sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um sentimento mais forte

Hoje irei começar de uma forma bem direta, como já dito na história anterior a essa, há alguns meses atrás eu fui em um show de rock e conheci uma garota, Simone, o nome dela, uma das ruivas mais belas que eu já tive a oportunidade de conhecer.
Com ela eu simplesmente me diverti como nunca naquela noite, tornando aquele um dos melhores shows que eu já fui. Uma grande amizade foi iniciada naquele dia, ou talvez algo muito além de uma amizade, vocês entenderão melhor isso já já.
Depois daquela noite, a gente manteve contato um com o outro, felizmente a gente estuda na mesma universidade, e na segunda logo após aquele show a gente almoçou junto e aproveitou pra se conhecer um pouco melhor. Nesse almoço a gente falou de diversas coisas, formos construindo nossa amizade aos poucos. Daquele dia em diante passamos andar bastante juntos, não só pela universidade mas também fora dela, ela chegou a conhecer a minha turma e eu também conheci a turma dela, muitas vezes ela me chamou pra sair com o pessoal dela e eu também fiz o mesmo com ela, e também em outros casos saímos apenas eu e ela.
E muitas vezes também a gente ficava até mais tarde pela universidade conversando, ou então em algum café ou bar por perto, só vendo o tempo passar. Em alguns casos, eu ficava com ela por lá até tarde mesmo tendo coisa pra fazer em casa, e eu simplesmente não queria ir embora antes dela, era como se eu quisesse aproveitar todos os mínimos segundos que eu tinha com ela da melhor forma possível.
Os dias foram se passando e eu e Simone continuávamos cada vez mais próximos, e assim crescia em mim um sentimento de carinho por ela, e crescia também a vontade de sempre estar com ela, a gente estuda na mesma universidade mas somos de cursos diferentes, o que gerava ainda mais em mim a necessidade de aproveitar o máximo possível o tempo em que eu passava com ela. E assim ela virou a principal uma das principais razões de eu querer ir para a universidade.
Esse sentimento de carinho foi crescendo cada vez mais, a ponto que passou a ser algo muito além do que um simples "carinho", aos poucos foi se tornando um sentimento maior, algo mais forte. Um sentimento que eu já tinha sentido várias vezes ao longo da minha vida, um sentimento o qual eu entendia bem, e que também já me fez me sentir um bosta em várias situações.
Sim, eu estava me apaixonando por ela.
O que era uma droga, principalmente se eu for me basear por experiências passadas. Mas pra variar foi uma coisa que veio aos poucos, sem eu perceber, e quando me dei conta, já tinha acontecido. E certamente isso me incomodava um pouco, porque era um sentimento que eu queria evitar, mas admito que também que eu não fazia nada para lutar contra ele, e nem ao menos queria lutar contra ele.
Mas fato era que aquilo me deixava em dúvida, tipo, eu simplesmente não sabia se seria uma boa ideia tentar, a gente àquela altura já tínhamos criado um laço de amizade forte, e meu medo era estragar aquilo. E eu falo isso me baseando por experiências anteriores não só minhas, mas também de outras pessoas.
Eu só sabia de uma coisa, precisava falar com alguém sobre isso.
Sendo que eu tinha adotado uma ideologia de falar com o mínimo de pessoas sobre isso, nem mesmo meus amigos sabiam (na verdade alguns suspeitavam, mas eu nunca confirmava nada). Só havia umas duas pessoas com quem eu tinha falado sobre isso, e uma delas era Júlia.
Já cheguei a conta uma parte dessa história aqui, foi naquele dia durante as minhas férias do meio do ano que eu realmente estava precisando falar com alguém sobre isso, foi então que eu fui falar com ela e resolvi contar.
A outra que sabia da história era Lorena, minha amiga de São Paulo, que na verdade foi a primeira a saber.
Eu precisava falar com uma das duas.
Aquela era uma chata quarta-feira a tarde, eu finalmente estava de férias, tinha sobrevivido a mais um período na faculdade.
Mas pra variar, as férias estavam um tédio, e quando eu fico no tédio, eu fico pensativo, e uma das coisas em que eu fico pensando é exatamente nisso, essa história toda com a Simone.
Estava com saudades dela, muita saudades, a gente tinha tentado de marcar pra sair algumas vezes desde o início das férias mas todas falharam seja lá por qual razão. E naquela quarta-feira a tarde estava eu falando com ela por Whatsapp, a gente se falava praticamente todos os dias por ali, sempre sobre coisas aleatórias.
Até que chegou um momento que ela precisou sair, agora que ela tinha entrado de férias a mãe dela arrumou uma tonelada de coisas pra ela fazer na casa. E eu certamente fiquei meio pra baixo com isso, queria muito ficar mais tempo falando com ela, na verdade, o que eu mais queria era estar com ela.
E parece que por mais que eu tentasse marcar algo com ela, as coisas insistiam em dar errado, como se algo tivesse impedindo que a gente saísse juntos, como se o destino não quisesse que acontecesse, pode parecer até idiota eu falar dessa forma, mas era o jeito que eu estava me sentindo.
Depois que ela saiu eu ainda fiquei mais um tempinho na frente do meu computador fazendo coisas aleatórias, e claro, ainda pensando nela. E depois de um tempo lá pensando, e também ouvindo a minha trilha sonora de cara apaixonado, resolvi pegar meu violão e ir pra cobertura do prédio, como já de costume.
Como vocês bem sabem, esse é um costume que eu tenho de ficar tocando violão nas piscina do meu prédio (que fica na cobertura), que eu faço naqueles momentos em que eu quero ficar sozinho pensando em alguma coisa. Chegando lá, me surpreendi com a presença de uma pessoa que eu não esperava encontrar lá naquele momento sentada perto da piscina...
- Júlia? - falei
- Ah... - falou ela - oi Brian.
Nos abraçamos, e depois perguntei:
- Tá fazendo o que aqui sozinha?
- Ah, pensando na vida, sabe? - falou ela - fazendo que nem você faz quando vem aqui.
- Então você pegou essa minha mania? - perguntei rindo
- Digamos que sim, em alguns casos é bem útil.
- Entendi! - falei ainda rindo - mas, aconteceu algo pra você vim aqui pensar na vida?
- Está tão claro assim que aconteceu algo?
- Eu te conheço bem, está claro em seu rosto que algo te incomoda.
- Pelo visto sim... - disse ela
- Bom... - falei - algo que você queira desabafar?
- Na verdade, sim...
Então eu me sentei perto dela e ela começou a me contar sobre a fase difícil que ela e o namorado estavam passando, que eles tem brigado bastante por coisas fúteis, e que praticamente todas as vezes que eles se encontram tem tido alguma discussão, e que ela estava ficando bastante arrasada com isso e estava perdendo as esperanças de que aquela relação fosse seguir adiante.
Depois dela ter me contado tudo eu disse pra ela que isso provavelmente era só uma fase ruim, e que uma hora ia passar, e também disse pra que ela não desistisse enquanto isso, e que se eles não se gostassem eles não estariam juntos a quase dois anos.
E após a gente falar um pouco mais nesse assunto, Júlia falou:
- E você?
- E eu o que? - perguntei
- Se você está aqui em cima com o seu violão, é porque algo te incomoda.
Fiquei em silêncio por alguns segundos e falei:
- Dessa forma não tem nem como negar.
Então falei para ela tudo aquilo que eu estava sentindo no momento em relação a Simone, boa parte ela já sabia, mas de qualquer forma, eu poderia dizer que Júlia apareceu no momento certo, eu precisava por tudo aquilo pra fora de alguma forma. E ao longo que eu ia falando as coisas, mais leve eu me sentia, as vezes guardar essas coisas só pra você pesa bastante.
E depois de falar tudo aquilo que eu queria, Júlia falou:
- Bom, posso te fazer uma pergunta?
- Mande! - falei
- Quando você pretende falar com ela sobre isso?
Pensei um pouco antes de responder, era uma pergunta complicada pra mim.
- Não tão cedo, isso eu te garanto.
- Por que?
- Porque é complicado.
- Por que? - ela insistiu
- Porque eu não acho que ela sente o mesmo por mim.
Ela ficou um pouco em silêncio, e disse:
- Por que você acha isso se nem ao menos tentou?
- Porque é o que eu percebo nela... - falei - eu não vejo nela o mesmo sentimento que eu tenho.
Fiz uma pequena pausa, e continuei:
- Tipo, eu sinto que se eu tentar qualquer coisa agora, vai dar merda, e eu vou acabar estragando nossa amizade, e eu falo isso me baseando em experiências passadas não só minhas, mas também de outras pessoas, e você sabe bem do que estou falando...
Júlia continuava ouvindo atentamente.
- Eu simplesmente não quero estragar a minha amizade com ela arriscando numa coisa que eu não tenho a mínima certeza de que vai dar certo, não quero me precipitar. - falei
- Então você só quer arriscar se perceber que ela sente algo por você, certo? - perguntou ela
- Mais ou menos isso aí! - falei
- Mas você sabe que isso pode nunca ocorrer, né?
- Sei sim, mas eu sinceramente prefiro correr esse risco do que estragar tudo.
Ela ficou pensativa por um momento, provavelmente procurando algo de útil pra me falar.
- Bom, se você não se sente pronto pra falar isso com ela, então o melhor a fazer é esperar mesmo.
- Entendo... - falei
- Mas não fique desanimado, que mais cedo ou mais tarde a hora certa pra você falar chegará, e vá por mim, quando ela chegar você saberá, e ai o que tiver que ser, será.
Nesse momento eu simplesmente balancei a cabeça concordando com ela.
- Só te digo uma coisa agora... - continuou ela - as vezes ela pode não aparentar muito, mas no fundo ela pode está afim de você, pode ser até mesmo que ela não tenha percebido isso, por isso só te peço isso, não desista sem tentar, ok?
Pensei por alguns segundos, e disse:
- Ok!
E mais uma vez nos abraçamos.
- Obrigado por me ouvir! - falei pra ela
- Que nada, você sabe que sempre que precisar eu to aqui.
- Sei bem... - respondi
- Bom, posso te pedir uma coisa?
- Dependendo... - falei rindo
- Toca alguma coisa pra mim? Adoro te ouvir tocar.
Eu rir um pouco e respondi.
- Claro que toco. - falei posicionando o violão
E assim ficamos por lá naquela tarde de quarta-feira, tocando e falando sobre coisas aleatórias, até que já próximo do pôr-do-sol Júlia foi pra casa dela, e eu fiquei um tempinho a mais lá tocando e pensando em Simone, pensando em onde aquela história ia parar no fim das contas e se teria um final feliz.
E assim que escureceu, voltei para casa, já na esperança dela já estar online novamente.


Brian

sábado, 8 de novembro de 2014

Aconteceu em um show de rock...

