terça-feira, 21 de julho de 2015

Algo completamente inesperado... - Parte 3/FINAL

Eu sabia que durante as férias Júlia costumava a acordar tarde pra cacete, então estava convicto de que só conseguiria falar com ela após o almoço, sendo assim, naquela manhã procurei nem me preocupar muito com isso e ocupar minha mente com alguma outra coisa. Então eu fiquei brincando com o Riddle pelo resto daquela manhã.
Quando deu próximo de meio-dia, Riddle já parecia um pouco cansado, foi quando percebi que era a hora de lhe dar um descanso, isso sem falar que a fome tinha batido, na hora eu estava sozinho em casa, tanto minha mãe quanto minha irmã estavam no trabalho, ou seja, eu teria que me virar pra fazer meu almoço.
Eu poderia ter assado uma carne, esquentado um arroz, umas verduras, ou coisa assim, mas a preguiça de mexer no fogão naquele dia estava enorme, então fui pelo simples e esquentei uma lasanha congelada no micro-ondas.
Enquanto comia, eu fiquei com o meu celular do meu lado apenas esperando um sinal de vida de Júlia, até que finalmente ela apareceu online, por pouco não lhe mandava uma mensagem logo de cara, mas achei melhor esperar um pouquinho, dar um tempinho para ver se ela não entraria em contato primeiro, e também pra não parecer aquele cara desesperado (pode parecer frescura minha, mas enfim, realmente não espero que entendam isso). Decidi que só tomaria alguma iniciativa em relação àquilo depois do almoço, mas ainda assim fiquei na expectativa que ela o fizesse logo, o que parecia que não iria ocorrer.
E claro, eu comecei a pensar no que raios estaria se passando na cabeça dela naquele momento, eu e minhas paranoias para variar, na minha mente havia todo tipo de explicação, e em boa parte delas acabava com Júlia não querendo olhar na minha cara nunca mais, como eu disse, paranoias minhas.
Depois que terminei de comer ainda fiquei mais um pouco nessa frescurinha de que se falava logo com ela ou não, de que se a esperava falar algo ou se tomava logo uma iniciativa, fiquei mais ou menos uns quinze minutos olhando o celular vez ou outra tentando decidir isso.
Até que eu decidi finalmente parar de frescura e simplesmente tomar a iniciativa, também decidi que não faria isso por mensagem e que ligaria pra ela antes de tudo.
Então sem hesitar, peguei o celular e liguei para ela,
Na primeira tentativa, o telefone chamou uma, duas, três, quatro... E nada dela atender, desliguei e esperei alguns minutos, me deitei no sofá da sala enquanto isso e fiquei olhando para o teto. Após cinco minutos eu dei minha segundo tentativa.
Liguei novamente e aguardei ela atender, e assim chamava, chamava, chamava...
- Alô?
- Júlia?
- Ah... oi Brian... - a voz dela soou um pouco insegura nesse momento
Na hora, eu não soube o que falar, fiquei meio sem graça, sei lá, a situação ainda era bastante constrangedora.
- Errr, tudo bem? - falei meio sem jeito
- Sim, estou... e você? - falou ela da mesma
- Também... eu acho...
E mais uma vez, ficamos alguns segundos calados esperando o outro falar alguma coisa, via-se claramente que o clima estava estranho entre nós, até que eu finalmente falei:
- Tas ocupada agora?
Depois de alguns segundos, ela respondeu:
- Err, não... por que?
Senti um pouco de receio na voz dela.
- É que... eu... errr... - simplesmente não sabia quais palavras usar, eu estava bastante nervoso, minha mão tremia pra caramba.
Foi quando aquela voz dentro de mim praticamente gritou também me dando um tapa na cabeça "DESEMBUCHA, PORRA!"
- A gente precisa conversa sobre o que aconteceu ontem.
Por um lado foi aliviante falar aquilo, mas também desesperador.
Depois de alguns segundos calada, Júlia respondeu:
- Ok, então... - ainda sentia o receio em sua voz. - quer que a gente se encontra lá em cima?
