quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - Parte 8/Final*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Quando Dylan terminou de contar tudo, ficou claramente perceptível o esforço que ele fez pra não chorar, não tinha dúvidas que era difícil pra ele estar falando daquilo.
- Sinto muito, cara.
- Não sinta! – falou ele
Comecei a me sentir mal por ter pedido pra ele falar aquilo tudo, nunca o vi tão abatido.
- Bom... – falou ele – essa é a minha história.
- Desculpa por te fazer relembrar isso tudo.
- Besteira, não precisa se desculpar... – disse ele – você está certo, esconder os sentimentos não muda o fato que eu os tenho.
Então ele acendeu outro charuto daquela maldita caixa que eu peguei pra ele.
- Vou aproveitar pra lhe dar mais uma lição. – falou
- Fale!
- Como você deve ter ouvido bem, o que matou a minha esposa foi à piedade que ela teve com o meu filho quando ele se transformou em zumbi.
- Certo! – falei
- Por isso a lição é a seguinte... – ele tentava segurar uma lágrima no olho dele enquanto falava – se caso você ache algum ente querido por ai que tenha virado zumbi, não hesite em mata-lo, porque você pode ter até piedade dele, mas ele não terá de você, principalmente que não será mais ele naquele corpo, e sim um monstro cujo instinto principal dele é atacar qualquer coisa viva que aparecer na frente.
Ele ainda se esforçava pra não chorar, deu mais uma tragada em seu charuto e tentou relaxar.
- Eu sei como é... – falei – já tive que passar por uma situação do tipo.
- Como foi o seu caso? – perguntou ele dando mais uma tragada no charuto.
- Bom, aconteceu umas semanas após meu pai ter morrido, um dos primeiros locais que eu procurei com a esperança de achar alguém foi a casa da minha avó, desde que tudo tinha começado que eu não tinha notícias dela. – fiz uma pausa, e continuei  - quando cheguei na casa dela eu vi que estava tudo abandonado, mas ainda assim resolvi checar o lado de dentro...
- E deixa-me adivinhar... – interrompeu Dylan – achou ela lá dentro transformada em zumbi?
- Certo!
- E qual foi a sua reação?
- Por um instante eu pensei em hesitar, mas depois que ela veio correndo até mim, não tive outra reação diferente de tacar o pé-de-cabra na cabeça dela.
- E depois de ter feito isso?
- Veio o desespero, não só pelo fato dela estar morta, mas também porque aquilo era a confirmação de que eu estava sozinho no mundo.
- Entendo... – falou Dylan, após da outra tragada no charuto – mas você se arrepende do que fez?
- Não!
- Você sabia que era o mais correto a se fazer?
- Sim, é o que mais me tranquiliza.
- Ótimo, continue assim.
Depois nós dois ficamos calados por alguns instantes, eu ainda me sentia mal por ter causado aquilo tudo, e Dylan, certamente, pior ainda. Mas foi então que eu me lembrei de uma última pergunta que ainda me martelava a cabeça, não sabia se era uma boa ideia fazê-la, mas também não ficaria tranquilo se eu não tivesse a resposta.
- Dylan?
- Fala!
- Se não for pedir muito, posso lhe fazer uma última pergunta?
- Manda!
Respirei fundo, pensei novamente se aquilo era uma boa ideia, e assim finalmente falei:
- Por que você me salvou?
Dylan estranhou a pergunta.
- Por que você simplesmente não me deixou naquela mata pra morrer? – continuei
Ele parecia não saber exatamente o que dizer, ficou um bom tempo de cabeça baixa provavelmente pensando no que ia falar. E depois de pensar bastante, ele finalmente disse:
- Por esperança...
Acho que eu compreendia um pouco do que ele queria dizer.
- Como eu te falei quando a gente se conheceu... – continuou – até certo tempo eu achei que não havia mais ninguém por ai a não ser eu, da mesma forma que você achou, e quando te achei eu simplesmente tive a esperança de que há muito mais pessoas por ai, sobrevivendo, que nós não somos os últimos.
Foi praticamente a mesma coisa que eu senti quando o encontrei.
- Eu conheço bem essa sensação... – respondi – me senti da mesma forma.
- E por isso... – continuou ele – fiz contigo o que eu não fiz nem com a minha mulher e nem com o meu filho, que foi te ensinar a sobreviver.
- Como assim? – perguntei
- O máximo que eu ensinei pra Paola foi como usar uma arma, e só, mas digamos que se eu tivesse morrido antes dela eu tenho certeza que ela não iria conseguir sobreviver no mundo lá fora, nem ela e nem meu filho.
Ele ainda tentava não chorar.
- Eu achei que conseguiria protege-los, mas eu me enganei.
Ele deu uma última tragada no charuto, o apagou e depois jogou fora, e então continuou:
- E por isso que eu fiz todos esses treinamentos contigo, todos esses testes, pra que na pior das hipóteses você saiba o que fazer e consiga se manter vivo, por isso também todas as lições que te ensinei.
E depois disso ficamos calados de novo, até o momento que eu disse:
- Obrigado, cara... – mesmo depois que ele me salvou eu não cheguei e falar isso pra ele – obrigado por ter me salvo, e obrigado por tudo isso que você tem feito por mim.
- Não precisa me agradecer. – disse ele
- Preciso sim, isso sem falar que eu não fiz isso quando você me salvou, já estava te devendo.
Ele me deu um pequeno sorriso, e depois disse:
- Não foi trabalho nenhum, saiba disso.
E depois de uma pausa, Dylan falou:
- Agora chega desse drama todo e vamos dormir.
- Estou sem sono. – falei
- Mas eu estou... – disse ele – pode dormir a hora que quiser, mas ainda assim te acordarei cedo amanhã.
- O quão cedo?
- Cinco horas.
- Está certo então!
- Boa noite! – disse Dylan se acomodando no sofá
- Boa noite! – respondi
Dylan não demorou muito pra cair em sono profundo, eu ainda fiquei 40 minutos andando pela casa, pensando em coisas aleatórias, até finalmente ir dormir.
No dia seguinte, Dylan me acordou exatamente às 5 horas da manhã, comemos algumas frutas que eu tinha trago e logo após seguimos caminho em direção a praia, mais uma vez tivemos que ser cautelosos no caminho, não foram poucas o número de vezes que vimos zumbis pelo caminho, e também houve as vezes que tivemos que matar alguns.
E depois de uma hora e meia de caminhada, finalmente chegamos à praia, ainda tivemos que andar por mais 25 minutos pelo calçadão até avistar a pick up. Quando nos aproximamos dela, Dylan se virou pra mim e disse:
- Jonnatan...
- Oi?
Ele parecia meio sem jeito pra falar aquilo, mas pediu:
- Posso da uma olhada na sua mochila?
- Pra quê? – perguntei
- Depois eu explico, só me entregue por agora.
- Ok então! – mesmo confuso, entreguei minha mochila pra ele.
Dylan a pegou e entrou na traseira da pick up, e eu apenas o observei de longe, mas ainda assim deu pra ver que ele também tirava umas coisas da mochila dele e colocava na minha, e eu simplesmente não entendi o que estava acontecendo.
- Ok, Dylan... – gritei – só espero que você me explique o que tá acontecendo.
- Fica frio! – falou ele ainda dentro da pick up.
Quando ele finalmente saiu da pick up com a minha mochila, ele não estava com uma cara muito feliz, ele tava com aquela expressão fácil de quem iria dá uma má notícia.
- A gente precisa conversar. – disse ele
Eu fiquei assustado.
- Você tá me assustando, Dylan, o que tá acontecendo?
- O que tá acontecendo é que... – ele hesitou por um instante, mas disse – você não voltará pra casa comigo.
- Como assim? – perguntei surpreso.
Dylan respirou fundo, e disse:
- Lembra de tudo que eu disse ontem?
- Sim! – falei
- Pronto, há uma coisa que eu não mencionei.
- O que?
Eu estava ficando muito assustado com aquilo.
- Que aquilo tudo, os treinamentos, os teste, foram tudo uma preparação pra eu te soltar no mundo.
- Pera... – eu tentava acreditar no que eu estava ouvindo – você está me mandando embora?
- Não há maneira melhor de dizer isso, mas, sim, estou.
- Mas, por quê?
- Porque é o melhor pra nós dois.
Tentei falar mais algo, mas eu estava sem palavras.
- Vá por mim... – continuou Dylan – melhor que seja agora.
- Me explique o porquê.
- Ok, pois preste atenção porque essa vai ser uma das lições mais importantes que eu irei lhe ensinar.
E assim fiquei atento ao que ele ia dizer.
- No mundo em que vivemos hoje a principal regra de sobrevivência é simplesmente, não se apegar a nada e nem a ninguém, principalmente a aquilo que você sabe que pode perder.
“Na verdade sempre foi a regra mais importante” pensei
- E essa era a razão a qual eu nunca me abria com você, porque eu evitava me apegar, a última coisa que eu queria era te ver como um filho, eu quero que você continue pra mim como um simples garoto que eu ajudei uma vez, e é por isso que eu preciso te mandar embora.
Ele deu um suspirou, e voltou a falar:
- Também não quero que você me veja como um pai. – depois de mais um suspiro, ele continuou – desde que eu te achei naquela mata eu vi que você era forte, mas pra você conseguir sobreviver nesse mundo é necessário você ser muito mais, e eu o treinei pra isso, e depois desse último teste no shopping não me resta mais dúvidas de que você está pronto pra enfrentar o que a vida jogar em você.
Eu ainda estava sem palavras, estava difícil digerir aquilo tudo.
Até que eu finalmente disse:
- Então, desde que você me salvou naquela mata você já pretendia me soltar no mundo de novo?
- Sim... – respondeu ele – só precisava ter certeza de que você estava pronto, o que agora eu finalmente tenho.
Foi então que eu lembrei de um detalhe.
- Você fala pra não se apegar a nada, mas continua na mesma casa que você morou com a sua mulher e seu filho.
- Eu sei o que está pensando, e eu admito que esse é um erro meu. – falou – eu simplesmente não consigo me desfazer dela, da mesma forma que eu não consigo me desfazer da foto deles, é muito difícil pra mim.
Respirei fundo, e falei:
- Imagino como!
Depois de ficarmos calados por alguns instantes, Dylan entregou minha mochila e disse:
- Toma, coloquei algumas coisas ai que você poderá precisar e também munição o suficiente pra 1 mês, claro, se você economizar bem.
Peguei uma mochila, e dei uma checada em tudo que ele colocou.
- E antes que eu me esqueça... – falou ele indo em direção a pick up.
