sábado, 8 de novembro de 2014

Aconteceu em um show de rock...

O fato que irei relatar agora não é recente, aconteceu há uns oito meses mais ou menos, só resolvi contar agora porque... eu realmente não sei dizer, mas enfim, não tem muita importância agora, o que importa é que estou contando agora, mas chega de conversa fiada e vamos logo para o que realmente interessa.
Não, não era um sábado como um outro qualquer, naquele em específico principalmente, como de costume de todos os sábado, eu almocei com meu pai e lá pra umas 14:30 eu fui pro meu treino de kung fu, que pra variar, foi puxado pra caramba. O treino começou às 15:30 e terminou as 17:40, mas ainda fiquei um pouco mais de tempo lá já que sempre após o fim do treino o nosso mestre senta pra falar com todo mundo, dar avisos, e afins. Eu saí de lá um trapo, mas ainda assim estava bastante animado para o show de rock que eu iria no dia.
Larguei de lá umas 18:20 e peguei o ônibus direto pra casa, felizmente ele não demorou muito para chegar, uns cinco minutos apenas, sendo assim eu cheguei em casa uns quinze minutos depois (felizmente o trânsito estava tranquilo), e assim que cheguei tomei banho, e logo depois jantei. Terminado tudo isso olhei a hora, e já eram 19:45, a abertura dos portões do local estava marcada no ingresso para 21:00 (apesar que eu nunca confiava nesses horários, a não ser se fosse uma atração britânica que fosse tocar), mas de qualquer forma eu me arrumei, já que pretendia sair de casa umas 20:30 (isso porque o local do show era ridiculamente perto da minha casa, ou seja, eu ia andando e esse era um horário que a rua não estaria lá muito estranha).
De 20:00 eu já estava pronto, então me sentei em frente ao computador e esperei o tempo passar. Quando deu exatamente 20:30, peguei o necessário e fui para o show. A caminhada da minha casa até o local não deu nem dez minutos, e a rua realmente estava tranquila na hora.
Chegando no local já havia um número considerável de pessoas esperando no portão, com certeza ninguém esperava que os portões abrissem realmente de 21:00, então pra mim só me restou comprar uma água, me sentar e aguardar.
E sim, eu ia ver aquele show sozinho, da mesma forma que eu vi vários shows na minha vida, já que normalmente eu nunca conseguia alguém pra ir comigo, e como normalmente eu queria muito ir nos shows o jeito era ir sozinho mesmo, ou era isso ou ficava em casa.
E sim, por lado isso era deprimente, sim, era muito melhor ir pro show com os amigos, mas como eu disse, ou era isso ou eu simplesmente não ia, e se eu fosse depender de companhia pra ir em shows eu nunca iria em nenhum.
E assim fiquei lá sentado esperando a hora passar, com absolutamente nada de interessante pra fazer e ninguém pra jogar conversa fora, a única coisa que eu podia fazer era ver a movimentação e pensar na vida, eu olhava pro relógio e parecia que o tempo passava devagar, cinco minutos se passavam com a sensação de que tinham sido quinze.
Deu 21:00, e como eu já imaginava, os portões não tinham sido abertos, mas já ouvia-se as guitarras sendo tocadas no lado de dentro, o que certamente era a banda de abertura fazendo passagem de som, a galera enquanto isso ficava ali tomando uma e curtindo o momento, eu duvidava muito que mesmo que os portões se abrissem naquele momento todo mundo entraria naquela hora, normalmente o pessoal não se importava muito com a banda de abertura e só entravam mesmo quando estivesse perto da banda principal começar a tocar.
Passaram-se mais quinze minutos, e nada dos portões abrirem, eu continuava lá sentado vendo o movimento, e galera ia chegando aos poucos, a rua já estava ficando um verdadeiro aglomerado de pessoas de camisas pretas. Passou-se mais um tempinho e já não se ouvia mais a passagem de som do lado de dentro da casa de shows, já deveria ser um bom sinal.
Pouco depois, uma garota se sentou na calçada perto de mim, ela era ruiva, estava toda de preto, certamente, e bem atraente, até. Dei uma olhada rápida e depois voltei a pensar em coisas aleatórias aguardando a abertura dos portões.
Sendo que logo após, e vi a garota em questão se aproximando um pouco de mim.
- Com licença... - disse ela
- Oi? - perguntei
- Você pode me dizer que horas são?
Tirei meu celular do bolso, olhei o relógio, e disse:
- Nove e vinte e cinco.