Eu ia dizer "sim", até que parei para pensar em um detalhe, que o melhor era eu não falasse com ela na área de lazer do prédio, e por que? Simples, porque lá é o local mais calmo do prédio, ou seja, iria ser a brecha perfeita para que ocorresse de novo, eu sei bem disso porque na época que a gente namorava, íamos direto para lá quando queríamos um tempinho sozinhos.
- Na verdade... - falei - posso falar contigo ai mesmo na sua casa?
Eu sabia que naquela hora teria gente na casa dela, o que já seria uma garantia de que nada aconteceria, teríamos menos privacidade, mas era o preço a se pagar.
- Tá, pode ser... - falou ela
- Não tem problema não, né?
- Não, claro que não. - não senti muita firmeza no tom de voz dela
- Ok então, apareço ai em cinco minutos.
- Ok!
- Até já!
- Até!
E assim eu me arrumei rapidamente, apenas fiz trocar de roupa de escovar os dentes, como de costume, dei um cafuné no Riddle e fui me encontrar com ela.
Cheguei na porta do apartamento de Júlia em exatos cinco minutos, hesitei um pouco em tocar a campainha, mas assim o fiz e aguardei alguém atender. Quando a porta se abriu, quem estava nela era a mãe de Júlia, Dona Selma.
- Oi Brian! - falou ela
- Olá Dona Selma. - falei um pouco sem graça
- Tudo bem com você? - disse ela me abraçando
- Sim, está, e com a senhora? - respondi retribuindo o abraço
- Tudo ótimo, graças a Deus.
- Que ótimo... - e logo após não hesitei em perguntar - Júlia ta ai?
- Ela ta se arrumando, mas já já aparece. - disse Dona Selma - mas entre, você pode esperar ela aqui no sofá.
- Ah, claro, obrigado.
E assim entrei e me acomodei no sofá.
- Quer alguma coisa? Uma água, qualquer coisa?
- Não, obrigado, não se preocupe com isso.
- Nem um pedaço de bolo?
- Agradeço, mas não precisa.
- Eu insisto.
Foi quando eu percebi que ela iria trazer de qualquer forma, então simplesmente aceitei. Era um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, então o aproveitei bem, aliás, sempre adorei qualquer coisa com cobertura de chocolate, mas enfim, quando terminei fiz questão de levar o prato até a cozinha, apesar da mãe de Júlia ter insistido pra que eu a deixasse fazer isso.
Após isso, Dona Selma foi fazer suas coisas, e eu fiquei aguardando Júlia no sofá, pouco depois o gato dela passou, era um persa branco, tentei fazer um carinho nele, mas ele não parecia ser do tipo que gostava de socializar, me esnobou no mesmo instante.
- Brian? - Foi quando Júlia finalmente apareceu
- Oi Júlia.
Dessa vez mal nos cumprimentamos direito, sem abraço, sem aperto de mão, nem nenhum outro tipo de contato físico, ela apenas se sentou ao meu lado no sofá.
- E então... - falou ela sem graça
E eu estava da mesma forma, sem saber como começar aquilo, ficamos por um momento apenas sentados olhando para a cara de bobo do outro.
"Que bosta de clima, hein?" pensei.
Enquanto isso, o gato dela apareceu de novo, sendo que dessa vez pulou no colo de Júlia e lá ficou com ela lhe dando um cafuné, e acreditem, ele ficou me olhando com uma cara nem um pouco amigável, podem achar até que é doideira minha, mas eu juro que não é.
- Prefere falar num local com mais privacidade? - perguntou Júlia
- Sim, claro. - falei
- Então vamos pro escritório.
Júlia tirou o gato do colo e se levantou, ele não pareceu muito feliz com aquilo e foi andar pela casa. A segui até o escritório, que ficava exatamente ao lado do quarto dela, entramos lá e ela fechou a porta para garantir ainda mais que ninguém iria ouvir a nossa conversa, depois que nos sentamos, eu finalmente comecei a falar:
- Ok, vamos logo com isso então, não era pra ter acontecido aquilo com a gente ontem. - falei sem hesitar.
E também sem hesitar, Júlia falou:
- Concordo.
