até que de repente, eu começo a olhar ao meu redor e vejo as paredes do meu quarto se desmontando, aliás, eu vejo meu quarto inteiro se desfazendo diante dos meus olhos, foi quando me dei conta que eu estava sonhando. Aos poucos meu quarto foi sumindo, até sobrar apenas um fundo branco, então de repente várias imagens começaram a passar pela paredes, todas elas eram lembranças minhas que me faziam ter raiva.
Foi então que eu senti aquela conhecida presença mais uma vez.
- Pode mandar a bronca! - falei pra minha consciência
- Você já está olhando pra ela. - disse ele mais uma vez, assumindo a minha fisionomia.
- Isso tudo que está nas paredes?
- Exato! 
Então ficamos alguns segundos parados observando as imagens que passavam, até minha consciência falar:
- Ás vezes me pergunto se você é masoquista.
- Por que dizes isso? - perguntei
- Porque eu não sei como você aguenta ficar relembrando dessas coisas e sentir a mesma raiva que você sentiu na hora, é angustiante, sério.
- Ás vezes eu me pergunto a mesma coisa. - falei
- E porque você continua fazendo?
- Porque é o que me resta.
- Explique melhor isso ai...
Respirei fundo, e falei:
- Já que eu não arrumo coragem pra falar na cara tudo aquilo que eu quero normalmente, o que me resta é ficar pensando de como as coisas seriam se eu conseguisse.
- O que te faz sentir pior do que você já está sentindo.
Ele tinha razão (mais uma vez).
- Agora me responda uma coisa... - continuou - isso adianta de algo?
Dei outro suspiro e falei bem baixinho:
- Não.
- Eu não ouvi direito! - retrucou minha consciência
- Eu disse que não! - falei mais alto
- E você sabe muito bem o que realmente vai adiantar, né?
- Sei! - respondi
- Então me fale agora em alto e bom som.
Fiquei calado por alguns segundos, e falei
- Falar na cara tudo aquilo que eu penso sem ter medo das consequências.
- Ai, ta vendo? - falou ele - você é um cara inteligente, só falta começar a ter atitude.
Atitude, essa era uma coisa que eu precisava melhorar muito, e urgentemente.
- Cara, irei te da um conselho... - continuou falando a minha consciência - sabe uma boa forma de começar a ter atitude?
- Diga!
- Não ter medo de arrumar confusão por isso, parar de querer ser o "bonzinho"...
Eu o ouvia atentamente.
- Isso porque quem normalmente é "bonzinho"... - continuava - não consegue se impor, não consegue absolutamente nada.
E eu pensava naquilo tudo que ele dizia, e fazia sentido.
- Aliás, veja por esse lado... - ele continuou falando - tu acha que as grandes revoluções da humanidade teriam acontecido se os envolvidos tivessem sido os "bonzinhos" e tivessem ficados quietos só para não arrumar confusão?
- Não. - respondi
- Pronto, essa é a prova de que pra você conseguir o que quer, você precisa se impor vez ou outra, arrumar confusão uma vez ou outra, e batalhar por isso.
- Mas eu prezo pelos meus relacionamentos. - falei
- Eu por acaso disse pra você deixar de fazer isso? - perguntou ele - Eu não disse que você tem que passar por cima das pessoas, e sim que você precisa de vez em quando entrar em algumas discussões, e se isso abalar seu relacionamento com a pessoa você pode tentar se resolver com ela depois.
Eu ainda tinha minhas dúvidas.
Foi então que a minha consciência começou a olhar pra mim, e falou:
- Mas lembre-se disso, não há respeito naquele que se omite.
Depois que ele disse aquilo, tudo começou a tremer, e as imagens nas paredes começaram a se apagar, era sinal de que eu estava prestes a acordar.
Então eu finalmente acordei, eu estava novamente eu meu quarto, e dessa vez de verdade, me levantei da cama e fui olhar o relógio, eram três e quinze da manhã, então nessa hora eu desliguei tudo e voltei para cama, ainda pensando no sonho que eu tive e naquilo tudo que minha consciência disse, e claro, repensando minhas atitudes, ou a falta delas, até finalmente pegar no sono de novo.