Observei de longe, e vi ele tirando algo de baixo do banco do passageiro, foi quando eu vi que era uma metralhadora.
- Acho que você também já está pronto pra usar uma dessas. – falou ele me entregando a arma – e tudo bem, também deixei munição o suficiente pra 1 mês.
Senti um pouco a arma, a apontei pro nada, puxei a trava e depois a coloquei nas costas, certamente eu teria uma boa oportunidade pra testa-la melhor.
- Bom... – falou Dylan – acho que isso é tudo, hora de partir.
Ele estendeu a mão pra mim e assim eu a apertei.
- Obrigado por tudo... – falei – foi bom lutar do seu lado.
Depois de largar a minha mão, Dylan disse:
- Por favor, me poupe desse sentimentalismo... – riu ele – simplesmente mande eu ir pro inferno.
Eu ri junto com ele.
Dylan foi andando em direção a sua pick up, e antes de entrar nela, ele se virou e falou:
- Uma última dica, não fique pela cidade, vá pro campo, como você pode ver, a concentração de zumbis aqui é muito grande.
- Assim farei! – respondi
- E também, nunca desista de lutar pela vida, por mais bosta que o mundo esteja, sempre tente sobreviver ou morra tentando.
- Eu não lhe decepcionarei!
- Assim espero! – falou ele abrindo a porta do carro
- Voltaremos a nos ver de novo? – perguntei
- Acho muito pouco provável, mas quem sabe?
Então ele entrou no carro, fechou a porta, e seguiu o caminho de casa, e eu fiquei parado observando a pick up desaparecer ao longo da estrada.
“Novamente sozinho...” pensei “...mas acho que ele estava certo, talvez seja melhor pra nós dois.”
Com esses pensamentos em mente eu dei meia volta e fui andando pelo calçadão, pra onde? Não fazia a menor ideia, simplesmente seguiria meu caminho e esperaria pra ver até onde ele iria.
No caminho eu me surpreendi quando achei um carro ainda inteiro, não era dos mais bonitos, mas já servia, e eu tinha as ferramentas pra liga-lo. Peguei o cabide que Dylan me deu e o usei pra abrir a porta pelo lado de fora, e com as ferramentas que ele deixou na minha mochila eu consegui ligar o carro, e dessa forma segui pra mais uma jornada nesse mundo devastado.
Enquanto a Dylan, depois daquele dia eu não tive mais notícias dele, talvez esteja morto, talvez esteja vivo, não sei. Mas eu realmente torço pra que ele esteja bem, o que eu imagino que esteja ele era durão, os zumbis precisariam ganhar inteligência pra conseguir abatê-lo.
E até hoje eu sou grato por tudo que ele me ajudou, e definitivamente se não fosse por ele, talvez eu não estivesse aqui pra contar essa história pra vocês. Ele me ajudou a criar um novo Jonnatan, mais seguro, mais forte, mais ágil, mais confiante, e o mais importante de tudo, muito mais determinado a lutar pela sobrevivência.
Muito obrigado Dylan, onde quer que você esteja, espero que esteja bem.



Fim.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - Parte 7*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Havia uma loja de roupas não muito longe dali, quando a gente voltou pro centro foi à primeira coisa que a gente viu. Entrei lá e peguei qualquer trapo que coubesse no meu corpo, já infelizmente, o banho não foi possível, não achamos nenhum local com um chuveiro que funcionasse, então eu tive que cheirar a coisa morta por um bom tempo.
Depois de quase uma hora caminhando, a gente já estava longe o suficiente do shopping, ao longe ainda se via a fumaça saindo dele cada vez mais acinzentada, o que estava chamando à atenção dos zumbis nos arredores, no caminho a gente viu bastante deles indo em direção ao shopping.
Eram quase quatro da tarde, eu e Dylan decidimos que seria melhor a gente acampar por ali, não era seguro ficar na estrada durante a noite, então começamos a procurar um local seguro pra nos acomodar.
Avistamos um prédio não muito grande, tinha apenas 5 andares, então decidimos ficar por lá. Com as armas em mãos, entramos calmamente no edifício sempre checando se não havia algum zumbi pela área. O máximo que achamos foram dois zumbis feridos no estacionamento, sendo um deles uma criança, ambos estavam sem uma das pernas, Dylan abateu um com a sua machete e eu abati a criança com o pé-de-cabra.
Logo em seguida fomos pras escadas, antes de subirmos, Dylan deu uma chutão na lixeira que provavelmente ecoou pelos 5 andares do prédio, esperamos um pouco, e assim que confirmamos que não havia nenhum zumbi ali, subimos.
Eu ia entrando logo no primeiro andar se Dylan não tivesse continuado a subir.
- Aqui já tá bom, não? – perguntei
- Não... – respondeu ele – vamos até o último.
- Você tá falando sério? – perguntei indignado
- Sim, porque lembre-se, quanto mais alto, menos chances de aparecer um zumbi na nossa porta.
Não tinha engolido aquilo, mas aceitei porque era o jeito.
Quando chegamos ao quinto andar eu já estava exausto, aliás, não havia outra palavra que me definisse melhor naquele momento do que “exaustão”, definitivamente aquele não tinha sido um dia fácil.
Só havia um apartamento por andar, tentamos abri-lo normalmente, mas estava trancado, então Dylan pegou impulso e deu um chutão na porta a arrombando, esperando alguns segundos a espera de algum zumbi e depois entramos com as armas em mãos.
- Olhe todos os cômodos. – mandou Dylan
- Certo!
O apartamento não era muito grande, olhamos cada cômodo e cada buraco possível a procura de qualquer zumbi, nenhum foi encontrado, sendo assim nos encontramos na sala.
- E aí? – perguntou Dylan
- Tudo limpo! – respondi
- Ficaremos aqui essa noite então... – falou ele jogando suas coisas no sofá – pode escolher um quarto, eu me acomodarei no sofá mesmo.
Eu escolhi um quarto que parecia ser do filho da família que morava ali, o colchão não estava nas melhores condições, mas já era alguma coisa, deixei minhas coisas no chão e fui da uma olhada mais aprofundada na casa.
Ao que parecia, naquela casa morava uma família de quatro pessoas, o pai, a mãe, e dois filhos, sendo eles um casal, provavelmente o garoto era mais velho e a menina a caçula, pelas coisas que tinham em seu quarto provavelmente ele tinha entre 16 e 18 anos, e fazendo a mesma avaliação com a garota a probabilidade é que ela tinha entre 12 e 14 anos. Mas era tudo que dava pra supor, não havia mais fotografias naquela casa, provavelmente eles levaram todas quando fugiram o que era normal, já que com o caos que esse mundo tinha se tornado uma das únicas coisas que ainda davam pra manter intactas eram as lembranças, boas e ruins.
- Jonnatan! – ouvi Dylan chamar
Então voltei pra sala pra ver o que ele queria.
- Não vai comer? – perguntou ele com um sanduíche de peixe na mão – depois disso tudo você deve estar faminto.
E ele estava certo, peguei o sanduíche, me sentei ao lado dele e comecei a comer. Dylan aproveitou o momento pra acender um dos malditos charutos que quase me mataram, eu certamente odiava o cheiro daquilo, mas ainda assim eu não reclamava, meu pai também fumava, eu já tinha aprendido a suportar aquilo há um bom tempo.
- Agora... – falou Dylan dando uma baforada do seu charuto – você ainda não me contou tudo que aconteceu naquele shopping.
- Bom... – e assim eu o contei todos os detalhes do que aconteceu lá, principalmente do meu plano pra conseguir passar pelos zumbis sem ser percebido.
Depois que terminei de falar, Dylan disse:
- Caramba, muito bem pensando.
- Obrigado!
- Sério, se sujar com tripa de zumbi e fingir que é um deles, isso é uma coisa que nunca me passou pela mente antes... – falou ele – ah, se eu tivesse pensando nisso antes, teria me poupado de tanto trabalho em tantas situações.
Dylan deu mais uma tragada no seu charuto e olhou pra janela, já estava escurecendo, e daquele apartamento a gente conseguia ver o clarão causado pelas chamas vindo do shopping.
- Você fez um belo de um estrago, pelo visto. – disse ele
- Concordo!
Provavelmente se um dia eu voltasse a pisar no Rio, aquele shopping não estaria mais lá.
Depois de alguns instantes sem ninguém falar mais nada, eu terminei o meu sanduíche e Dylan apreciava seu charuto. Era quase seis da noite, as estrelas já apareciam no céu junto com uns poucos feixes de luzes solar, e enquanto isso o incêndio do shopping iluminava um pouco mais a cidade, e da mesma forma se ouvia os zumbis na rua, na noite eles eram mais ativos, por isso que o cuidado tinha que ser redobrado.
Foi então que houve um momento que eu olhei pra Dylan, e vi ele tirando algo do bolso, ele provavelmente não percebeu que eu estava vendo, no instante eu reconheci o que era aquilo que ele tinha em mãos, era a foto que eu tinha achado no quarto de hóspedes, ele a olhava atentamente, provavelmente lembrando dos momentos que passou com eles.
- Dylan? – falei
E no mesmo instante ele se assustou e guardou a foto rapidamente.
- Não adianta esconder, eu vi o que você tinha ai.
- Não sei do que você está falando. – disse ele confuso
- Sabe sim, não minta pra mim.
Ele ainda se recusava a falar.
- Dylan... – falei com paciência – uma vez eu olhei o criado-mudo do quarto de hóspedes e achei essa foto ai que você está escondendo.
Ele não pareceu feliz em ouvir aquilo.
- É a sua família, né?
Com muita relutância, ele respondeu:
- Sim!
Então eu respirei fundo, e disse:
- Cara, já faz 1 mês desde que você me encontrou naquela mata, e eu me lembro bem que quando eu lhe perguntei sobre a sua história naquele dia, você disse que isso ficaria pra uma outra oportunidade, lembra?
Com receio, Dylan respondeu:
- Sim!
- Bom... – falei – quando você disse isso, eu não falei nada e nem enchi seu saco sobre isso, certo?
- Certo!
- Mas você não acha que você já me deve isso?
Depois de alguns segundos pensando, claramente irritado com aquilo, Dylan respondeu:
- Acho!
E depois de alguns instantes, ele continuou:
- Mas eu quero que você entenda antes... – ele realmente não estava confortável por estar falando aquilo – que não é fácil pra mim ficar relembrando de certos momento.
- Eu imagino... – falei – mas esconder seus sentimentos não muda o fato de você tê-los.
Ele ainda parecia muito receoso em relação aquilo, mas falou:
- Tá certo... – falou ele – lhe contarei tudo!