- Já? - falou ela espantada - já devia ter aberto.
- Pois é... - concordei - mas é aquilo, nunca confie nesses horários.
- Sei bem como é, mas obrigada.
- Nada!
E assim voltamos a ficar calados ainda sentados perto um do outro, foi quando percebi que ela também estava sozinha, se estava esperando mais alguém, não fazia a menor ideia, mas resolvi fazer contato da mesmo forma.
- Prazer, sou Brian! - falei
- Prazer, Simone! - respondeu ela com um sorriso
Ficamos mais alguns segundos calados sem a menor ideia do que falar após aquilo. Até que Simone falou:
- Está sozinho?
Respirei fundo, e disse:
- Infelizmente, sim.
- Te entendo, eu também.
E a partir daí começamos a conversar sobre o porque que estávamos lá sozinhos, certamente eu expliquei toda a minha situação, e ela explicou a dela, que era basicamente a mesma da minha, e depois começamos a nos conhecer, falamos um pouco sobre nós mesmos.
- Fale-me um pouco mais sobre você. - disse ela
- O que, exatamente? - perguntei
- Quantos anos, o que faz, de onde é, essas coisas.
- Ok então, deixe-me pensar um pouco aqui como começar. - falei
Depois de uns segundos pensando, falei:
- Eu sou Brian, tenho 19 anos, estou no 3º período de jornalismo da UFPE, não trabalho ainda, tenho descendência canadense e sou daqui de Recife mesmo.
- Descendência canadense? Sério?
- Sim! - respondi
- Por parte de quem?
- Da minha mãe, ela nasceu em Winnipeg.
- Ah, legal.
- Bom, sua vez agora.
- Bom, deixe-me pensar então... - falou ela
E alguns segundos depois, ela falou
- Sou Simone, tenho 19 anos também, sou de Natal, estou no 2º período de história também na UFPE, não trabalho ainda e não tenho nenhuma descendência, até onde eu sei.
- Estuda na federal também? - falei - em que turno?
- Tarde.
- E olha só, eu também!
E rimos juntos.
Depois disso ficamos mais algum tempo falando de coisas aleatórias, da banda que iria tocar também, inclusive. Até que deu 22:00 e finalmente os portões tinham sido abertos.
- Vamos lá? - perguntei
- Bora! - disse ela
Como eu já imaginava, muitos preferiram ficar ainda do lado de fora tomando uma, a banda principal ainda ia demorar pra tocar, e ainda teria duas bandas de abertura. Mas ainda assim um número considerável de pessoas já estavam do lado de dentro, o mar de gente preta ia se formando aos poucos, os instrumentos já estavam armados no palco e na hora as caixas de som tocavam algumas músicas pra animar a galera.
Quando entramos a gente foi logo pra perto do palco tentar já arrumar um lugar bom, sendo que no caminho houve um momento meio chato, quando passamos por um grupo de caras um deles gritou pra Simone:
- Ei ruivinha gostosa, vem mostrar seu potencial.
Os caras que estavam perto dele todos riram e eu e ela passamos por ela simplesmente os ignorando.
- Imagino que você já teve que aguentar muitas dessas, né? - perguntei
- Direto, mas já acostumei, só ignoro.
- Ei, me responde uma coisa.
- Fale!
- Seus pais são de boa sobre você vim pra show sozinha?
- Definitivamente não, minha mãe mesmo enche meu saco pra caramba, mas em algum momento eu do a miníma? - falou ela rindo
E eu ri junto com ela.
E até a hora que o primeiro show começou ficamos conversando mais um pouco, show esse que começou meia hora após a gente ter entrado. Certamente nessa hora boa parte do público ainda estava do lado de fora, o que é típico de show de banda de abertura.
Eu e Simone ficamos bem perto do palco, a galera que estava acompanhando estava tudo curtindo ao que eu chamo de "estilo europeu", ou seja, parados simplesmente ouvindo, comigo e Simone não foi diferente, aliás, não tinha graça ser os únicos "animados" na platéia.
O show da primeira banda durou apenas meia hora, e quando terminaram foram aplaudidos pelo público que prestava atenção no momento, eu mesmo achei a banda boa, mas enfim.
Após a banda deixar o palco, eu e Simone nos sentamos um pouco e começamos a conversar sobre o show de abertura, sobre o que a gente tinha achado e afins. Até que em um momento, Simone me pegou de surpresa.
Ela pegou o celular e tirou uma foto minha.