Brian

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Em um carnaval não muito qualquer...

E finalmente tinha chegado a época do ano que eu mais odiava, o carnaval, época que boa parte da população ia pras ruas comemorar uma das festas mais tradicionais da nossa cultura. Mas já pra quem não gosta de carnaval e quer fugir dele de alguma forma, como eu, arrumar o que fazer durante o feriado era difícil, principalmente aqui em Recife, já que praticamente tudo para e só volta a funcionar normalmente na quarta-feira de cinzas.
E lá estava eu, na terça-feira de carnaval de manhã, em casa, fazendo absolutamente nada, quer dizer, fazendo o que eu sempre faço quando to em casa a toa, navegando na internet, tocando violão, ouvindo música, e por ai vai.
Apesar disso tudo no sábado eu ate tinha ido pro centro da cidade de noite, isso porque uma banda que eu curto muito iria tocar, então fui la ver com meus amigos, e certamente, valeu a pena não só pelo show, mas também pela zoeira do pessoal e tudo o mais, tanto que todos só voltamos para casa depois do amanhecer.
Mas enfim, voltando para onde estávamos, eu continuava lá no meu quarto no tédio completo, enquanto também se ouvia algum bloco de carnaval passando pela rua daqui de casa. E eu realmente tava em uma de uns tempos para cá que eu não aguentava mais ficar em casa, sendo que o problema era aquilo que eu disse inicialmente sobre nada estar aberto durante o carnaval, basicamente, na verdade, o cinema é a única opção de diversão existente na semana de carnaval.
Então pensando nisso eu fui olhar o catálogo de filmes em cartaz na internet, havia alguns interessantes, chequei os horários e decidi que iria ver um naquela tarde, sendo que o problema era, com quem?
Minha mãe já tinha visto todos os filmes que ela queria ver que estão em cartaz e minha irmã estava viajando com o namorado, e boa parte dos meus amigos ou já tinham outras coisas pra fazer, ou estavam brincando carnaval, ou estavam viajando ou não queriam ver os respectivos filmes seja lá por qual razão, ou seja, provavelmente se eu quisesse ir no cinema eu teria que ir sozinho.
O que já estava praticamente decidido, já estava me programando e tudo, mas uma coisa era fato, ir no cinema sozinho era uma coisa muito deprimente, por isso eu ainda daria minhas últimas tentativas de conseguir alguém pra ir comigo. Foi então que eu recebi uma mensagem no meu celular, era "Dela", Simone.
"Oi Brian!" dizia a mensagem
"Oi Simone!" respondi de imediato
"Tudo bem contigo?"
Então respondi:
"Sim, e contigo?"
"Também, apesar do tédio" respondeu ela
E então a gente começou a conversar de como estava o nosso feriado, ela tinha ido ver uns parentes no interior durante o fim de semana e tinha voltado no dia anterior, e eu contei para ela da minha ida para o centro da cidade no sábado a noite.
Foi então que me veio em mente a ideia de chamá-la pra ir no cinema comigo, aliás, aquela era a oportunidade perfeita, estávamos nós dois completamente desocupados e seria apenas eu e ela.
"Ei, Simone"
"Diga." falou ela
Então respirei fundo, e escrevi:
"É que hoje eu tô pensando em ir no cinema..."
Então escrevi em outra linha:
"...e tava pensando, queres ir comigo?"
A partir daquele momento eu fiquei tenso em espera da resposta, meu coração chega disparava, até que alguns segundos depois ela respondeu:
"Claro que quero :)"
Simplesmente não haviam palavras que descrevessem a sensação de alegria que eu estava naquele momento. Então a gente começou a acertar tudo direitinho, em qual cinema seria, o horário e que filme seria, e assim eu finalmente dava um importante passo.
Marcamos bem cedinho, no início da tarde logo após o almoço, e assim que terminei o meu eu fui a caminho do shopping, isso eram mais ou menos meio-dia e meia. Cheguei lá eram uma e quinze da tarde, pra variar eu fui o primeiro a chegar, Simone ainda estava no caminho, mas segundo o que ela tinha dito quando eu liguei, ela não iria demorar muito pra chegar, então eu me sentei no primeiro banco que encontrei e fiquei lá a aguardando.