E assim ele começou seu depoimento:
“Acho que devo começar dando um pequeno resumo da minha infância, então vamos lá:
Eu vivi e cresci numa fazenda no interior de Minas Gerais, fui o tipo de garoto que vivia solto no mundo e que aprontava muito, meu pai era bastante ausente por causa dos negócios, e minha mãe nunca foi do tipo mais atenciosa, ou seja, minha vida toda eu tive que me virar sem eles.
E como você bem sabe, aos 19 anos eu servi um ano no exército, que foi onde eu aprendi a ser forte e ter resistência, assim como também aprendi nos meus treinamentos de kung fu. Depois de cumprir o meu dever com a pátria, eu foquei em estudar pro vestibular e cursar uma boa faculdade de administração, o que eu consegui naquele mesmo ano, pode até não parecer, mas, eu era um aluno dedicado.
Sendo que no meu segundo ano de faculdade meu pai faleceu, então eu tive que trancar o curso pra poder dirigir os negócios dele, o que eu sinceramente odiava. A última coisa que eu queria era passar o resto da minha vida atrás de um balcão de um mercado que mal dava lucro e atolado em dívidas, mas infelizmente aquele era o nosso ganha-pão.
Até que um dia, a situação ficou tão difícil, que tivemos que vender a fazenda e nos mudar pro Rio, e infelizmente o mercado também não se sustentou e foi à falência. No Rio, eu e minha mãe passamos a viver de favor na casa de uma tia e tivemos que trabalhar na loja de tecidos dela.
Foi uma das piores épocas da minha vida, mas também foi ai que conheci a pessoa mais importante na minha vida, a minha mulher, Paola. Ela era uma cliente constante da loja, sempre acompanhava sua avó até lá, e eu sempre ficava a admirando do balcão, quando eu estava nos meus piores dias vê-la sorrindo sempre alegrava meu dia, me dava uma ótima sensação de tranquilidade.
Por mais ou menos 3 meses eu apenas apreciava de longe seus longos cabelos castanhos, sonhando alto, até que um belo dia eu tive a chance de conhece-la melhor. Eu tive a felicidade de encontra-la no mesmo bar que eu estava na Lapa numa sexta-feira a noite, era a oportunidade perfeita pra fazer contato, fiquei nervoso, de fato, mas felizmente deu tudo certo, desde aquele dia viramos bons amigos.
Depois de 6 meses de amizade eu finalmente tive coragem de me declarar pra ela e pedi-la em namoro, e pra minha felicidade ela aceitou. Era a iniciativa que eu precisava pra voltar pra faculdade e sair das asas da minha tia.
Depois de 3 anos eu finalmente me formei em administração, saí da casa da minha tia, e aluguei um apartamento com a Paola, e na mesma época eu a pedi em casamento. Casamo-nos 1 ano depois e pouco depois disso ela ficou grávida do meu único filho, Michel, que nasceu 9 meses depois lindo e saudável, até aquele momento eu estava com a vida que pedi a Deus, mas só até aquele momento.
Foi então que essa maldita epidemia começou e o caos foi instaurado, meu Michel já tinha 12 anos, e estava completamente assustado com aquilo tudo, assim eu e Paola decidimos nos afastarmos da cidade até que tudo se acalmasse, consegui uma sniper pra mim, peguei o antigo revólver do meu pai e fomos pra antiga casa de campo da família dela, que é a mesma casa em que estamos no momento.
E por lá vivemos juntos por mais ou menos 4 meses, vivendo na mais pura tensão. E no quarto mês desde que fomos pra lá, meu filho estava andando pelo lado de fora da casa, desobedecendo a uma ordem dada por mim e pela mãe dele, sendo que na hora eu estava caçando e Paola lavando roupa.
Em um momento que Michel estava correndo atrás de um sapo, um zumbi o surpreendeu, ele era só um garoto, não sabia o que fazer numa situação dessas, e isso acabou o matando. Paola correu pro lado de fora da casa quando viu o zumbi em cima dele, conseguiu lhe acertar um tiro na testa, mas já era tarde, Michel já tinha sido mordido.
Quando eu ouvi o tiro voltei pra casa o mais rápido possível, e quando cheguei no quintal tive a triste surpresa de ver Michel sangrando nos braços de Paola, ele ainda estava vivo, mas por um fio. Aproximei-me dela e ela me contou tudo que aconteceu, e ainda mantivemos as esperanças de que nosso filho conseguiria sobreviver, que certamente foi em vão, depois de cinco minutos agonizando, ele se foi.
Eu e Paola nos desatamos em choro, não há dor pior do que a perda de um filho, quando fui pegar a pá pra enterra-lo, Paola ficou sozinha com ele, e quando eu estava lá dentro que eu me lembrei de um detalhe importante, a transformação.  Corri em direção ao quintal com a arma na mão, e ao chegar lá eu vi Michel em pé novamente, sendo que não era mais ele, já estava transformado.
E para piorar ele estava indo em direção de Paola, e ela, transtornada, estava de braços abertos pra ele achando que era realmente ele. Tentei avisa-la, mas já era tarde, ela tinha sido mordida no pescoço, e nesse momento, rapidamente tirei Michel de cima dela e meti a machete em sua testa. Paola gritou em desesperou, eu tentei acalma-la, mas de nada adiantava, nem eu conseguia ficar calmo.
E pouco depois, Paola se foi, e o que mais me doía é que ela morreu com o pensamento que eu tinha matado o nosso filho, depois de sua morte eu não perdi tempo, lhe dei um último abraço, peguei o revólver da cintura dela e lhe dei um tiro na cabeça. Definitivamente aquele foi o pior dia da minha vida.
Os enterrei atrás da casa, e com o passar do tempo o túmulo deles ficaram cobertos com a plantação local. Daquele dia em diante eu nunca mais fui à mesma pessoa, nunca mais encontrei a felicidade, e assim passei a viver sozinho nesse mundo, e dedico cada dia que eu consigo me manter vivo pra Paola e Michel, pra que eles saibam, seja onde eles estiverem, que eu ainda os amo muito, e que nunca deixarei de ama-los.”


[Fim do depoimento]

(continua)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - Parte 6*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Voltamos para aquele local no meio do nada e duelamos mais uma vez, e acredite se quiser, o duelo durou meia-hora. A luta ficou pau-a-pau por um bom tempo, até que mais uma vez, o cansaço chegou e eu acabei perdendo de novo, e certamente, Dylan me deu uma bronca por isso, disse que eu não podia deixar o cansaço me abater, e que em uma situação de real perigo eu acabaria morto.
Após o fim do duelo, pegamos o carro, voltamos para casa e não fizemos mais nada naquele dia.
E a partir do dia seguinte, passei por um longo treinamento intensivo de facão e de armas de fogo com o Dylan, um mês da minha vida que eu não tive paz, apesar de que desde que isso tudo começou não se dava mais pra se ter paz. Mas o trabalho duro valia a pena, afinal de contas.
Foram um mês, treinando todos os dias, 4 horas com o facão, 5 com a pistola e vez ou outra, tendo que ficar 6 horas caçando na mata. E aos poucos os resultados disso tudo começaram a aparecer, eu continuava perdendo os duelos com Dylan, mas pelo menos eu estava conseguindo aguentar mais, tanto que houve um dia que ficamos 1 hora duelando. E aos poucos também fui melhorando minha precisão com a arma, depois de uma semana eu consegui passar nos três testes passados por Dylan, eu consegui acertar o tiro na testa do desenho, acertei os dez pratos arremessados por ele, e o principal de tudo, estava conseguindo matar zumbis gastando apenas uma bala.
Da mesma forma eu também melhorei a minha caça, definitivamente era muito mais fácil caçar com a pistola, e depois de duas semanas, Dylan me permitiu utilizar a sniper dele tanto para matar zumbi, quanto pra caçar animais maiores.  E claro, houveram os momentos em que tivemos que escapar de alguma enrascada, que foi onde eu tive que por em prática todo o treinamento que eu tive, e felizmente não tive problemas com isso, Dylan não demonstrava mais nada que não fosse orgulho. Principalmente quando chegou o dia em que eu finalmente o venci no duelo, foi mais ou menos quando havia se completado um mês desde que nos achamos, numa luta em que eu não apenas consegui desarma-lo, mas também o derrubei, luta essa que durou 25 minutos.
E mesmo depois de um mês de convivência, Dylan ainda era muito fechado comigo, ainda tinha descoberto poucas coisas sobre ele, o máximo que consegui arrancar dele foi que ele serviu no exército por um ano e que ele já praticou kung fu, e só. Isso sem falar que eu ainda não tinha coragem de perguntar sobre a foto da família dele que eu encontrei no criado-mudo, a história dele em si pra mim ainda era um mistério.
A gente conversava nas horas livres, mas definitivamente os assuntos dele eram limitados, enquanto eu falava bastante da minha vida antes da epidemia, ele só falava das coisas que aconteceram com ele após, e em nenhuma envolvia a família. O máximo que ele falava de coisas que ele falava que aconteceu antes, ou era do tempo de escola ou então da época que ele serviu no exército, e assim dava o mínimo de informação possível, mas eu por um lado já estava começando a aceitar aquilo.
Mas também vale ressaltar as vezes que eu o vi acordado tarde da noite na frente da casa, bebendo perto de uma fogueira olhando pro nada, provavelmente pensando em alguma coisa em relação ao passado, e eu, claro, preferi fingir que não tinha visto nada.
Depois de finalmente ter vencido Dylan no duelo, nós voltamos pra casa, eram seis da noite e as estrelas aos poucos iluminavam o céu naquele momento. Chegando na casa, cada um de nós tomamos um banho pra depois jantar o quati que eu tinha caçado naquele dia.
Não falamos muitos enquanto comemos, mas durante a refeição Dylan me deu o seguinte aviso:
- Amanhã acordaremos cedo, ou seja, aconselho que você vá dormir assim que terminar de comer.
Então eu perguntei:
- A gente vai pra onde?
- Para a cidade grande.
- Pro Rio de Janeiro? – perguntei surpreso
- Exato! – afirmou – esse será seu principal teste.
- Que teste?
- Amanhã você verá!
Eu já esperava por essa resposta.
- E só pra lembrar... – continuou – Você vai dirigir.
- E é quanto tempo de viagem daqui pra lá?
- 3 horas.
No mesmo momento eu cuspi a água que eu estava tomando.
- Como? – perguntei – vou ter que ficar dirigindo por 3 horas?
Vale ressaltar que eu sempre odiei dirigir, só o fazia porque era necessário.
- Por isso que é melhor você dormir logo depois do jantar, e sem enrolações, entendeu?