O fato que irei relatar agora não é recente, aconteceu há uns oito meses mais ou menos, só resolvi contar agora porque... eu realmente não sei dizer, mas enfim, não tem muita importância agora, o que importa é que estou contando agora, mas chega de conversa fiada e vamos logo para o que realmente interessa.
Não, não era um sábado como um outro qualquer, naquele em específico principalmente, como de costume de todos os sábado, eu almocei com meu pai e lá pra umas 14:30 eu fui pro meu treino de kung fu, que pra variar, foi puxado pra caramba. O treino começou às 15:30 e terminou as 17:40, mas ainda fiquei um pouco mais de tempo lá já que sempre após o fim do treino o nosso mestre senta pra falar com todo mundo, dar avisos, e afins. Eu saí de lá um trapo, mas ainda assim estava bastante animado para o show de rock que eu iria no dia.
Larguei de lá umas 18:20 e peguei o ônibus direto pra casa, felizmente ele não demorou muito para chegar, uns cinco minutos apenas, sendo assim eu cheguei em casa uns quinze minutos depois (felizmente o trânsito estava tranquilo), e assim que cheguei tomei banho, e logo depois jantei. Terminado tudo isso olhei a hora, e já eram 19:45, a abertura dos portões do local estava marcada no ingresso para 21:00 (apesar que eu nunca confiava nesses horários, a não ser se fosse uma atração britânica que fosse tocar), mas de qualquer forma eu me arrumei, já que pretendia sair de casa umas 20:30 (isso porque o local do show era ridiculamente perto da minha casa, ou seja, eu ia andando e esse era um horário que a rua não estaria lá muito estranha).
De 20:00 eu já estava pronto, então me sentei em frente ao computador e esperei o tempo passar. Quando deu exatamente 20:30, peguei o necessário e fui para o show. A caminhada da minha casa até o local não deu nem dez minutos, e a rua realmente estava tranquila na hora.
Chegando no local já havia um número considerável de pessoas esperando no portão, com certeza ninguém esperava que os portões abrissem realmente de 21:00, então pra mim só me restou comprar uma água, me sentar e aguardar.
E sim, eu ia ver aquele show sozinho, da mesma forma que eu vi vários shows na minha vida, já que normalmente eu nunca conseguia alguém pra ir comigo, e como normalmente eu queria muito ir nos shows o jeito era ir sozinho mesmo, ou era isso ou ficava em casa.
E sim, por lado isso era deprimente, sim, era muito melhor ir pro show com os amigos, mas como eu disse, ou era isso ou eu simplesmente não ia, e se eu fosse depender de companhia pra ir em shows eu nunca iria em nenhum.
E assim fiquei lá sentado esperando a hora passar, com absolutamente nada de interessante pra fazer e ninguém pra jogar conversa fora, a única coisa que eu podia fazer era ver a movimentação e pensar na vida, eu olhava pro relógio e parecia que o tempo passava devagar, cinco minutos se passavam com a sensação de que tinham sido quinze.
Deu 21:00, e como eu já imaginava, os portões não tinham sido abertos, mas já ouvia-se as guitarras sendo tocadas no lado de dentro, o que certamente era a banda de abertura fazendo passagem de som, a galera enquanto isso ficava ali tomando uma e curtindo o momento, eu duvidava muito que mesmo que os portões se abrissem naquele momento todo mundo entraria naquela hora, normalmente o pessoal não se importava muito com a banda de abertura e só entravam mesmo quando estivesse perto da banda principal começar a tocar.
Passaram-se mais quinze minutos, e nada dos portões abrirem, eu continuava lá sentado vendo o movimento, e galera ia chegando aos poucos, a rua já estava ficando um verdadeiro aglomerado de pessoas de camisas pretas. Passou-se mais um tempinho e já não se ouvia mais a passagem de som do lado de dentro da casa de shows, já deveria ser um bom sinal.
Pouco depois, uma garota se sentou na calçada perto de mim, ela era ruiva, estava toda de preto, certamente, e bem atraente, até. Dei uma olhada rápida e depois voltei a pensar em coisas aleatórias aguardando a abertura dos portões.
Sendo que logo após, e vi a garota em questão se aproximando um pouco de mim.
- Com licença... - disse ela
- Oi? - perguntei
- Você pode me dizer que horas são?
Tirei meu celular do bolso, olhei o relógio, e disse:
- Nove e vinte e cinco.
- Já? - falou ela espantada - já devia ter aberto.
- Pois é... - concordei - mas é aquilo, nunca confie nesses horários.
- Sei bem como é, mas obrigada.
- Nada!
E assim voltamos a ficar calados ainda sentados perto um do outro, foi quando percebi que ela também estava sozinha, se estava esperando mais alguém, não fazia a menor ideia, mas resolvi fazer contato da mesmo forma.
- Prazer, sou Brian! - falei
- Prazer, Simone! - respondeu ela com um sorriso
Ficamos mais alguns segundos calados sem a menor ideia do que falar após aquilo. Até que Simone falou:
- Está sozinho?
Respirei fundo, e disse:
- Infelizmente, sim.
- Te entendo, eu também.
E a partir daí começamos a conversar sobre o porque que estávamos lá sozinhos, certamente eu expliquei toda a minha situação, e ela explicou a dela, que era basicamente a mesma da minha, e depois começamos a nos conhecer, falamos um pouco sobre nós mesmos.
- Fale-me um pouco mais sobre você. - disse ela
- O que, exatamente? - perguntei
- Quantos anos, o que faz, de onde é, essas coisas.
- Ok então, deixe-me pensar um pouco aqui como começar. - falei
Depois de uns segundos pensando, falei:
- Eu sou Brian, tenho 19 anos, estou no 3º período de jornalismo da UFPE, não trabalho ainda, tenho descendência canadense e sou daqui de Recife mesmo.
- Descendência canadense? Sério?
- Sim! - respondi
- Por parte de quem?
- Da minha mãe, ela nasceu em Winnipeg.
- Ah, legal.
- Bom, sua vez agora.
- Bom, deixe-me pensar então... - falou ela
E alguns segundos depois, ela falou
- Sou Simone, tenho 19 anos também, sou de Natal, estou no 2º período de história também na UFPE, não trabalho ainda e não tenho nenhuma descendência, até onde eu sei.
- Estuda na federal também? - falei - em que turno?
- Tarde.
- E olha só, eu também!
E rimos juntos.
Depois disso ficamos mais algum tempo falando de coisas aleatórias, da banda que iria tocar também, inclusive. Até que deu 22:00 e finalmente os portões tinham sido abertos.
- Vamos lá? - perguntei
- Bora! - disse ela
Como eu já imaginava, muitos preferiram ficar ainda do lado de fora tomando uma, a banda principal ainda ia demorar pra tocar, e ainda teria duas bandas de abertura. Mas ainda assim um número considerável de pessoas já estavam do lado de dentro, o mar de gente preta ia se formando aos poucos, os instrumentos já estavam armados no palco e na hora as caixas de som tocavam algumas músicas pra animar a galera.
Quando entramos a gente foi logo pra perto do palco tentar já arrumar um lugar bom, sendo que no caminho houve um momento meio chato, quando passamos por um grupo de caras um deles gritou pra Simone:
- Ei ruivinha gostosa, vem mostrar seu potencial.
Os caras que estavam perto dele todos riram e eu e ela passamos por ela simplesmente os ignorando.
- Imagino que você já teve que aguentar muitas dessas, né? - perguntei
- Direto, mas já acostumei, só ignoro.
- Ei, me responde uma coisa.
- Fale!
- Seus pais são de boa sobre você vim pra show sozinha?
- Definitivamente não, minha mãe mesmo enche meu saco pra caramba, mas em algum momento eu do a miníma? - falou ela rindo
E eu ri junto com ela.
E até a hora que o primeiro show começou ficamos conversando mais um pouco, show esse que começou meia hora após a gente ter entrado. Certamente nessa hora boa parte do público ainda estava do lado de fora, o que é típico de show de banda de abertura.
Eu e Simone ficamos bem perto do palco, a galera que estava acompanhando estava tudo curtindo ao que eu chamo de "estilo europeu", ou seja, parados simplesmente ouvindo, comigo e Simone não foi diferente, aliás, não tinha graça ser os únicos "animados" na platéia.
O show da primeira banda durou apenas meia hora, e quando terminaram foram aplaudidos pelo público que prestava atenção no momento, eu mesmo achei a banda boa, mas enfim.
Após a banda deixar o palco, eu e Simone nos sentamos um pouco e começamos a conversar sobre o show de abertura, sobre o que a gente tinha achado e afins. Até que em um momento, Simone me pegou de surpresa.
Ela pegou o celular e tirou uma foto minha.
- Ei! - falei
- Desculpe, não resisti. - falou ela rindo
- Poderia ter avisado antes.
- Desculpe! - falou ela sorrindo - mas posso tirar foto contigo? Já pra guardar de recordação.
Eu nunca fui um cara muito fã de fotos, aliás, eu sempre odiei tirar fotos, mas também não queria da uma de chato.
- Ta bem.
E então ela tirou várias selfies nossas, certamente reclamou do fato de eu nunca sorrir nas fotos (porque eu realmente nunca sorrio em foto) mas ainda assim me fez alguns elogios como "tá lindo".
Elogio esse que quando ela fazia eu ficava completamente sem graça, e ela percebeu.
- Meu deus. - falou ela rindo
- Que foi? - falei eu me fazendo de desentendido
- Você ai todo sem graça por causa do elogio que eu te fiz.
- Eu sem graça? É impressão sua,
- Sei... - falou ela dando aquele olhar de desconfiada e rindo. - mas fica tranquilo, só to falando a verdade.
E eu tentei disfarçar, mas ainda assim fiquei sem jeito, e Simone continuou rindo.
Foi então que o show da segunda banda de abertura finalmente iria começar. Dessa vez havia mais gente na platéia pra acompanhar a apresentação, isso sem falar que estavam bem mais animados, ao som dos primeiros acordes de guitarra a galera já começou a formar a roda punk.
Eu e Simone entramos na animação do pessoal, a banda estava conseguindo levantar o público, eu inclusive entrei na roda em alguns momentos. O show dessa banda também só durou meia hora, mas deixou um gostinho de "quero mais" para todos que estavam lá.
- QUE FODA, VELHO! - gritou Simone
- DO CARALHO! - gritei
- E cara... - falou ela - você é doido.
- Por que? - perguntei
- Você teve coragem de ir pra roda.
- Era o calor do momento!
Ela riu e disse:
- Eu não tenho coragem.
Ri junto com ela e disse:
- Te entendo, olhando assim de fora realmente não parece ser uma coisa muito amigável.
- Não mesmo!
Rimos mais um pouco, e então Simone falou:
- Vou comprar algo pra beber.
- Vou lá contigo - falei, também estava morrendo de sede
Chegamos na barraquinha, e claro, tudo custava caro pra caramba, mas infelizmente era o jeito. No fim das contas, eu comprei uma água e Simone uma lata de cerveja.
- Você não bebe? - perguntou ela estranhando porque eu também não tinha pedido uma cerveja.
- Não, eu sei, não é uma coisa muito normal nos dias de hoje.
- Realmente não é, mas certo está você.
- Você não é a primeira que me diz isso. - falei rindo
Depois de comprar as bebidas, procuramos algum canto pra sentar e ficamos lá conversando mais um pouco, Simone novamente quis tirar fotos da gente, e eu, mesmo contra a minha vontade, tirei. Mas foi durante isso tudo que eu comecei a olhar pra ela com mais atenção, então eu comecei a pensar: "Caramba velho, ela é muito linda".
Mas rapidamente parei de pensar nisso pra não acabar fazendo cara de bobo, o que seria realmente ridículo. E assim a gente continuou jogando conversa fora. até que finalmente, iria começar o show principal.
Assim que foi tocado os primeiros acordes todo mundo correu para o palco, dessa vez não tinha nem como a gente ficar perto do palco, era muita gente. O local estava um verdadeiro mar de gente com camisas pretas, e assim que foi iniciado a primeira música, o público foi a loucura.
Uma grande roda punk se abriu no meio da platéia, todos cantaram junto com a banda da primeira música até a última, muitos pularam, dançaram e afins. Eu, novamente, vez ou outra também ia pra roda, e Simone simplesmente se esgoelava cantando as letras junto com a banda.
Foram duas horas de show completamente intensas com o bom e velho rock n roll.
Quando a apresentação terminou, todos imploraram pra que eles tocassem mais, mas o fim tinha finalmente chegado, as luzes se acenderam e o equipamento começou a ser retirado do palco, a festa tinha terminado.
E assim todos começaram a se encaminhar para a saída da casa, agora seria o corre-corre pra conseguirem um táxi, já que a disputa por um seria grande.
Já eu pretendia voltar andando, como eu disse, minha casa era ridiculamente perto, sendo que o problema maior era que eram duas e pouca da manhã e as ruas estavam completamente estranhas, mas pegar um táxi dali pra minha casa era ridículo. Bom, de qualquer forma eu iria esperar Simone conseguir um táxi para depois seguir meu caminho.
- Tu mora aonde? - perguntou Simone
- Moro aqui por perto, vou só esperar você conseguir um táxi que ai eu vou andando pra casa.
- Sozinho?
- Sim.
- Do jeito que as ruas tão estranhas a essa hora?
- Sim.
- Não é melhor você pegar um táxi?
- Rapaz, é que se eu for de táxi daqui pra casa o taxista com certeza ficaria puto da vida comigo.
Depois de um tempo dela tentando me convencer a pegar um táxi, ela falou:
- Vamos fazer o seguinte, vou andando contigo até sua casa e de lá eu pego um táxi.
Fiquei surpreso com a sugestão dela.
- Não, Simone, relaxa, eu ficarei bem, dá nem dez minutos de caminhada.
- Besteira menino, isso sem falar que pra mim seria até melhor pedir um táxi lá, porque aqui tá difícil com esse tanto de gente.
- Mas...
- Sem "mas", por favor.
Fiquei calado por alguns segundos, até que eu finalmente disse:
- Ta bem, então.
E assim ela sorriu pra mim, e eu retribuí o sorriso.
- Vamos lá, então. - falou ela
Então seguimos caminho em direção a minha casa, e realmente, a rua estava estranha pra cacete, a cada passo que a gente dava eu olhava para todos os lados para ver se ninguém suspeito se aproximava, percebendo isso Simone falou:
- Você tá tenso.
- Não é tenso... - falei - só to ligado.
Ela riu e disse:
- Relaxa um pouco, menino. - e sorriu pra mim
Eu definitivamente não iria esquecer aquele sorriso tão cedo, ele realçava ainda mais a beleza dela.
Durante o caminho a gente falava sobre o show, e eu continuava ligado na movimentação ao meu redor (ou na falta dela). Até que depois de seis minutos de caminhada, finalmente chegamos no meu prédio. Quando entramos pedi pro porteiro o número de alguma agência de táxi, ele me deu e eu mesmo liguei e pedi um para Simone.
- Pronto, disseram que chega de quinze a vinte minutos.
- Certo, obrigada! - falou ela
Ela se sentou no sofá do prédio e eu me sentei do lado dela.
- Mas ei... - falou ela - se quiser já subir, fique a vontade, ficarei bem aqui.
- Que nada... - falei - fico aqui até teu táxi chegar, é o mínimo que eu posso fazer.
- Ta certo então... - falou ela sorrindo - obrigada!
E seu sorriso ficou cada vez mais radiante.
- Brian...
- Oi?
- Posso te dizer uma coisa?
- Diga.
Ela respirou fundo, mordeu os lábios, e disse:
- Adorei te conhecer hoje.
Eu sorri e disse:
- Também adorei te conhecer.
Continuamos sorrindo um pro outro, até que nos abraçamos.
- Você vai ta na Federal segunda? - perguntei depois que nos soltamos
- Sim. - falou ela
- O que acha da gente almoçar juntos nesse dia?
Ela pensou por alguns segundos, mas logo respondeu:
- Claro, eu adoraria.
E mais uma vez ficamos sorrindo um para o outro (eu sei, já ta chato ficar falando isso). Então começamos a trocar contatos (redes sociais, telefone, e afins) e pouco depois o táxi dela chegou.
- Bom, é aqui que nos despedimos. - falou ela
- Infelizmente!
- Um abraço de despedida cairia bem?
- Com certeza!
Então nos abraçamos novamente.
Depois que nos soltamos, eu disse:
- Até segunda.
- Até, mal posso esperar. - disse ela - e obrigada por me esperar.
- Que isso, foi nada demais.
Foi então que rapidamente, ela me deu um beijo no rosto, me pegando completamente de surpresa.
Ela depois que viu minha reação riu e disse:
- Você fica mais lindo ainda sem jeito, sabia?
E eu continuei calado com cara de idiota.
- Bom... - continuou ela - vou lá antes que o taxista desista.
- Ta certo. - falei
- Tchau e boa noite.
- Tchau! - respondi
E assim ela foi pro táxi, depois que o carro tomou partida eu entrei no elevador e fui pra casa dormir, mas eu sabia que iria demorar pra eu conseguir pegar no sono, aquela tinha sido uma noite e tanto, eu não iria conseguir tirá-la da minha cabeça por um bom tempo.