Fiquei até intrigado com a resposta dela.
- Me deixei levar pela emoção, não pensei direito, enfim, fui idiota.
- Não Júlia, o idiota fui eu que não impedi, acabei me deixando levar pela carência, foi errado o que eu fiz.
- Não precisa se culpar.
- Preciso sim, me senti mal por isso a noite toda.
Então Júlia pensou um pouco, e disse:
- Eu também.
Eu suspirei, e disse:
- Acho que no fim nós dois fomos idiotas.
- Concordo. - disse Júlia rindo.
Comecei a rir junto com ela, chegamos no ponto em que aquela situação toda era engraçada.
- Bom... - falei - fico feliz que a gente concorde nisso.
Júlia apenas sorriu.
- Enfim... - continuei - que isso não aconteça de novo, ok?
- Ok! - concordou Júlia ainda sorrindo.
Selamos esse "acordo" com um abraço de amigos, apesar que ainda havia um detalhe para ser ressaltado:
- Ei Júlia, me responde uma coisa.
- O que?
- Você chegou a comentar o que aconteceu pra alguém?
- Não, por que?
- Ótimo, vamos manter dessa forma, isso morre aqui entre a gente, pode ser?
Ela pareceu um pouco confusa, mas concordou.
- Ok, melhor que fique assim mesmo.
E de novo, sorrimos um para o outro e nos abraçamos novamente.
No fim, tudo acabou bem, depois de ter tudo aquilo acertado com Júlia, ainda fiquei um pouquinho por lá conversando com ela, até que depois de uns vinte minutos ela precisou sair com a mãe para resolver umas coisas, foi depois disso que eu voltei para casa tranquilo e com a consciência limpa.

Brian

terça-feira, 14 de julho de 2015

Algo completamente inesperado... - Parte 2

Depois de esperar alguns minutos lá em cima, eu finalmente desci para a minha casa, ainda bastante encucado, certamente, sei lá, ainda não acreditava no que tinha acabado de acontecer, aquilo tudo demorava para processar na minha mente, e como eu disse, por um lado eu tinha gostado e pelo outro tinha feito uma puta besteira, e eu estava ciente dos riscos, que não eram pequenos.
Quando cheguei em casa, comi alguma e coisa e fiquei no meu quarto, tentei me distrair com alguma coisa, mas certamente o ocorrido não saia da minha cabeça, e pra piorar, eu ficava de minuto em minuto olhando pro meu celular esperando que Júlia me mandasse alguma mensagem, claro, foi em vão.
E o pior era que eu queria mandar uma mensagem pra ela, mesmo sem saber o que dizer, sabia que seria uma má ideia, mas eu queria da mesma forma, porém, felizmente consegui me controlar, sendo que continuava a checar a porra do celular sem para, não apenas o celular mas também as redes sociais.
Ela estava online, mas mesmo assim não falava nada, não que eu esperasse que ela fosse falar algo, provavelmente ela ainda estava processando aquilo tudo também, provavelmente estava na mesma situação que a minha.
Talvez o melhor fosse realmente deixar aquilo quieto por enquanto, nenhum de nós dois sabíamos o que falar depois que aconteceu, a gente precisava pensar um pouco antes de tomar qualquer outra atitude, principalmente porque essa aconteceu sem nenhum dos dois pensar na merda que podia dar.
Até pensei em conversar sobre isso com alguém, conta o que aconteceu e ir atrás de aconselhamento, mas achei melhor deixar quieto por enquanto e esperar até o dia seguinte, que seria quando eu e Júlia provavelmente conversaríamos sobre isso.
Foi então que eu resolvi jogar alguma coisa no computador para esquecer um pouco isso, e felizmente por um instante funcionou, aproveitei também e deixei uma música tocando no meu celular para ajudar um pouco nisso também.
Fiquei umas cinco horas nisso (pode me chamar de viciado), até acabar cansando, então resolvi assistir alguns episódios das minhas séries, e assim fiquei por mais três horas. Até que quando deu meia-noite e meia, o sono começou a vim, eu já não conseguia mais acompanhar o que estava na tela do meu computador e cochilava por alguns segundos vez ou outra.