- Entendi! – falei nada feliz com aquilo
Então rapidamente terminei meu jantar e fui dormir, e por incrível que pareça não demorou muito pra eu pegar no sono.
No dia seguinte nos acordamos umas três e meia da manhã, tomamos um rápido da café da manhã, pegamos nossas coisas e seguimos o caminho pro Rio. Eu tive que vencer meu sono pra conseguir pegar no volante àquela hora, então pra isso eu tomei um café forte pra me despertar mais, e olha que eu odeio café.
Foi um longo caminho até o Rio de Janeiro, passamos por várias cidadezinhas, paramos em pelo menos duas pra abastecer e pra esticar as pernas. No caminho ficamos falando de coisas aleatórias, nada que a gente já não tenha conversado antes, ele mais uma vez falando da época em que ele serviu no exército e eu, como sempre, falando da minha vida anterior a esse caos todo.
E depois de três horas e pouca de viagem, a gente finalmente chegou ao Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, ou que um dia foi. A cidade estava completamente diferente do que era antes, estava tudo abandonado, não se via uma alma viva na rua, o máximo que a gente via era uns zumbis vagando por ali.
Mas o Cristo Redentor continuava lá de braços aberto pra cidade, sendo que agora não havia mais ninguém lá que se importasse com isso.  O bondinho do Pão-de-Açúcar estava destruído, muitos acabaram que se isolando lá com medo de serem infectados, certamente não deu certo, e com certeza hoje o local deve está infestado de zumbis (pelo menos esses já se tinha a garantia de que não iriam sair de lá).
- Nostalgia? – perguntou Dylan
- Um pouco... – respondi ainda analisando o como estava a cidade.
- Há quanto tempo você não vinha aqui?
- Dez meses!
- Bom, pela sua reação, muita coisa mudou.
- Você nem imagina quanto.
Uma boa resposta pra isso era a praia a qual estávamos passando naquele momento, a famosa praia de Copacabana, que um dia foi cheia de gente alegre, hoje estava completamente morta.
- Paramos por aqui!
Encostei o carro na calçada mais próxima, o desliguei e perguntei:
- A gente vai fazer algo na praia?
- Não... – respondeu ele – daqui vamos andando.
- Por quê?
- Porque aqui é a cidade grande, ou seja, o que não falta são zumbis, e entrar no centro de carro é o mesmo de chamar a população de zumbis toda pra uma reunião.
Descemos do carro, pegamos nossas coisas, e seguimos caminho até o centro da cidade. Dessa vez a cautela teve que ser redobrada, definitivamente o que não faltava na cidade era zumbis.
Dessa vez, a regra do “faça barulho antes de entrar” não poderia ser aplicada, já que se a gente o fizesse o risco de chamar a atenção de zumbis em outros locais era muito grande. Às vezes, pra evitar ter que passar pelos zumbis, a gente teve que pular as janelas de alguns estabelecimentos, e certamente, tivemos que sujar nossos facões vez ou outra.
Fim das contas, demoramos exatas 2 horas pra chegar no centro, e mais uma vez o que me matava era o sol quente. Tomei um gole d’água e perguntei:
- Sério Dylan, qual o objetivo disso tudo?
- Quando chegarmos no shopping você saberá.
- O que? Ainda temos que achar um shopping?
- Não um shopping, e sim esse shopping. – falou ele me mostrando a planta baixa do mesmo.
Respirei fundo, tentei não tacar o facão na cabeça de Dylan, e disse:
- Você sabe pelo menos onde fica?
- Sei sim, mas teremos que caminhar um pouco mais.
E minha vontade de meter uma bala na testa dele aumentava.
E assim tivermos que caminhar por mais 1 hora, tendo que sujar um pouco mais nossos facões com alguns zumbis que apareciam no caminho, até que finalmente chegamos no bendito shopping.
Só olhando os arredores eu já não gostava do que seja lá o que eu tivesse que fazer, a concentração de zumbis era grande.
- Chegamos! – falou Dylan
Ficamos em um beco vazio um pouco distante do shopping para descansar e comer um pouco. Depois que terminamos de comer, perguntei a Dylan:
- Você vai finalmente falar o que eu tenho que fazer?
- Sim, claro! – respondeu ele terminando a sua comida.
Ele pegou novamente a planta baixa, me mostrou e disse:
- Está vendo isso aqui?
- Sim! – respondi
- Isso, é o mapa do terceiro andar desse shopping, e exatamente nessa loja... – apontou ele com o dedo – tem algo que eu preciso.
- O que tem lá?
- Uma caixa marrom com uns detalhes dourados, não há muitas desse tipo, você vai achar fácil.
Então peguei o mapa e comecei a analisa-lo melhor. Olhei pra e ele e pro shopping, e vi o quão extenso aquele lugar era.
- Já estou vendo que só pra chegar no terceiro andar vai ser difícil. – falei
- O shopping é bem grande, como você pode ver.
“Não me diga” pensei.
Foi então que eu me lembrei de um detalhe...
- Vai estar iluminado lá dentro? – perguntei
- Pouco, mas vai... – explicou – você vai ter a iluminação do teto solar, não é muita, mas já é alguma coisa
- Imagino!
- Bom, minha dica é a seguinte, entre pelo depósito, as chances de você esbarrar em um zumbi lá é menor... – falou – e o mais importante de tudo, cautela sempre, faça tudo pra não ser percebido, a última coisa que você quer é atrair uma horda desse tamanho de zumbis pra você...
Eu o ouvia atentamente.
- ...e claro, só atire em caso de extrema necessidade, e se o fizer eu entrarei pra lhe ajudar.
- Certo! – respondi
- Eu estarei aqui nesse mesmo beco lhe aguardando, agora são dez horas, se caso você não aparecer aqui até três da tarde, eu irei atrás de você, estamos entendido?
- Sim!
- Boa sorte!
- Obrigado! – falei pegando minhas coisas
E assim fui em direção ao depósito, chegando lá avistei uns 3 zumbis logo na entrada, nada que o facão não resolvesse, depois de matar cada um deles, entrei calmamente pela estreita abertura do portão do depósito, a visibilidade estava quase zero lá dentro, por isso abri um pouco mais o portão. A visibilidade deu uma melhorada considerável, mas certamente ainda não estava perfeita, sendo que já dava pra eu me virar com aquele pouco que eu tinha.
Certamente quando abri um pouco mais o portão fez um estrondo, o que chamou a atenção dos zumbis que estavam lá dentro. Nesse caso eu simplesmente os esperei virem pro portão, havia cerca de 7 zumbis ali, e assim que os ouvi correndo em minha direção eu preparei meu facão.
Quando os 7 saíram pelo portão não tive muito trabalho de abatê-los, cada um que vinha eu parti o crânio em dois, depois de mata-los esperei mais uns instantes pra garantir que não vinha mais nenhum e logo após entrei no depósito ainda com o facão em mãos.
Andei com calma, já prevenido do risco de qualquer outro zumbi aparecer, e então logo achei a porta que dava dentro do shopping. Eu estava prestes a abri-la, quando eu me surpreendi ao olhar pela sua janelinha, o shopping inteiro infestado de zumbis, havia muito mais lá dentro do que fora.
“Passe sem ser percebido, tá fácil...” pensei.
Eu precisava de um plano, simplesmente não tinha como eu abrir aquela porta sem que os zumbis me vissem, foi então que concluí que eu teria que sujar minhas mãos, literalmente. Fui até o lado de fora do depósito e trouxe o corpo de um dos zumbis que eu matei pra dentro.
O deixei na luz e peguei meu pé-de-cabra, e assim eu fiz uma “pequena” operação no cadáver. Usei meu pé-de-cabra pra abrir a barriga do zumbi, e assim feito eu comecei a fazer uma coisa da qual eu nunca esperei que fizesse um dia, e também não estava feliz com isso.
Peguei suas tripas e comecei a espalhar pelo meu corpo, aquilo era completamente nojento, mas se eu queria passar por aqueles zumbis sem ser percebido, a melhor forma era fingindo que eu era um zumbi, e pra isso eu precisaria parecer um, e principalmente, cheirar como um.
Depois de me lambuzar com as tripas do zumbi, fui novamente em direção à porta de entrada do shopping, no caminho até lá eu fui mancando como se fosse um deles. Antes de abrir a porta eu me cheirei novamente, eu estava fedendo a coisa morta, e assim finalmente entrei no shopping.
Até aquele momento meu plano parecia dar certo, eu passava pelos zumbis tranquilamente e eles nem reparavam em mim. Eu ainda estava no térreo, e eu precisava encontrar a escada mais próxima, e pra piorar a escada mais próxima estava longe pra caramba, e eu tendo que andar naquela velocidade só dificultava mais as coisas.
Foram momentos tensos, qualquer deslize meu disfarce ia pro espaço e todos aqueles zumbis vinham em cima de mim, e nisso o Dylan estava certo, eu não iria querer aquela horda toda no meu pé. Até que depois de muito tempo andando eu finalmente cheguei na escada rolante (que certamente não funcionava), e de lá subi pro primeiro andar. Mas a má notícia era que a escada que levava pro segundo andar estava no outro lado do shopping, ou seja, ia ser uma longa caminhada até lá, isso me irritou profundamente.
“Qual era o problema de deixar essas merdas tudo juntas?” Pensei.
Nunca na minha vida tive tanta dificuldade para andar em um shopping, dava a impressão que aquilo era maior do que o normal, e a passos de zumbi então, pior ainda.
Minha caminhada pelo segundo andar, felizmente, não teve nada de demais, apenas eu passando pelos zumbis sem chamar a atenção, certamente demorou bastante, mas eu consegui chegar no outro lado e subi pro segundo andar.
Mas eu ainda teria que fazer outra longa caminhada até a outra escada rolante pra finalmente chegar no terceiro andar, felizmente o número de zumbis no segundo andar era menor do que nos dois , mas ainda assim haviam bastantes, ainda tinha que manter a cautela. Aproveitei pra olhar melhor as vitrines ao meu redor, a maioria estavam quase vazias, provavelmente foram saqueadas quando a coisa ficou feia, o que por um lado era um reflexo do consumismo, já que a maioria daquelas lojas eram de roupas, maquiagem, bijuterias, sapatos, eletrônicos e entre outros. No geral, coisas que não eram essenciais para a sobrevivência.
Como o número de zumbi era menor naquele andar eu pude acelerar um pouco o passo, fazendo assim que a caminhada até a escada rolante fosse menor e menos cansativa. Mas ainda assim eu tive outro problema, uma das escadas estava parcialmente destruída e simplesmente sem como ter acesso, e a outra tinha um zumbi com o pé preso nas engrenagens.