Brian

sábado, 18 de outubro de 2014

Não declare seu voto

Hoje eu não estou aqui para contar mais alguma história minha sobre alguma situação que eu passei, ou coisa do tipo, hoje estou aqui pra uma coisa um pouco diferente, esse é mais um desabafo que eu quero fazer sobre uma coisa que já está me incomodando há algumas semanas.
Se caso você em um alienígena ou esteve em coma nesses últimos meses, vou explicar exatamente o que está acontecendo. Estamos em época de eleições presidenciais, no segundo turno para ser mais exato, e temos dois candidatos disputando o voto dos eleitores para chegar na presidência da república, mas o ponto que eu quero chegar não é as eleições em si e nem os candidatos em questão, mas sim, os eleitores.
Acho que muitos concordam comigo que as pessoas nunca souberam discutir como seres humanos civilizados que deveriam ser, principalmente em assunto específicos como futebol, religião e política. Um sempre tenta impor sua opinião sobre o outro como se aquilo que ele fala fosse uma verdade incontestável e que ninguém deve contestar, mesmo que o argumento do outro faça sentido, e como nesse caso se trata de um assunto que envolve política, certamente as coisas estão muito longe do agradável.
Por isso, chegando ao ponto que eu quero, navegar pelas redes sociais esses dias está simplesmente insuportável, isso porque as pessoas não param de falar sobre política, muitas vezes defendendo seus candidatos com unhas e dentes, em alguns casos as pessoas defendem o mesmo de uma forma que parece até que é alguém da família. E principalmente, as redes sociais viraram simplesmente um campo de batalha, de um lado os que defendem o candidato x, e do outro os que defendem o candidato y, em toda postagem que você encontra que fala de política, seja falando de forma neutra ou não de qualquer candidato, ou pior, até mesmo em postagens que não tem nada relacionado com política ou eleições, você ver uma guerra sendo travada nos comentários, e em muitos casos entre pessoas que são amigas, ou parentes.
O que me leva ao meu próximo ponto, amizades estão sendo perdidas por causa dessas discussões, em alguns casos até mesmo relacionamentos, e em outros casos mais graves pessoas são agredidas só porque irão votar em tal candidato que a outra não concorda, e em outros casos mais graves ainda, ameaçadas.
Por isso que peço uma coisa para você que ler esse texto, não declare seu voto nas redes sociais, não expresse apoio e nem rejeição a nenhum candidato, mesmo que você não se encaixe nesse grupo que eu falei, mesmo que você seja aquele tipo de pessoa que saiba discutir política de forma civilizada, não declare, porque boa parte das pessoas não são civilizadas, por isso mesmo que você comece a falar de política de forma civilizada, vai aparecer alguém falando besteira e transformando aquilo numa terceira guerra mundial.
E também peço, quando você estiverem reunidos com seus amigos, com a família, ou até mesmo com a sua namorada ou o seu namorado, não falem de eleições, evitem brigas desnecessárias, preservem seus relacionamentos, principalmente porque quando as eleições terminarem vai todo mundo voltar a viver suas vidas da mesma forma de antes, sem da a miníma para política e sem nem ao menos lembrar em quem votou nessa última eleição. Ai nesse caso, você teria jogado um bom relacionamento fora simplesmente por nada.