Então decidi que veria aquele episódio num outro dia quando eu estivesse com menos sono e fui dormir. Não demorou mais do que quinze minutos para eu pegar no sono.
Foi quando eu tive um sonho estranho, na verdade não tão estranho assim, e sim, marcante, vocês entenderão o porquê...
No sonho, eu estava na área de lazer do prédio, e claro, estava esperando Júlia, para que exatamente, eu não sei, talvez fosse para a gente ficar de novo ou para conversar sobre o ocorrido, mas só sei que eu estava esperando ela. Então, sendo assim, me sentei na borda da piscina, coloquei meus pés na água e fiquei aguardando.
Não demorou muito para eu ouvir uns passos chegando no local, e assim que os ouvi, me levantei e fiquei na expectativa, mas acabei tendo uma desagradável surpresa, não era Júlia que estava vindo.
- Olá, Brian! - falou minha consciência entrando no local
"Estou fodido." pensei
- Esperando alguém? - falou ele de novo
- Você, eu acho... - falei
- Não, você não estava me esperando, sua expressão facial diz tudo.
- Quem eu estaria esperando, então?
- Não sei... - falou ele - alguém, possivelmente, uma garota, para ser mais exato...
Sabia muito bem aonde ele queria chegar, mas o deixei falar.
- Acho que você deve saber quem é, ela começa com "JÚ" e termina com "LIA". - falou ele já cara a cara comigo naquele momento.
- Chegue no seu ponto logo. - falei
Minha consciência respirou fundo, e disse:
- Se é assim que deseja...
E quando dei por mim, minha consciência tinha acabado de me dar um soco no rosto.
- O QUE VOCÊ TINHA NA CABEÇA? - vociferou ele
Fiquei calado, sabia que qualquer coisa que eu falasse ele não iria engolir.
- RESPONDA! - gritou ele me dando outro soco.
Continuei calado por alguns segundos, e falei:
- Carência, possivelmente...
Não me senti bem respondendo aquilo, e claro, ele não engoliu aquela conversa e me deu outro soco.
- Você não sabe controlar seus instintos, por acaso? - falou minha consciência mais uma vez.
- É como dizem, a carne é fraca... - eu sabia que não iria dar certo eu falar aquilo
Dito e feito, mais um soco.
- Porra nenhuma, você que é fraco.
- Já ta bom de socos, né? - questionei
E claro, ele me deu mais um.
- Não, não está, NADA está bom nessa história!
- Ok, mas podemos conversar que nem pessoas civilizadas por um momento?
Pelo visto, finalmente o que eu falei fez algum efeito nele (o que raramente acontece), então ele afastou um pouco de mim.
- Você está ciente da merda que isso pode dar, né? - falou ele
- Claro que estou, só tenho pensado nisso pelo resto do dia.
- E na hora? PENSOU?
Simplesmente não falei nada.
- Pior de tudo, que na hora eu fiquei me esgoelando dizendo que era uma péssima ideia, e eu sei que você me ouviu, mas ainda assim o fez.
E eu continuava calado.
- Por que não impediu que isso acontecesse?
Demorei um pouco para falar, mas depois que vi a cara de sério que a minha consciência estava fazendo, achei melhor dizer alguma coisa:
- Sei lá... não quis desaponta-la, talvez.
- Mentira, você queria que acontecesse, por isso não tentou impedir.
Continuei o ouvindo.
- Aproveitou que ela estava emocionalmente "vulnerável" e agiu que nem os "playboyzinhos" filhos da puta agem, agora me diga, você tem orgulho disso?
Respirei fundo, e disse:
- Não.
- Fico feliz que você ainda tem essa consciência. - disse ele - e isso sem falar, se ela e o Roland voltarem, e ele descobre essa história, tu já imagina a confusão que pode dar, né?
- Sei sim. - falei baixo
- Pois é cara, vez ou outra é bom usar essa cabeça pra pensar.
Não falei mais nada porque eu merecia aquilo tudo.
