segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

No fim, nem tudo são flores...

Para você que provavelmente não acompanhou a história anterior a essa, lhe darei um resumo rápido para você não ficar perdido nessa que contarei agora: Eu e Simone estávamos numa festa no salão do prédio de Lucas (comemorando o fim do período na faculdade), onde lá, depois de alguns "lengas-lengas", as coisas entre eu e ela começaram a dar certo, tínhamos finalmente ficado. E dessa vez, meio que não foi preciso nenhum dos dois falarem nada, tudo aconteceu naturalmente, e claro, eu me sentia o cara mais feliz do mundo naquele momento.
Ai você provavelmente está pensando que eu só tinha motivo para sorrir, né? Bom, também achava isso, mas infelizmente não era essa a realidade. Pelo menos até o fim da festa, minha sensação era de felicidade, mas apenas até o fim daquela festa, e vocês vão entender isso melhor agora.
Acho que podemos começar ainda na festa, em alguns dois ou três momentos em que eu e Simone estávamos juntos, quando percebi nessas horas que ela estava um pouco "avoada".
- Ta tudo bem, Simone? - perguntei na primeira vez
- Sim, está, por que? - respondia ela
- Você parece que ta preocupada com algo.
- Ah, não é nada demais... - falava ela um pouco receosa
- Certeza?
- Sim!
E eu simplesmente aceitei a resposta, tanto que não perguntei novamente nas outras duas vezes em que percebi isso nela.
Mas, por que essa informação é relevante? Mais na frente vocês entenderão.
Agora, vamos para a manhã seguinte da festa, ou melhor, tarde seguinte, como tinha chegado em casa quase seis da manhã, apenas me acordei de meio-dia (ainda foi cedo em relação ao horário que outros amigos meus acordaram). Quando acordei, ainda levei um tempo para levantar da cama ainda processando o que tinha acontecido na noite anterior, sei lá, queria me certificar de que aquilo não tinha sido apenas um sonho louco, mas felizmente era verdade.
E claro, veio aquele frio na barriga junto com uma sensação de felicidade, eu era um besta apaixonado, para variar. Pouco depois, pensei em mandar uma mensagem para ela, chequei o celular e vi que ela não estava online, e que a última vez que esteve era na noite do dia anterior.
"Deve estar dormindo ainda." Pensei
Então deixei pra falar com ela mais tarde. Após isso me levantei e fui tomar café da manhã (almoçar, na verdade ha ha ha).
Quando saí do quarto, o primeiro que veio me dá "bom dia" foi Riddle, fiz um cafuné nele e segui para a cozinha. Minha mãe e minha irmã já tinham almoçado, mas tinham deixado o almoço na mesa para quando eu acordasse, e assim me sentei o comi a lasanha de frango que minha mãe tinha preparado. Elas me perguntaram sobre a festa, e eu falei apenas alguns mínimos detalhes, mas por exemplo, não falei sobre o meu lance com Simone, não estava com saco de responder aquelas perguntas chatas que os parentes normalmente tem em relação a isso, e também queria ter certeza de pra onde aquilo iria antes de falar qualquer coisa.
Enquanto comia, constantemente checava o celular para ver se Simone dava algum sinal de vida, as minhas velhas paranoias de sempre. Depois de uns 20 minutos tinha terminado de almoçar, mas ainda nenhum sinal de Simone.
Segui com o meu dia normalmente, mas a demora dela estava começando a me incomodar, mais uma vez, eu e minhas paranoias. Até que de duas e quinze da tarde, ela finalmente apareceu online, até pensei em falar algo imediatamente, mas achei melhor esperar pra ver se ela faria isso antes, mais uma vez, minhas paranoias.
Até que finalmente parei de frescura, e falei com ela.
"Oi." mandei
E assim fiquei na expectativa pela resposta, deixei o celular exatamente do meu lado enquanto esperava, e o nervosismo vinha cada vez mais forte a cada minuto que ela demorava para responder, e claro, consequentemente, minha cabeça inventava as teorias mais loucas possíveis (não preciso repetir a questão da "paranoias", né? rs).
Até que depois de 8 minutos, ela finalmente respondeu:
"Oi Brian..."
Talvez fosse a minha paranoia falando mais alto, mas eu não tinha gostado do tom desse "oi".
"Dormiu bem? =)" perguntei
Após alguns segundos, ela respondeu:
"Sim, eu acho"
Mais uma vez não senti firmeza na resposta dela.
"Aconteceu algo?" perguntei
Dessa vez ela demorou um pouco mais para responder, uns cinco minutos, para ser mais exato.
"Não, nada..."
Definitivamente não gostava daquele tom que ela estava falando. Pensei até em insistir, mas ao mesmo tempo estava com medo da possível resposta pra Simone estar agindo daquela forma.
"Ok então..." respondi
Fiquei na esperança dela falar mais alguma coisa (de preferência, sobre o que tinha acontecido entra a gente), mas nada veio, e claro, nesse momento minha cabeça estava a mil. Então resolvi perguntar:
"Foi divertido ontem, né?"
Após uma pequena demora, ela respondeu:
"É, foi..."
Aquelas respostas secas estavam me incomodando MUITO. Esperei mais uma vez que ela fosse citar o que ocorreu entre a gente, de novo, sem sucesso, meio que já estava percebendo que se eu não falasse ela não falaria em momento nenhum, e isso me assustava.
Foi então que finalmente decidi falar.
"Ei Simone, sobre o que ocorreu ontem a noite entre a gente, acho que seria legal que conversássemos sobre isso."
Decidi ser bem direto, como vocês podem ver.
E de novo, ela demorou para responder, enquanto isso, minha cabeça já inventava todas as teorias malucas possíveis do porque dela estar daquela forma comigo
Até que ela respondeu:
"Olha Brian, não é por nada não, mas podemos deixar isso pra depois? É que eu tô numa ressaca braba agora e sem o mínimo saco pra falar nisso."
Me assustei com aquilo, ela nunca tinha falado dessa forma comigo antes, e claro, aquilo foi um balde de água fria para mim.
"Ok então ._." falei um pouco retraído.
"Desculpa, ta?" disse ela
O fato dela ter pedido desculpa já me confortava um pouco de nada, mas só um pouco de nada mesmo.
"Tudo bem." falei.
Após alguns segundos com os dois sem falar nada, Simone disse:
"Depois a gente se fala, ta?"
"Ok então."
"Beijos!"
"Beijos!"
Toda aquela alegria que tomava conta de mim desde a hora em que acordei já tinha ido pro saco, agora a aflição tinha se apossado de mim. Dali em diante eu simplesmente não largava mais o celular, ficava de minuto em minuto checando se Simone voltava a falar comigo, mas acabava era ficando mais frustrado.
Quase meia-hora depois de termos nos falado, e a via online, mas ainda assim não vinha falar nada comigo. Até pensei em tomar a iniciativa novamente, mas depois daquilo acabei ficando mais acanhado, então achei melhor deixar quieto. O problema foi que, se fosse apenas esses trinta minutos, teria até ficado tranquilo, mas foram muito mais do que isso, muito mais.
Acreditem, três dias se passaram sem ela falar uma única palavra comigo, parecia até que eu tinha a chateado de alguma forma (e claro, eu estava começando a achar exatamente isso). Nesses três dias, a aflição já tinha tomado conta de mim por completo, cheguei a conversar com algumas pessoas sobre isso e cada um deu a sua teoria, e todas elas batiam de frente com todas aquelas minhas paranoias.
Eu não entendia mais nada, em um dia ela estava toda carinhosa comigo, me queria do lado dela o tempo todo, e agora por alguma razão não esclarecida queria distância de mim, a ponto de não falar mais nada comigo.
Já estávamos na terça-feira de manhã, e Simone ainda não tinha falado comigo, e pra piorar, no dia anterior eu cheguei a mandar uma mensagem para ela, cuja a mesma foi miseravelmente ignorada, para aumentar ainda mais o meu desespero.
Àquela altura do campeonato minha esperanças eram quase zero, mas eu queria pelo menos uma explicação plausível do porque dela estar me tratando daquela forma, Simone me devia isso, e muito.
Até que o celular fez o som de "mensagem recebida", eu que na hora estava deitado na cama, corri até minha mesa para ver se era ela, e dessa vez era, sendo que o que foi dito na mensagem esteve muito longe de me tranquilizar.
"Oi Brian, tudo bem?
Olha, eu sei que tenho agido estranho ultimamente, e me desculpa realmente por isso, é que ando bastante confusa desde aquele dia, sei que falando dessa forma até parece loucura. Mas você vai entender, eu juro, explicarei tudo hoje, mas isso precisa ser feito pessoalmente, então, você pode ir me encontrar agora lá na universidade?"
Ela continuava falando naquele tom, e eu não gostava disso.
"Oi Simone.
Sim, posso." Respondi
"Ok então, te contarei tudo quando chegarmos lá."
"Ok, até lá, então .-."
E ao mesmo tempo me perguntava internamente o como aquilo tinha chegado naquele ponto, possivelmente iria descobrir quando chegasse lá, e possivelmente não era boa coisa, então me arrumei rapidamente e fui para a parada de ônibus.
O ônibus demorou mais ou menos vinte minutos para chegar, e enquanto esperava a minha "agonia" era completamente visível para aqueles que por ali passavam. O que mais queria naquele momento era saber o desfecho dessa história, e torcia para que o mesmo fosse bom.
Durante todo o caminho, minha cabeça criava inúmeros desfechos pra aquilo tudo, alguns bons, outros nem tanto, e outros eram simplesmente uma merda. Pra variar, minha cabeça estava a mil.
Quando cheguei lá, me dirigi até o lago da universidade, era ali onde normalmente nos encontrávamos. Simone já estava lá a minha espera, ela parecia abatida com algo, foi a partir daí que tive certeza de que não viriam coisas boas daquela conversa.
- Oi Simone.
Ela que estava distraída na hora, olhou pra mim e disse:
- Oi Brian. - nunca tinha recebido um "oi" dela tão seco quanto aquele.
Ela nem sequer veio me abraçar como normalmente faz quando me ver.
Ficamos alguns segundos apenas parando olhando um para o outro, provavelmente esperando qual dos dois iria dá a iniciativa.
- Então... - falei em um tom como se estivesse pedindo para que ela inciasse.
- Nada mais justo, não é? - disse ela
E eu apenas concordei com a cabeça. Simone respirou fundo, e falou:
- Como não há modo fácil de falar isso, vou ser direta.
Enquanto isso, eu aguardava ela falar.
- Desculpa Brian... Não sei nem por onde começar...
- Pelo começo é uma boa opção. - falei
- Ok então... - falou ela dando uma profunda respirada
E finalmente, ela começou a explicar:
- Veja Brian, antes de tudo, quero que saiba que você é um ótimo cara, que o problema não é você...
- Conheço bem essa conversa, e sei que ela normalmente não acaba bem.
- Por favor, só ouça.
- Ok então...
Ela mais uma vez respirou fundo, e continuou:
- Veja, acho que na festa na ficou claro que eu gosto de você, e muito, e em um nível alto, e tenho tido esse sentimento há um bom tempo, acho que mais ou menos seis ou sete meses...
- Mas...
- Apenas escute! - esbravejou ela
- Está bem então, continue. - falei
Então ela continuou:
- E esse sentimento só tem ficado cada vez mais forte, a ponto de que... - ela fez uma longa pausa, enquanto eu fiquei na expectativa pra que ela falasse - que...
Sem falar nada, fiz um sinal para ela com a cabeça para que prosseguisse.
- A ponto que estou apaixonada por você!
Por mais que aquilo fosse esperado, ainda assim fiquei sem palavras diante daquilo.
- E é exatamente por isso que estou me afastando dessa forma.
- Como assim, Simone? Por que? - questionei
Ela ficou calada por um momento, provavelmente se preparando para falar algo que certamente não me agradaria, ela respirou fundo, e disse:
- Eu vou me mudar...
- Se mudar?
- Sim, de cidade...
Aquilo sim tinha sido um choque pra mim, e dos grandes.
- Pera aí Simone, me explica isso melhor.
- Veja Brian, não sei se você se lembra sobre quando mencionei que eu iria tentar uma bolsa de estudos em uma universidade em São Paulo, lembra?
- Tenho vagas lembranças. - falei
- Pois então... - ela deve uma rápida pausa, e disse - consegui a vaga.
Me impressionava pelo tom desanimado que ela me falava aquilo.
- Mas Simone... - falei - isso é uma ótima notícia! - falei com um pouco de entusiasmo - mas, ainda não entendi no que isso interfere entre a gente.
- Não está óbvio? - Infelizmente estava, eu que queria me iludir.
- Me explique da mesma forma, quero ouvir da sua boca. - falei
- Eu vou morar em São Paulo agora, ficaremos longe um do outro provavelmente pra sempre.
Mais um balde de água fria para aquela desagradável conversa.
Não consegui ter uma resposta imediata para aquilo, minha mente ainda tentava processar o que estava saindo da boca de Simone, me doía muito perceber que não a teria do meu lado nos momentos necessário, não teria mais as tardes perdidas com ela na faculdade, a sensação que já era ruim, tinha piorado cada vez mais.
- Mas Simone... - ainda procurava as palavras para utilizar -  ainda assim...
Não consegui achar argumentos.
- Sinto muito, Brian... - falou Simone em um tom choroso
- Então você vai desistir da gente assim tão rápido?
- Mas Brian...
- Minha vez de falar agora!
Ela respirou fundo, e disse:
- Ok então, fale.
- Veja Simone, desde a festa ficou muito claro que nós dois gostamos muito um do outro, não apenas isso, que nós dois estamos apaixonados um pelo outro, e eu garanto pelo menos por mim que o que sinto por você é forte, e isso de um bom tempo... - Simone já aparentava que iria chorar enquanto eu falava aquilo - e sim, tudo bem, você vai morar em São Paulo a partir de agora, mas se o que você sente por mim é forte, por que jogar isso fora assim dessa forma?
Aquela pergunta tinha tocado Simone, que já não conseguia mais segurar as lágrimas.
- Me perguntei a mesma coisa esses últimos dias. - disse ela já soluçando um pouco - Pra falar a verdade, essa dúvida ainda me aflinge, desde a festa que tenho pensado nisso.
O que finalmente explicava aqueles momentos em que ela passava minutos olhando pro nada.
- Quando estávamos juntos durante a festa, algo dentro de mim mandava eu parar imediatamente, e que senão nós dois íamos nos machucar, mas claro, no calor do momento eu apenas ignorei esse aviso.
- Se você fez isso foi por uma única razão... - falei - porque você não quer simplesmente deixar esse sentimento de lado, eu sei que não quer.
- Sim, isso é verdade. - afirmou ela
- Então por que não levar isso para frente?
- Porque não estou preparada!
- Como assim?
Ela fez um curta pausa, e continuou:
- Não estou preparada para lidar com um relacionamento a distância.
Dessa vez quem ficou sem o que falar fui eu.
- Veja Brian... - continuou ela - por mais que eu tenha esse sentimento forte por você, por mais que eu esteja apaixonada por você, por mais que eu não me imagine mais sem você, a gente não se verá mais constantemente, muito pelo contrário, a gente só se veria pela internet e olhe lá, e mesmo que vez ou outra nos encontrássemos pessoalmente, ficaria sempre aquela incógnita de quando iríamos nos ver novamente.
Ela tinha um ponto, infelizmente.
- Sim, há casais que conseguem manter um relacionamento a distância, mas de uma forma ou de outra isso requer força dos dois lados, e eu não acho que tenho força para aguentar isso, e nós dois só sofreríamos muito com isso. - completou ela
- Sim, é difícil, mas se fosse preciso eu estaria disposto a tentar, estaria disposto a lutar por nós.
- Por favor Brian! - falou ela alterando o tom de voz - não venha com esse discurso para mim.
Nesse momento Simone não segurava mais as lágrimas.
- Eu não quero te ver sofrendo por causa de mim. - completou ela
A ficha para mim ainda não tinha caído, ainda não acreditava que estava tendo aquela conversa com ela.
- Mas...
- Brian, não tente me convencer do contrário... - disse ela - só lhe peço isso.
Eu queria muito a convencer do contrário, queria que ela desse uma chance para nós dois, mas ao mesmo tempo também tinha minhas dúvidas, principalmente porque em boa parte do que ela disse ela estava certo, e pior, não tinha completa certeza se eu seria forte o suficiente para encarar isso. Então por isso parei de falar ali mesmo.
Passamos alguns segundos calados apenas olhando um para o outro, aquele silêncio era agonizante, até que falei:
- Simone!
- Diga... - disse ela enxugando as lágrimas.
- Não poderíamos pelo menos aproveitar o tempo que ainda temos juntos?
Admito que algumas lágrimas já começavam a brotar nos meus olhos naquele momento.
- Talvez sim... - disse ela - mas acho melhor não.
- Por que?
- Por duas razões, primeiro, porque eu já viajarei para São Paulo essa sexta, como tenho alguns familiares por lá já passarei o natal e ano novo por lá... - a essa altura já estava difícil segurar o choro - e segundo, porque isso só tornaria as coisas mais dolorosas.
Mais uma vez me encontrava sem palavras, naquele momento eu apenas torcia para que aquilo fosse apenas um sonho, que não estivesse realmente acontecendo. Passamos mais um tempo calados, Simone já desatava no choro, e eu me segurava para não chegar na mesma situação.
- Bom... - Simone finalmente falou - então acho que é isso... - falou em um tom de despedida.
A partir dali já não consegui mais segurar as minhas lágrimas.
- Isso é um "adeus" então? - perguntei
Ela apenas me confirmou com a cabeça, o que me doeu muito.
- Pelo menos você virá falar comigo em algum momento antes de ir pra São Paulo?
Ela sinalizou com a cabeça dizendo "não".
- É melhor que seja assim... - disse ela
Naquele momento eu apenas queria dar um abraço nela longo e apertado, queria pelo menos dar um último beijo nela, mas pelo que parecia nem isso eu teria.
Então Simone enxugou as suas lágrimas, e disse:
- Adeus Brian.
E assim, sem nem ao menos um aperto de mão, sem nem me dar a chance de me despedir, ela se virou, e seguiu o caminho de casa, enquanto isso eu ainda fiquei lá parado ainda tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Minha vontade era de correr atrás dela e implorar pra que ela não fosse embora daquela forma, mas infelizmente sabia que aquilo seria inútil.
Se na festa me sentia o cara mais feliz do mundo, naquele momento eu era o cara mais miserável do universo, e após tentar conter as lágrimas que ainda insistiam em cair, segui meu caminho até a parada de ônibus.
Durante todo o percurso até em cada tentei ao máximo esconder a minha aparência chorosa, tentava focar meus pensamentos em alguma outra coisa que não fosse aquilo, mas claro, era difícil. No ônibus, estava a ponto de me mergulhar em lágrimas ali mesmo, me segurava ao máximo para que isso não ocorresse, mas ainda assim não conseguia esconder a minha expressão de tristeza.
Algumas pessoas ao redor podem ter até reparado no meu estado emocional, mas claro, se comentaram algo foi apenas entre elas, aliás, nada daquilo que acontecia comigo era problema delas.
Após mais ou menos quase vinte e cinco minutos finalmente estava em casa novamente, ainda desolado. Quando cheguei em casa, não havia ninguém, apenas o Riddle que se encontrava deitado no sofá. Ainda bem, não precisaria ficar dando explicação do porque que eu estava com aquela cara de abatido.
Fui em direção do meu quarto, e quando passei pelo sofá Riddle desceu e me acompanhou (como sempre faz quando chego em casa). No meu quarto, a única coisa que fiz foi desligar o celular e me jogar na cama, nem ligar o computador eu fiz, não estava afim de falar com ninguém.
Naquele momento não me segurava mais, desatei em lágrimas, de uma forma que nunca tinha feito antes. Queria muito que aquilo tudo tivesse sido apenas um sonho, mas infelizmente era tudo real, muito real.
Riddle que antes me observava do lado de fora do quarto, entrou e subiu na cama, e provavelmente percebendo a minha tristeza, se aconchegou do meu lado e ficou me tratando carinhosamente, esfregando o pelo em mim e me lambendo, esse era ele querendo me consolar. E naquele momento apenas a presença dele me dava algum conforto, em resposta comecei a alisa-lo na cabeça.
Provavelmente se ele pudesse falar algo, certamente falaria "calma cara, vai ficar tudo bem". Se ele já era um gato especial pra mim, a partir dali passou a ser ainda mais, Riddle agora era minha única razão pra sorrir naquela bosta de dia que passei.