E enquanto isso eu simplesmente fiquei pensando nas minhas expectativas para aquele momento, talvez desse em algo, talvez não desse, só dependeria de mim, era só eu não fazer nenhuma bobagem que estava tudo bem, e enquanto eu pensava nisso tudo, eu apenas observava a movimentação do shopping (que mesmo com as lojas fechadas, ainda tinha bastante gente andando por lá).
Depois de uns vinte minutos, Simone finalmente tinha chegado, ela ligou para mim e pediu pra que eu a encontrasse no cinema, e assim fui para lá. Chegando lá eu ainda esperei alguns minutos até finalmente encontrar Simone.
Pode ser até clichê eu falar isso mais uma vez, mas ainda assim não deixa de ser verdade, ela estava muito linda, aliás, ela é linda, em todos os momentos, mas enfim. Quando a vi chegando eu acenei para que ela me visse, e assim que viu ela veio em minha direção, e então eu fui ao seu encontro. Quando nos aproximamos, nos cumprimentamos e nos abraçamos, aproveitei para dar um abraço mais apertado nela, e eu a senti retribuindo, o que me deu uma sensação de tranquilidade.
Então logo após a gente foi pra fila pra comprar os ingressos, que felizmente não tava lá muito grande naquela hora, ou seja, não demorou nem dez minutos. Então logo após de comprar os ingressos, Simone falou:
- E agora, o que faremos?
Eu pensei, e disse:
- Vamos andar um pouco por ai, apesar de não ter basicamente nada aberto.
A gente ainda tinha um tempinho de sobra, a sessão começava de duas e quarenta e ainda eram uma e meia da tarde.
Então Simone disse:
- Esse é o problema, mas não tem nada não, a gente fica rodando o shopping conversando mesmo.
"Isso porque as vezes não importa muito o que você vai fazer, e sim com quem você estar" pensei naquele momento, até pensei em falar isso para ela, mas achei melhor deixar quieto.
E aí fomos andar pelo shopping, além de conversar, certamente, a gente também ficou olhando as vitrines de algumas lojas fechadas (aliás, algumas, tipo a livraria, era uma pena que estavam fechadas, porque teria muita coisa de interessante pra gente ver lá).
Uma das poucas partes do shopping que estavam abertas naquele dia era o supermercado, então fomos para lá da uma olhada em tudo, logo na entrada havia umas máscaras e chapéus sendo vendidos pro carnaval, e a gente certamente começou a zoar os experimentando, alguns ficavam legais na gente e outros ficavam toscos pra cacete. E em alguns casos (contra a minha vontade) tiramos algumas fotos da gente usando aquelas porcarias, e claro, rimos pra caramba.
Depois fomos pra alas de CD's e DVD's, que era a parte que mais nos interessava, e chegando lá ficamos falando sobre aqueles que nos interessava, e foi a partir daí que eu vi que eu e ela tínhamos um gosto bastante parecido. E havia alguns que eu até pensei em comprar, mas estavam com um preço bem salgado, então deixei para lá.
Quando nos demos conta, já eram duas e vinte e cinco.
- Melhor a gente ir pra fila, né? - falei
- Concordo contigo. - disse ela
E assim a gente foi em direção do cinema.
Quando chegamos lá, já tinham aberto a sala e logo entramos.
Ainda faltavam uns vinte minutos para o filme começar, e enquanto isso a gente continuava conversando sobre coisas aleatórias, apesar que, foi naquele momento que me passou pela mente:
"Porque você não fala dos seus sentimentos para ela?" pensei "é a oportunidade perfeita, apenas vocês dois numa sala de cinema, tem situação melhor que essa?"
E isso ficou martelando minha cabeça o tempo todo, mas pra variar, me faltou a droga da iniciativa.
"Tu é um cagão mesmo, hein Brian?" pensei
Até que o finalmente o filme começou, as luzes se apagaram e o telão se acendeu, e então ficamos em silêncio e passamos a olhar atentamente pro que se passava na tela.