- Mas agora é o seguinte... - falou ele praticamente me empurrando pra beirada da piscina - você vai consertar essa merda toda que você fez, você vai falar com Júlia amanhã na primeira oportunidade que tiver e vai garantir que isso não ocorra de novo, ta entendendo?
Eu apenas concordei com a cabeça tentando evitar que eu caísse na piscina.
- Pois bem, então não me decepcione de novo, porque se você o fizer, eu não largarei do seu pé tão fácil, e você sabe muito bem o quão chato eu consigo ser quando eu quero, né?
Mais uma vez concordei com a cabeça sem dizer nada.
- Ótimo, e uma última coisa... - nesse momento, ele me forçou a olhar nos seus olhos - próxima vez que eu avisar que algo não é uma boa ideia, trate de me obedecer! - falou ele irritado
Ele me olhou profundamente nos olhos com aquele olhar de irritação, e depois de alguns segundos, me jogou dentro da piscina. O momento que eu senti a água batendo em minhas costas foi o momento em que acordei.
Acordei assustado, aquilo tudo ainda me martelava, não só o que ocorreu comigo e com Júlia, mas também essa conversa que tive com a minha consciência, pouco depois eu olhei meu celular e certifiquei de que horas eram.
Era nove e quinze da manhã, o horário que eu costumava a acordar nessas férias, e ao lado da minha cama se via o pequeno Riddle me pedindo pra por a comida dele, aliás, foi a motivação que precisava para me levantar.
Após por a comida do Riddle e tomar o meu café da manhã, eu fiquei ligado tanto no celular quanto nas redes sociais esperando por um sinal de Júlia, ela provavelmente ainda estava dormindo, então sabia que iria demorar um pouco.
Aproveitei esse tempo para pensar no que dizer para ela, poderia ser uma conversa simples, ou não, era impossível prever a reação dela, mas eu realmente estava decidido a desfazer aquela merda toda.

(continua...)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Algo completamente inesperado... - Parte 1

Se vocês acham que eu vou começar essa história dizendo que era mais um dia como outro qualquer, está muito engano, tenha certeza que aquele dia esteve muito longe de ser como um outro qualquer, e vocês entenderão o porquê já já.
Era meio dia e quinze de um domingo, eu tinha acabado de almoçar e ia tirar um rápido cochilo, e assim o fiz. Depois de uns rápidos quinze minutos de descanso, me levantei e fui fazer uma coisa que estava planejando a semana toda, adestrar o Riddle.
Minha mãe já estava ficando puta porque ele estava começando a mexer em coisas que não deve, como por exemplo, as sandálias dela (vez ou outra ele as mastigava), de vez em quando também ele estava arranhando alguma coisa pela casa, ou então bagunçando alguma estante baixa (ele estava crescendo rápido, mas ainda não conseguia pular coisas muito altas). Enfim, minha mãe não estava nem um pouco feliz com isso e por isso já era hora de eu ensinar ao pequeno Riddle onde ele pode e onde ele não pode mexer na casa.
Eu poderia ter o colocado naqueles negócios de adestramento de cães e gatos, mas eu resolvi que ia tentar fazer isso sozinho, até mesmo pra ter um contato maior com o Riddle, pra ele me respeitar mais, e certamente, me obedecer sempre que eu mandar ele fazer algo.
Não foi uma tarefa fácil, Riddle ainda se encontra numa fase da vida em que está cheio de energia pra gastar, ou seja, simplesmente não parava quieto. Eu tentava ensinar uma coisa para ele, mas sempre havia algo pra distraí-lo, isso sem falar nas horas que ele resolvia correr pela casa que nem um louco, enfim, certamente que eu não consegui adestrá-lo 100% apenas naquela tarde, isso é uma coisa que demorar semanas para ter sua total eficiência, o complicado para mim era apenas ter o controle sobre ele,
Mas enfim, acho que já me prolonguei demais nessa parte, e esse não é o ponto da história, onde eu quero chegar ocorreu um pouco depois disso. Era quatro da tarde quando eu finalmente decidi dar uma pausa no processo de adestramento de Riddle, aquilo tinha me cansado bastante, aliás, até o próprio Riddle parecia um pouco cansado.