Brian

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Em uma festa qualquer, num sábado qualquer, numa situação qualquer

Aquele seria um sábado um tanto que interessante, e por que eu digo isso? Simples, porque naquele dia iria ser a festa do pessoal da faculdade de comemoração pelo tão esperado fim de período, esse que na minha opinião, foi uma dos mais difíceis de todos os meus dois anos e meio de faculdade.
Eu estava bastante animado para essa festa, que é engraçado pensar por esse lado, isso porque até um tempo atrás não era muito chegado nesses tipos de festas, mas sei lá, desde comecei na faculdade tenho curtido mais esse tipo de programa, principalmente quando estou com os meus amigos. Mas enfim, não é isso que vem ao caso.
O evento seria naquela noite no salão de festa do prédio de Lucas, e para participar cada um tinha que dar uma contribuição de 20 reais, o que eu já tinha feito antecipadamente (ainda tinha filho da puta que ia pra festa e não tinha pago ainda rs). Mas na verdade o que mais me interessava nessa festa não era ela propriamente dita, e sim, uma pessoa que eu tinha chamado que não era lá da sala, mas que para mim, a presença dela seria essencial.
Sim, eu tinha chamado Simone para a festa, e até a última vez que tinha checado, ela tinha confirmado presença. Dessa vez eu estava meio que decidido que finalmente tentaria algo, meus sentimentos por ela estavam mais fortes há um bom tempo, e estava ficando cada vez mais difícil esconder isso, a prova disso era nas vezes em que ia falar com ela e ficava completamente sem graça e procurando algo que dizer, o que deixava a situação um pouco constrangedora. Isso sem falar que eu já estava enrolando com aquilo há um bom tempo, e já era mais que a hora de dar um desfecho para essa história, fosse ele bom ou ruim.
Enfim, eram uma da tarde ainda, tinha acabado de almoçar e estava em um tédio extremo, como não naquele momento eu não fazia mais nada de útil, fui dar um cochilo. Acordei com o som do celular apitando, alguém tinha me mandado várias mensagens seguidas, chequei a hora, eram quase duas da tarde. Quando fui olhar, todas as mensagens eram de Simone.
Eu que ainda estava um pouco sonolento quando me acordei, após ver que as mensagens eram todas delas em um instante me acordei por completo.
Simone sempre teve uma mania de mandar as mensagens todas meio que "picotadas', ou seja, o monte de coisa que ela me mandou era tudo para dizer uma única coisa, que irei aqui resumir para vocês para não ficar cansativo nem para mim e nem para vocês.
"Ei Brian, tudo certo para hoje? Você vai mesmo, né? Vais como? Posso ir com você? Que eu não conheço o local e não faço ideia de como chegar lá."
Então rapidamente respondi:
"Oi Simone, sim, tudo certo, eu vou de "busão" daqui de casa, mas quer que eu te encontre em algum canto para a gente poder ir juntos?"
Após alguns minutos, ela respondeu:
"Sim, pode ser =)"
Claro, nesse momento uma chama de alegria se acendeu em mim.
"Beleza =)" respondi.
E depois falei:
"Aonde e de que horas?"
Ela ficou alguns minutos pensando, e eu fiquei na expectativa com o celular na mão. Após uns cinco minutos, Simone respondeu:
"Pode ser as três e meia lá na cidade?"
Antes de responder, olhei a hora, eram duas e quinze da tarde, ou seja, teria que me arrumar daqui a pouco se fosse o caso, mas eu não estava fazendo nada em casa mesmo, então concordei sem questionar.
"Fechou então!" Falei.
"Bom, pela hora já é bom eu começar a me arrumar aqui..." falou ela "até daqui a pouco =)"
"Até!" respondi
Eu ainda tinha um tempo de sobra até o horário combinado com Simone, normalmente me arrumo rápido, então não havia necessidade de fazer isso naquela hora, então até que desse a hora fiquei fazendo minhas coisas no computador. Quando me sentei, Riddle no mesmo momento pulou no meu colo (folgado, para variar rs), dessa vez pelo menos ele ficou quieto, e não me pentelhando como normalmente faz.
Quando deu duas e meia, tirei Riddle do meu colo (e claro, ele não gostou nem um pouco disso) e fui tomar banho. Em menos de quinze minutos eu já estava pronto, e logo após isso mandei uma mensagem para Simone lhe avisando disso. Ela respondeu dizendo que já estava saindo de casa e eu respondi da mesma forma. Me despedi do Riddle, me despedi da minha mãe e da minha irmã, e assim fui a caminho da cidade.
Tínhamos combinado de nos encontrar no shopping do centro da cidade, onde eu cheguei após mais ou menos vinte minutos de percurso, cheguei lá, Simone não tinha chegado ainda, liguei para perguntar se ela estava perto e assim ela confirmou, dizendo que chegava em mais ou menos dez minutos, sendo assim, me sentei no primeiro banco que achei e esperei.
E definitivamente, foram dez minutos o que eu tive que esperar para Simone chegar. E mais uma vez, vou falar que no momento em que ela apareceu por entre as pessoas presentes, ela estava mais linda que o normal (já ta chato me ver falando esse tipo de coisa, mas juro que não estou mentindo rs).
Por alguns instantes eu fiquei tipo aqueles garotos babões que parecem que nunca viram uma mulher na vida, o que normalmente é comum esse tipo de reação vindo de um homem, mas enfim. Quando nos aproximamos o suficiente, nos cumprimentamos e nos abraçamos, e no nosso abraço pude sentir o perfume dele, era um dos cheiros mais doces que já tinha sentido na vida, assim como o seu cabelo, que também cheirava muito bem, meu coração simplesmente palpitava naquela hora.
Depois de falar algumas coisas um para o outro que no momento não tem importância nenhuma, e após isso perguntei:
- Bom, e agora?
Então Simone respondeu:
- A festa começa de que horas mesmo?
- Seis e pouca se não me engano.
- Ah, está cedo ainda, então. - falou ela, que depois sugeriu - vamos fazer algo por aqui enquanto isso para passar o tempo?
Claro, nem pensei duas vezes quando disse:
- Com certeza!
- Mas... o que faremos? - perguntou ela
E aquela era uma boa pergunta.
- Rapaz... - falei em um tom de indecisão - podemos... sei lá, dá uma volta por aqui mesmo, o que acha?
- Acho válido. - disse ela sem pensar duas vezes.
E assim fomos dar uma volta pelo shopping, a gente já tinha se encontrado ali várias vezes em diversas situações, mas ainda assim conseguíamos nos divertir de alguma forma. Sei lá, vai parecer clichê eu falando isso, mas, com Simone praticamente tudo valia a pena, até as coisas mais chatas ficavam divertidas.
O mais engraçado era que, nas horas em que nos sentávamos em algum canto, tinha momentos em que eu me pegava praticamente encarando a beleza dela de uma forma completamente descarada, e acho que Simone percebia um pouco isso, porque sempre ficava um pouco sem graça.
- Que foi? - perguntava ela sem graça
Era quando eu voltava para meu estado de espírito normal, e respondia:
- Errr... Nada não...
Ela parecia nunca engolir a resposta, mas normalmente não falava nada.
Houve um momento em que nos sentamos para comer algo, e foi ai que percebi uma coisa estranha, mas que também me deu um pouco de esperanças. Uma hora, depois que paramos para rir de uma história que a Simone contou, ficamos alguns segundos em silêncio meio que só encarando um ao outro, foi estranho, mas foi satisfatório também, tipo, sei lá, por aqueles instantes via-se nela algum interesse maior em mim (ou talvez isso era apenas minha cabeça inventando coisa), mas de uma forma ou de outra, ela olhava profundamente para mim e sorria, e que belo sorriso era aquele.
- Ei Simone...
- Oi? - falou ela
- É que... - eu estava realmente com vergonha de falar aquilo que estava prestes a falar.
Ela ficou prestando atenção, apenas aguardando que eu dissesse algo.
- É que... - continuei ainda pensando se aquilo era uma boa ideia.
"APENAS FALE, SEU MERDA!" pensei na hora
- Você está muito bonita hoje. - falei
"SÉRIO? ESSA FRESCURA TODA PARA FALAR ISSO?" Pensei novamente.
- Ah... Obrigada. - respondeu ela sorridente, mas um pouco sem graça.
O clima ficou um pouco constrangedor por um instantes, isso até Simone puxar um assunto completamente diferente daquilo. Admito que aquilo não me deixou nem um pouco otimista.
Após finamente terminarmos de comer, checamos a hora, e eram quase cinco da tarde, ou seja, já era a hora de seguimos o caminho até a festa.
- Vamos agora? - perguntei para Simone.
- Vamos! - respondeu ela positivamente.
Fomos para a parada, e assim que chegamos lá, o nosso ônibus já tinha chegado.
Durante a meia hora de percurso até o prédio de Lucas, continuamos jogando conversa fora, e enquanto isso eu ainda reparava esses "olhares" da Simone, hora achava que isso era só minha cabeça inventando coisa onde não tem, e hora achava que aquilo fazia sentido, e isso ficou mais forte principalmente em um momento em que ela deitou sua cabeça em meu ombro e me abraçou.
"Porra, não é possível que isso é só coisa da minha cabeça?" Pensei
E ela meio que ficou assim por todo o caminho, e via-se em seu olhar que ela estava alegre naquele momento, isso sem falar que vez ou outra ela me apertava mais no abraço, e eu, certamente, correspondia.
Quando finalmente chegamos no prédio de Lucas, além dele, já havia pelo menos mais uma cinco pessoas lá ajudando a arrumar as coisas, tudo ainda estava nos preparativos, então eu e Simone nos oferecemos para ajudar também.
Depois de quinze minutos, praticamente tudo estava pronto, faltando apenas alguns mínimos detalhes, mas que era besteira. Aos poucos as pessoas começaram a chegar, Rafa e Paulo foram os primeiros a aparecer, pouco tempo depois, chegaram Laila e Rose, amigas de Simone, alguns minutos depois, foi a vez de Caio e Joey darem o ar de suas graças no local, enfim, não irei me estender falando o nome de todos que estavam lá.
A festa começou com Lucas pegando o seu violão e tocando as músicas que a galera pedia, e eu, certamente, algumas vezes pedi pra tocar algumas coisas eu mesmo também. Outras coisas foram ocorrendo também, quando colocaram a música no som, alguns se arriscaram a dançar, Simone até tentou me puxar para a pista em um momento, mas eu resisti, porque se tem algo que sou horrível é dançar.
E claro, muitos começaram a se encher de cana, o que já era normal.
Ao contrário da maioria das vezes, até cheguei a provar umas duas ou três doses de martíni, mas fiquei por isso mesmo, aquele negócio era ruim pra cacete. Simone que sempre foi de beber, tomou umas doses a mais, e não apenas de martíni.
Simone sempre entrava nessas brincadeiras de festa que envolvem bebida, e dessa vez não foi diferente. Eu preferi ficar de fora, então enquanto ela e o resto do pessoal que estavam na brincadeira se divertiam, fui circular, fazer outras coisas e falar com outras pessoas e claro, aproveitei para encher o bucho (tinha comida pra caramba lá).