“E agora, o que eu faço?” me perguntei mentalmente.
Felizmente ele estava caído, o que facilitava um pouco as coisas pra mim, mas ainda assim eu precisava ir com calma, e bem devagar, eu pus meu pé-de-cabra em mãos. Fui subindo a escada de degrau em degrau, e o zumbi continuava lá tentando se mover, aos poucos fui me aproximando, e quando cheguei perto o suficiente, da forma mais sutil possível, enfiei o pé-de-cabra no olho dele, e assim finalmente cheguei no terceiro andar.
Lá o número de zumbis era muito menor, se tivesse 30 lá já era muito, então já era seguro eu parar de bancar um, finalmente pude voltar a andar na minha velocidade normal. Guardei meu pé-de-cabra, peguei o mapa e o meu facão e segui caminho, eu ainda cheirava a coisa morta, o que era uma vantagem, mas de qualquer forma eu achava melhor matar os zumbis que aparecessem no meu caminho, logo após sair da escada já haviam dois e logo os abati.
A tal loja não estava muito longe, mas ainda assim eu não achava, olhava no mapa mil vezes e ainda assim tinha as mesmas conclusões, e nessa confusão um zumbi saiu de uma das lojas e veio em minha direção, cortei a sua cabeça e depois enfiei o facão em seu olho. Voltei a olhar pro mapa e comecei a olhar os pontos de referência, fui avançando um pouco mais, e mais a frente apareceu um zumbi ainda criança vindo até mim, precisei ser rápido pra acerta-lo, já que ele corria muito rápido, mas consegui.
E logo após fui reparando que eu já estava chegando aos pontos de referência do mapa, estava mais perto do que nunca, até que depois de procurar com atenção eu finalmente achei. Lá estava à bendita loja indicada por Dylan, ela pelo visto não tinha sido muito saqueada, ainda tinha bastantes coisas lá dentro.
Assim que entrei na loja, fui surpreendido com dois zumbis na entrada, o primeiro eu abati metendo o facão na testa dele, e o outro eu precisei derruba-lo com uma facada no pescoço pra depois mata-lo, então comecei a olhar as prateleiras procurando a tal caixa que Dylan disse, e realmente não foi difícil acha-la, ela se destacava bastante entre as outras, mas assim que eu a peguei eu simplesmente não acreditei.
“Dylan me fez passar por tudo isso por uma caixa de charutos? Eu vou matar esse desgraçado” Pensei puto da vida com que eu estava vendo.
Tentei relevar e pus a maldita caixa na mochila, agora só precisava dar o fora dali, olhei a hora, e já era quase uma da tarde, ainda tinha duas horas pra encontrar Dylan no beco, só precisava passar pelos zumbis novamente, sendo que desta vez eu queria um método mais rápido, e também queria me livrar logo daquela camisa suja com tripa de zumbi.
Foi então que eu me lembrei do isqueiro que eu tinha na minha mochila, o que me fez pensar em um novo plano. Tirei minha camisa, peguei uma lata que tinha em uma das prateleiras e a enrolei nela, o fedor de carne morta ainda era grande, mas tinha que aguenta-lo ainda por um tempo.
Saí da loja com a lata enrolada na camisa e fui pra sacada mais próxima, peguei a garrafa de álcool que eu tinha na mochila (usava quando precisava fazer fogo) e a molhei na minha camisa com a lata dentro, depois peguei o isqueiro e ateei fogo nela. O plano era usar o fogo pra distrair os zumbis pra assim eu poder fugir, após por fogo na minha camisa, e a joguei no térreo do shopping.
Atingi num local que tinha umas plantas mortas e bastantes zumbis por perto, assim então o fogo foi se espalhando por entre eles, no mesmo momento saí correndo em direção da escada normal, voltei a por o facão em mão e abati 5 zumbis até chegar nela. Fui descendo rapidamente até o térreo, tive que abater alguns zumbis na escada, mas nada muito difícil.
Chegando no primeiro andar eu tive que ter mais cuidado, já que boa parte dos zumbis estavam descendo por ali para poder chegar ao fogo, me abaixei e esperei que eles passassem aos poucos, a partir dali as coisas ficariam um pouco mais complicadas, destravei minha pistola por via das dúvidas.  Quando eu percebi que já era seguro continuar, fui descendo. O fogo aumentava cada vez mais, já chegava às vitrines, e a fumaça subia cada vez mais. Eu precisava sair dali logo, porque se eu não morresse por causa dos zumbis eu morreria asfixiado.
Quando finalmente cheguei ao térreo eu fui procurando a direção da porta do depósito, sendo que meu erro foi parar pra ver as referências, e com isso eu me esqueci dos zumbis que vinham do primeiro andar, quando me dei conta, havia 4 zumbis atrás de mim que tinham notado minha presença.
Um eu abati com o facão, e o outro me segurou pelo ombro e tentou me morder, usei todas as forças para afasta-lo, mas o problema era os outros 2 se aproximando, foi o momento em que eu larguei o facão, peguei e pistola e dei um tiro na testa de cada um, ou seja, a merda estava feita.
Depois empurrei o zumbi que tentava me morder pra longe e lhe dei um tiro na testa também, e quando olhei vários zumbis ao meu redor vinham em minha direção. Apanhei meu facão, o guardei e comecei a atirar em cada um deles, quando eu vi a direção do portão saí correndo e atirando em todos os zumbis que apareciam na frente, aos poucos também atirava nos que corriam atrás de mim.
Felizmente o portão estava perto, quando finalmente o avistei, me virei e descarreguei a pistola nos zumbis que vinham atrás de mim, conseguindo um pouco mais tempo, corri o mais rápido que podia pro portão. Entrei nele rapidamente, e na mesma velocidade voltei a pegar a minha garrafa de álcool, e então a derramei toda perto da porta, e assim que avistei os zumbis chegando em minha direção, me afastei dela, liguei meu isqueiro e o joguei por cima do álcool, fazendo assim uma barreira de fogo entre eu e os zumbis.
E assim fui correndo para o depósito, e logo na saída eu avistei Dylan.
- Ouvi os tiros e vim correndo pra cá, e que fumaça é essa que tá saindo? – perguntou ele – e por que está sem camisa?
- Depois eu explico, agora vamos dá o fora daqui.
E saímos correndo para o mais longe possível do shopping, que aos poucos ardia em chamas.
Quando finalmente nos afastamos o suficiente, Dylan perguntou:
- Conseguiu a caixa.
- Sim... – falei ofegante – e eu vou te matar!
Na mesma hora peguei a mochila e tirei a caixa de lá
- Ai está às belezinhas! – falou Dylan
- Quer dizer que eu poderia ter morrido por uma maldita caixa de charutos?
- Relaxe garoto, só foi um teste, e você passou.
Aquilo não me deixava nem um pouco mais feliz.
- Sério... – falei – me agradeça por não meter uma bala na sua testa nesse momento.
- Fique calmo... – insistiu Dylan – agora vamos nos sentar pra você me contar tudo que aconteceu com os mínimos detalhes.
Respirei fundo e disse:

- Ok, mas antes... – dei uma pequena pausa pra respirar – vamos a alguma loja arrumar outra camisa pra mim e ver se a gente acha um local pra eu tomar um banho.


(continua)

domingo, 27 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - parte 5*

*Esse conto não tem nenhuma relação com Brian
-
Sentei-me no chão e pensei no que eu possivelmente teria que seria fino o suficiente pra eu abrir aquela porta pelo lado de fora, primeiramente pensei no pé-de-cabra, até cheguei a testar, mas ele não passava pelo espaço do vidro. Então continuei pensando, olhei pra Dylan na esperança que ele me desse alguma luz, mas ele apenas fumava um cigarro completamente despreocupado, já estava mais que claro que ele tinha feito aquilo de propósito, era mais um de seus testes.
E eu ainda pensava no que possivelmente seria útil pra eu abrir aquela maldita porta, o sol esquentava cada vez mais minha cabeça, minha paciência ia embora aos poucos e minha vontade de meter o facão no crânio de Dylan só aumentava.
Eu não tinha nada comigo naquele momento além das minhas armas e do meu cantil, e nenhum deles seria útil, o que raios Dylan achava que eu tinha que podia servir, fiquei minutos pensando em uma solução, estava ficando desesperado. Dylan realmente parecia que não iria me ajudar de jeito nenhum, eu estava a ponto de tentar abrir aquela porta no chute.
Comecei a andar de um lado pro outro procurando uma solução, chequei meus bolsos umas duzentas vezes, e a minha impaciência crescia, assim como o fedor de ovo podre. Então eu comecei a relembrar das palavras ditas por Dylan de que eu tinha essa coisa e apenas não sabia, tinha que ter alguma casca de banana, algum detalhe que eu provavelmente deixei passar. Voltei a lembrar de todos os objetos que eu tinha trago, principalmente porque não foram muitos.
Foi então que eu me lembrei de quando a gente tinha acabado de chegar naquele local, quando Dylan me arremessou aquele cabide e tinha dito que depois eu iria entender, eu finalmente tinha entendido. O cabide era a resposta para tudo, mas foi naquele mesmo momento que eu percebi que ele não estava mais no meu cinto, o que me fez entrar em desespero, certamente ele tinha caído durante o duelo, o problema era saber onde.
Comecei a vasculhar toda parte de chão que eu possivelmente teria posto os pés, e para melhorar a situação começou a bater um vento mais forte na hora, o que poderia ter afastado o cabide pra mais longe. Comecei a fazer suposições de onde ele possivelmente teria caído, levando em consideração os movimentos que eu fiz durante a luta, não podia estar muito longe.
Olhei atentamente em todos os locais possíveis, até que finalmente o achei. Corri até ele e o apanhei, naquele momento Dylan olhou pra mim com um rosto de aprovação, agora só faltava eu saber como ajeitar aquele cabide pra que ele coubesse no buraco do vidro. Tentei deixa-lo reto inicialmente, queria fazer que ele ficasse parecendo um grande gancho, e com muita dificuldade eu o modelei de tal forma.
Fui em direção a pick up, e Dylan continuava a me observar atentamente.
- Já sabe como se faz isso? – perguntou ele
- Sei sim. – respondi
Satisfeito com a resposta, ele voltou a fumar seu cigarro. Eu realmente sabia como fazer aquilo, fui até a porta do lado do motorista e coloquei o gancho do cabide no buraco e fui mexendo nele até sentir a trava, assim que a senti só bastou eu da um puxão. E assim o carro estava finalmente aberto.