Brian

sábado, 11 de outubro de 2014

Experiência do cotidiano de um futuro jornalista

Aquele definitivamente não era mais um dia qualquer na faculdade, aliás, todos estavam com os nervos a flor da pele nesse dia, ai você me pergunta "por que isso?" eu lhe respondo:
Naquele dia a gente iria gravar o nosso primeiro programa de rádio, mas uma coisa eu garanto, muitos estavam nervosos (incluindo eu mesmo), sendo que ninguém estava mais que Cris. Ela foi sorteada pela professora junto com João (um colega nosso de sala) pra ser a apresentadora do programa, o que certamente uma grande responsabilidade e também um grande estresse, principalmente na véspera do programa em que ele teve que depender do pessoal mandar as matérias deles pra ela poder fazer seu texto, e a galera certamente mandou tudo em cima da hora.
Já eu fiquei com uma tarefa um pouco mais simples, fui sorteado junto com Emma e Edson pra fazer parte da produção, e foi mais simples porque o que a gente teve que fazer foi arrumar um convidado para ser entrevistado, preparar toda a estrutura do programa, e principalmente, cobrar as matérias do pessoal, como eu disse, um pouco mais simples no início, sendo um pouco mais trabalhoso nas vésperas do programa já que a gente tinha que ficar no pé de todo mundo pra que eles mandassem as matérias no prazo determinado.
Então, depois de uma longa noite mal dormida para todos os participantes , tinha chegado o grande dia em que a gente colocaria o programa no ar, no caso séria logo na primeira aula, e a professora exigiu para que todos chegassem o mais cedo possível (principalmente os produtores e os apresentadores), o que não era problema pra mim, muitos dizem que eu chego cedo até demais na maioria das vezes.
E claro, fui o primeiro a chegar, nem a professora tinha chegado ainda, então me sentei próximo ao estúdio da universidade, coloquei o fone de ouvido e esperei o tempo passar. Uns dez minutos depois, Cris chegava lá por perto.
- Oi Brian! - falou ela
- Oi Cris! - cumprimentei de volta guardando o fone de ouvido
- Alguém mais chegou além de você? - perguntou
- "Nops", apenas eu.
- Ah, certo! - falou ela se sentando do meu lado
Ficamos alguns segundos calados, até que eu perguntei:
- Preparada?
- Ainda não, acredite. - respondeu ela
- Eu imaginei que não, nem eu mesmo to e olha que eu só sou produtor.
Ela riu, e disse:
- Sério, ontem foi uma das noites mais estressantes da minha vida, chega nem dormi direito.
- Mas você e João conseguiram fazer o script direitinho?
- Direitinho eu não sei dizer... - falou ela me entregando uma das cópias do script - mas conseguimos.
Dei uma breve olhada, e falei:
- Bom, aos meus olhos pelo menos está legal.
- Ah, mas estando ou não vai ser esse ai mesmo. - falou ela rindo
E eu ri junto com ela.
Então logo após a gente começou a conversar sobre coisas aleatórias da vida e inutilidades do dia a dia, e uns cinco minutos depois a professora, o convidado do programa (um professor nosso também) e o responsável técnico do estúdio chegaram. Ela abriu a sala e assim eu e Cris entramos e começamos a ajeitar os primeiros detalhes do programa.
Aos poucos o pessoal foi chegando, não demorou muito para Emma e Edson chegarem e me ajudarem com os últimos detalhes da produção. E assim o pessoal foi chegando e se acomodando pela sala de estúdio a espera do início dos programa, todos já haviam tido contato a parafernália toda nas primeiras aula da disciplina, a gente já teve que gravar algumas notas e uns spots, mas aquilo definitivamente era diferente, já que estaríamos atuando como jornalistas de verdade.
Faltavam quinze minutos para o início do programa e estava quase tudo certo, quase tudo... exceto a falta do segundo apresentador.
- Pessoal, alguém tem alguma notícia de João, de onde ele está ou se vai chegar logo? - perguntou a professora
Ninguém sabia dizer, a única informação que deram na hora foi que ele trabalha na cidade e que por isso muitas vezes ele chegava atrasado nas aulas.
- Alguém tem o número dele? - perguntou a professora.
Danilo, que era amigo dele, deu o número.
- Qual a operadora dele? - perguntou a professora novamente
- Claro.
- Eita, eu sou TIM e não to com muito crédito.
Então eu me ofereci:
- Professora, se quiser eu posso ligar pra ele, sou Claro também.
- Pode ser, obrigada Brian.
- De nada! - respondi digitando o número dele no meu celular.
Fiquei aguardando enquanto a ligação se completava, chamou uma, chamou duas, chamou três, chamou quatro vezes...
- Alô? - falou João
- Alô, João?
- Quem é? - perguntou ele
- É Brian, da sua sala, tudo bem?
- Tudo sim, e você?
- Também... - respondi rapidamente - cara, é o seguinte, serei direto contigo, estamos aqui no estúdio de gravação da faculdade, faltam quase dez minutos pro início do programa e está quase tudo pronto, só falta você, onde tu ta nesse momento?
- Rapaz, é que eu trabalho na cidade e hoje deu uns estresses que eu tive que sair um pouco mais tarde de lá, agora to no caminho pra faculdade, mas ta um trânsito desgraçado.
- Tais aonde?
- No Derby!
"Putz, ainda ta longe" pensei.
- Tu sabe dizer em quanto tempo tu chega aqui? - perguntei
- Rapaz, eu diria que na melhor das hipóteses em meia hora. - respondeu ele
"Lascou" pensei novamente
- Mas cara, o que a gente faz aqui então? - perguntei - por que a gente não tem meia hora.
- Velho, faz o seguinte, comecem sem mim mesmo, peçam pra alguém apresentar no meu lugar ou até mesmo ver se Cris consegue fazer sozinha, mas tá muito difícil eu chegar ai agora.
"E agora, José?" pensei mais uma vez
- Beleza velho, vou falar com o pessoal aqui.
- Beleza, valeu cara.
- Falou!
- Falou! - e desligamos
Então fui da a má notícia para o pessoal.
- E então? - perguntou a professora
Olhei bem para ela, e falei:
- A senhora vai me desculpar o termo mas... - respirei fundo, e disse - fodeu!
Expliquei toda a situação que João me falou no telefone, e ela disse:
- Bom, é o seguinte então, alguém da produção terá que assumir.
- Mas, nenhum de nós se preparou para isso! - falou Edson
- Eu sei... - respondeu ela - é triste, mas o programa tem que ir ao ar de qualquer forma, vai ser assim na vida profissional de vocês.
Pelo visto realmente não havia outra maneira.
- Então, alguém se habilita? - perguntou a professora
Eu, Emma e Edson olhamos pra caras um dos outros esperando que alguém se oferecesse por alguns segundos.
- Se ninguém se voluntariar eu mesma escolherei.
Vendo que ninguém resolveu se oferecer, eu falei:
- Eu faço!
Emma e Edson olharam surpresos para mim, apesar que até eu fiquei surpreso comigo mesmo.
"Que raios eu acabei de fazer?" pensei.
- Mesmo? - perguntou a professora
- Sim! - confirmei
- Ótimo então... - falou ela aliviada - como foi tudo de última hora vou te dar um tempinho pra você se prepara.
- Beleza, acho que só vou precisar da uma ajeitada no script mesmo.
- Ok, temos sete minutos pro início do programa. - disse ela indo avisar para a sala das mudanças de última hora.
Eu ainda não acreditava no que eu tinha acabado de fazer, eu tinha menos de sete minutos para me preparar psicologicamente para aquilo, e olha que nem que me dessem um mês inteiro eu estaria preparado.
- Boa sorte ae, cara. - falou Edson
- Boa sorte, Brian. - falou Emma
- Valeu, gente... - falei - vou realmente precisar.
Dei uma retocada do meu script, e entrei no estúdio, Cris já estava lá sentada conversando um pouco com o professor Mauro (o convidado do programa), e certamente a professora já tinha dado a notícia para eles.
- Soube agora da novidade... - disse Cris - e sério, to surpresa que você tenha se voluntariado.
- Acredite, também estou. - falei me sentando perto deles.
- Como ta se sentindo? - perguntou ela
- Bom, provavelmente terei um ataque cardíaco no meio do programa, mas "simbora".
Cris riu.
O professor também riu, e disse:
- Parece desesperador no início, mas relaxem, vocês vão ver, a sensação é boa apesar de tudo, vai dar tudo certo.
- Assim esperamos, professor. - falou Cris
Faltavam menos de três minutos pro início do programa, durante esse tempo tentei me concentrar ao máximo, mas certamente o nervosismo me dominava, Cris também não estava diferente disso, e depois que olhei pelo vidro do estúdio e vi toda a sala olhando atentamente pra gente foi quando fiquei mais nervoso ainda.
Pouco depois a professora voltou a entrar no estúdio para nos dar umas últimas dicas (principalmente para mim) e faltando exatos um minuto para o início do programa ela saiu e foi se juntar ao resto da sala.
"É agora!" pensei
- Boa sorte para vocês dois. - falou o professor
- Obrigado! - respondemos juntos
Colocamos nossos headphones, a sala se silenciou, e a vinheta do programa começou a tocar, quando a música de fundo começou a tocar a gente olhou atentamente para os produtores, e então poucos segundos depois Emma nos fez o sinal para que a gente começasse.
- Boa tarde, ouvintes, eu sou Cristiane Cavalcante.
- E eu sou Brian Andrade!
- Bem vindos a mais um programa da rádio Universitária.
- Trazendo para vocês as principais pautas ocorridas na Universidade Federal de Pernambuco dessa semana.
E assim o programa foi andando, apesar do nervosismo inicial, tanto eu quanto Cris estavam indo bem, quer dizer, exceto por uma parte em que eu acabei lendo na entonação errada e acabei me enrolando um pouco, mas que consegui resolver logo em seguida.
Durante o programa ouvimos as matérias que a sala toda gravou, e também rimos com os spots que também gravamos, nesse caso o sentimento era o mesmo para todos, aquela estranha sensação de ouvir a própria voz gravada e se perguntar "caramba, sou eu mesmo que to falando ai?".
Após vinte minutos, finalmente tínhamos chegado na parte da entrevista com o convidado.
- E como todos sabemos, estamos próximo de uma época importante para a cidadania brasileira, as eleições. - falou Cris para os ouvintes
- E por isso, hoje recebemos no estúdio o professor Mauro Fernandez, jornalista formado pela Universidade de Pernambuco, cientista político e professor de Ética e Legislação pela Universidade Federal de Pernambuco. - falei
Então Cris falou:
- Antes de tudo, obrigado professor, por aceitar o nosso convite, e gostaria de começar a entrevista pedindo para que o senhor falasse um pouco da importância do nosso voto para a democracia brasileira.
- Boa tarde Cristiane, boa tarde Brian, boa tarde ouvinte... - falou o professor - antes de tudo é um prazer está aqui no programa de vocês, e também agradeço essa oportunidade que vocês me dão para falar com o público de vocês, e enquanto a sua pergunta, como vocês devem saber, o voto foi uma conquista do povo após o longo período de ditadura militar em que o país passou, em que os nossos "representantes" eram escolhidos de forma indireta, muitas pessoas lutaram por esse direito, foi um direito conquistado por nós, o voto é a nossa voz, por isso um voto consciente pode mudar o país, da mesma forma que um "mau voto" pode nos prejudicar e bastante.
- Bom, professor, qual a dica que o senhor dar para o ouvinte para que ele não dê o que você chamou de "mau voto"? - perguntei
- Que a pessoa pesquise bem o histórico do seu candidato, veja se ele é ficha limpa e também que analise bem suas propostas e os benefícios que as mesmas causaram na sociedade.
E assim a entrevista foi seguindo, no total tivermos exatos dez minutos de entrevista, nos sobrando alguns segundos para os créditos do programa.
- Muito obrigada professor, e uma boa tarde para o senhor. - falou Cris
- Boa tarde para vocês e todos os ouvintes. - falou o professor
- A rádio Universitária de hoje fica por aqui... - falei - o programa de hoje teve a produção de Emma Lira e Edson Silveira.
- Trabalhos técnicos de Jonas Moreira - falou Cris
- Orientação de Maria do Carmo Amaral.
- Apresentação de Brian Andrade.
- E Cristiane Cavalcante.
- Até o próximo programa. - falamos juntos
E assim a última vinheta foi tocada e o programa foi encerrado.
Na mesma hora me subiu uma sensação de alívio, Cris teve a mesma sensação. Emma e Edson nos fizeram sinais de positivo.
- E ai, como foi a experiência de apresentar um programa de rádio? - perguntou o professor para nós dois.
Eu logo respondi:
- O senhor estava certo, não foi tão desesperador quanto parece.
Logo após Cris respondeu:
- Realmente, foi mais tranquilo do que eu esperava.
- Ai, não disse que daria tudo certo? - falou o professor rindo
Nos levantamos de nossas cadeiras, saímos do estúdio e formos em direção a sala, logo na porta Emma e Edson nos elogiaram, e quando entramos na sala formos aplaudidos por todos.
Depois que nos sentamos, a professora começou a dar as últimas considerações do programa, apontou nossos erros e acertos, e também elogiou eu e Cris pela nossas atuações.
- Cris, você foi muito bem, pra mim você tem uma ótima voz pro rádio e também uma ótima narração.
- Obrigada, professora. - agradeceu Cris
- E Brian, primeiramente quero lhe agradecer por ter aceitado assumir o posto de apresentador assim em cima da hora, e quero lhe dizer que você superou minhas expectativas, se saiu muito bem, mas so precisa melhorar algumas coisas, como por exemplo, houveram partes em que você falou muito rápido e acabou engolindo algumas letras.
E eu ouvia atentamente.
- Por isso quero lhe fazer um pedido agora.
Me assustei quando ela disse isso.
- Diga. - falei
- Para que você apresente o próximo programa, porque eu quero que você trabalhe nisso, pois eu sei que você pode fazer melhor, isso sem falar que agora você teria muito mais tempo pra se preparar.
Pensei um pouco, e respondi:
- Certo, eu topo.
- Combinado então? - disse a professora
- Sim!
- Bom, acho que também podemos definir que será o outro apresentador junto com você, de preferência uma menina, alguém se oferece?
Passaram-se alguns segundos, até que ouviu-se.
- Eu faço, professora! - falou Emma
- Bom... - continuou a professora - então os dois apresentadores do próximo programa estão definidos, será Brian e Emma, na próxima aula definiremos as pautas para o próximo programa.
E logo após ela começou a fazer a chamada, e enquanto isso eu falei para Cris:
- Que dia, hein?
- Pois é, você quem diga, né?
- É. mas não foi tão complicado assim no fim das contas, foi legal, até.
- Também achei legal, apesar de tudo.
- E sinceramente... - falei - posso fazer isso de novo numa boa.
- Olha só pra ele, já ta o radialista. - falou Cris rindo
E eu ri junto com ela.
- Mas sério, você se saiu bem. - falei
- Obrigada, você também.
E assim sorrimos um para o outro, e pouco depois comecei a falar com Emma sobre a experiência que foi apresentar o programa e também começamos a falar do próximo em que ela iria apresentar comigo.
E dessa forma eu tive mais uma experiência do cotidiano de um jornalista.