Houve um momento da festa que eu precisei parar pra pensar no meu "plano" de tentar algo com Simone, certamente, ainda estava bastante inseguro em relação a isso (surpresa seria se não estivesse, mas enfim). Até pensei em conversar com Joey sobre isso, mas ele já tinha tomado tanta cana que já não estava mais batendo bem das ideias, então eu teria que pensar aquilo por mim mesmo de qualquer forma.
Me afastei um pouco do pessoal e me sentei numa cadeira vazia que tinha num canto distante do salão, e lá tentei pensar no que fazer. Pensei, pensei, pensei, mas nada vinha em mente.
"Não me lembro de ter sido tão complicado assim nas últimas vezes." Pensei
Até que tinham se passado dez minutos e eu ainda estava na mesma, foi quando decidi voltar a interagir com o pessoal, provavelmente já tinham se dado pela minha falta. Foi quando que no caminho de volta até o pessoal, presenciei uma cena que acabou me desanimando bastante.
Vi Simone e um outro cara, que eu conhecia apenas de vista e não sabia nem sequer o nome, conversando um pouco mais afastado do resto do pessoal, os dois pareciam estar se divertindo bastante com seja lá o que estavam falando, e nos olhos do cidadão, via-se as suas "segundas intenções". E pelo que eu via, o perfil do cara era daqueles que sabiam como "lidar com as garotas", perfil esse que nunca tive.
- Brian? - chamou alguém, alguém esse que percebi depois que era Lucas.
- Oi? - respondi um pouco confuso.
- Ta tudo bem? Desse uma sumida.
- Ah, só fui tomar um ar, nada demais.
Ele me deu aquele olhar de que eu estava escondendo algo, mas provavelmente relevou.
- Ok então... - aceitou ele - bom, se junta a gente aqui então.
Falou ele apontando para a mesa em que o pessoal estava jogando conversa fora e enchendo a cara.
- Tá bom... - falei meio com receio e ainda olhando para o que Simone e o outro cidadão faziam.
Fiquei lá conversando com os caras, mas era basicamente "um olho na missa e o outro no padre", havia momentos que eu não prestava atenção no que era dito na conversa apenas para ver o que Simone fazia com aquele cara, era auto-tortura isso, eu sei, mas é nessas horas que me pergunto se sou masoquista.
Alguns que ainda estavam sóbrios na hora percebiam os momentos em que eu ficava "avoado" e me chamavam a atenção, e eu, claro, mentia que não era nada, o único dali que sacaria que o "problema" era Simone, era Joey, mas ele estava bêbado demais para se dar conta disso.
Houve momentos em que vi o cara alisando o cabelo de Simone, e ela sorrindo para ele enquanto isso, e para piorar, alguns minutos depois os dois se levantaram e foram para um local mais distante de todos os presentes (o local onde eu fiquei sozinho por um momento, para ser mais exato), nesse momento, eu meio que estava aceitando a minha derrota.
Isso me deixou bastante cabisbaixo, chega minha animação com a festa foi um pouco embora, e isso era perceptível em mim, tentava na hora não pensar no que possivelmente os dois estariam fazendo sozinhos ali, aliás, me doía pensar nisso. Depois disso, houve um momento em que me afastei do pessoal de novo, quando me perguntaram aonde eu ia, dei a desculpa de que iria pegar um ar.
Precisava de um tempo sozinho para tentar processar aquilo tudo, pior que eu não tinha certeza de nada, estava apenas na suposição, mas sei lá, tudo parecia muito óbvio para mim.
Aquilo me deixou abatido, mas depois de refletir um pouco tomei a decisão de deixar aquilo para lá e ir me divertir um pouco, aliás, foi para isso que eu tinha ido pra lá. Então voltei para a mesa com o pessoal, e para ajudar a deixar aquilo para lá me arrisquei em mais duas doses de martiní (nada que fosse o suficiente pra me deixar alterado).
E assim a noite seguiu, por alguns momentos consegui não ficar pensando muito nisso, consegui me divertir com o pessoal apesar de tudo, mas claro, não deixava de reparar o fato que Simone ainda estava com o cara fazia uns 15 minutos, mas tentava ignorar isso.
Conversa vai, conversa vem, até que após 20 minutos vi Simone voltando daquele local, sendo que sozinha, não me perguntei o porquê disso e também pouco me importava. Eu continuava no mesmo canto que tava enquanto ela foi falar com um amigo da sala dela.
Após alguns minutos, mais uma vez me levantei para pegar um ar, mas não fui muito longe, só fui até a janela que tinha logo ali. Claro, foi quando eu voltei a pensar naquela merda toda, não tinha jeito, uma hora ou outra aquilo sempre voltava, consequentemente, fiquei cabisbaixo novamente, me vinha aquele velho sentimento de arrependimento por não ter feito nada em relação ao meu sentimento por Simone logo, e claro, me sentia um tolo, e pra variar, vinha aquele velho pensamento de que nada dava certo para mim no fim das contas.
- Ei Brian! - ouvi uma voz feminina me chamando, e essa voz era da Simone.
- Ah, oi Simone... - falei surpreso
- O que tá fazendo aqui sozinho?
- Ah, só pegando um ar. - parecia que eu iria dar aquela desculpa mais umas mil vezes naquele dia.
- Hum, entendi... - disse ela, mas alguns segundos depois, Simone percebeu meu baixo-astral. - aconteceu algo?
- Hã? Bem... é... não, aconteceu nada, ta tudo bem... - respondi meio sem graça
- É que você parece um pouco abatido.
- Ah, bem... é só impressão mesmo. - respondi sem muita firmeza.
- Está bem então. - aceitou ela
Ficamos alguns segundos calados, até ela falar:
- Vamos lá nos juntar ao povo.
- Err... vamos. - respondi
Quando íamos em direção do resto do pessoal, avistei aquele cidadão que estava com sozinho com Simone, tentei me segurar, mas não consegui e acabei perguntando pra Simone.
- Ei Simone!
- Diga!
Hesitei por um momento, mas falei:
- Eu vi aquele cara ali contigo por um momento, quem é ele?
Ela estranhou a pergunta, mas respondeu:
- O nome dele é Ivan, era só um cara qualquer que tentou ficar comigo, mas eu não quis.
- Ah, entendi. - falei isso com uma expressão normal no rosto, mas dentro de mim eu estava praticamente soltando rojão e dançando de alegria, ouvir aquilo da boca dela foi um alívio.
- Por que a pergunta? - perguntou ela
- Ah, nada não, só curiosidade mesmo.
- Ah, ok. - ela pareceu aceitar a resposta sem muitos questionamentos.
Podemos dizer que foi a partir daí que as coisas começaram a dar certo.
Daquele momento em diante, a gente não saiu mais de perto um do outro, o que já era bom, e eu percebia que sempre que ela ia pra algum local, ela me puxava pra ir junto com ela, o que já era um bom sinal também.
Engraçado é que pouco tempo atrás eu tava tendo todos os tipos de pensamentos negativos possíveis, e depois parece que a esperança tinha voltado, típico de mim isso rs. Porque, infelizmente, se tem um tipo de pensamento que ainda me atormenta muito é de que Simone consegue arrumar "coisa melhor que eu", é o tipo de pensamento que luto muito para deixar de ter, mas ainda não conseguia, e a prova disso foi quando o cidadão lá estava falando com Simone, que na hora eu o classifiquei no perfil de garoto que com certeza Simone ficaria, algo muito aquém do que sou. Mas enfim, no momento aquilo tudo não importava mais.
Enquanto estávamos juntos, aqueles momentos de "clima" voltaram a acontecer, quando ou eu ou ela ficávamos encarando um ao outro meio que por razão nenhuma, tanto aconteceu de eu ficar olhando para ela com cara de idiota, quanto ela fazer o mesmo comigo.
Outro sinal foi quando ela ficou mais carinhosa comigo, começou a ficar abraçada comigo, a deitar a cabeça no meu ombro, a me dar beijos periodicamente... Velho, simplesmente, aquilo não podia ser apenas coisa da minha cabeça, se não era um sentimento a mais dela por mim eu provavelmente estava ficando maluco. Claro, da mesma forma eu retribuía o carinho dela, e cada vez mais meu coração palpitava.
Eram quase meia-noite. quando a galera decidiu brincar de "verdade ou consequência", eu e Simone ficamos de fora, experiências passadas já me provaram que fazer aquela brincadeira com pessoas bêbadas não dava nem um pouco certo, e após a mesma começar, os acontecimentos só fortaleceram meu argumento. Para ser direto para contar as coisas que vi, digamos que chegou em momentos que a coisa "esquentou" um pouco, suponham o que quiser, não darei mais detalhes.
Enquanto a baixaria rolava entre eles, chegou um momento que eu e Simone decidimos nos afastar um pouco dali, na verdade, fui eu que dei a inciativa para a gente sair dali.
- Ei Simone, vou ali pegar um ar, queres vir comigo?
Depois parei pra perceber que tinha usado a desculpa de "pegar ar" mais uma vez, e que isso já estava começando a ficar estranho.
- Ok, vamos. - disse ela sem hesitar.
E assim fomos para lá "pegar um ar". Outro bom sinal durante isso, foi o fato que quando nos levantamos e nos direcionamos para o local, ela segurou minha mão, acho que posso dizer que a partir daquele momento já parecíamos um casal.
Finalmente estávamos a sós, o que já seria o momento perfeito para começar a agir, mas ao contrário do que achava, não seria necessário um plano "mirabolante", tudo meio que começou a acontecer naturalmente.
Foi aí que não me restaram mais dúvidas em relação aos sentimentos dela por mim. Quando chegamos ali, a primeira coisa que fizemos foi ficar na janela olhando para lugar nenhum, isso sem ninguém falar nada e ainda de mãos dadas.
Não demorou muito para ela me abraçar, e eu retribuir o abraço, pouco depois nos sentamos e começamos a fazer um cafuné um no outro, isso ainda sem falar nada, isso porque provavelmente não era necessário palavras, estava tudo muito claro que nem eu próprio com as minhas paranoias estava questionando.
Simone deitou a cabeça em meu ombro e começou a beijar meu pescoço, e a cada vez que ela fazia isso me dava um arrepio, e pouco depois ela olhou para mim e disse:
- Alguém já disse que você é lindo, Brian?
Dei uma risadinha, e respondi:
- Com certeza isso é o etílico falando por você.
Ela também riu, e disse:
- Não, não é... - disse ela após beijar meu rosto - juro que não é.
Fiquei sem palavras naquele momento, aquilo meio que confirmava tudo que eu estava pensando. O que acontece a seguir é aquela velha coisa clichê de sempre, aos poucos nossas cabeças foram se aproximando, o clima foi subindo, até que finalmente, nos beijamos.
Ah, como esperava esse momento, e ele finalmente estava acontecendo, parecia que as coisas finalmente dariam certo para mim.
Quando paramos de nos beijar, demos um abraço apertado um no outro, e depois de mais alguns segundos, eu falei:
- Acho que nenhum de nós dois precisamos falar mais nada, né?
- Exato! - respondeu ela
- Está tudo muito óbvio, né?
- Sim!
Depois dessas poucas palavras, a gente continuou curtindo aquele momento, apenas nós dois, era como se tivesse apenas eu e ela naquele salão, porque era apenas isso que importava. A partir dali, já eramos definitivamente um casal, e claro, não demorou muito pro resto do pessoal saber, afinal, a gente tava em uma festa, era impossível esconder isso deles.
Até o fim da festa (que durou até umas cinco da manhã, que foi a hora que todos começaram a ir embora) eu era o cara mais feliz do mundo.
Pelo menos até o fim daquela festa...