Então fui pro meu quarto me deitar um pouco, Riddle me seguiu até lá e vendo o como ele também estava cansado eu o deixei ficar um pouco na minha cama. Para não ficar aquele silêncio profundo, coloquei uma música pra tocar no celular, e assim fiquei relaxando um pouco e fazendo carinho no meu gato que estava exatamente do meu lado.
Até que depois de alguns minutos, a música foi interrompida pelo estrondoso toque do meu celular, como esse mesmo também estava na minha cama, Riddle acabou se assustando e descendo da cama para se acomodar agora na sua almofadinha. Eu tinha acabado de receber uma mensagem da Júlia, então desliguei a música e a li com atenção, nela dizia:
"Brian? Tas em casa?"
E eu rapidamente respondi:
"Sim, estou."
"Tas ocupado?"
"Não, não, por que?"
"Então você pode me encontrar lá em cima em quinze minutos?"
Ela parecia preocupada.
"Claro, aconteceu algo?"
"Sim, aconteceu o inferno."
Me assustei quando ela disse isso, dava pra perceber que tinha sido uma treta violenta.
"Lá em cima eu te conto com mais detalhes." completou Júlia.
"Ok, já estou indo para lá então." falei
"Certo então, eu também."
"Até lá!"
"Até!"
E assim eu tomei um rápido banho e troquei de roupa, levando menos de dez minutos para isso, fiz um cafuné em Riddle (que no momento tinha caído no sono na sua almofadinha), avisei para minha mãe pra onde eu ia, e assim subi pra área de lazer do prédio.
Eu fui o primeiro a chegar, mas não demorou muito para Júlia aparecer, me sentei numa cadeira próxima ao elevador e aguardei. Quando ela chegou, desde dentro do elevador que se percebia que ela estava bastante abalada, se percebia as suas tentativas de segurar o choro.
Vendo isso, me levantei e disse:
- Júlia, o que aconteceu?
Quando eu disse isso, ela desatou no choro, correu em minha direção me dando um forte abraço.
Ela tentava falar algo enquanto isso, mas não era possível entender por causa do tanto que ela soluçava de choro.
- Calma Júlia, calma, não precisa falar agora, só se acalme primeiro e depois você fala. - falei tentando confortar ela.
A levei para a área da piscina e a sentei em uma das cadeiras que tinha lá. tentei acalma-la, mas estava bem difícil. Me ofereci para descer até a minha casa e lhe trazer um pouco de água, mas ela implorou pra que eu não a deixasse ali sozinha, e assim atendi ao seu pedido.
Demorou, mas depois de alguns minutos Júlia finalmente se acalmou um pouco, ainda chorava bastante, sendo que pelo menos já conseguia falar sem soluçar tanto.
- Consegue falar agora? - perguntei
- Sim... - disse ela bem baixo ainda abalada
- O que aconteceu? - perguntei novamente
Júlia deu uma forte respirada, e falou:
- Eu e Roland terminamos!
Aquela notícia para mim tinha sido um choque, os dois estavam juntos a quase três anos, e sempre que eu os viam juntos eles pareciam estar bem, enfim, eu sempre tive a impressão que eles iam acabar casando.
- Calma ai, me explica essa história... - falei
E então ela me explicou toda a história, uma coisa eu sabia, vez ou outra eles passavam por momento conturbados da relação, assim como todo casal passa, mas eu sempre os via dar a volta por cima, mas ao que parecia dessa vez a coisa chegou num ponto extremo em que nenhum dos dois aguentavam mais, pelo que Júlia me disse, os últimos meses tinham sido os piores, eles não conseguiam mais se encontrar sem brigarem seja lá por qual razão.
Enfim, o ponto é que, a relação deles estava bastante desgastada, e o ponto crítico finalmente tinha chegado, tanto que resultou nisso. De qualquer forma isso foi uma surpresa pra mim, porque eles já tinham aguentado muitas fases ruins por basicamente dois anos, mas é como eu disse, eles chegaram num ponto que a relação ficou desgastada demais.
Certamente, Júlia me contou essa história toda ainda muito abalada, e eu não esperaria reação diferente, aliás, foram quase três anos de relação, não é pouca coisa.