Dylan se levantou de onde estava, veio em minha direção, e disse:
- Muito bem, sabia que uma hora você ia sacar.
“Com certeza ele se divertiu com isso” pensei.
Ele terminou de fumar o seu cigarro e o jogou fora, depois olhou pra mim, pegou seu maço e me ofereceu um.
- Quer?
- Não, obrigado... – falei – eu não fumo
- Entendi, melhor pra você.
Ele acendeu outro cigarro e foi se aproximando do carro, então ele começou a checar os bolsos a procura de algo.
- Você dirige. – disse ele me entregando as chaves da pick up.
Eu simplesmente não acreditava no que via.
- Você estava com as chaves o tempo todo? – falei puto da vida.
- Claro! – falou Dylan numa tranquilidade que sinceramente me irritava muito.
- Eu fiquei aqui esquentando a cabeça e você estava com a merda dessas chaves?
- Relaxe, garoto, foi só mais um teste, e você conseguiu passar nele.
Aquilo não me tranquilizou em nada.
- Os outros testes vão ser tudo dessa forma?
- Não sei.
E eu me segurava pra não tacar o pé-de-cabra na cabeça dele.
- E fique com esse cabide... – completou ele – você pode precisar dele de novo futuramente.
Joguei o cabide no banco traseiro do carro e entrei nele.
- Pra onde vamos agora? – perguntei antes de ligar o carro.
- Para floresta, vamos caçar um pouco, eu te guio.
Então eu dei partida e Dylan foi me mostrando o caminho.
- Não tem como eu conseguir um banho agora? – perguntei – o cheiro de ovo podre tá horrível.
- Quando formos pra casa você toma.
- Tá bom, só não reclame do fedor no caminho.
Dylan riu e disse:
- Relaxe, desde que o mundo acabou o fedor de qualquer coisa tem sido uma das minhas últimas preocupações.
E assim continuou nosso caminho em direção à floresta.
Passamos o resto daquele dia caçando, a nossa única pausa foi para o almoço, e dessa forma confirmamos o que Dylan tanto dizia que estava completamente difícil achar qualquer criatura viva por aquela floresta, apenas depois de duas horas de caçada que achamos um coelho, que eu consegui abater com muita dificuldade com o meu facão, foi quando Dylan percebeu que eu precisava de uma arma de fogo. Depois de 6 horas de caçada, voltamos pra casa com apenas um coelho, dois lagartos e um sapo.
Depois de chegarmos em casa, as únicas coisas que eu fiz foi tomar banho, jantar e depois me joguei na cama, eu estava exausto. Enquanto Dylan ainda ficou acordado por um tempinho, não sei dizer o quanto.
No dia seguinte a gente não acordou tão cedo quanto o anterior, mas dessa vez eu tive que suportar as cutucadas de Dylan tentando me acordar.
- Acorda que hoje será um dia especial.
Eu não gostava do tom que ele falava aquilo.
No café comemos uns pães com ovo que ainda prestavam que a gente tinha encontrado no mercado, e logo após pegamos a estrada de volta pra cidade, e dessa vez eu levei minha mochila.
Eu fui dirigindo de novo, e pra variar nenhum de nós dois falamos muita coisa durante o caminho, Dylan realmente era um cara fechado, parece que a única coisa que interessava para ele naquele momento era ficar fumando um cigarro e olhar a estrada passar. Eu ainda tinha muitas perguntas pra fazer, mas eu tinha certeza que ele não iria me responder nenhuma, ainda queria saber da sua história, o como ele tinha chegado até ali, e quem foram às pessoas que ele perdeu pra esse mundo novo, e eu sabia que ele teve uma família, pois eu tinha achado a foto deles no criado-mudo do quarto de hospedes, supostamente eram a mulher dele e o filho, e provavelmente ele não ficaria feliz em saber que eu achei aquilo, então continuei dirigindo quieto.
Já estávamos perto da cidade quando eu perguntei pra Dylan:
- Para o mercado de novo?
- Não... – respondeu ele – vamos até a delegacia dessa vez
Fiquei me perguntando que raios a gente iria fazer numa delegacia, mas disse:
- Ok!
Não foi muito difícil achar a delegacia, aquela cidade definitivamente não era muito grande, paramos logo a sua frente e descemos da pick up, Dylan jogou o resto do seu cigarro fora e eu pus o último chiclete que eu tinha na boca.
Antes de entrarmos, Dylan deu um chutão na porta pra checar se não havia zumbis lá dentro, não demorou muito para dois aparecerem, cada um abateu um, e nos impressionamos quando entramos na delegacia e achamos um zumbi algemado a uma escrivaninha, provavelmente era algum preso que foi deixado para trás, eu o chutei para o chão e enfiei o facão entre seus olhos.
- Siga-me – disse Dylan logo em seguida.
Dylan nos levou mais pra dentro da delegacia, e cada vez que a gente avançava a gente fazia um barulho ou outro pra atrair qualquer zumbi que ainda estivesse lá, mas ao que parecia a gente já tinha abatido todos, até que finalmente chegamos aonde Dylan queria.
- É aqui mesmo! – disse ele sacando seu revólver. – afaste-se
Assim o obedeci. Ele primeiramente tentou abrir a porta normalmente, e claro, estava trancada, então ele pegou um impulso e deu um chutão na porta arrombando-a.
Esperamos que algum zumbi aparecesse, mas nenhum veio, e sendo assim entramos na sala. Ao entrar fiquei impressionado, era o arsenal da delegacia, metade provavelmente tinha sido levado pelos moradores daquela cidade mas ainda assim havia bastantes delas, e inclusive munição.
- Escolha a que te agradar mais. – falou Dylan
- Você está falando sério? – perguntei
- Sim, já está na hora de você aprender a usar uma dessas.
Aquilo me animou bastante.
- E lembre-se... – falou Dylan – não carregue mais do que você consegue, pegue no máximo duas armas, uma de cano curto e outra de longo, e pegue apenas o mínimo necessário de munição.
Concordei com ele enquanto olhava atentamente cada uma delas. Primeiramente olhei as armas de cano longo, tinha lá vários rifles, shotguns e metralhadoras, mas eu achei melhor começar com as de cano curto mesmo, então fui olhar as pistolas que lá tinham. Houve uma em especial que me chamou bastante a atenção, não me perguntem o modelo porque eu não tenho a menor ideia disso, o máximo que posso dizer que era uma pistola cinza com munição de pente, imediatamente a pus em mãos, comecei a senti-la, estava decidido que aquela seria a minha primeira arma.
Levei-a até Dylan, e pedi todas as informações que eu precisava saber dela, ele disse que eu fiz uma boa escolha, me disse tudo que eu precisava e me indicou a munição certa para a arma, juntei uns 25 pentes e os guardei na mochila, ainda assim fiquei com a sensação de que não seria o suficiente.
- Não vai pegar nenhuma de cano longo? – perguntou Dylan
- Não, só essa aqui tá bom por enquanto. – respondi
- Ok então!
Ele me mostrou como se colocava o pente na arma e me pediu pra repetir o movimento várias vezes pra ele, foi fácil de pegar, não tinha nenhum segredo. Depois disso saímos da delegacia.
- Bom... – falou Dylan – agora que finalmente você tem uma arma de fogo vamos ver como você se sai com ela, farei três testes com você.
“Lá vem...” pensei.
- Primeiramente... – continuou – deixe-me achar algo que sirva de alvo.
Ele foi em direção a um restaurante que tinha logo a frente, parando na entrada ele me chamou.
- Jonnatan, venha aqui.
Corri em sua direção.
- Vamos para o primeiro teste... – disse ele – que será acertar um alvo parado.
“Ele só pode tá de sacanagem” pensei.
- Está vendo a testa do desenho desse anúncio? – falou ele apontando pra um cartaz que tinha na entrada do restaurante.
- Sim! – respondi
- Quero que o acerte.
“Sem problemas” falei pra mim mesmo.
Coloquei o pente na pistola, e a apontei pro anúncio, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa eu ouvi Dylan dizer:
- Não está esquecendo-se de nada?
Pensei rapidamente e disse:
- Não!
- Pois bem, então. – falou ele num tom de desaprovação
E eu, claro, não gostei daquilo, mas ignorei por aquele momento.
Apontei bem a arma, me concentrei ao máximo, e então quando finalmente puxei o gatilho, nada aconteceu. Na verdade, nem puxar o gatilho eu tinha conseguido, foi quando percebi que eu não destravei a arma.
Dylan me deu aquele olhar de “eu lhe avisei”, e o retribui com um olhar de “cala a porra da boca”. Destravei a arma e voltei a apontar pro anúncio, sendo que ainda me faltava precisão, minha mão tremia muito, abaixei a pistola e respirei fundo, e então voltei a aponta-la, nada tinha mudado, eu ainda tremia.
- Estou esperando... – falou Dylan
“Cala a boca” pensei.
Eu ainda estava inseguro sobre aquilo, até que eu finalmente decidi arriscar e finalmente dei o primeiro tiro. Quando fui olhar, vi que eu acertei muito longe da testa do desenho, nem no desenho eu tinha acertado exatamente.
Então eu tentei de novo, e dessa vez acertei a barriga dele, dei dois tiros consecutivos e ambos foram na mão do desenho (que estava próxima ao quadril). Então me irritei e descarreguei as 4 balas que ainda restavam, elas acertaram tudo que era canto, menos a testa do desenho.
Recarreguei a pistola, a destravei, e quando eu ia atirar novamente, Dylan se levantou e disse:
- Já basta!
Então abaixei a arma.
- Isso foi nada bom. – disse ele
“Não me diga” pensei.
- Bom, esquece essa parte e vamos para o próximo teste. – falou ele
E mais uma vez eu sentia que aquilo não ia ser bom.
Dylan entrou no restaurante (sem precisar fazer barulho dessa vez, já que eu já tinha feito bastante) e pegou vários pratos lá dentro, vendo isso eu já tinha uma mínima ideia do que ele me pediria pra fazer.
- O próximo teste será agora, acertar alvos em movimento.
“Sabia” pensei.
- Irei arremessar os pratos e eu quero que você os acerte quando eles estiverem já no ponto mais alto.
- Certo! – falei
Destravei a arma e já me preparei, olhei pra pilha de pratos que Dylan tinha trago, e contabilizei uns 10. Ele se preparou para arremessar o primeiro.
- Pronto?
- Sim! – falei com convicção.
Então Dylan arremessou o primeiro prato, esperei ele chega no seu pico e assim atirei, errei o tiro e o prato quebrou-se ao atingir o chão.