Brian

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O dia a dia de um gato

Em histórias passadas, eu vos contei como uma pequena e peluda criatura entrou em minha vida, criatura essa que costumo chamar de Riddle. Para os que não acompanharam, aqui vai um resumo rápido:
Riddle é um gato vira-lata que eu encontrei lá pelas banda de onde eu treino, ele ainda era bem filhotinho e na hora estava bastante assustado por causa de Chola, a cadela que anda por lá, que estava o tempo todo latindo para o pobre coitado, meio que mandando ele se afastar dali. Vendo o como ele estava indefeso e fraco (o coitado estava MUITO magro) decidi tomar uma atitude, e mesmo com o risco da minha mãe botar eu e o gato pra fora de casa, arrisquei leva-lo.
Felizmente, consegui entrar em acordo com a minha mãe e pude cuidar dele a partir daí, e desde então ele tem sido um grande companheiro. Aos poucos fui o adestrando, muitas vezes Riddle mexia em coisas na casa que minha mãe não ficava nem um pouco feliz, mas consegui ensina-lo em quais locais ele poderia entrar e em quais não podia mexer.
Enfim, isso tudo são coisas que já contei, agora quero falar um pouco do que ainda não contei, que é o dia a dia dele até agora.
Passaram-se cinco meses, desde que eu trouxe Riddle aqui para casa, quando chegou, ele ainda era um filhotinho pequeno que mal conseguia subir nas coisas. Agora, Riddle já deu uma crescida, e já aprendeu a subir nos cômodos da casa (para a loucura da minha mãe que não fica nem um pouco feliz com isso rs), nessas horas sempre tento falar que ele não pode subir ali, em alguns casos adianta, em outros, nem tanto.
Na casa só há uma pessoa a quem Riddle obedece, e essa pessoa sou eu, minha mãe vez ou outra tenta dar alguma ordem a ele, mas sempre é sem sucesso, enquanto a minha irmã... bem, ela normalmente só esbraveja coisas quando se irrita com ele, não que o bichano se importe com isso, mas quando ocorre o procuro tirar-lo de lá, só para evitar estresse.
Em questão de relacionamento com as pessoas da casa, digamos que ele basicamente só é carinhoso comigo, possivelmente porque eu sou o cara que o tirou da rua e que cuidou, e ainda cuida dele até hoje, enquanto ao resto da casa, não é que Riddle não goste da minha mãe e da minha irmã, mas ele as ignora o máximo possível.
Minha mãe até tenta o fazer um agrado vez ou outra, mas ele a esnoba, a única situação em que e Riddle a dar atenção é quando quer comida e eu não estou. Enquanto a minha irmã, nem isso, ela o trata mais como se fosse um incômodo. E quando chega alguma visita em casa, digamos que ele não é de dar "boas-vindas" calorosas, esses sim eram tratados com frieza, mas o que é normal de um gato.
Enquanto na casa toda Riddle tinha algumas restrições sobre onde pode andar e onde não pode, no meu quarto eu gosto de deixa-lo bem a vontade, principalmente porque é lá onde fica a almofada onde ele dorme. Minha mãe não gostava disso, muitas vezes reclamou comigo porque o deixava deitar em cima da minha cama, mas era algo que eu ignorava, com o passar do tempo aprendi a não ligar pra isso.
Mas claro, Riddle às vezes aproveitava essa liberdade pra abusar um pouco, como por exemplo, várias vezes eu acordei com ele deitado em cima da minha barriga, e tinha vezes que ficava na dúvida se me levantava e o acordava ou se esperava um pouco até ele acordar, a decisão variava dependendo da situação (se estava com hora marcada pra fazer algo, ou não).
Enfim, no geral, o que posso falar mais do Riddle? Apesar dos pesares, ele tem sido simplesmente o melhor companheiro de todos, muitas vezes parece que só ele me entende, só ele consegue me tranquilizar, muitas vezes quando tive um dia ruim, Riddle conseguiu melhora-lo com o jeito dele.
Com os outros ele pode não ser dos mais simpáticos, mas comigo pelo menos, dá pra perceber que se importa. Enfim, fico feliz que hoje ele esteja na minha vida, e espero que demore muito para sair dela, e quando isso ocorrer, tenham certeza que ficarei muito triste.


Brian

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Só mais um dia normal em um ônibus

Aquela era apenas mais uma daquelas semanas corridas que eu tinha na faculdade, e bote corrida nisso, porque o número de trabalhos para fazer estava enorme, isso sem falar que por pura burrice, diga-se de passagem, eu deixei uma parte deles para última hora (típico de mim).
Naquele dia em específico, já estava voltando para a casa, felizmente a aula na ocasião tinha terminado mais cedo, ou seja, eu conseguiria um tempo a mais para colocar os meus trabalhos em dia. Estava tudo dando certo, até o ônibus que normalmente demorava pra cacete tinha chegado rápido, ele que normalmente demora meia hora para chegar, dessa vez chegou em menos de quinze minutos.
Dos cinco minutos que se seguiram após isso não há muito o que contar, apenas entrei no ônibus, me sentei na janela (felizmente, tinha lugar para sentar) e fiquei olhando pela janela esperando chegar no meu destino.
Algumas parados depois, mais uma leva de pessoas entrou no ônibus, entre elas uma senhora da idade da minha mãe que se sentou do meu lado, e por que essa informação é relevantes? Você saberá daqui a pouco.
Até então, tudo na mais perfeita "normalidade", o trânsito continuava a mesma bosta de sempre, e as pessoas ao meu redor, cada uma parecia apenas pensar nos seus problemas. Para mim ainda faltava um caminho razoável para chegar em casa.
Mas pouco tempo depois, passei por uma situação um tanto que peculiar, muitos não fariam isso no meu lugar, sendo que era algo que realmente me tirava do sério, que muitas vezes eu tive vontade de fazer mas nunca tinha tido coragem, até aquele momento.
Vamos do princípio, estava tranquilo na minha, como sempre, apenas esperando chegar na minha parada, do jeito que eu normalmente fico no ônibus, até que a mulher que estava sentada do meu lado tinha terminado de beber a água que estava na garrafa que ela carregava, e pouco depois disso, ela fez exatamente aquilo que me tira do sério, jogar a garrafa pela janela do ônibus.
- Licença. - disse ela tentado cometer tal ato repugnante.
Apesar de me tirar do sério, eu nunca fazia nada quando alguém fazia algo do tipo perto do mim, acho que é porque a pessoa nunca estava tão perto de mim quanto aquela senhora estava, acho que foi isso que me motivou a fazer algo.
- Ei, ei, espera... - falei fechando a janela rapidamente - o que a senhora vai fazer?
Ela pareceu um pouco mais acanhada depois que eu falei isso
- Vou só... jogar essa garrafa lá fora.
- Você acha isso certo?
Ela ficou calada ainda acanhada.
- A senhora faz isso na sua casa?
- N-Não...
- Então porque está fazendo isso aqui?
Então ela parou para pensar, e disse:
- Oh menino, quem é você para ficar me dando lição de moral? Desde quando isso é problema seu?
Aí eu dei uma profunda respirada, porque o que viria a seguir iria exigir bastante do meu fôlego.
- Quem sou eu? Pois bem, sou apenas um mero cidadão que não aguenta as pessoas sujando as ruas na maior cara de pau, pessoas essas que normalmente se dizem "bons cidadãos", quando na verdade são apenas um bando de egoístas que não podem carregar o lixo com você até uma lixeira mais próxima porque senão o braço cai, e acredite, ele não cairá se você fizer isso, agora, e por que isso é problema meu? Simplesmente porque isso de uma forma ou de outra afeta a mim e a todos, se o esgoto entope alagando uma rua inteira, isso é resultado de lixo acumulado por pessoas como você, que depois ainda tem a ousadia de reclamar do governo dizendo que eles não limpam a cidade, quando na verdade é vocês que a sujam.
Depois disso, ela simplesmente guardou a garrafa na bolsa dela e se retirou para um outro assento, algumas pessoas ao redor observavam a cena, muitos com olhar de aprovação, imagino que aquilo tudo que eu falei estava entalado na garganta de alguns.
E após isso, voltei a apenas me concentrar no que passava na janela do ônibus, isso por uns dez minutos até eu finalmente chegar em meu destino. Naquele momento, desci do ônibus e fui para casa com a consciência limpa, tendo em mente de que fiz a coisa certa.