Ao longo que o filme se desenrolava a gente não falou muito, o máximo que fazíamos era algum comentário rápido no ouvido do outro, e aquilo de falar do que eu sentia pra ela ainda vez ou outra me martelava, mas eu fazia de tudo para deixar isso para lá, o que não estava muito difícil, até um certo momento.
A sala estava fria pra caramba, o que pra mim não era muito problema, eu costumo a aguentar de boas, mas eu percebia que Simone estava simplesmente congelando, e a coitada estava sem um casaco. Foi então que de repente, ela se abraçou comigo.
- Posso? - perguntou ela - to com muito frio.
- Claro que pode. - respondi a abraçando de volta.
E certamente, aquelas coisas voltaram a me martelar ainda mais forte.
"Tu só não fala porque não quer." "Só depende de você." "Porque tu é assim, cara?" "Seja macho, caralho!" eram alguns dos pensamentos que passavam pela minha cabeça, e até mesmo alguns do tipo "Nessas horas me surpreende muito você não ser gay."
E daquela forma ficamos ao longo de todo o filme, e vez ou outra eu a sentia me abraçando mais forte, eu certamente retribuía, e vez ou outra também eu fazia um cafuné nela, e ela também fazia o mesmo em mim, e nessas horas que eu ficava em dúvida se prestava atenção no filme ou nela.
"Cara, eu sinceramente desisto de tu." pensei mais uma vez.
E depois de uma hora e meia, o filme tinha terminado, foi quando finalmente nos soltamos e fomos em direção da saída da sala. Enquanto saímos de lá, a gente certamente ficou falando do que a gente tinha achado do filme e demos todos os comentários que tínhamos em mente. Foi enquanto isso que eu perguntei pra Simone:
- Ei Simone, tu ta com tempo?
- Sim, por que?
Eu hesitei por um momento, mas falei:
- Quer... sei lá, sentar e comer um lanche, ou,... coisa assim?
Ela riu um pouco, provavelmente do meu nervosismo.
- Sim, claro que quero. - falou ela sorrindo
E ouvindo a sua resposta eu sorri junto com ela. E mais uma vez, vai ser clichê pra cacete eu falando isso, mas é a verdade, o sorriso dela realçava a beleza dela ainda mais.
Depois que decidimos o que iríamos comer, arrumamos uma mesa pela praça de alimentação (que tinha bastante gente, mas não estava lotada, felizmente), nos sentamos e continuamos a conversar enquanto comíamos. E enquanto ela falava, eu observava mais a sua beleza, e dessa forma aqueles pensamentos mais uma vez voltaram a me martelar, e cada vez mais forte, e de alguma forma isso estava me deixando nervoso, nervoso a ponto da minha mão começar a tremer, e Simone acabou percebendo.
- Brian, você tá bem?
Sem jeito, respondi:
- Claro, claro, por que não estaria? - falei com um sorriso meio forçado
- Você ta tremendo. - falou ela apontando pra minha mão.
- Ah, isso? - falei me fazendo de cínico - não é nada demais, é só o frio.
Ela fez uma cara de quem claramente não engoliu aquela história, mas por alguma razão ela deixou passar, para o meu alívio, e dessa forma eu tentava tirar aqueles pensamentos da minha cabeça de todas as formas possíveis.
Passava-se o tempo e a gente ainda estava lá conversando, e isso a gente já tendo terminado de comer há um bom tempo, até que uma hora Simone olhou pro relógio e ficou espantada.
- Caramba, já são quase sete horas. - isso porque quando a gente tinha saído da sala eram quase quatro - melhor a gente ir, não acha.
Na verdade eu não queria ir, eu queria ficar lá mais tempo com ela.
- É... É melhor. - falei meio que a contra-gosto.
Então eu perguntei:
- Você vai voltar como?
- Cara, essa é uma boa pergunta... - disse ela pensando - pela hora eu vou voltar de táxi mesmo.
- Ah, beleza. - falei logo após.
- E tu?
- Eu vou pegar um "busão" mesmo, o percusso não é lá muito longo.