E claro, Dylan mais uma vez me deu aquele olhar de desaprovação. Então ele arremessou mais um, e eu novamente errei, ainda me faltava firmeza, abaixei a arma, respirei fundo, e me preparei de novo. Dylan arremessou mais quatro pratos, dei o mesmo número de tiros e acertei apenas um completamente na sorte.
Antes de arremessar os outros quatro pratos que ainda restava, Dylan perguntou:
- Quantas balas você ainda tem?
- Não sei! – respondi
Ele não falou nada depois disso, simplesmente pegou mais dois pratos e os arremessou, um eu errei e o outro eu acertei também na sorte.
Dylan me deu um último olhar antes de lançar os outros 2 pratos que restavam, aquele olhar queria me dizer algo, só não sabia o que.
Preparei-me, e assim ele arremessou o resto dos pratos, quando tentei atirar que eu entendi o que o olhar de Dylan queria dizer, eu estava sem bala. Quando o último prato atingiu o chão ele disse:
- Sempre conte as balas, sua vida pode depender disso.
E com mais essa lição eu recarreguei a pistola.
Esperava que ele arrumasse mais alguns pratos, isso até ouvir algo vindo de trás de mim, olhei para direção do som e vi um zumbi vindo em nossa direção, provavelmente foi atraído pelos sons de tiro que eu fiz.
- Acho que já podemos começar a terceira parte do teste... – disse Dylan – que é matar um zumbi, acho que não preciso ser mais claro que isso, né?
Confirmei com a cabeça, apontei bem a arma e tentei mirar certo, minhas mãos ainda tremiam, foi nesse momento que eu passei a entender meu pai melhor. Tentei manter minha mão firme, mas ainda não conseguia, e o zumbi se aproximava cada vez mais, então arrisquei o primeiro tiro e o acertei no pescoço, certamente não bastava, voltei a mirar, atirei, e o acertei no ombro. Irritei-me e descarreguei o pente nele, acertei em todos os locais, menos no cérebro.
Recarreguei a arma, e quando voltei a aponta-la pro zumbi, ele começou a correr em minha direção, e antes que eu pudesse pensar em fazer qualquer coisa, Dylan sacou o revólver e deu-lhe um tiro na testa.
- Eu tinha tudo sobre controle. – protestei
- Tava vendo, tanto que gastou um pente todo no zumbi e não o matou... – falou ele
Logo em seguida ele pegou seu mochilão e voltou pra delegacia.
- Você não disse pra só carregar o suficiente? – perguntei
- Nesse caso eu abrirei uma exceção, porque já vi que o desperdício vai ser grande, três pentes foram gastos nessa brincadeira.
E depois de uns cinco minutos ele saiu da delegacia com mais uns cinquenta pentes na mochila, depois que a colocou de volta na pick up ele se virou pra mim e disse:
- Agora vamos embora porque a gente já fez barulho o suficiente, com certeza atraímos a atenção de vários zumbis nos arredores, deixa que eu dirijo dessa vez.
Assim entramos no carro e fomos embora da cidade.
Depois de nos afastarmos bastante da cidade, Dylan disse:
- Você ainda tem muito que aprender.
- Eu sei! – respondi
- Uma coisa seu pai estava certo, carregar uma arma requer uma responsabilidade muito grande, e o mau uso dela pode causar a sua morte, você viu um pequeno exemplo disso agora.
- Sim!
- Pois se prepare, porque serão longos dias de treinamento.
- Eu imagino.
- E é meu dever já lhe dizer de agora a regra mais importante.
- Diga-me!
- Nunca utilize a arma à toa, por duas razões, uma que munição é que nem ouro, e não é bom você ficar gastando a toa, e segundo porque como você bem viu, o som de um tiro pode atrair vários zumbis pra você.
Eu continuei ouvindo.
- Por isso um exemplo, se você esbarrar com apenas um zumbi, mate-o com a arma branca, não gaste bala com ele, entendido?
- Sim!
- Lembre-se bem disso.
Concordei com a cabeça.
- Dylan!
- Diga!
- Me tira uma dúvida?
- Mande!
- Eu poderia usar essa arma pra caçar?
Ele respirou fundo e disse:
- Animais pequenos, sim, e uma dica que eu te dou é, ferir o animal com o tiro e depois mata-lo com o facão, mas como eu disse, animais pequenos tipo, coelho, rato, raposas, ou coisas do gênero.
- Entendi... – falei – e pra caçar animais maiores?
- Tipo cavalo ou boi?
- Sim!
- Ai você precisaria de uma arma com porte maior, tipo essa minha sniper.
Ficamos calados por alguns segundos, até que Dylan disse:
- E depois disso tudo, definitivamente foi uma boa ideia você não pegar uma arma de cano longo agora.
- Imagino!
- Mas como eu disse, teremos longos dias de treinamento pra você pegar o jeito.
Mais uma vez concordei com a cabeça.
- Bom... – continuou ele – agora voltaremos pro treinamento de facão, duelaremos de novo.

E assim seguimos caminho, e eu fiquei me preparando psicologicamente pra mais um duelo enquanto isso.

(continua)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Mundo Devastado 2 - parte 4*

*Esse conto não tem nenhuma relação com o Brian
-
Feixes de luzes solar já iluminavam o céu, não estava muito longe do amanhecer. Era um longo caminho até a cidade mais próxima, nenhum de nós falou muito durante o percurso, provavelmente se eu fosse perguntar sobre a história dele de novo ele não responderia então, eu apenas observava a estrada.
Mais a frente uma coisa chamou a atenção de Dylan, eu não tinha reparado, estava distraído olhando pro nada, mas me dei conta quando ele começou a desacelerar o carro, então olhei na direção em que ele estava olhando, e vi um pequeno grupo de 4 zumbis devorando uma vaca. Paramos o carro mais ou menos próximo deles e, assim, Dylan desceu do carro.
- Venha também! – disse ele
Desci do carro e fui em direção a ele.
- Pegue seu facão. – falou ele
E assim o fiz.
Então Dylan me pediu:
- Quero que você abata todos esses zumbis.
- Sem problemas! – falei
Pus meu facão em mãos e fui em direção dos zumbis, eles estavam distraídos comendo a vaca morta, mas quando eu me aproximei o suficiente eles sentiram meu cheiro, então dois deles se levantaram e vieram em minha direção, o primeiro tentou me segurar, mas no mesmo instante eu o empurrei e lhe cortei a cabeça, e fiz o mesmo com o segundo. Os outros dois zumbis perceberam a movimentação, então largaram a vaca e vieram na minha direção, tiveram o mesmo destino dos outros dois, ambos com as cabeças decepadas.
Feito o serviço, Dylan se aproximou de mim e disse:
- Muito bem, mas... – eu não gostei daquele tom – você não esqueceu de nada não?
- O que? – perguntei
- Olhe para as cabeças... – falou Dylan
Quando eu olhei, as vi ainda abrindo suas bocas e ainda fazendo barulhos.
- Decepar a cabeça deles não adianta de nada se você não atingir a parte mais importante... – falou ele pegando a sua machete – o cérebro! – e logo após enfiou a lâmina na testa da cabeça de zumbi que estava mais próxima dele, e assim fez o mesmo com os outros 3.
- Então, mesmo eles com a cabeça decepada, se eu fosse mordido, eu me infectaria? – perguntei
- Exatamente, por isso lembre-se, sempre os acerte no cérebro, principal regra de sobrevivência. – falou ele limpando a machete
Em seguida, Dylan avaliou o corpo da vaca morte, e disse:
- É uma pena que os zumbis infectaram a carne, isso daria um bom churrasco por dias.
- Não tem como reaproveitar nada? – perguntei
- Nadinha... – lamentou-se – mas enfim, vamos seguindo caminho porque ainda temos muito trabalho pra fazer.
E assim entramos no carro e seguimos pela estrada.
Depois de umas meia hora de viagem finalmente chegamos na pequena cidade, não haviam muitos estabelecimentos no local mas ainda assim dava pra encontrar coisas o suficiente. O sol já tinha nascido e com ele veio o calor, quando Dylan parou o carro, bebi um gole do meu cantil e desci. Dylan desceu do carro, pegou seu mochilão na traseira e disse:
- Vamos lá!
E assim eu o segui, estávamos indo em direção a um mercado já próximo da entrada da cidade. Ao que parecia os moradores daquela cidade não levaram muita coisa de lá, mesmo as prateleiras não estando cheias ainda havia bastante coisa, o suficiente pra 10 meses. Quando eu coloquei o pé pra dentro do mercado, Dylan falou:
- Espere!
- Que foi? – perguntei
- Você nunca checa se tem zumbi no local antes de entrar?
- Não!
- Grande erro.
E então, Dylan deu um chutão em um carrinho de supermercado, o jogando contra uma prateleira. Um grande estrondo foi feito, eu já me armei esperando que algum zumbi aparecesse, Dylan colocou sua machete em mãos.
- Apenas aguarde. – disse ele
E poucos segundos depois, surgiu um zumbi com roupa de açougueiro vindo do final do mercado a toda velocidade em nossa direção, Dylan tomou a frente já levantando a sua machete, e antes que eu pudesse fazer o mesmo ele partiu o crânio do zumbi em dois. E logo após ele se virou pra mim e disse:
- Antes de entrar em qualquer estabelecimento, sempre faça um barulho para chamar a atenção de qualquer zumbi que estiver lá dentro, melhor que eles apareçam logo dessa forma do que você ser pego de surpresa lá dentro.
“Nova lição do dia” pensei.
Esperamos mais alguns momentos pra garantir que não teria nenhum outro zumbi, e assim confirmando-o entramos no mercado.
A gente deu umas boas rodeadas pelo local, a mochila de Dylan era grande, dava pra gente carregar bastantes coisas, o suficiente pra 2 semanas. Ficamos uns 40 minutos olhando tudo e decidindo do que a gente precisava, até que um momento Dylan disse:
- Já tá bom por agora.
- Mas Dylan, a gente poderia levar mais, não? – perguntei – ainda tem muita coisa por aqui.
- Mas a mochila já está cheia, mais que isso seria exagero.
- Posso levar algumas coisas nos braços.
- Não faça!
- Por quê?
Então ele se virou pra mim e disse:
- Outra regra importante de sobrevivência, nunca carregue mais do que você consegue, isso faz muita diferença principalmente se você encontrar problemas no meio do caminho.
Mais uma lição anotada, mas ainda assim eu pensei no momento que eu deveria ter trago a minha mochila, assim a gente poderia carregar mais algumas coisas.