- Ei! - falei
- Desculpe, não resisti. - falou ela rindo
- Poderia ter avisado antes.
- Desculpe! - falou ela sorrindo - mas posso tirar foto contigo? Já pra guardar de recordação.
Eu nunca fui um cara muito fã de fotos, aliás, eu sempre odiei tirar fotos, mas também não queria da uma de chato.
- Ta bem.
E então ela tirou várias selfies nossas, certamente reclamou do fato de eu nunca sorrir nas fotos (porque eu realmente nunca sorrio em foto) mas ainda assim me fez alguns elogios como "tá lindo".
Elogio esse que quando ela fazia eu ficava completamente sem graça, e ela percebeu.
- Meu deus. - falou ela rindo
- Que foi? - falei eu me fazendo de desentendido
- Você ai todo sem graça por causa do elogio que eu te fiz.
- Eu sem graça? É impressão sua,
- Sei... - falou ela dando aquele olhar de desconfiada e rindo. - mas fica tranquilo, só to falando a verdade.
E eu tentei disfarçar, mas ainda assim fiquei sem jeito, e Simone continuou rindo.
Foi então que o show da segunda banda de abertura finalmente iria começar. Dessa vez havia mais gente na platéia pra acompanhar a apresentação, isso sem falar que estavam bem mais animados, ao som dos primeiros acordes de guitarra a galera já começou a formar a roda punk.
Eu e Simone entramos na animação do pessoal, a banda estava conseguindo levantar o público, eu inclusive entrei na roda em alguns momentos. O show dessa banda também só durou meia hora, mas deixou um gostinho de "quero mais" para todos que estavam lá.
- QUE FODA, VELHO! - gritou Simone
- DO CARALHO! - gritei
- E cara... - falou ela - você é doido.
- Por que? - perguntei
- Você teve coragem de ir pra roda.
- Era o calor do momento!
Ela riu e disse:
- Eu não tenho coragem.
Ri junto com ela e disse:
- Te entendo, olhando assim de fora realmente não parece ser uma coisa muito amigável.
- Não mesmo!
Rimos mais um pouco, e então Simone falou:
- Vou comprar algo pra beber.
- Vou lá contigo - falei, também estava morrendo de sede
Chegamos na barraquinha, e claro, tudo custava caro pra caramba, mas infelizmente era o jeito. No fim das contas, eu comprei uma água e Simone uma lata de cerveja.
- Você não bebe? - perguntou ela estranhando porque eu também não tinha pedido uma cerveja.
- Não, eu sei, não é uma coisa muito normal nos dias de hoje.
- Realmente não é, mas certo está você.
- Você não é a primeira que me diz isso. - falei rindo
Depois de comprar as bebidas, procuramos algum canto pra sentar e ficamos lá conversando mais um pouco, Simone novamente quis tirar fotos da gente, e eu, mesmo contra a minha vontade, tirei. Mas foi durante isso tudo que eu comecei a olhar pra ela com mais atenção, então eu comecei a pensar: "Caramba velho, ela é muito linda".
Mas rapidamente parei de pensar nisso pra não acabar fazendo cara de bobo, o que seria realmente ridículo. E assim a gente continuou jogando conversa fora. até que finalmente, iria começar o show principal.
Assim que foi tocado os primeiros acordes todo mundo correu para o palco, dessa vez não tinha nem como a gente ficar perto do palco, era muita gente. O local estava um verdadeiro mar de gente com camisas pretas, e assim que foi iniciado a primeira música, o público foi a loucura.
Uma grande roda punk se abriu no meio da platéia, todos cantaram junto com a banda da primeira música até a última, muitos pularam, dançaram e afins. Eu, novamente, vez ou outra também ia pra roda, e Simone simplesmente se esgoelava cantando as letras junto com a banda.
Foram duas horas de show completamente intensas com o bom e velho rock n roll.
Quando a apresentação terminou, todos imploraram pra que eles tocassem mais, mas o fim tinha finalmente chegado, as luzes se acenderam e o equipamento começou a ser retirado do palco, a festa tinha terminado.
E assim todos começaram a se encaminhar para a saída da casa, agora seria o corre-corre pra conseguirem um táxi, já que a disputa por um seria grande.
Já eu pretendia voltar andando, como eu disse, minha casa era ridiculamente perto, sendo que o problema maior era que eram duas e pouca da manhã e as ruas estavam completamente estranhas, mas pegar um táxi dali pra minha casa era ridículo. Bom, de qualquer forma eu iria esperar Simone conseguir um táxi para depois seguir meu caminho.