- Beleza, mas você vai agora?
- Não exatamente... - falei - vou esperar tu pegar um táxi e ai eu vou.
- Ah, Brian, precisa disso não, se quiser ir logo pode ir.
- Não, não, faço questão de esperar.
Ela ficou calada por um momento e disse:
- Ta bem então... - disse sorrindo - é muito gentil da sua parte.
E eu mais uma vez retribuí o sorriso.
Fomos até a saída do shopping e ao contrário do que eu pensava, não havia nenhum táxi estacionado por lá (consequência da alta demanda do carnaval, provavelmente), então eu fiquei com Simone fazendo sinal pra todos os táxis que passavam por ali, não foi fácil, mas depois de uns quinze minutos a gente conseguiu.
Então quando um deles finalmente parou, Simone virou pra mim e disse:
- Bom, agora to indo nessa, obrigada Brian, não só pelo convite mas também por me esperar.
- Não precisa agradecer. - falei sorrindo
Ficamos calados por um momento, até que ela disse:
- Nos vemos quinta pela faculdade, então?
- Com certeza! - falei
E mais uma vez, ficamos calados olhando um para o outro por um momento.
- Bom, até lá então. - falou ela me abraçando fortemente e me dando um beijo no rosto.
- Até. - respondi meio sem graça.
E assim ela entrou no táxi e foi para o caminho de casa, enquanto eu fui pra parada de ônibus que ficava bem ao lado, felizmente o local ainda tinha uma movimentação, não muita, mas tinha, o que me deixava mais tranquilo, e assim fiquei lá esperando meu ônibus passar.
Depois de uns quinze minutos ele passou e assim segui meu caminho pra casa, e naquele momento apenas duas coisas passavam pela minha cabeça.
1- De como aquele dia valeu a pena.
2- De como eu preciso vencer a minha timidez urgentemente.
Eu simplesmente tinha desperdiçado a melhor chance que eu tive de falar pra Simone tudo aquilo que eu sentia por ela que estava entalado na minha garganta, foi nessa hora então que mais uma vez eu pensei.
"Caramba, velho, por que eu sou assim?"


Brian 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Aconteceu na saída de um show de rock...

Aquele era mais um domingo normal, quer dizer, não tão normal assim, naquele dia eu iria em um show de bandas de metal underground daqui de Recife, mais específico, era um evento voltado para aqueles metaleiros que queriam fugir desse maldito clima de carnaval que a cidade tava (como eu já falei aqui algumas vezes, eu não suporto carnaval).
E certamente, eu tentei chamar algum amigo meu pra ir comigo e mais uma vez foi sem sucesso, teve um que por um momento até ia mas depois ficou de frescura, mas enfim, eu ir sozinho já não era mais novidade nenhuma há um bom tempo, já estava até acostumado (e antes que perguntem, sim, eu tentei chamar Simone também, mas ela tava com outros compromissos marcados com a família, ou seja, foi triste pra mim).
O evento estava marcado pra começar bem cedo, umas quatro da tarde, e tudo indicava que tudo iria começar no horário certinho, então eu botei fé nisso e saí de casa uma três horas da tarde. Cheguei no local umas três e meia e nem a fila tinha se formado ainda.
"E os caras fizeram um puta terrorismo no facebook em relação ao horário." pensei.
Mas enfim, já estava lá de qualquer forma, o que me restava então era simplesmente sentar e esperar. Quando deu quatro horas finalmente formaram a fila, e uns vinte minutos depois nos deixaram entrar, e não demorou muito pras apresentações finalmente começarem, era quatro e meia da tarde quando a primeira banda iniciou seu show, e a partir daí foi apenas aproveitar a noite.
Tocaram cinco bandas naquele evento, e cada uma delas tiveram uma hora de apresentação, e no fim o evento terminou umas dez e pouca da noite. E eu, pra variar, não fiz nenhuma amizade lá dentro, acompanhei os shows completamente solitário do início ao fim (por alguma razão eu simplesmente não consigo socializar com o pessoal nos shows), o que já era de costume.