E assim voltamos pro carro, foi então que percebi que ainda eram 8 e pouca da manhã, estranhei principalmente porque parecia que aquilo era tudo que a gente ia fazer, e eu esperava que a gente fosse explorar mais a cidade a procura de mais coisas, então eu perguntei:
- Não vamos olhar mais nada?
- Não! – respondeu ele
- Isso é tudo que a gente tinha pra fazer?
- Não exatamente. – disse ele pondo a mochila na traseira do carro
- Como assim?
- Entre no carro, você verá.
Ainda confuso, o obedeci.
Então Dylan deu partida no carro e antes de tudo passamos pelo posto de gasolina da cidade pra ele encher seus garrafões. Chegando lá descemos do carro, ele pegou seus garrafões de gasolina e se dirigiu a bomba mais próxima e eu fui da uma olhada na loja de conveniência.
Seguindo os conselhos de Dylan, antes de entrar na loja eu dei três tapas no balcão pra chamar a atenção de qualquer zumbi que estivesse ali dentro, depois de alguns instantes sem sinal de nenhum, bati de novo por garantia, ainda assim não veio nenhum.  Então eu entrei e dei uma olhada nas prateleiras, não achei nada que já não tenha encontrado no mercado anteriormente, a única coisa que eu peguei lá foi um pacote de chicletes, que por incrível que pareça, ainda estava na validade.
Coloquei um na boca, guardei o resto e saí da loja, no lado de fora Dylan enchia o último dos garrafões de gasolina, enquanto ele terminava me encostei na pick up e o aguardei. Quando terminou, ele me pediu ajuda pra levar os garrafões pra dentro do carro, eram 5, eu carreguei 2 e ele 3, depois de colocarmos todos pra dentro eu o ofereci um chiclete, ele recusou. Voltamos para o carro e seguimos caminho.
Enquanto mais a gente avançava, eu percebi que ao contrário do que eu achava a gente não estava indo para casa, então perguntei:
- Para onde a gente está indo?
- Para um local longe de tudo.
Comecei a me assustar com aquilo.
- Por quê?
- Quero fazer um teste contigo.
- Que teste?
- Caramba, mas você pergunta, hein? – disse ele indignado – fique frio, você verá.
Por via das dúvidas eu voltei a por a mão no cabo do meu facão.
- Aliás, uma pergunta... – continuou ele – você dirige?
- Dirigia antes de tudo virar um inferno, mas faz tempo que não pego no volante de um carro.
- Entendo, mas, por exemplo, em uma situação desesperadora, se pegar um carro fosse sua única chance de escapatória, você conseguiria dirigir?
- Sim! – respondi
- Bom saber... – falou ele – e mais uma coisa, nas suas aventuras por ai, você por acaso nunca precisou pegar um carro qualquer na rua?
- Nunca, mas não foi porque eu nunca quis, e sim porque eu não tinha nada pra arrombar a porta de um carro, e nem mesmo pra dar partida nele.
- Entendo! – falou ele
E depois disso nós dois ficamos calados até chegarmos ao nosso destino, era definitivamente um local no meio do nada, longe até mesmo de qualquer área de campo, o local me parecia uma área em que um dia teve algum tipo de plantação, que aparentemente tinha sido queimada. No local encontramos um grupo de 10 zumbis rondeando a área, depois de descermos do carro Dylan me pediu para abater todos, e dessa vez da forma certa.
Peguei meu facão e fui em direção a eles, os abati um-a-um sem muitos problemas, quando eles se aproximavam eu lhes acertava no crânio, e enquanto eu os matava, Dylan pegava não sei o que dentro da pick up, depois de matar todos, limpei meu facão e vi Dylan vindo em minha direção com uma sacola.
- Não guarde o facão, ainda. – falou ele quando viu que eu ia fazer isso.
O mantive em mãos e fiquei observando Dylan se aproximar.
- Antes de qualquer coisa... – falou ele – guarde isso aqui. – e me arremessou algo.
Peguei a coisa, e fiquei surpreso quando vi que aquilo era um cabide.
- Pra que isso aqui? – perguntei
- Mais tarde você entenderá! – disse ele pondo a sacola no chão – por enquanto só fique com ele.
Sem a minha mochila eu não tinha nenhum local pra guarda-lo, então o pendurei no cinto da calça enquanto isso.
Dylan pegava algo dentro da sacola que ele trazia, não consegui ver o que era, era alguma coisa que ele conseguia esconder na mão sem muitos problemas, logo após ele colocou o sacola no chão e começou a andar em minha direção, eu ainda esperava a explicação do por que estávamos lá. Mas antes de eu conseguir falar qualquer coisa, Dylan disse:
- Pensa rápido! – falou ele me arremessando algo
Mesmo que no susto, eu consegui desvia, e depois eu vi que ele tinha me arremessado um ovo, aquilo me deixou completamente confuso.
- O que foi isso? – perguntei
- Isso, foi você com falta de atenção.
Eu ainda assim não entendia.
- Se você estivesse um pouco mais ligado teria usado esse facão pra rebater o ovo.
- Então, isso é um teste? – perguntei
- Se prefere chamar assim... – falou ele – ah, e antes que você fale de desperdício, pode ficar tranquilo, todos esses ovos estão podres.
Eu nem tinha pensado naquilo.
- Agora me mostre o quanto você sabe manusear isso ai. – falou ele antes de me arremessar mais um ovo.
Dessa vez consegui rebatê-lo com o facão, e certamente acabei tomando um pouco de clara de ovo na roupa.
- Como você pode ver, iremos nos sujar um pouquinho. – falou Dylan quando me arremessou mais um ovo.
Esse por pouco vinha no meu rosto, mas eu consegui bloqueá-lo a tempo.
E assim ele continuou jogando os ovos em mim, então, tive que testar meus reflexos ao máximo, Dylan simplesmente não perdia tempo entre um arremesso e outro, boa parte eu consegui acertar, mas claro, teve outros que eu achei melhor desviar. Certamente nessa brincadeira toda, o cabide acabou caindo do meu cinto, mas eu o ignorei.
Houve um momento em que Dylan conseguiu acertar dois ovos em mim, um no ombro e o outro no peito, e eu garanto, doeu pra caramba. Depois de ter sido atingido eu olhei pra ele, seus olhos zombavam de mim, e isso me deu forças para continuar a jogar o seu jogo. Então depois disso, eu consegui cortar todos os ovos que ainda restavam pra ele jogar em mim, sem exceção.
Depois de rebater o último ovo eu me abaixei pra tentar descansar um pouco, aquilo tinha exigido 110% de mim e o sol quente não ajudava em nada. E naquele mesmo momento, Dylan vinha se aproximando de mim.
- Cansado? – perguntou ele
- Sim! – respondi tomando um gole d’água do cantil
- Ah é? – disse ele – pois saiba...
E de repente ele pegou sua machete e tentou me acertar com ela, mas eu rapidamente consegui usar meu facão para bloqueá-lo.
- ... que quando morrer você descansará a vontade. – completou ele, ainda fazendo força com a machete.
Usando toda força que ainda me restava consegui empurra-lo para longe.
- Vamos pra um pequeno duelo... – disse ele – mas relaxa o objetivo não é matar e nem machucar o outro, e sim, desarmar.
Armei-me ainda mais, e aguardei a sua investida. Então Dylan mais uma vez tentou me acertar e eu consegui me defender novamente, ele deu outra investida e dessa vez eu desviei, esperei pra ver o movimento que ele iria fazer, e dessa vez ele tentou me acertar nas costelas, mas de novo eu consegui defender.
- Seus reflexos são bons, pelo visto. – disse ele, antes de me da mais uma investida perto do pescoço.
O Bloqueei mais uma vez, dessa vez quase sofrendo um corte da machete dele no queixo, e por uma boa parte do duelo eu apenas me defendi das investidas dele, ele pelo visto treinava muito isso antes do mundo virar um caos. Até que momento, em mais uma de suas investidas, ele conseguiu me derrubar, foi no momento que ele tentou me acertar na testa, sendo que com um pouco mais de força, essa mesma acabou me derrubando. Ainda no chão, Dylan ainda forçava sua arma pra cima de mim, e eu sentia minhas forças irem embora, estava quase desistindo, foi então que eu comecei a pensar no meu pai, me lembrei dele enfrentando a horda de zumbis na nossa casa enquanto eu fugia, e certamente, lembrei de quando eles conseguiram o derrubar.
Nesse momento eu consegui a força que eu precisava para tirar Dylan de cima de mim, lhe dei um chute no peito o afastando, e me levantei, e dessa vez eu comecei a da investidas. Dylan defendia tão rápido quanto eu, mais aos poucos eu o atacava mais rápido, até que chegamos num momento da luta que ficamos de igual pra igual, nós dois atacávamos na mesma proporção, mas mesmo conseguindo aguentar bastante, o cansaço estava me vencendo, e aos poucos minhas forças diminuíam, até que teve o momento em que Dylan me deu um golpe mais forte e eu acabei soltando o facão, conseguindo assim vencer o duelo.
- E agora você está morto. – disse ele apontando o facão pra mim
E então fui apanhar meu facão de volta.
- Deu pra perceber claramente, que você foi vencido pelo cansaço, estou mentindo?
- Não! – respondi
- Você pode ser morto por isso numa situação de real perigo. – falou Dylan
Enquanto isso eu guardei o facão, tomei um gole d’água e pus outro chiclete na boca.
- Todos os dias teremos um duelo desses... – falou Dylan – isso até o dia que você me vencer, que ai eu verei que você está preparado.
Eu o ouvia atentamente.
- Você não foi mal nessa luta, mas como você pode ver não foi o suficiente. -  completou ele
E eu ainda o ouvia tentando recuperar o fôlego.
- Bom, vamos pro carro que terei outras tarefas pra você.
Então o segui até a pick up, ainda estava exausto, só queria me sentar e não fazer mais nada.
- Eita... – falou Dylan – olha só, tranquei o carro com a chave dentro.
Minha reação foi de extrema surpresa.
- Como assim? – perguntei indignado
- Acontece... – falou Dylan num tom completamente despreocupado – mas tudo bem, há uma saída, é só a gente abrir por fora.
- Mas você tem alguma coisa que faça isso?.
- Eu não, mas você tem.
Mais uma vez fiquei surpreso.
- Não, eu não tenho.
- Tem sim, você que não sabe que tem, mas pense bem que você vai descobrir o que é... – falou ele – e tem mais, quando descobrir você abrirá a porta, e não sairemos daqui até que você o faça, mesmo que isso leve o dia todo.
Eu não fiquei nada feliz com aquilo.
- Está em suas mãos... – completou ele

Como se não bastasse o cansaço, ainda tinha mais essa pra eu resolver.

(continua)