Brian

domingo, 6 de setembro de 2015

Uma interessante experiência

Era mais um fim de semana em que eu estava numa grande expectativa para um show que eu ia, mais um de muitos que normalmente vou, sendo que dessa vez, finalmente não iria sozinho como na maioria das vezes vou, Caio iria comigo. E além disso, dessa vez haveria uma outra coisa "peculiar", para vocês entenderem melhor essa parte explicarei tudo detalhadamente desde o princípio.
Já faz um tempo que meu pai finalmente conseguiu uma casa própria, isso depois de morar um bom tempo de favor na casa da minha avó após a separação, enfim, e desde então eu tenho passado alguns fins de semana com ele. E claro, já estamos no ponto em que ele me entregou uma cópia da chave da casa e disse que sempre que eu precisasse poderia ir lá (claro, dando um aviso antes de que estava indo).
Agora finalmente chegando no ponto em que eu quero, naquele fim de semana meu pai teve que viajar a trabalho e o show em que eu ia era lá pelas bandas da casa dele, ou seja, eu iria dormir na casa dele sozinho, já que pra mim seria muito mais vantagem voltar andando do local do show para lá do que pegar um táxi para a minha casa, e mais econômico também, certamente.
Enfim, acho que já enrolei vocês demais e vamos para o que interessa.
Para mim seria uma experiência até que interessante dormir sozinho na casa do meu pai, principalmente porque eu teria que me virar por exemplo para fazer meu próprio jantar e também para deixar a casa limpa (a segunda parte principalmente, caso eu não quisesse problemas com o meu pai), e eu sinceramente gostava dessa ideia, mesmo que apenas por uma noite e uma manhã. O show estava marcado para começar as dez da noite, mas as quatro e pouca da tarde eu cheguei na casa e fui me acomodando, coloquei minhas coisas no quarto, armei e forrei a cama, pus o que tinha que colocar no banheiro, e depois de tudo isso arrumado, peguei um pacote de biscoito na despensa e fiquei no meu laptop.
Fiquei fazendo basicamente as mesmas coisas que eu faço quando estou no meu quarto em casa, navegando pela internet, ouvindo música, assistindo séries, e por ai vai. E assim fiquei até dar a hora de ir, enquanto isso aguardava notícias de Caio sobre que horas ele iria para lá, já que eu estava estupidamente perto do local do show, era só ele me dizer a hora que estava saindo que já iria andando para lá.
Quando deu próximo das sete da noite, fui preparar meu jantar, que seria apenas um sanduíche misto, nada muito sofisticado. Fiz meu misto quente e o comi, tinha passado um pouco do ponto, mas nada que prejudicasse muito, ainda assim o gosto estava bom.
Ainda esperei umas duas horas e meia até Caio me mandar uma mensagem dizendo que já estava indo pro local, era o tempo que eu tive para eu me arrumar por completo, e enquanto ele não me dava a confirmação fiquei assistindo qualquer merda na televisão.
Após ele mandar a mensagem, segui o meu caminho até o local, não seria nem dez minutos de caminhada, era realmente estupidamente perto. Chegando lá os portões já tinham sido abertos, mas eu já sabia que ainda iria demorar um pouquinho para o show começar (sempre demora), liguei para Caio quando cheguei, e ele disse que estava no ônibus não muito longe dali, então me sentei próximo ao portão e fiquei o aguardando.
Depois de quase meia hora de espera, ele finalmente tinha chegado, quando o avistei, levantei meu braço para que ele me visse também, de longe, percebia-se que Caio não parecia muito "bem", aparentava estar meio desorientado, ou coisa assim, não sabia explicar exatamente, só sei que ele não estava no seu estado normal.
Até que a gente finalmente se aproximou, quando nos cumprimentamos, foi que deu pra perceber que realmente Caio estava um pouco "desorientado", se é que você entende o que eu quero dizer.
- Ei, Caio...
Ele pareceu um pouco confuso na hora que respondeu.
- Hã?... Ah... Fala... - disse ele
- Você ta bem? - perguntei enquanto entrávamos.
- Cl-Claro... errrr... Por que eu não estaria?
- Porque você parece... sei lá... meio tonto... entende?
- Errrr... pareço? - questionou ele
- Sim! - respondi
Ele ficou alguns segundos calado, provavelmente processando aquilo tudo, até que finalmente respondeu:
- Ah, sim... é que antes de vim pra cá eu tava na casa de um amigo tomando uma, sabe?
"Puta que pariu, serio mesmo?" pensei na hora
- O quanto você tomou? - perguntei
- Rapaz... - eu não gostava daquele tom - digamos que eu e outro doido lá acabamos com meia garrafa de tequila, mais ou menos.
"Vish, fodeu" pensei.
O cara já chegou meio bicado, e conhecendo a criatura bem eu sabia que ele ainda iria beber mais alguma coisa lá dentro, ou seja, provavelmente em algum momento eu teria que ser babá de bêbado.
Quando finalmente estávamos na parte de dentro, os "roadies" ainda estavam arrumando os equipamentos para a banda de abertura (que eu particularmente nem estava muito afim de ver), enquanto isso, eu e Caio nos sentamos e começamos a conversar sobre como tava as nossas vidas, e assim ficamos mesmo quando a banda de abertura entrou no palco, não estávamos muito interessado na mesma, isso sem falar que era chata pra cacete.
E como eu já previa, ao longo que a conversa andava, Caio resolveu comprar alguma coisa para beber, na hora eu esperava que fosse apenas uma lata de cerveja, mas ele resolveu pagar caro por uma dose de whisky.
"Isso vai dar merda!" pensei na hora.
E pra piorar, aquela não foi a única dose deles, resumindo tudo, ele simplesmente torrou a grana toda com whisky e vodka, e aos poucos o efeito do etílico começou a afeta-lo, tanto que ele já estava no ponto que não falava mais nada com nada, e cá entre nós, aguentar Caio bêbado é uma merda.
Depois de quase duas horas, finalmente a banda principal entrava no palco, e claro, nessa hora deu para ignorar o fato de que Caio estava bêbado, aliás, ele mesmo tinha parado de encher o saco pra curtir, assim como o resto das pessoas que estavam presentes.
Resumindo tudo, e assim se passou uma hora e meia de show, onde mal deu pra perceber o estado alterado em que Caio se encontrava, felizmente, durante isso tudo ocorreu bem. Foi tudo muito bom, o show foi bem proveitoso e coisa e tal, mas um "pequeno" problema estava por vir.
Minha volta para casa já estava definida, iria voltar andando para a casa do meu pai, que como eu já disse anteriormente, era estupidamente perto, mas o problema seria a volta para casa de Caio, diferente de mim, ele morava muito longe dali, e eu sabia que ele estava sem grana pro táxi, e deixar ele pegar um ônibus naquela situação deplorável não era uma boa ideia, ainda mais porque era quase duas da manhã, horário que demora para passar um.
- Ei Caio! - falei, a gente já estando do lado de fora.
- O-Oi. - falou ele
- Tu vai voltar como?
- E-Eu? Errrrr... vou voltar de ônibus, o-o-oras...
- Certeza?
- P-Por que não?
- Olha como você ta.
- E-E-Eu to bem, é tr-tranquilo.
- Não é melhor você pegar um táxi?
- E quem disse que eu to com grana?
Foi quando de repente Caio parou para pensar, e transpareceu um ar de preocupação.
- P-Pera aí! - falou ele checando os bolsos
Foi assim que ele percebeu que não tinha dinheiro o suficiente nem para pagar a passagem de ônibus.
- Fodeu, e a-agora? - disse ele
Eu não acreditava no que eu iria sugerir, afinal, não tinha autorização do meu pai para isso, mas era melhor do que deixar o meu amigo na mão.
- Cara, vamos fazer o seguinte, estou indo andando agora para a casa do meu pai, tu vem comigo, dorme lá e amanhã de manhã tu volta pra casa.
- Não vai dar estresse com teu velho não? - questionou ele
- Ele ta viajando, e qualquer coisa eu me explico com ele depois, relaxa.
Caio ficou pensando um pouquinho, mas depois disse:
- E-Está bem, então...
E assim ele me acompanhou até a minha casa, tive que ajuda-lo na caminhado, certamente ele estava um pouco desequilibrado, eu estava quase tendo que carrega-lo pelo ombro, e a parte mais chata foi ter que aguentar as merdas que ele falava durante todo o caminho, mas o que era normal.
Chegando em casa, a primeira coisa que eu fiz foi acomodar Caio na minha cama (eu iria dormir na cama do meu pai), isso depois de molhar um pouco a cabeça dele embaixo do chuveiro e o dar um copo d'água, claro. Antes dele apagar por completo, deixei um balde do lado da cama para se caso ele quisesse vomitar (e o ameacei caso ele ousasse vomitar na cama rs).
Após ele dormir, eu antes de tudo mandei uma mensagem para o meu pai avisando desse "imprevisto" e também para a família de Caio, para que ninguém ficasse preocupado com ele. Feito isso, tomei um banho rápido e gelado e fui dormir.
Na manhã seguinte, acordei umas nove e pouca, depois de enrolar um pouco na cama, me levantei e fui ver a situação de Caio, ele ainda se encostrava desmaiado (e felizmente, nenhum sinal de vômito nem no balde e nem em canto nenhum), então depois de checar isso fui tomar um banho e fui preparar o que comer tanto para mim quanto para ele.
Não fazia ideia do que Caio normalmente comia no café da manhã (isso sem falar que se ele acordasse apenas mais tarde já seria horário de almoço), então fritei alguns ovos e preparei um sanduíche para ele, e enquanto isso preparava um para mim também. Foi quando eu comecei a pensar nessa situação toda, tipo, sei lá, aquilo meio que ainda soava um pouco estranho para mim, não sei se vocês me entendem, mas é que apenas me imaginava enfrentando esse tipo de situação daqui há alguns anos, quando realmente tivesse minha casa própria, mas por um lado também era interessante, tipo, é meio que uma experiência nova de vida, enfim.
Pouco depois da comida estar pronta, Caio tinha acordado e chegou na cozinha.
- Acordou com o cheiro da comida, foi? - falei rindo
- Possivelmente... - falou ele - que ressaca, velho, na moral.
- Eu falei pra pegar leve.
- Bote fé!
Depois de alguns segundos calado, Caio perguntou:
- Que horas são?
- Dez da manhã.
Ele não falou nada, apenas pegou um copo e bebeu um pouco de água.
- Com fome? - perguntei
- Ah, sim, sim... - falou ele pegando o sanduíche que o ofereci - ei cara, tu por acaso avisou aos meus pais que eu to aqui?
- Sim, sim...
- Ah, beleza, valeu. - disse ele dando uma grande mordida no sanduíche.
Enquanto comíamos, eu o perguntei o que ele lembrava da noite anterior, ele disse que algumas coisas lembrava vagamente, outras nem tanto, mas lembrava do caminho até a casa do meu pai e de boa parte do show. E depois da gente conversar algumas coisas sobre o show e terminar de comer, Caio disse:
- Valeu mesmo cara, por deixar eu passar a noite aqui.
- Nada, cara, nunca que deixaria um amigo na mão. - falei
- Se eu puder te retribuir de alguma forma, é só falar.
Foi então que eu pensei, e disse:
- Sim, há uma forma...
- Qual? - perguntou ele
- Você pode me ajudar a arrumar a casa antes de irmos.
- Ah.. Claro, claro. - disse ele
Ele tomou mais um copo d'água, e depois falou:
- Se importa se eu usar o seu chuveiro?
- Claro que não, fique a vontade... - falei - vou te arrumar uma toalha.
- Beleza... - disse ele - e ei, uma última coisa.
- O que?
Caio pareceu meio sem graça de pedir isso, mas assim fez:
- Se não for pedir demais da minha parte, tu pode me emprestar o dinheiro da passagem? Como bem sabe, torrei tudo que tinha ontem.
- Sim, claro... - falei
- Beleza! - respondeu ele indo para o banheiro.
Quando Caio terminou de tomar banho, assim como combinado, ele me ajudou a deixar a casa arrumada, como se ninguém tivesse a utilizado naquele tempo em que estivemos lá (enquanto isso, para não ficasse chato, deixei uma músicas que a gente curte tocando no computador).
Terminada a arrumação, peguei minha coisas e fui com Caio para a parada de ônibus, onde de lá cada um pegaria seu rumo, ainda se lembrando na louca noite que tivemos.