Brian

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Um rosto amigo

Aquele tinha sido mais um sábado cansativo, assim como todos os outros desde que eu comecei a trabalhar, porque além de ter que acordar de seis da manhã, o expediente no sábado era o dia todo, ou seja, só saia de lá umas seis da noite, podendo até ser mais dependendo da situação, mas oficialmente era às seis.
E certamente, cheguei em casa morto de cansaço, minha maior vontade era simplesmente me jogar na cama e não fazer mais nada pelo resto da semana, aquela semana não tinha sido das mais fáceis. Mas claro, primeiramente tomei um bom banho e depois jantei, “fome” era outra palavra que me definia bem no momento.
Terminado o jantar eu fui pro computador, pra variar, apesar de que ultimamente tem sido difícil de ficar muito tempo lá, eu normalmente ia dormir cedo e no dia seguinte só chegava em casa depois das seis da noite, já que ia do trabalho direto pra faculdade. Sendo que naquele dia em específico, não havia nada de interessante pra fazer por lá, nada de novo pra ver e nem ninguém “online” pra conversar, o que me restava era apenas ficar ouvindo música e vendo vídeos, e por incrível que pareça, eu não estava com disposição nem mesmo pra tocar violão.
Foi então que eu resolvi me deitar um pouco, eram exatamente oito e pouca da noite quando decidi fazer isso, sendo que na hora eu estava com muito sono e certamente acabei cochilando. Uma coisa era fato, desde que comecei a trabalhar eu não estava mais conseguindo passar das nove da noite acordado, o sono estava vindo cada vez mais cedo.
Fim das contas dei esse cochilo e acabei acordando umas dez e pouca da noite, foi quando me dei conta que tudo ainda estava ligado, tirei o computador do modo de espera e fui checar se tinha alguma notificação no “facebook”, e certamente, não tinha nenhuma relevante. Eu ainda estava com muito sono, então decidi definitivamente desligar tudo e ir dormir de vez.
Sendo que pouco tempo depois, quando eu estava prestes a deslogar de tudo, me chamam pra uma chamada de vídeo no Skype, era a Helo, e no mesmo instante eu atendi.
- Oi Helo! – falei com voz e cara de sono
- Oi Brian! – falou ela sorrindo
- Tudo bem contigo?
- Sim, está, e contigo?
- Também! – falei ainda sonolento
- Você estava dormindo? – perguntou ela
- Mais ou menos, só dando um cochilo mesmo, o dia foi cansativo.
- Te liguei numa má hora?
- Claro que não, relaxa.
- Sério, se quiser, você pode ir dormir e amanhã eu te ligo de novo.
- Ta tudo bem, Helo... – insisti – eu não tava afim de ir dormir agora de qualquer forma.
- Certeza?
- Claro, aliás, é por uma boa causa.
Ela sorriu ainda mais.
- Um rosto amigo era tudo que eu queria agora... – falei – a semana não foi fácil.
- Algo aconteceu? – perguntou ela
- Não, é só cansaço mesmo, e... sei lá, fico feliz que você tenha aparecido, queria conversar com alguém, relaxar um pouco, entende?
- Sim, eu acho.
- Não sei nem se eu próprio entendi o que eu disse, mas tudo bem.
Ela riu e disse:
- Enfim, fico feliz em saber que você está feliz em me ver.
Sorri e disse:
- Tenha certeza que sim.
E assim a gente ficou alguns segundos sorrindo um para o outro, e definitivamente, se tinha algo que me confortava bastante era o sorriso dela, lindo como sempre.
E logo após a gente começou a conversar sobre coisas aleatórias, a gente tinha se falado bastante desde quando a gente se encontrou em Garanhuns, mas certamente, com o jeito que minha vida tem ficado corrida ultimamente, essa frequência deu uma diminuída, mas ainda assim não tinha sido pouco.
E ao longo que a nossa conversa foi progredindo o meu sono foi embora, e quando me dei conta a gente já estava há quase duas horas e meia se falando, e eu simplesmente não queria mais ir dormir, e eu também estava me sentindo melhor, mais relaxado também.
E quando percebemos, já eram quase duas da manhã.
- Caramba, já? – falou ela quando olhou pro relógio
- Parece até que passou rápido. – falei
- Pois é!
Ficamos alguns segundos calados, até que eu disse:
- Bom, por mais que me doa fazer isso, irei dormir agora.
- Ah, que pena... – disse ela – a conversa tava boa.
- Concordo!
Sorrimos mais uma vez um para o outro, e então eu disse:
- Bom, boa noite então.
- Boa noite! – disse ela – dorme bem, ta?
- Você também. – falei sorrindo
Estava pronto pra desligar a chamada, até que eu me lembrei de falar uma coisa:
- Um instante... – disse eu
Helo me olhou atentamente.
- Só queria dizer mais uma coisa...
- O que? – perguntou ela com um ar de curiosa
- Estou com saudades. – falei com convicção
- Own... – falou ela completamente sem graça – também estou com saudades.
- E eu realmente espero que você passe no vestibular da Federal daqui, vai ser legal te ver todos os dias por lá.
- Obrigada, acho muito justo.
- Aliás, eu mal posso esperar por isso.
E de novo ficamos por alguns instantes sorrindo um para o outro, e o que eu mais queria naquele momento era dar um abraço nela.
- Bom, agora estou indo mesmo.
- Tá certo. – disse ela
- Dorme bem! – repeti
- Você também, beijos.
- Beijos!
E assim eu desliguei a chamada e comecei a desligar tudo no meu quarto. Então naquela noite eu fui dormir com uma ótima sensação de felicidade.


Brian

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Relatos de um primeiro emprego

Finalmente tinha chegado numa parte importante da minha vida, a parte em que eu iria começar a trabalhar, já fazia um tempo que eu estava a procura de um estágio, tinha mandado meu currículo para várias empresas as quais em nenhuma obtive nem ao menos uma ligação. Mas ainda assim eu não desistia, uma hora alguma delas iriam me chamar, só precisava aguardar.
Meses tinham se passado, até que finalmente o recebi o "feedback" de uma delas, uma empresa de assessoria de imprensa a qual eu mandei currículo me ligou marcando um processo seletivo para a vaga de estágio de lá, e assim comecei a ter esperanças, já era um começo. Mas irei resumir logo os detalhes sobre o processo seletivo em si, foram duas partes, a primeira foi uma simples redação de no máximo 25 linhas sobre a mobilidade urbana nos dias de hoje, assunto o qual eu entendia bem, mas o que não impediu de eu fazer a besteira de só reparar que era no máximo 25 linhas quando faltavam 6 linhas pra chegar no limite, ou seja, tive que me virar pra concluir meu pensamento com o pouco espaço que ainda me sobrava, e eu sinceramente não gostei do resulto, mas tive que entregar assim mesmo.
Meses depois eles ligaram novamente me chamando pra segunda parte do processo seletivo deles, fiquei surpreso, já que eu próprio não tinha gostado do resultado da primeira parte, mas de qualquer forma eu fiquei feliz. Dessa vez eu tive que fazer mais ou menos o que eu faria lá se caso fosse contratado, me botaram pra ver algumas reportagens de dias anteriores e pediram que eu fizesse um mini-resumo de cada uma, o que eu não achei muito difícil, aliás, dessa vez eu tinha gostado do meu resultado, e estava bem confiante.
Confiança essa que foi indo embora ao longo que eles demoravam para me dar uma resposta, passou-se um tempo e eu já tinha perdido as esperanças de ser contratado, até que uns meses depois mais uma vez eles me ligaram, e assim minhas esperanças se reacenderam, quando atendi me disseram que eu não tinha conseguido o estágio, primeiramente, mas que eles estavam me chamando pra me dar outra chance pra uma outra vaga, e certamente eu aceitei.
Dessa vez, foi mais simples, foi só uma entrevista onde eles praticamente só fizeram dizer que eu estava contratado, sendo que no caso não era pra uma vaga de estágio, e sim para um emprego temporário que duraria até o fim da época de eleições (2 meses caso terminasse no 1º turno, e 3 se caso houvesse 2º turno), mas mesmo assim eu aceitei, porque não deixava de ser alguma coisa, aliás, bastante coisa, séria uma boa experiência já que eu iria trabalhar na área de comunicação, seria algo a mais pra por no currículo isso sem falar que o salário era bom.
O que eu iria ter que fazer? Teria que rastrear propagandas políticas nas rádios e anota-las numa planilha com os respectivos horário que cada uma passou, falando dessa forma parece até que é muito fácil, mas eu garanto que não é, principalmente pelo fato que eu teria que ouvir duas rádios ao mesmo tempo, uma tocando ao vivo e a outra gravada.
E pra que eu teria que fazer isso? Pro cliente saber se a emissora ta colocando os comerciais nos horários que deve colocar e na quantidade certa (podendo dá até mesmo em processo jurídico caso a emissora em questão não o fizesse).
Certamente eu não fui o único contratado pra essa tarefa, outras 15 pessoas também foram contratadas para fazer o mesmo serviço, 8 iriam trabalhar com televisão e outras 8 com rádio, 4 de cada trabalhariam no turno da manhã e as outras 4 no turno da tarde, isso sem falar que quem ficasse de manhã também trabalharia nos sábados e quem ficasse de tarde, nos domingos. E pra piorar, o expediente começava as 6 da manhã, ou seja, pra chegar a tempo eu teria que acordar umas 4 e pouca da manhã.
Ou seja, definitivamente não seria fácil, mas eu estava pronto assim mesmo.
Certamente, o primeiro dia foi o mais difícil, aquilo tudo era novo não só pra mim, como também para todos que começaram, primeiramente pelo fato de ter que acordar as 4 e meia da manhã, ter q tomar banho frio no frio, e sair andando na rua até a parada de ônibus ainda estando escuro e a rua vazia. E também porque todas as propagandas que iriam ao ar naquele dia eram novas, ou seja, a gente teria que pega o tempo de duração de cada uma pra depois eles poderem fazer o cadastro de cada uma, e era exatamente isso que complicava tudo, já que era tudo em questão de segundos (claro, se a gente quisesse checar de novo a gente poderia fazer isso pegando a gravação da rádio em questão), mas de qualquer forma, nossa atenção foi testada ao máximo, e a sensação era de que eu ia ficar doido.
Nos dias seguintes as coisas já facilitaram bastante porque as propagandas já estavam registradas, ou seja, a gente só precisaria anotar os códigos delas (mas claro, se caso aparecesse uma nova a gente teria que pegar o tempo e sobre o que ela falava), mas em compensação, quando a gente chegava lá de 6 da manhã, já teríamos que rastrear 6 horas de gravação (3 de cada rádio), e se possível, fazer isso antes das 8 que era a hora que teríamos que começar a ouvir a rádio ao vivo.
Era difícil, mas com o tempo eu iria me acostumar, e certamente tudo ficaria mais fácil, e por isso que minhas expectativas são as melhores possíveis, aliás, pra alguém de 19 anos, o primeiro emprego já é um grande passo.