- Eu realmente sinto muito, Júlia. - falei
- Não sinta, sério. - disse ela
Ficamos calados por um momento, até ela voltar a falar:
- A ficha simplesmente não caiu ainda, entende?
- Eu imagino! - respondi
- É que, velho, eu sempre achei que a gente um dia fosse até casar, sabe?
- Acredite, eu também achava isso.
- Acho que todos achavam, já ouvi muitos dizerem isso.
Depois disso, ficamos mais alguns segundos calados, e então Júlia voltou a falar:
- Só não queria que tivesse acabado dessa forma, com a gente se odiando basicamente.
Eu entendia bem o sentimento dela.
- Mas Júlia, quem sabe vocês não acabam voltando? Vocês tem tanta histórias juntos, já passaram por tanta coisa e se mantiveram juntos por muito tempo, quem sabe no fim vocês não acabam se resolvendo?
- Você diz isso porque não testemunhou a nossa última briga, se tivesses visto como foi você veria que não tem mais volta.
- O que ocasionou essa última briga?
Júlia respirou fundo, e disse:
- Ciúmes.
"Pra variar..." pensei
- Por parte de quem? - perguntei
- Minha.
- Explique melhor...
- Bom, é o seguinte...
Era mais um daqueles casos de ciúmes por causa de uma amiga do Roland que Júlia não gostava nem um pouco, e era uma situação que se repetia sempre, ela meio que pedia pra ele se afastar dela, e certamente Roland não atendia, o que eu sinceramente acho um grande exagero da parte dela.
E claro, isso acabou chegando num ponto que o próprio Roland ficou puto, principalmente porque Júlia o acusou de estar a traindo, segundo a própria me disse, isso tinha sido a gota d'água para ele, tanto que resultou no termino deles.
Eu poderia ter dito pra Júlia que possivelmente teria sido exagero da parte dela e que ela deveria se desculpar, mas esse é o tipo de coisa que eu prefiro não meter o bedelho, e tenho certeza que ela não reagiria bem a essa conselho, eu também já tinha namorado essa garota, a conhecia bem até demais.
E assim passamos uma hora e meia (exatamente, uma hora e meia) conversando sobre como tinha sido as últimas semanas do relacionamento dela com Roland, já era próximo das cinco e quarenta da tarde, e o sol estava começando a se por.
Agora finalmente chegaremos no ponto principal da história depois de muita enrolação, que foi quando Júlia começou a fazer uma comparação estranha sobre as atitudes de Roland com as atitudes que eu tinha com ela quando a gente namorava, algo do tipo que eu me importava mais com a opinião dela, que eu a ouvia mais, se perguntando porque ele não podia ser que nem eu naqueles aspectos, praticamente dizendo que eu era um namorado melhor do que o Roland, e enquanto ela falava, na minha cabeça eu só me perguntava "aonde ela quer chegar com isso?"
Eu apenas fiz aquela velha "conversa de lagartixa", fiquei balançando a cabeça concordando, a deixei falar, aliás, na situação em que ela estava a única coisa que queria era alguém que entendesse pelo que ela ta passando sem fazer muitos questionamentos.
- Ai Brian, me abraça. - falou ela já me abraçando
Foi a partir daí que as coisas começaram a ficar "estranhas", há muito tempo que Júlia não me abraçava daquela forma. Ai você me pergunta: Que forma?
Como se quisesse que eu ficasse ali com ela para sempre, a última vez que ela tinha me abraçado daquela forma... A gente ainda namorava.
Sim, poderia ser apenas coisa da minha cabeça, mas dessa vez eu garanto que não era, e vocês verão porque. Mesmo estranhando, eu não questionei nada, fiquei abraçado com ela e lhe fazendo um carinho também, e assim percebia que ela estava bem "dengosa", até demais.
Percebi isso mais ainda quando ela deitou a sua cabeça no meu ombro, e principalmente depois que ela disse:
- Você ta cheiroso.
