segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O dom de Riddle

Aquele era mais um dia de férias como qualquer outro, ou seja, eu estava morrendo de ócio em casa para variar, aliás, aquelas férias estavam muito longe do que esperava, boa parte dos meus amigos tinham viajado e por isso não havia outra opção pra mim que não fosse ficar em casa, isso sem falar do meu ano novo que foi um dos mais sem graças da minha vida onde passei em casa fazendo absolutamente nada, e além disso, fazia um mês desde que Simone tinha ido embora para São Paulo, isso deixando claro que não iria mais manter nenhum tipo de relação comigo. E claro, eu ainda estava abalado por conta disso, o que só piorava a minha situação, porque normalmente quando estou no ócio eu fico pensando nas coisas, e na grande maioria das vezes não eram pensamentos positivos, muito pelo contrário, e claro, o caso de Simone era um desses pensamentos "infelizes" que eu tinha nessas horas.
Os últimos dias que passei em casa foram em um silêncio profundo por conta disso, sempre evitava falar mais do que o necessário, e claro, minha família percebeu isso (aliás, não tinha como não perceber, eu sou muito transparente em relação ao meus sentimentos), mas certamente, quando me perguntavam eu simplesmente mentia dizendo que estava tudo bem, e elas (minha mãe e minha irmã) não engoliam, mas não viam outra alternativa que não fosse simplesmente aceitar, as duas sabiam que não adiantaria de nada encher meu saco pra que eu falasse.
Naquele momento estava apenas eu em casa, quer dizer, eu e Riddle que estava deitado no meu colo enquanto fazia minhas coisas no computador, minha mãe estava trabalhando e minha irmã estava fora com o namorado, e até lá nada de demais tinha ocorrido. Enquanto assistia um filme no meu notebook, Riddle se aconchegava no meu colo enquanto recebia um cafuné, e vez ou outra ficava arranhando minha perna (sou cheio de cicatrizes por isso), ou seja, sendo folgado para variar, mas mesmo assim naquele momento ele era praticamente a única presença que me confortava.
Aliás, uma coisa interessante que percebi no Riddle nesses últimos dias, era que ele de alguma forma tinha ficado bem mais atencioso comigo desde o dia que cheguei aos prantos em casa por causa de Simone (MUITO mais do que o normal), tipo, praticamente não saia mais do meu lado, sempre tentava me consolar quando estava extremamente triste. E como Riddle fazia isso era mais interessante ainda, além do modo usual que era ficar me pentelhando, ele também as vezes pegava o brinquedinho dele e me chamava pra brincar (coisa que ele nunca tinha feito antes), isso sem falar que ele estava muito mais carinhoso comigo, pedia carinho muito mais do que pedia antes, e a noite, mesmo na maioria das vezes eu não deixando, ele sempre dava um jeito de dormir na cama comigo.
Enfim, isso tudo só confirmava aquilo que sempre disse dele, de que Riddle era um gato MUITO especial, e cada dia que se passava ele me mostrava o porquê disso, mas aquele em dia em específico, isso ficou muito mais claro.
Tudo ocorria normalmente na casa, até o momento em que minha irmã chegou em casa.
- Oi! - gritei do meu quarto quando ela abriu a porta.
- Oi... - respondeu ela de volta com aquele ar de tristeza, coisa que na hora não reparei muito bem, para falar a verdade.
Continuei a fazer as minhas coisas enquanto ela foi tomar banho, até ai nada de anormal.
Pouco depois dela sair do banho, ela foi pra sala e ligou a TV, e depois de alguns minutos que comecei a perceber uma coisa estranha, de repente, comecei a ouvir choros vindo da sala, eram da minha irmã. Tirei Riddle do meu colo e me levantei para checar isso melhor.
Dei uma rápida passada do meu quarto para a cozinha passando pela sala para dá uma checada rápida e discreta na minha irmã, e confirmei as minhas suspeitas de que ela estava realmente chorando, e claro, aquilo me intrigou, fiquei me perguntando o que tinha acontecido.
Após beber um copo d'água na cozinha, parei e pensei se eu deveria ir lá perguntar pra ela o que estava acontecendo. Eu sei, você deve estar pensando "que pergunta mais idiota, vá la ver o que está acontecendo com a sua irmã!" mas por experiências passadas, eu sabia que ela não se abriria assim de cara comigo, isso sem falar que nessas horas ela quer mais não ser incomodada, por isso fiquei com essa dúvida em mente.
Enquanto isso, fui voltando para o meu quarto ainda reparando na situação dela, ouvia-se claramente minha irmã soluçando de choro, e mesmo comigo passando por ali ela não olhou para mim em nenhum momento. Quando estava próximo da porta do meu quarto, uma coisa me chamou a atenção.
Vi Riddle saindo do meu quarto indo em direção do sofá em que minha irmã estava chorando, no mesmo instante achei que ela iria ser grossa com ele e manda-lo embora (como normalmente sempre faz). A relação da minha irmã com Riddle nunca foi das mais amorosas, digamos que normalmente ela o via muito mais como um incômodo (em alguns casos tinha até nojo dele) do que como uma companhia, e quando ele resolvia ficar a pentelhando então... meu Deus. E o próprio Riddle também na maioria das vezes não se importava muito com ela, quando ele decidia a incomodar normalmente sempre tinha uma segunda intenção (ou pedindo comida ou pedindo para abrir a porta do meu quarto, na maioria das vezes), mas para a minha surpresa, ela não o mandou embora.
Riddle chegou nela da mesma forma que tinha chegado em mim no dia em que Simone "terminou" comigo, como se estivesse querendo a consolar, ou seja, sendo carinhoso com minha irmã, coisa que eu nunca tinha visto ele fazer antes. E me surpreendi mais ainda quando vi ela retribuindo o carinho, coisa que nunca tinha acontecido também, chegando ao ponto dela pegar Riddle no braço e lhe dar um abraço.
Me deu uma vontade de gravar aquele momento, porque com certeza dificilmente veria acontecer de novo, mas claro, não fiz isso. Mas as surpresas não terminaram por ai, e só para completar, Riddle deixou ela fazer carinho na sua barriga, coisa que ele só deixava eu fazer (sério, ele quase mordeu um amigo meu uma vez porque ele tentou fazer isso).
Foi após presenciar esse intrigante momento que resolvi deixa os dois lá em paz e voltei para o meu computador, momento esse que pelo que reparei, durou bastante, Riddle só voltou a aparecer no meu quarto depois de uns quinze minutos. Ah, e o que tinha acontecido para a minha irmã estar naquele estado? Pouco depois ela veio me contar, ela e o namorado tinham terminado (namoro esse que durava uns três anos, mais ou menos).
E como eu disse, mais uma vez confirmei que Riddle era um gato especial, ele pode parecer as vezes que não se importa muito com as pessoas da casa, mas por trás daquela "carapaça" tem um animal atencioso e carinhoso com todos aqueles que vivem com ele, coisa que ao contrário do que muitos pensam, um gato consegue ser.
Riddle naquele dia ficou dando muito mais atenção para minha irmã do que para mim, e ela foi muito mais carinhosa com ele do que nunca, chegando ao ponto dela dar um pedaço de galinha para ele comer.
Realmente, é nos momentos difíceis em que Riddle se mostra ser o melhor amigo que uma pessoa pode ter.


Brian