Brian

domingo, 10 de agosto de 2014

Uma importante conversa com a minha consciência

Minhas férias tinham finalmente terminado, e eu estava de volta a velha rotina de sempre, apesar que minha expectativas pro 3º período da faculdade eram as melhores possíveis, finalmente iria começar a parte prática do curso de Jornalismo, e não só eu, mas como também boa parte da sala esperávamos há muito tempo por isso.
Mas de uma forma ou de outra o que eu sentia mais saudades da faculdade era o pessoal, não tive muitas chances de sair com eles durante as férias, principalmente por causa de uma torção que sofri no pé que me deixou em casa por três semanas, isso sem falar em alguns amigos meus que iriam começar a faculdade naquele semestre, entre eles Henrique que começaria o curso de Licenciatura em História e Caio que começaria o de Ciências Biológicas lá pela Federal.
E além disso tudo, ainda havia um outro aspecto importante que me deixava feliz com a volta às aulas, eu finalmente veria "Ela" de novo, "Ela" que mesmo depois de 2 meses de férias, ainda não saia da minha cabeça. Eu até pensei em chamá-la pra sair durante as férias, mas me faltaram "culhões" pra fazer tal convite, minhas incertezas continuavam a me incomodar, e aos poucos elas me deixavam doido. Mas o que mais me ferrava era a minha timidez, eu não tinha coragem nem mesmo de chamá-la pra dar uma volta pela faculdade só eu e ela.
Poucas pessoas sabiam do meu interesse por ela, pra mim enquanto menos soubessem, melhor, eram essas pessoas Júlia, Joey, Thiago e Andreza, que eram as pessoas que eu mais confiava.
Era sexta-feira a noite, chegava ao fim a primeira semana de aula, que por incrível que pareça eu achei muito boa, as expectativas pra aquele novo período eram as melhores possíveis. Cheguei em casa naquele dia super cansado, e deixei qualquer coisa que eu precisasse fazer pro fim de semana, depois de tomar banho e jantar, me sentei na frente do computador e comecei a fazer coisas aleatórias por lá. E depois de um bom tempo andando pelas redes sociais, eu vi "Ela" online, ela tinha faltado aula naquele dia, ou seja, a saudade estava batendo forte, queria muito saber o porque que ela não tinha ido pra faculdade hoje.
Mas parecia que nem pra isso eu tinha coragem, eu abri a "janela de conversa" dela e fiquei por minutos olhando pra ela pensando se eu puxava assunto mesmo ou não, por incrível que pareça eu estava com um receio, provavelmente era frescura minha, sendo que, sei lá, eu estava com medo de ser um incômodo, ou algo do tipo, como eu disse, provavelmente era frescura minha.
E lá estava eu ainda olhando pro perfil dela, pensando se realmente devia fazer aquilo ou não, se era realmente uma boa ideia, foi então que senti uma presença estranha, fazia um tempo que não a sentia, mas eu sabia muito bem o que era.
- Quanto tempo, hein? - falei pra minha consciência
Desde que me recuperei do meu acidente que minha consciência não aparecia mais pra me da nenhum tipo de bronca, o real motivo disso eu não sei, mas eu não acredito que seja porque eu tenho andado na linha por todo esse tempo.
- Realmente, muito tempo... - falou minha consciência por trás de mim, que mais uma vez estava assumindo a minha fisionomia.
- A que devo a honra da sua visita depois de todo esse tempo?
- Acho que você sabe bem a resposta dessa pergunta. - falou
- Mas me diga da mesma forma. - respondi
- Só lhe digo uma coisa, você está olhando pra ela a mais ou menos 5 minutos.
Como eu imaginava.
- Deixe-me adivinhar o que você vai me falar então... - falei - vai dizer pra eu deixar de frescura e falar com ela logo, certo?
- Se você já está ciente disso, porque ainda não o fez?
Pensei por alguns segundos, e disse:
- Eu sinceramente não sei dizer.
- Eu tenho um palpite... - disse minha consciência
Já sabia que vinha alguma bronca logo em seguida.
- Diga! - falei
- Porque você é um fraco, que não consegue nem mesmo puxar conversa com uma pessoa que é sua amiga.
- Você sabe o porquê que eu to assim.
- Sei sim... - falou - e sei também que é simplesmente por frescura.
Fiquei calado, infelizmente eu sabia que aquilo era verdade.
- Devo entender seu silêncio como um consentimento? - perguntou
Continuei calado.
- Foi o que eu imaginei. - completou
- Eu só não quero ser chato, simplesmente. - falei
Minha consciência riu.
- Como assim? - falou - pare com essa mania de sempre achar que ta incomodando, ela é sua amiga, provavelmente ficaria feliz se você fosse perguntar pra ela o porquê que ela não foi hoje.
Pensei por alguns instantes, e disse:
- É, provavelmente... - nem eu mesmo senti firmeza no que eu disse
- Sabe qual é o seu problema, Brian? - falou minha consciência
- Qual?
- O seu medo de arriscar.
Infelizmente aquilo era verdade.
- Você não sabe o quanto você já teria conquistado se arriscasse mais as coisas...
- Não é tão fácil assim quanto parece. - falei
- Mas também não é tão complicado, mas você adora por dificuldade nessas coisas.
- Eu tenho culpa por ser tímido?
- Tem sim, porque você nunca tenta superar a sua timidez.
Outra verdade.
- Vou usar uma língua da qual você entende melhor... - falou - já se perguntou o porquê que você nunca fica com nenhuma menina normalmente?
- Porque eu nunca arrisco. - respondi
- Exato, agora me diga, por que você nunca arrisca?
- Porque eu sempre acho que vai dar merda.
- Pronto, é esse tipo de coisa que você tem que parar.
Eu apenas o ouvia.
- Você não consegue nem ao menos puxar papo, tu tem essa mania chata de sempre esperar que ela que puxe, por isso normalmente você não consegue nada... - então ele continuou - um "oi", cara, é tão difícil assim dizer um "oi"?
- Ás vezes eu me pergunto bastante isso. - falei
- E outra, se der merda, deu, faz parte, é levantar a cabeça e partir pra outra.
- É que você sabe, tive experiências em que realmente deu merda, e isso acaba com a auto-estima do cara.
- E também teve outras em que deu certo, estou errado?
Respirei fundo, e disse:
- Não, não está!
- E outra, você terá que vencer essa timidez de uma forma ou de outra, sua profissão exigirá isso.
- Eu sei, ás vezes penso nisso também.
- Então, comece por agora! - falou apontando pra tela do meu computador
E assim minha consciência desapareceu, encerrando a conversa naquele momento, e eu já sabia o que tinha que fazer.
E assim eu finalmente fui falar com "Ela", quando o fiz ela realmente pareceu feliz por eu ter perguntado o porquê que ela não foi, isso fez eu me sentir bem. Quando eu perguntei, ela disse que foi porque ela estava um pouco doente, meio febril e com dor de garganta, e assim eu dei meus desejos de melhoras pra ela.
E logo após eu comecei a falar pra ela sobre o que foi dado na aula daquele dia, e dei todos os avisos que ela precisava saber, e depois ficamos conversando sobre coisas aleatórias.
Felizmente, tudo corria bem.