- Obrigado... - respondi um pouco sem graça
Aí que a merda começou a acontecer, meu coração acelerou pra cacete, comecei a ficar nervoso sei lá porque, mas de uma forma ou de outra, uma voz dentro de mim gritava que aquilo não iria dar certo, e eu resolvi ignora-la, possivelmente por burrice mesmo.
Então, Júlia começou a me dar beijos no pescoço, foi quando a voz dentro de mim começou a berrar para que eu parasse com aquilo imediatamente, mas ainda assim não dei ouvidos, simplesmente deixei acontecer. Até que de beijos foi para mordidas, e mesmo assim eu não ouvia o meu bom-senso, pior, eu comecei a retribuir os beijos, da mesma forma que eu fazia com ela quando ainda eramos namorados.
Até que veio aquela velha cena clichê da gente olhando um para o outro com os rostos bem próximos, definitivamente estava rolando um clima, e não era fraco. Comecei a alisar o seu cabelo, e quando eu fiz comecei a lembrar da época em que namorávamos, e claro, a saudade veio, o que me fez ir mais a fundo naquela besteira. Voltei a olhar atentamente pra ela, e pensei:
"Caramba, como ela é linda!"
Enquanto isso, o meu bom senso estava prestes a se matar enforcado.
- Tás mais bonito hoje, Brian. - disse ela
E eu sem graça, respondi:
- Impressão sua.
- Não, não é...
E naquele momento o meu bom senso já estava morto, eu tive as chances de impedir que aquilo acontecesse, mas não o fiz, aliás, é como dizem, a carne é fraca (apesar de eu nunca ter levado essa frase a sério).
E nossos rostos foram se aproximando aos poucos, até que nossas bocas finalmente se encostaram, e a merda já estava sendo feita, eu sabia que aquilo era errado, eu devia ter impedido, mas provavelmente aquilo foi resultado de uma carência extrema que eu tinha passado, sim, continua não sendo desculpa, mas é a melhor explicação que eu tenho
Tanto eu quanto Júlia àquela altura já tínhamos nos deixado levar pelo momento, parecia até que a gente tinha voltado a namorar, principalmente porque a sensação que eu estava tendo era a mesma daquela época em que estávamos juntos. E aquele foi um longo beijo, me lembrava bastante do nosso primeiro, naquela festa de São João do meu colégio há quatro anos atrás.
E depois de alguns minutos se beijando (certamente não contei o quanto exato porque,,, né?) nossas bocas finalmente se afastaram.
Por um instante eu não sabia como reagir, provavelmente Júlia estava na mesma situação, ambos estávamos sem graça e sem saber explicar o que tinha acabado de acontecer, tanto que demorou alguns minutos para finalmente alguém falar alguma coisa.
- Bom... - falou Júlia provavelmente ainda procurando as palavras certas - acho que é melhor a gente ir para casa.
Eu estava tão abismado que simplesmente aceitei isso que ela disse:
- Sim, concordo... - falei
E depois de mais um momento calados, ela disse:
- A gente se fala mais depois, então?
- Sim, sim, claro... eu acho.
Com um sorriso um pouco sem graça no rosto, Júlia disse:
- Errr... ok então.
Concordei com a cabeça, eu ainda estava tentando processar aquilo tudo na minha mente.
Júlia se levantou já indo em direção do elevador.
- Errr, você vem? - perguntou ela
Eu até pensei em dizer "sim", mas achei melhor não.
- Não, não, err... pode ir primeiro, vou ficar um pouco aqui refletindo, depois eu vou.
Ainda sem jeito, ela respondeu.
- Ok... err... você quem sabe...
E depois de mais um momento quietos, ela disse:
- Até depois.
- Até!
E assim ela foi, sem mais nenhum de nós dois falar mais nada.
Eu realmente aproveitei para refletir um pouco por lá, aliás, eu sempre gostei de usar aquele local pra isso, e certamente eu tinha muito o que pensar, uma grande besteira tinha acontecido.
E o pior de tudo, é que eu não achei ruim, eu gostei de que a gente tinha ficado, tanto que não impedi que acontecesse, mas sabia que tinha sido errado, tanto que aquilo ficou martelando minha cabeça pelo resto do dia...

(continua...)