- Tu mora aonde? - perguntou Simone
- Moro aqui por perto, vou só esperar você conseguir um táxi que ai eu vou andando pra casa.
- Sozinho?
- Sim.
- Do jeito que as ruas tão estranhas a essa hora?
- Sim.
- Não é melhor você pegar um táxi?
- Rapaz, é que se eu for de táxi daqui pra casa o taxista com certeza ficaria puto da vida comigo.
Depois de um tempo dela tentando me convencer a pegar um táxi, ela falou:
- Vamos fazer o seguinte, vou andando contigo até sua casa e de lá eu pego um táxi.
Fiquei surpreso com a sugestão dela.
- Não, Simone, relaxa, eu ficarei bem, dá nem dez minutos de caminhada.
- Besteira menino, isso sem falar que pra mim seria até melhor pedir um táxi lá, porque aqui tá difícil com esse tanto de gente.
- Mas...
- Sem "mas", por favor.
Fiquei calado por alguns segundos, até que eu finalmente disse:
- Ta bem, então.
E assim ela sorriu pra mim, e eu retribuí o sorriso.
- Vamos lá, então. - falou ela
Então seguimos caminho em direção a minha casa, e realmente, a rua estava estranha pra cacete, a cada passo que a gente dava eu olhava para todos os lados para ver se ninguém suspeito se aproximava, percebendo isso Simone falou:
- Você tá tenso.
- Não é tenso... - falei - só to ligado.
Ela riu e disse:
- Relaxa um pouco, menino. - e sorriu pra mim
Eu definitivamente não iria esquecer aquele sorriso tão cedo, ele realçava ainda mais a beleza dela.
Durante o caminho a gente falava sobre o show, e eu continuava ligado na movimentação ao meu redor (ou na falta dela). Até que depois de seis minutos de caminhada, finalmente chegamos no meu prédio. Quando entramos pedi pro porteiro o número de alguma agência de táxi, ele me deu e eu mesmo liguei e pedi um para Simone.
- Pronto, disseram que chega de quinze a vinte minutos.
- Certo, obrigada! - falou ela
Ela se sentou no sofá do prédio e eu me sentei do lado dela.
- Mas ei... - falou ela - se quiser já subir, fique a vontade, ficarei bem aqui.
- Que nada... - falei - fico aqui até teu táxi chegar, é o mínimo que eu posso fazer.
- Ta certo então... - falou ela sorrindo - obrigada!
E seu sorriso ficou cada vez mais radiante.
- Brian...
- Oi?
- Posso te dizer uma coisa?
- Diga.
Ela respirou fundo, mordeu os lábios, e disse:
- Adorei te conhecer hoje.
Eu sorri e disse:
- Também adorei te conhecer.
Continuamos sorrindo um pro outro, até que nos abraçamos.
- Você vai ta na Federal segunda? - perguntei depois que nos soltamos
- Sim. - falou ela
- O que acha da gente almoçar juntos nesse dia?
Ela pensou por alguns segundos, mas logo respondeu:
- Claro, eu adoraria.
E mais uma vez ficamos sorrindo um para o outro (eu sei, já ta chato ficar falando isso). Então começamos a trocar contatos (redes sociais, telefone, e afins) e pouco depois o táxi dela chegou.
- Bom, é aqui que nos despedimos. - falou ela
- Infelizmente!
- Um abraço de despedida cairia bem?
- Com certeza!
Então nos abraçamos novamente.
Depois que nos soltamos, eu disse:
- Até segunda.
- Até, mal posso esperar. - disse ela - e obrigada por me esperar.
- Que isso, foi nada demais.
Foi então que rapidamente, ela me deu um beijo no rosto, me pegando completamente de surpresa.
Ela depois que viu minha reação riu e disse:
- Você fica mais lindo ainda sem jeito, sabia?
E eu continuei calado com cara de idiota.
- Bom... - continuou ela - vou lá antes que o taxista desista.
- Ta certo. - falei
- Tchau e boa noite.
- Tchau! - respondi
E assim ela foi pro táxi, depois que o carro tomou partida eu entrei no elevador e fui pra casa dormir, mas eu sabia que iria demorar pra eu conseguir pegar no sono, aquela tinha sido uma noite e tanto, eu não iria conseguir tirá-la da minha cabeça por um bom tempo.


Brian