Brian

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - Parte 8/Final*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Quando Dylan terminou de contar tudo, ficou claramente perceptível o esforço que ele fez pra não chorar, não tinha dúvidas que era difícil pra ele estar falando daquilo.
- Sinto muito, cara.
- Não sinta! – falou ele
Comecei a me sentir mal por ter pedido pra ele falar aquilo tudo, nunca o vi tão abatido.
- Bom... – falou ele – essa é a minha história.
- Desculpa por te fazer relembrar isso tudo.
- Besteira, não precisa se desculpar... – disse ele – você está certo, esconder os sentimentos não muda o fato que eu os tenho.
Então ele acendeu outro charuto daquela maldita caixa que eu peguei pra ele.
- Vou aproveitar pra lhe dar mais uma lição. – falou
- Fale!
- Como você deve ter ouvido bem, o que matou a minha esposa foi à piedade que ela teve com o meu filho quando ele se transformou em zumbi.
- Certo! – falei
- Por isso a lição é a seguinte... – ele tentava segurar uma lágrima no olho dele enquanto falava – se caso você ache algum ente querido por ai que tenha virado zumbi, não hesite em mata-lo, porque você pode ter até piedade dele, mas ele não terá de você, principalmente que não será mais ele naquele corpo, e sim um monstro cujo instinto principal dele é atacar qualquer coisa viva que aparecer na frente.
Ele ainda se esforçava pra não chorar, deu mais uma tragada em seu charuto e tentou relaxar.
- Eu sei como é... – falei – já tive que passar por uma situação do tipo.
- Como foi o seu caso? – perguntou ele dando mais uma tragada no charuto.
- Bom, aconteceu umas semanas após meu pai ter morrido, um dos primeiros locais que eu procurei com a esperança de achar alguém foi a casa da minha avó, desde que tudo tinha começado que eu não tinha notícias dela. – fiz uma pausa, e continuei  - quando cheguei na casa dela eu vi que estava tudo abandonado, mas ainda assim resolvi checar o lado de dentro...
- E deixa-me adivinhar... – interrompeu Dylan – achou ela lá dentro transformada em zumbi?
- Certo!
- E qual foi a sua reação?
- Por um instante eu pensei em hesitar, mas depois que ela veio correndo até mim, não tive outra reação diferente de tacar o pé-de-cabra na cabeça dela.
- E depois de ter feito isso?
- Veio o desespero, não só pelo fato dela estar morta, mas também porque aquilo era a confirmação de que eu estava sozinho no mundo.
- Entendo... – falou Dylan, após da outra tragada no charuto – mas você se arrepende do que fez?
- Não!
- Você sabia que era o mais correto a se fazer?
- Sim, é o que mais me tranquiliza.
- Ótimo, continue assim.
Depois nós dois ficamos calados por alguns instantes, eu ainda me sentia mal por ter causado aquilo tudo, e Dylan, certamente, pior ainda. Mas foi então que eu me lembrei de uma última pergunta que ainda me martelava a cabeça, não sabia se era uma boa ideia fazê-la, mas também não ficaria tranquilo se eu não tivesse a resposta.
- Dylan?
- Fala!
- Se não for pedir muito, posso lhe fazer uma última pergunta?
- Manda!
Respirei fundo, pensei novamente se aquilo era uma boa ideia, e assim finalmente falei:
- Por que você me salvou?
Dylan estranhou a pergunta.
- Por que você simplesmente não me deixou naquela mata pra morrer? – continuei
Ele parecia não saber exatamente o que dizer, ficou um bom tempo de cabeça baixa provavelmente pensando no que ia falar. E depois de pensar bastante, ele finalmente disse:
- Por esperança...
Acho que eu compreendia um pouco do que ele queria dizer.
- Como eu te falei quando a gente se conheceu... – continuou – até certo tempo eu achei que não havia mais ninguém por ai a não ser eu, da mesma forma que você achou, e quando te achei eu simplesmente tive a esperança de que há muito mais pessoas por ai, sobrevivendo, que nós não somos os últimos.
Foi praticamente a mesma coisa que eu senti quando o encontrei.
- Eu conheço bem essa sensação... – respondi – me senti da mesma forma.
- E por isso... – continuou ele – fiz contigo o que eu não fiz nem com a minha mulher e nem com o meu filho, que foi te ensinar a sobreviver.
- Como assim? – perguntei
- O máximo que eu ensinei pra Paola foi como usar uma arma, e só, mas digamos que se eu tivesse morrido antes dela eu tenho certeza que ela não iria conseguir sobreviver no mundo lá fora, nem ela e nem meu filho.
Ele ainda tentava não chorar.
- Eu achei que conseguiria protege-los, mas eu me enganei.
Ele deu uma última tragada no charuto, o apagou e depois jogou fora, e então continuou:
- E por isso que eu fiz todos esses treinamentos contigo, todos esses testes, pra que na pior das hipóteses você saiba o que fazer e consiga se manter vivo, por isso também todas as lições que te ensinei.
E depois disso ficamos calados de novo, até o momento que eu disse:
- Obrigado, cara... – mesmo depois que ele me salvou eu não cheguei e falar isso pra ele – obrigado por ter me salvo, e obrigado por tudo isso que você tem feito por mim.
- Não precisa me agradecer. – disse ele
- Preciso sim, isso sem falar que eu não fiz isso quando você me salvou, já estava te devendo.
Ele me deu um pequeno sorriso, e depois disse:
- Não foi trabalho nenhum, saiba disso.
E depois de uma pausa, Dylan falou:
- Agora chega desse drama todo e vamos dormir.
- Estou sem sono. – falei
- Mas eu estou... – disse ele – pode dormir a hora que quiser, mas ainda assim te acordarei cedo amanhã.
- O quão cedo?
- Cinco horas.
- Está certo então!
- Boa noite! – disse Dylan se acomodando no sofá
- Boa noite! – respondi
Dylan não demorou muito pra cair em sono profundo, eu ainda fiquei 40 minutos andando pela casa, pensando em coisas aleatórias, até finalmente ir dormir.
No dia seguinte, Dylan me acordou exatamente às 5 horas da manhã, comemos algumas frutas que eu tinha trago e logo após seguimos caminho em direção a praia, mais uma vez tivemos que ser cautelosos no caminho, não foram poucas o número de vezes que vimos zumbis pelo caminho, e também houve as vezes que tivemos que matar alguns.
E depois de uma hora e meia de caminhada, finalmente chegamos à praia, ainda tivemos que andar por mais 25 minutos pelo calçadão até avistar a pick up. Quando nos aproximamos dela, Dylan se virou pra mim e disse:
- Jonnatan...
- Oi?
Ele parecia meio sem jeito pra falar aquilo, mas pediu:
- Posso da uma olhada na sua mochila?
- Pra quê? – perguntei
- Depois eu explico, só me entregue por agora.
- Ok então! – mesmo confuso, entreguei minha mochila pra ele.
Dylan a pegou e entrou na traseira da pick up, e eu apenas o observei de longe, mas ainda assim deu pra ver que ele também tirava umas coisas da mochila dele e colocava na minha, e eu simplesmente não entendi o que estava acontecendo.
- Ok, Dylan... – gritei – só espero que você me explique o que tá acontecendo.
- Fica frio! – falou ele ainda dentro da pick up.
Quando ele finalmente saiu da pick up com a minha mochila, ele não estava com uma cara muito feliz, ele tava com aquela expressão fácil de quem iria dá uma má notícia.
- A gente precisa conversar. – disse ele
Eu fiquei assustado.
- Você tá me assustando, Dylan, o que tá acontecendo?
- O que tá acontecendo é que... – ele hesitou por um instante, mas disse – você não voltará pra casa comigo.
- Como assim? – perguntei surpreso.
Dylan respirou fundo, e disse:
- Lembra de tudo que eu disse ontem?
- Sim! – falei
- Pronto, há uma coisa que eu não mencionei.
- O que?
Eu estava ficando muito assustado com aquilo.
- Que aquilo tudo, os treinamentos, os teste, foram tudo uma preparação pra eu te soltar no mundo.
- Pera... – eu tentava acreditar no que eu estava ouvindo – você está me mandando embora?
- Não há maneira melhor de dizer isso, mas, sim, estou.
- Mas, por quê?
- Porque é o melhor pra nós dois.
Tentei falar mais algo, mas eu estava sem palavras.
- Vá por mim... – continuou Dylan – melhor que seja agora.
- Me explique o porquê.
- Ok, pois preste atenção porque essa vai ser uma das lições mais importantes que eu irei lhe ensinar.
E assim fiquei atento ao que ele ia dizer.
- No mundo em que vivemos hoje a principal regra de sobrevivência é simplesmente, não se apegar a nada e nem a ninguém, principalmente a aquilo que você sabe que pode perder.
“Na verdade sempre foi a regra mais importante” pensei
- E essa era a razão a qual eu nunca me abria com você, porque eu evitava me apegar, a última coisa que eu queria era te ver como um filho, eu quero que você continue pra mim como um simples garoto que eu ajudei uma vez, e é por isso que eu preciso te mandar embora.
Ele deu um suspirou, e voltou a falar:
- Também não quero que você me veja como um pai. – depois de mais um suspiro, ele continuou – desde que eu te achei naquela mata eu vi que você era forte, mas pra você conseguir sobreviver nesse mundo é necessário você ser muito mais, e eu o treinei pra isso, e depois desse último teste no shopping não me resta mais dúvidas de que você está pronto pra enfrentar o que a vida jogar em você.
Eu ainda estava sem palavras, estava difícil digerir aquilo tudo.
Até que eu finalmente disse:
- Então, desde que você me salvou naquela mata você já pretendia me soltar no mundo de novo?
- Sim... – respondeu ele – só precisava ter certeza de que você estava pronto, o que agora eu finalmente tenho.
Foi então que eu lembrei de um detalhe.
- Você fala pra não se apegar a nada, mas continua na mesma casa que você morou com a sua mulher e seu filho.
- Eu sei o que está pensando, e eu admito que esse é um erro meu. – falou – eu simplesmente não consigo me desfazer dela, da mesma forma que eu não consigo me desfazer da foto deles, é muito difícil pra mim.
Respirei fundo, e falei:
- Imagino como!
Depois de ficarmos calados por alguns instantes, Dylan entregou minha mochila e disse:
- Toma, coloquei algumas coisas ai que você poderá precisar e também munição o suficiente pra 1 mês, claro, se você economizar bem.
Peguei uma mochila, e dei uma checada em tudo que ele colocou.
- E antes que eu me esqueça... – falou ele indo em direção a pick up.
Observei de longe, e vi ele tirando algo de baixo do banco do passageiro, foi quando eu vi que era uma metralhadora.
- Acho que você também já está pronto pra usar uma dessas. – falou ele me entregando a arma – e tudo bem, também deixei munição o suficiente pra 1 mês.
Senti um pouco a arma, a apontei pro nada, puxei a trava e depois a coloquei nas costas, certamente eu teria uma boa oportunidade pra testa-la melhor.
- Bom... – falou Dylan – acho que isso é tudo, hora de partir.
Ele estendeu a mão pra mim e assim eu a apertei.
- Obrigado por tudo... – falei – foi bom lutar do seu lado.
Depois de largar a minha mão, Dylan disse:
- Por favor, me poupe desse sentimentalismo... – riu ele – simplesmente mande eu ir pro inferno.
Eu ri junto com ele.
Dylan foi andando em direção a sua pick up, e antes de entrar nela, ele se virou e falou:
- Uma última dica, não fique pela cidade, vá pro campo, como você pode ver, a concentração de zumbis aqui é muito grande.
- Assim farei! – respondi
- E também, nunca desista de lutar pela vida, por mais bosta que o mundo esteja, sempre tente sobreviver ou morra tentando.
- Eu não lhe decepcionarei!
- Assim espero! – falou ele abrindo a porta do carro
- Voltaremos a nos ver de novo? – perguntei
- Acho muito pouco provável, mas quem sabe?
Então ele entrou no carro, fechou a porta, e seguiu o caminho de casa, e eu fiquei parado observando a pick up desaparecer ao longo da estrada.
“Novamente sozinho...” pensei “...mas acho que ele estava certo, talvez seja melhor pra nós dois.”
Com esses pensamentos em mente eu dei meia volta e fui andando pelo calçadão, pra onde? Não fazia a menor ideia, simplesmente seguiria meu caminho e esperaria pra ver até onde ele iria.
No caminho eu me surpreendi quando achei um carro ainda inteiro, não era dos mais bonitos, mas já servia, e eu tinha as ferramentas pra liga-lo. Peguei o cabide que Dylan me deu e o usei pra abrir a porta pelo lado de fora, e com as ferramentas que ele deixou na minha mochila eu consegui ligar o carro, e dessa forma segui pra mais uma jornada nesse mundo devastado.
Enquanto a Dylan, depois daquele dia eu não tive mais notícias dele, talvez esteja morto, talvez esteja vivo, não sei. Mas eu realmente torço pra que ele esteja bem, o que eu imagino que esteja ele era durão, os zumbis precisariam ganhar inteligência pra conseguir abatê-lo.
E até hoje eu sou grato por tudo que ele me ajudou, e definitivamente se não fosse por ele, talvez eu não estivesse aqui pra contar essa história pra vocês. Ele me ajudou a criar um novo Jonnatan, mais seguro, mais forte, mais ágil, mais confiante, e o mais importante de tudo, muito mais determinado a lutar pela sobrevivência.
Muito obrigado Dylan, onde quer que você esteja, espero que esteja bem.