Brian

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Uma luta interna

E finalmente chegamos a uma marca importante no blog, a postagem de número 100. Quero agradecer a todos aqueles que acompanham o blog ao longo desse período, são vocês quem me motivam a continuar a escrever, muito obrigado e uma boa leitura =)
-
Era uma normal noite em que eu estava quieto no meu quarto refletindo sobre as coisas, definitivamente aquela parecia ser a coisa mais interessante a se fazer naquela hora, nada mais parecia me entreter, sei lá, já estava ficando saciado daquilo tudo, mas enfim, esse não é o ponto.
Lá estava eu deitado na cama ouvindo música no meu ipod, eram mais ou menos nove e pouca da noite, o dia tinha sido cansativo e a única coisa que queria naquele momento era relaxar um pouco, tanto que eu estava do jeito que estava. E claro, é nesses momentos que milhões de coisas se passam pela minha cabeça, algumas boas, outras ruins, e algumas meio sem sentido, acho que podemos dizer que eu tinha um "momento comigo mesmo".
Mas como eu disse, além dos pensamentos bons, vinham também os ruins, e eram esses os que me incomodavam, porque nessas horas todos os pensamentos ruins apareciam ao mesmo tempos, e boa parte deles me deixavam grilado pra caramba, principalmente porque muitos desses se refletiam do quanto eu era pessimista em relação a um monte de coisas.
E isso era o que tinha me incomodado ultimamente, o meu pessimismo extremo, isso porque tenho percebido que o mesmo começou a virar um problema na minha vida. Eu me privava de fazer muitas coisas por causa desse pessimismo, coisas que poderiam ter dadas certo se eu tivesse tentado.
E eu ficava remoendo isso tudo, basicamente me torturava por isso, mas enfim, aquilo me fazia pensar em muitas atitudes da minha vida, o como precisava mudar aquilo, e logo.
O quanto mais eu relaxava, mais o sono vinha, tanto que após meia hora já não conseguia manter mais meus olhos abertos, apesar que tentei lutar um pouco contra isso, aliás, eu odiava ir dormir cedo, não eram nem dez e meia da noite ainda, mas não tinha jeito, o sono veio forte, ou seja, não demorou muito para eu simplesmente apagar.
Quando de repente, me encontrava em um local escuro com apenas uma luz central não muito forte, luz essa que iluminava um ringue de luta logo a minha frente, e eu estava sentado em algum tipo de arquibancada, só havia eu ali e o ringue estava vazio.
Até que...
- Olá Brian! - falou alguém tocando em meu ombro.
Me assustei na hora, mas quando olhei, vi que era apenas a minha consciência, e aquilo era apenas um sonho, mais uma vez.
- Calma, não se assuste.
- Um simples aviso não faz mal de vez em quando. - falei
- Desculpe por isso. - falou ele se sentando ao meu lado.
Foi quando eu percebi que ele tinha um saco de pipoca e uma garrafa de refrigerante em suas mãos, estranhei, mas não dei muito importância também.
- Você gosta de lutas? - perguntou minha consciência
- Mais ou menos... - respondi
- Bom, então se prepare, porque veremos uma bem interessante. - falou ele comendo um pouco da pipoca. - quer um pouco? - me ofereceu
- Não, obrigado!
- Ok então.
E assim, simplesmente do nada, apareceram duas pessoas no ringue com trajes de boxeadores, como se as duas tivessem surgido das sombras, foi quando reparei que essas duas pessoas que estavam lá eram eu, ou algum subconsciente meu que tomaram a minha forma, pra variar.
- Ok, você vai me dar alguma explicação sobre isso? - perguntei
- Achei que nunca fosse perguntar.
Os dois pareciam estar concentrados para a luta, faziam seu último aquecimento, estudavam suas últimas táticas, preparavam suas luvas e aguardavam atentamente pelo soar do gongo, até que minha consciência finalmente começou a falar:
- Do lado direito, com luvas azuis, temos a representação do seu otimismo, e do seu lado esquerdo, com luvas vermelhas, a representação do seu pessimismo.
Olhei atentamente para os dois, o otimismo aparentava um pouco de insegurança quando olhava para o pessimismo, enquanto o outro parecia completamente seguro de si.
- Isso é tudo que tem a me dizer? - questionei
- Quer o que, os pesos também? - falou minha consciência - São seus subconscientes, isso é irrelevante, e outra, quando a luta começar te darei mais explicações detalhadas.
Ainda não me dava por satisfeito, mas aceitar era a única coisa que eu podia fazer naquele momento, enquanto isso a minha consciência se deliciava com o seu lanche, e por alguma razão aquilo me irritava.
Voltei a olhar pro ringue, e dessa vez os dois pareciam estar já preparados para o início do combate.
- Vai começar... - falou minha consciência.
Os dois se encontravam nos seus respectivos lados do ringue e com as guardas levantadas, achei estranho que não havia nenhum árbitro com eles para coordenar a luta, mas relevei porque afinal de contas, aquilo era um sonho, as coisas não precisavam fazer sentido.
Quando de repente um gongo vindo de lugar nenhum finalmente soou, e o combate foi iniciado.
Eu e minha consciência ficamos calados apenas observando o início da luta, os dois adversários começaram apenas estudando o movimento um dos outros, mas ainda sem se atacarem, o otimismo ainda parecia inseguro, ele queria dar a primeira investida, mas não sabia se o que ele tentaria daria certo, ainda procurava a melhor opção de ataque. Enquanto isso, o pessimismo não perdeu tempo e deu o primeiro soco pegando o otimismo de surpresa, ele cambaleou um pouco mas conseguiu se manter de pé ainda com a guarda levantada, sendo que pouco depois o pessimismo deu mais uma investida que quase colocou o otimismo no chão novamente.
Dali pra frente a luta se resumiu basicamente nisso, com o otimismo tendo que se defender bem mais do que atacar, eram poucas as investidas vindo dele, e todas não eram bem efetivas, o pessimismo sempre tinha uma resposta que o deixava desorientado.
O pobre do otimismo só fazia apanhar, enquanto o pessimismo dominava a luta sem sofrer muitos arranhões. Houve momentos em que o otimismo chegou a cair, mas pouco depois se pôs de pé de novo e continuou a lutar.
Já estava ficando cansativo ver aquilo tudo sem a minha consciência me dar nenhum tipo de explicação.
- Acho que já passou da hora de você me falar alguma coisa... - falei
- Ah, desculpe, estava aproveitando um pouco a luta. - falou ele
- Luta? Isso ta mais pra um massacre, o otimismo só faz apanhar.
- E irei lhe explicar agora o porquê.
E enquanto isso, o pobre do otimismo ainda não conseguia dar as investidas certas no pessimismo.
- Vou primeiramente falar das características específicas de cada lutador... - disse minha consciência - começando com o otimismo...
Fiquei o ouvindo atentamente.
- Ele é um cara legal, eu converso constantemente com ele, sempre ver o lado bom de tudo e é gentil com todos, mas o defeito dele é simplesmente pensar demais, coisa que você já deve ter percebido durante essa luta.
Isso realmente era perceptível.
- Ele perde muito tempo estudando o adversário e decidindo qual ataque seria mais efetivo, e isso sem falar que fica toda hora mudando de ideia e perdendo cada vez mais oportunidades, principalmente porque toda vez ele pensa na probabilidade desse ataque acabar não sendo tão efetivo como esperava.
Eu conhecia muito bem aquela conversa.
- E certamente, ele paga por isso, como você pode ver bem.
Então minha consciência continuou:
- Enquanto o pessimismo, esse não perde tempo, ele simplesmente faz sem nem pensar muito, e claro, sempre acaba pegando o otimismo despreparado, já que o pobre coitado sempre está "analisando a situação" e não se liga nas investidas do pessimismo.
E enquanto isso no ringue, o otimismo continuava tomando um couro.
- Por isso o pessimismo acaba dominando todas as lutas, ele dar os ataques que lhe vem a mente e deixa o otimismo sem reação, e claro, se aproveita disso para descer a porrada nele.
- E por que o otimismo não reage? - perguntei
- Me pergunto a mesma coisa, e olha que eu sei que ele tem capacidade para isso. - falou minha consciência - aliás, se ele usasse pelo menos metade dos ataques que lhe vem a cabeça, conseguiria lutar de igual pra igual, e quem sabe até vencer pelo menos uma vez.
E no ringue, o otimismo parecia não aguentar mais as investidas recebidas.
- E sinceramente... - continuou minha consciência - adoraria que um dia ele descesse o cacete no pessimismo, porque sério, que cara chato da porra, se acha muito.
Enquanto isso não ocorria, ele era quem levava porrada no ringue, não faltava muito pro pobre otimismo ser nocauteado.
- Imagino que você já está entendendo o significado disso tudo, né?
- Sim! - respondi
- O otimismo pode ficar mais forte, mas isso depende apenas de você, continue do jeito que está que o pessimismo sempre terá o domínio da situação.
- Eu tento, eu juro que eu tento.
- Pois pare de tentar, e agora faça dar certo, porque assim você não irá a lugar nenhum.
No ringue, após receber um forte cruzado no rosto, o otimismo finalmente foi ao chão sendo finalmente nocauteado, fazendo com que o pessimismo vencesse mais uma luta. O gongo soou vindo de lugar nenhum mais uma vez, e ao encerrar o combate o pessimismo começou a urrar em comemoração.
- Pronto, agora terei que aguentar esse mala enchendo o saco por mais um tempo. - lamentou minha consciência.
- Desculpa por isso. - respondi
- Eu não quero suas desculpas, e sim que você comece a tomar atitudes.
"Também é o que eu quero" pensei
Minha consciência pôs seu lanche ao seu lado, olhou para mim e disse:
- Você poderia ter conquistado tantas coisas na sua vida se não fosse tão inseguro de si, sabia?
Confirmei com a cabeça.
- Você não fica pensando nisso? - era uma pergunta retórica - Eu sei que fica.
E ele estava certo, pra variar.
- Enfim, a luta já acabou assim como a nossa conversa, e lembre-se, pense menos e comece a agir mais, de vez em quando não dói, vá por mim.
E antes que pudesse dizer qualquer coisa, tudo começou a tremer ao meu redor, eu estava prestes a acordar.
Quando acordei eram sete e quinze da manhã, me levantei ao som dos miados de Riddle pedindo comida, e assim não perdi tempo, e claro, pelo resto do dia fiquei refletindo sobre aquele sonho maluco.