Na saída eu tive que enfrentar uma fila para pagar tudo aquilo que consumi dentro do local (maldito seja quem teve essa ideia), o que era uma droga já que eu tive que enfrentar uma puta fila para pagar apenas os míseros quatro reais de uma água que eu tomei lá dentro, isso sem falar que parecia que a fila simplesmente não andava e havia apenas dois caixas para atender mais de trezentas pessoas.
Mas enfim, quando eu finalmente consegui pagar já eram umas dez e quarenta da noite, e então saí dali para tentar arrumar um táxi na rua, que pra variar foi uma agonia, já que eram muitas pessoas atrás de um, e certamente que a pessoa tinha que dar uma de abutre pra conseguir, muitas vezes entrando no táxi que tinha parado pra outra pessoa que tinha feito sinal.
De uma forma ou de outra, tava ficando tarde, a área tava ficando cada vez mais estranha e eu ainda não tinha conseguido um táxi, até tentei pedir por celular, mas não dava pra confiar nos serviços de táxi dessa cidade, principalmente em época de carnaval em que eles são muito requisitados.
Até que em um momento, eu fiz sinal pra um táxi que passava e ele parou, sendo que quando eu ia entrar chegou um outro cara e entrou antes, eu normalmente deixaria passar, mas como eu já tava cansado e doido pra chegar em casa logo, eu falei:
- Ei amigo, esse táxi é meu.
- Que nada, cheguei primeiro. - falou o cidadão
- Sim, mas fui eu que fiz sinal.
- Sim, mas desculpe dizer, tu não foi rápido o suficiente na hora de entrar.
Eu estava começando a me irritar.
- Amigo... - falei pro taxista - não fui eu que fiz sinal?
- Rapaz, se resolvam ai, não me meta nisso.
"Ótimo" pensei ironicamente.
Até que eu pensei um pouco, e concluí duas coisas:
1- Eu realmente queria chegar em casa logo e sair dali.
2- Eu não estava afim de entrar numa discussão com aquele cara.
Foi então que eu disse:
- Cara, vamos fazer o seguinte, tu vai pra que lado?
- Pra zona norte. - respondeu
- Aonde exatamente na zona norte?
- Nas Graças.
- Ótimo, porque eu quero te sugerir uma coisa...
Ele olhou atentamente para mim.
- Eu também irei pra zona norte, para a Madalena pra ser mais exato, ou seja, é caminho, e como eu tenho certeza que tá nós dois doidinhos pra chegar em nossas casas logo, porque a gente não racha já que iremos pra mesma direção?
Nem eu mesmo estava acreditando que tava sugerindo aquilo pra um cara que eu nem sequer sabia o nome.
O cara pensou por um instante, mas logo respondeu:
- Está bem então.
"Ainda bem" pensei.
Eu não estava nem um pouco afim de ficar mais tempo naquele lugar esperando um táxi vazio passar, a movimentação por lá já estava quase nula, então nós dois entramos no táxi (ele no banco da frente e eu no banco de trás), e o motorista deu partida.
Por um momento ficamos nós dois calados, até que o cara lá quebrou o silêncio:
- Qual o seu nome?
- Brian! - falei
- Prazer, sou Adriano.
- Prazer! - respondi acenando com a cabeça
- Cara, tenho que admitir... - falou ele - fiquei surpreso que você tenha sugerido isso de rachar o táxi comigo, e estranhei também.
- Anormal eu acharia se você não tivesse estranhado.
- Não é uma coisa muito comum de ser ver hoje em dia, falo isso porque já soube de muitas brigas entre pessoas que iriam pegar o mesmo táxi.
- Eu imagino.
Ficamos calados por alguns instantes, e depois falei:
- É que eu to simplesmente naquela de que eu apenas quero chegar em casa, mesmo que eu pague cinquenta reais de táxi pra isso, sem falar que, na moral, não vale a pena discutir.
- Então se a gente não tivesse entrado nesse consenso, você simplesmente teria deixado o táxi pra mim?
- Mais ou menos por aí. - respondi
- Entendo, eu acho.