Fim.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - Parte 7*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Havia uma loja de roupas não muito longe dali, quando a gente voltou pro centro foi à primeira coisa que a gente viu. Entrei lá e peguei qualquer trapo que coubesse no meu corpo, já infelizmente, o banho não foi possível, não achamos nenhum local com um chuveiro que funcionasse, então eu tive que cheirar a coisa morta por um bom tempo.
Depois de quase uma hora caminhando, a gente já estava longe o suficiente do shopping, ao longe ainda se via a fumaça saindo dele cada vez mais acinzentada, o que estava chamando à atenção dos zumbis nos arredores, no caminho a gente viu bastante deles indo em direção ao shopping.
Eram quase quatro da tarde, eu e Dylan decidimos que seria melhor a gente acampar por ali, não era seguro ficar na estrada durante a noite, então começamos a procurar um local seguro pra nos acomodar.
Avistamos um prédio não muito grande, tinha apenas 5 andares, então decidimos ficar por lá. Com as armas em mãos, entramos calmamente no edifício sempre checando se não havia algum zumbi pela área. O máximo que achamos foram dois zumbis feridos no estacionamento, sendo um deles uma criança, ambos estavam sem uma das pernas, Dylan abateu um com a sua machete e eu abati a criança com o pé-de-cabra.
Logo em seguida fomos pras escadas, antes de subirmos, Dylan deu uma chutão na lixeira que provavelmente ecoou pelos 5 andares do prédio, esperamos um pouco, e assim que confirmamos que não havia nenhum zumbi ali, subimos.
Eu ia entrando logo no primeiro andar se Dylan não tivesse continuado a subir.
- Aqui já tá bom, não? – perguntei
- Não... – respondeu ele – vamos até o último.
- Você tá falando sério? – perguntei indignado
- Sim, porque lembre-se, quanto mais alto, menos chances de aparecer um zumbi na nossa porta.
Não tinha engolido aquilo, mas aceitei porque era o jeito.
Quando chegamos ao quinto andar eu já estava exausto, aliás, não havia outra palavra que me definisse melhor naquele momento do que “exaustão”, definitivamente aquele não tinha sido um dia fácil.
Só havia um apartamento por andar, tentamos abri-lo normalmente, mas estava trancado, então Dylan pegou impulso e deu um chutão na porta a arrombando, esperando alguns segundos a espera de algum zumbi e depois entramos com as armas em mãos.
- Olhe todos os cômodos. – mandou Dylan
- Certo!
O apartamento não era muito grande, olhamos cada cômodo e cada buraco possível a procura de qualquer zumbi, nenhum foi encontrado, sendo assim nos encontramos na sala.
- E aí? – perguntou Dylan
- Tudo limpo! – respondi
- Ficaremos aqui essa noite então... – falou ele jogando suas coisas no sofá – pode escolher um quarto, eu me acomodarei no sofá mesmo.
Eu escolhi um quarto que parecia ser do filho da família que morava ali, o colchão não estava nas melhores condições, mas já era alguma coisa, deixei minhas coisas no chão e fui da uma olhada mais aprofundada na casa.
Ao que parecia, naquela casa morava uma família de quatro pessoas, o pai, a mãe, e dois filhos, sendo eles um casal, provavelmente o garoto era mais velho e a menina a caçula, pelas coisas que tinham em seu quarto provavelmente ele tinha entre 16 e 18 anos, e fazendo a mesma avaliação com a garota a probabilidade é que ela tinha entre 12 e 14 anos. Mas era tudo que dava pra supor, não havia mais fotografias naquela casa, provavelmente eles levaram todas quando fugiram o que era normal, já que com o caos que esse mundo tinha se tornado uma das únicas coisas que ainda davam pra manter intactas eram as lembranças, boas e ruins.
- Jonnatan! – ouvi Dylan chamar
Então voltei pra sala pra ver o que ele queria.
- Não vai comer? – perguntou ele com um sanduíche de peixe na mão – depois disso tudo você deve estar faminto.
E ele estava certo, peguei o sanduíche, me sentei ao lado dele e comecei a comer. Dylan aproveitou o momento pra acender um dos malditos charutos que quase me mataram, eu certamente odiava o cheiro daquilo, mas ainda assim eu não reclamava, meu pai também fumava, eu já tinha aprendido a suportar aquilo há um bom tempo.
- Agora... – falou Dylan dando uma baforada do seu charuto – você ainda não me contou tudo que aconteceu naquele shopping.
- Bom... – e assim eu o contei todos os detalhes do que aconteceu lá, principalmente do meu plano pra conseguir passar pelos zumbis sem ser percebido.
Depois que terminei de falar, Dylan disse:
- Caramba, muito bem pensando.
- Obrigado!
- Sério, se sujar com tripa de zumbi e fingir que é um deles, isso é uma coisa que nunca me passou pela mente antes... – falou ele – ah, se eu tivesse pensando nisso antes, teria me poupado de tanto trabalho em tantas situações.
Dylan deu mais uma tragada no seu charuto e olhou pra janela, já estava escurecendo, e daquele apartamento a gente conseguia ver o clarão causado pelas chamas vindo do shopping.
- Você fez um belo de um estrago, pelo visto. – disse ele
- Concordo!
Provavelmente se um dia eu voltasse a pisar no Rio, aquele shopping não estaria mais lá.
Depois de alguns instantes sem ninguém falar mais nada, eu terminei o meu sanduíche e Dylan apreciava seu charuto. Era quase seis da noite, as estrelas já apareciam no céu junto com uns poucos feixes de luzes solar, e enquanto isso o incêndio do shopping iluminava um pouco mais a cidade, e da mesma forma se ouvia os zumbis na rua, na noite eles eram mais ativos, por isso que o cuidado tinha que ser redobrado.
Foi então que houve um momento que eu olhei pra Dylan, e vi ele tirando algo do bolso, ele provavelmente não percebeu que eu estava vendo, no instante eu reconheci o que era aquilo que ele tinha em mãos, era a foto que eu tinha achado no quarto de hóspedes, ele a olhava atentamente, provavelmente lembrando dos momentos que passou com eles.
- Dylan? – falei
E no mesmo instante ele se assustou e guardou a foto rapidamente.
- Não adianta esconder, eu vi o que você tinha ai.
- Não sei do que você está falando. – disse ele confuso
- Sabe sim, não minta pra mim.
Ele ainda se recusava a falar.
- Dylan... – falei com paciência – uma vez eu olhei o criado-mudo do quarto de hóspedes e achei essa foto ai que você está escondendo.
Ele não pareceu feliz em ouvir aquilo.
- É a sua família, né?
Com muita relutância, ele respondeu:
- Sim!
Então eu respirei fundo, e disse:
- Cara, já faz 1 mês desde que você me encontrou naquela mata, e eu me lembro bem que quando eu lhe perguntei sobre a sua história naquele dia, você disse que isso ficaria pra uma outra oportunidade, lembra?
Com receio, Dylan respondeu:
- Sim!
- Bom... – falei – quando você disse isso, eu não falei nada e nem enchi seu saco sobre isso, certo?
- Certo!
- Mas você não acha que você já me deve isso?
Depois de alguns segundos pensando, claramente irritado com aquilo, Dylan respondeu:
- Acho!
E depois de alguns instantes, ele continuou:
- Mas eu quero que você entenda antes... – ele realmente não estava confortável por estar falando aquilo – que não é fácil pra mim ficar relembrando de certos momento.
- Eu imagino... – falei – mas esconder seus sentimentos não muda o fato de você tê-los.
Ele ainda parecia muito receoso em relação aquilo, mas falou:
- Tá certo... – falou ele – lhe contarei tudo!
E assim ele começou seu depoimento:
“Acho que devo começar dando um pequeno resumo da minha infância, então vamos lá:
Eu vivi e cresci numa fazenda no interior de Minas Gerais, fui o tipo de garoto que vivia solto no mundo e que aprontava muito, meu pai era bastante ausente por causa dos negócios, e minha mãe nunca foi do tipo mais atenciosa, ou seja, minha vida toda eu tive que me virar sem eles.
E como você bem sabe, aos 19 anos eu servi um ano no exército, que foi onde eu aprendi a ser forte e ter resistência, assim como também aprendi nos meus treinamentos de kung fu. Depois de cumprir o meu dever com a pátria, eu foquei em estudar pro vestibular e cursar uma boa faculdade de administração, o que eu consegui naquele mesmo ano, pode até não parecer, mas, eu era um aluno dedicado.
Sendo que no meu segundo ano de faculdade meu pai faleceu, então eu tive que trancar o curso pra poder dirigir os negócios dele, o que eu sinceramente odiava. A última coisa que eu queria era passar o resto da minha vida atrás de um balcão de um mercado que mal dava lucro e atolado em dívidas, mas infelizmente aquele era o nosso ganha-pão.
Até que um dia, a situação ficou tão difícil, que tivemos que vender a fazenda e nos mudar pro Rio, e infelizmente o mercado também não se sustentou e foi à falência. No Rio, eu e minha mãe passamos a viver de favor na casa de uma tia e tivemos que trabalhar na loja de tecidos dela.
Foi uma das piores épocas da minha vida, mas também foi ai que conheci a pessoa mais importante na minha vida, a minha mulher, Paola. Ela era uma cliente constante da loja, sempre acompanhava sua avó até lá, e eu sempre ficava a admirando do balcão, quando eu estava nos meus piores dias vê-la sorrindo sempre alegrava meu dia, me dava uma ótima sensação de tranquilidade.
Por mais ou menos 3 meses eu apenas apreciava de longe seus longos cabelos castanhos, sonhando alto, até que um belo dia eu tive a chance de conhece-la melhor. Eu tive a felicidade de encontra-la no mesmo bar que eu estava na Lapa numa sexta-feira a noite, era a oportunidade perfeita pra fazer contato, fiquei nervoso, de fato, mas felizmente deu tudo certo, desde aquele dia viramos bons amigos.
Depois de 6 meses de amizade eu finalmente tive coragem de me declarar pra ela e pedi-la em namoro, e pra minha felicidade ela aceitou. Era a iniciativa que eu precisava pra voltar pra faculdade e sair das asas da minha tia.
Depois de 3 anos eu finalmente me formei em administração, saí da casa da minha tia, e aluguei um apartamento com a Paola, e na mesma época eu a pedi em casamento. Casamo-nos 1 ano depois e pouco depois disso ela ficou grávida do meu único filho, Michel, que nasceu 9 meses depois lindo e saudável, até aquele momento eu estava com a vida que pedi a Deus, mas só até aquele momento.
Foi então que essa maldita epidemia começou e o caos foi instaurado, meu Michel já tinha 12 anos, e estava completamente assustado com aquilo tudo, assim eu e Paola decidimos nos afastarmos da cidade até que tudo se acalmasse, consegui uma sniper pra mim, peguei o antigo revólver do meu pai e fomos pra antiga casa de campo da família dela, que é a mesma casa em que estamos no momento.
E por lá vivemos juntos por mais ou menos 4 meses, vivendo na mais pura tensão. E no quarto mês desde que fomos pra lá, meu filho estava andando pelo lado de fora da casa, desobedecendo a uma ordem dada por mim e pela mãe dele, sendo que na hora eu estava caçando e Paola lavando roupa.
Em um momento que Michel estava correndo atrás de um sapo, um zumbi o surpreendeu, ele era só um garoto, não sabia o que fazer numa situação dessas, e isso acabou o matando. Paola correu pro lado de fora da casa quando viu o zumbi em cima dele, conseguiu lhe acertar um tiro na testa, mas já era tarde, Michel já tinha sido mordido.
Quando eu ouvi o tiro voltei pra casa o mais rápido possível, e quando cheguei no quintal tive a triste surpresa de ver Michel sangrando nos braços de Paola, ele ainda estava vivo, mas por um fio. Aproximei-me dela e ela me contou tudo que aconteceu, e ainda mantivemos as esperanças de que nosso filho conseguiria sobreviver, que certamente foi em vão, depois de cinco minutos agonizando, ele se foi.
Eu e Paola nos desatamos em choro, não há dor pior do que a perda de um filho, quando fui pegar a pá pra enterra-lo, Paola ficou sozinha com ele, e quando eu estava lá dentro que eu me lembrei de um detalhe importante, a transformação.  Corri em direção ao quintal com a arma na mão, e ao chegar lá eu vi Michel em pé novamente, sendo que não era mais ele, já estava transformado.
E para piorar ele estava indo em direção de Paola, e ela, transtornada, estava de braços abertos pra ele achando que era realmente ele. Tentei avisa-la, mas já era tarde, ela tinha sido mordida no pescoço, e nesse momento, rapidamente tirei Michel de cima dela e meti a machete em sua testa. Paola gritou em desesperou, eu tentei acalma-la, mas de nada adiantava, nem eu conseguia ficar calmo.
E pouco depois, Paola se foi, e o que mais me doía é que ela morreu com o pensamento que eu tinha matado o nosso filho, depois de sua morte eu não perdi tempo, lhe dei um último abraço, peguei o revólver da cintura dela e lhe dei um tiro na cabeça. Definitivamente aquele foi o pior dia da minha vida.
Os enterrei atrás da casa, e com o passar do tempo o túmulo deles ficaram cobertos com a plantação local. Daquele dia em diante eu nunca mais fui à mesma pessoa, nunca mais encontrei a felicidade, e assim passei a viver sozinho nesse mundo, e dedico cada dia que eu consigo me manter vivo pra Paola e Michel, pra que eles saibam, seja onde eles estiverem, que eu ainda os amo muito, e que nunca deixarei de ama-los.”


[Fim do depoimento]

(continua)