- As vezes é a coisa mais sensata a se fazer, principalmente nos dias de hoje em que as pessoas costumam a arrumar confusão por menos.
- Ah, isso é verdade. - concordou ele
Depois de outro momento calados, Adriano perguntou:
- E aí, o que achou dos shows?
- Simplesmente fodas, claro... - e dali em diante a gente conversou sobre não só os shows, mas também de música em geral, e também sobre nossas vidas.
Até o momento em que chegamos na "primeira parada", que no caso seria a minha casa, quando o táxi parou, eu paguei a corrida e me despedi de Adriano e do motorista.
- Falou, e valeu aí.
- Nada, cara... - falou Adriano - espero que a gente se esbarre de novo em algum outro show por aí.
- Idem, cara. - falei saindo do carro
E quando cheguei no portão do prédio, o táxi deu partida e seguiu para a sua "segunda parada". E assim cheguei em casa com apenas três coisas em mente: Tomar banho, comer (não tinha comido nada desde a hora que saí de casa) e dormir, aliás, no dia seguinte seria uma segunda-feira e eu teria que estar pronto pra voltar pra velha rotina de sempre.


Brian

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A história de uma cadela

Hoje não irei contar exatamente uma história "minha", quer dizer, eu não deixo de estar incluído nela, mas eu não sou o foco principal dessa vez. O foco dessa vez será uma pequena criatura que apareceu de repente não só na minha vida, mas também na vida de todos que treinam na minha academia de kung fu.
Mas antes de começar, eu farei uma breve introdução sobre a minha academia de kung fu (já contei uma vez uma história minha que ocorreu lá, mas sem muitos detalhes sobre a academia em si). Primeiramente, a gente não treina exatamente em uma "academia", não temos um teto propriamente dito, nós treinamos em um espaço público da UFPE que todos chamam de "caixa d'água". E não, a federal não nenhum vínculo com a nossa academia, apenas utilizamos o espaço, e claro, temos as nossas dificuldades por se tratar de um local público.
Como por exemplo, sempre temos que dividir o espaço com o pessoal que frequenta a área (que no geral são famílias, skatistas, ciclistas e outra coisas do gênero, e pessoas que ficam a toa por lá), se chover ou a gente treina na chuva ou simplesmente não treina, se tiver gente falando alto demais no local a gente não tem a moral pra pedir pra que falem mais baixo, isso sem falar na questão da segurança, já que o local em questão é estranho, principalmente a noite, e gente mal intencionada passa aos montes por lá.
Agora, esses detalhes todos são importantes pra história em questão? Bom, pra vocês poderem compreender certas parte eu diria que sim, mas enfim, vamos logo pra parte que interessa.
Eu não sei dizer com precisão a quanto tempo essa "pequena criatura" apareceu por lá, isso porque ela apareceu durante os dois meses em que estive afastado por causa do emprego temporário que eu tinha arrumado cujo o expediente no sábado era das seis da manhã até as seis da tarde, mas enfim, de uma forma ou de outra ela apareceu de repente pela caixa d'água.
Essa "pequena criatura" em que falo é nada mais e nada menos do que uma simples cadela vira-lata, na primeira vez em que vi ela foi na minha volta aos treinos após dois meses afastado. Quando cheguei na caixa d'água ela já veio direto em minha direção pra me cheirar, o normal de qualquer cachorro quando alguém que ele não conhece aparece.
Inicialmente eu achei que ela era a cadela de alguém que estava por lá, ou até mesmo de alguém da academia, já que ela estava de coleira, mas quando perguntei me confirmaram que não era, e o pessoal falou que ela estava por lá já fazia algumas semanas. Ou seja, tudo levava a entender que algum desalmado abandonou a coitada por lá.
Certamente que no início todos achavam que ela não ia ficar por lá por muito tempo, o que realmente não aconteceu. Passaram-se mais semanas e ela ainda estava lá, sempre andando por aquela área, todo treino ela estava lá, sempre que alguém chegava ela ia na direção da pessoa dar as suas "boas-vindas", aos poucos ela foi virando o xodó do pessoal, já podíamos dizer que ela estava virando o mascote da academia, a simples cadelinha já estava conquistando a simpatia e o carinho de todos, inclusive de mim, ela conseguiu conquistar até mesmo a simpatia do nosso mestre.
Até que alguns treinos depois nós finalmente resolvemos adota-la como mascote oficial da academia, a levamos pra ser vacinada num veterinário que havia lá por perto e também finalmente lhe arranjamos um nome, a partir daquele momento a simples cadelinha passou a ser conhecida como Chola. Naquele mesmo dia durante o treino, o mestre falou para gente que a partir daquele dia todos nós teríamos a responsabilidade de cuidar de Chola, e que ela agora era um membro da nossa academia, da nossa família.
E desde então a gente passou a dar água e comida pra ela, felizmente não eramos os únicos, outras pessoas dentro da federal também ajudavam a cuidar dela quando a gente não estava por lá, principalmente na parte de dar banho nela, e sempre que ela precisasse de um veterinário cada um daria uma ajuda para leva-la em um.
Mas esses eram apenas mínimos detalhes, porque no geral ela sabia se virava. Podemos dizer que a gente cuidava dela, mas Chola não era de ninguém, a casa dela era a caixa d'água, ela andava por lá livremente, fazia o que bem queria, mas claro, vez ou outra a gente tinha que ser mais ríspido com ela pra evitar dela fazer alguma bobagem (o que por um lado era um pouco complicado, já que ela não era muito de obedecer ordens), por exemplo, muitas vezes ela sai latindo que nem doida pra cima de outros cachorros que passam pelo local (fazendo isso uma vez até mesmo com um pitbull), ou até mesmo pra cima de algumas pessoas, mas calma, como diz o famoso ditado, cão que ladra não morde, ela nunca atacou ninguém e nem chegou a brigar com outros cães, o máximo que ela faz é rosnar e sair latindo pra cima da pessoa e depois recuar (mesmo assim, isso fez algumas pessoas terem medo dela), mas claro, sempre que ela faz isso alguém da academia dá uma bronca nela.
Outra coisa que ela faz normalmente também é atrapalhar a gente enquanto estamos treinando, uma vez quando estava treino de combate, os que estavam de fora tiveram que fazer um quadrado pra simular um ringue, e vez ou outra Chola tentava entrar nesse quadrado, e claro, alguém a tirava de lá pela coleira quando ela fazia isso. Outro exemplo foi uma vez em que eu estava treinando a minha forma de bastão e ela apareceu no meio, por pouco eu não bati nela, quando isso acontece a gente tem que bater com o bastão no chão pra afasta-la, outro caso é quando a gente está fazendo algum exercício no chão e ela vem pra lamber a nossa cara, nesse caso a gente simplesmente manda ela sair, e também as vezes que a gente ta sentado tendo uma mini-reunião e ela fica pentelhando alguém, mas nesse caso ou alguém manda ela sentar ou então fica paparicando ela mesmo (que ai ela fica quieta um pouco).
Mas mesmo com todos esses detalhes, todo mundo na academia a ama, e não tem como não amar, Chola era uma fofa, ela não precisava de muito pra ficar alegre, muitas vezes um jambo seco no chão já era o suficiente pra ela se divertir. E se tem uma características que eu adoro dos cães, é a sua lealdade, é lindo ver a alegria que Chola fica quando algum de nós chega na Caixa d'água, ou então nas vezes em que a gente vai correr o quarteirão e ela vem correr conosco, e principalmente, nas vezes em que saímos da Caixa d'água após o anoitecer e ela nos acompanhou até o portão de saída da federal.
No fim das contas, Chola realmente virou um membro da nossa família, uma simples cadelinha que apareceu de repente pela Caixa d'água, e assim, por lá ficou, treino após treino, com a mesma alegria com que chegou por lá, e aos poucos ganhou o amor de todos tanto da academia quanto do pessoal de fora.
E não só eu, mas como todos por lá, esperamos que ela fique bastante tempo conosco, porque eu garanto, no dia que ela se for (e espero muito que esse dia demore bastante pra chegar), todo mundo sentirá a falta dela, inclusive eu.

Brian