Brian

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Uma noite de insônia extrema

Minhas aulas finalmente voltaram, e voltaram jogando uma bela bomba em minhas mãos, ainda naquela semana eu já teria que apresentar um trabalho sobre um projeto de pesquisa que foi iniciado no semestre anterior, o que foi uma ótima notícia (só que não) para mim e para meu grupo, as aulas mal começaram e a gente já teria que trabalhar duro, mas enfim.
Apesar que o que foi pedido não era nenhum bicho de sete cabeças, iriamos apenas retomar tudo aquilo que já foi pesquisado e explicar como vamos proceder nos estudos desse semestre, mas de uma forma ou de outra teríamos que nos virar nos trinta, já que tínhamos apenas dois dias para armar isso tudo. 
Sendo que, pra variar, eu deixei as coisas pra última hora, e pior de tudo é que eu sabia que iria me arrepender disso, dito e feito. Chegou na noite anterior a apresentação e eu ainda não tinha começado nem sequer o esboço do slide que utilizaríamos, certamente que teve que ser tudo na base do corre-corre, e ainda bem que eu sabia bem o que eu iria falar na hora, porque senão estaria ainda mais fodido.
Assim que cheguei da faculdade, tomei um banho rápido, comi tão rápido quanto e fui para o computador já pra começar a fazer isso. Resumindo tudo em ligeiras palavras, foi uma noite cansativa tanto para mim quanto para o meu grupo.
Eram quase meia-noite quando o único detalhe que faltava para o trabalho estar concluído era o slide, coisa que meu amigo, Luís, estava fazendo. Quando eu perguntei quando ficarei pronto, ele disse que seria em questão de instantes, e que quando tivesse concluído me mandaria o slide.
E assim fiquei aguardando, enquanto esperava eu fiquei fazendo minhas coisas no computador, vendo vídeos, ouvindo música, enfim. Passaram-se uns vinte minutos e nada do slide ficar pronto, mas mesmo assim não estava impaciente, por incrível que pareça, foi quando decidi me deitar um pouco, certamente eu estava cansado pra cacete.
Fiquei um pouco com as pernas para o ar pensando na vida, já com o celular do meu lado pra se caso meu amigo fosse me avisar qualquer novidade sobre o slide, mas do jeito que eu estava cansado, certamente não demorou muito para eu acabar cochilando...
Mais ou menos uma hora e meia depois, eu acordei com o toque do meu celular, era uma mensagem de luís avisando que finalmente o maldito slide estava pronto e que ele já iria me manda-lo por email, o que era um alívio para mim. Mas antes de fazer qualquer coisa, fui checar a hora, era uma e quinze da manhã.
Depois de checar isso, fui olhar como o slide estava, abri meu email, e lá estava ele, quando o chequei, achei apenas alguns detalhes para serem ajeitados e os avisei para Luís, rapidamente ele ajeitou. O processo todo levou uns quinze minutos se não me engano, quando Luís me mandou o slide de volta, chequei ele novamente e dessa vez estava tudo ok, finalmente podíamos ir dormir.
Mas foi ai que cometi um erro, que foi ainda ficar fazendo algumas besteiras no computador invés de ir para a cama logo, e por que foi um erro? Vocês entenderão já já...
Fiquei vendo alguns vídeos no computador, até que deu uma e quarenta da manhã e eu finalmente fui me deitar pra agora dormir de vez. Naquela altura do campeonato tudo parecia bem, mas apenas parecia, porque bastou eu me deitar na cama para uma grande pertubação começar a me incomodar. Mas vamos em partes, invés de eu ir direto ao ponto, vou explicar o passo a passo da merda toda.
O que parecia que ia ser apenas uma boa noite de sono se tornou na verdade uma puta dor de cabeça para mim, eu me deitei uma e quarenta da manhã e fechei os olhos esperando o sono vim (como de costume, certamente), sendo que o problema foi exatamente esse, ele não veio.
Depois de uns quarenta minutos me revirando na cama que isso começou a me incomodar, àquela altura já era pro sono ter vindo, mas claro, no início eu tentei não me importar muito com isso e continuei tentando dormir. Mas por mais que tentasse, eu não conseguia, e aos poucos comecei a ficar agoniado em relação a isso.
Eu fechava os olhos e tentava limpar a minha mente, mas sempre que tentava, vinham uma trezentas coisas na minha cabeça, algumas até mesmo sem sentido nenhum. Eu tentava relaxar, mas a cada minuto que passava que não conseguia pegar no sono eu ficava cada vez mais agoniado.
Enquanto isso, o celular carregava na tomada ao lado da minha cama, o peguei e vi a hora, eram duas e pouca da manhã, o que aumentava ainda mais a minha angustia por não conseguir dormir.
"Porra, o que ta havendo comigo?" me perguntei mentalmente.
Então me levantei um pouco, e procurei respirar fundo e lentamente, e da mesma forma procurei pensamentos que me tranquilizassem, por um lado eles vinham, e por outro, os mesmos iam embora poucos segundos depois, me angustiando ainda mais.
De minuto em minuto esse mesmo processo se repetia, e enquanto isso no relógio as horas pareciam passar vagarosamente, eu implorava para o sono vim, mas nada ainda.
Ai você pode até pensar: "Já que você não estava conseguindo dormir, por que não se levantasse e fosse fazer outra coisa pela casa?" Simples, porque independente da razão, minha mãe não ficaria nem um pouco feliz em me ver fora da cama àquela hora da noite (e sim, ela tem um sono bastante leve, perceberia que eu estaria andando pela casa) por isso o melhor que eu tinha pra fazer era ficar quietinho no meu quarto pelo menos fazendo de conta de que estava dormindo.
Claro, meu melhor companheiro naquela hora era o celular, olhava as coisas nele de minuto em minuto procurando algo de interessante pela internet, e certamente, naquela hora não se achava basicamente nada de bom, ou simplesmente nada de novo.
Eu até pensei em ficar brincando com Riddle naquele momento, mas eles estava lá na sua almofadinha no sono mais profundo possível, claro que eu não iria incomoda-lo, até mesmo porque ele odeia quando o acordam.
Ainda no celular eu procurei algum possível ser humano com quem pudesse jogar conversa fora até pegar no sono, claro, não havia ninguém, aliás, quem mais estaria acordado as três e pouca da manhã de um dia de semana? Apenas esse mero pobre coitado que não conseguia pegar no sono.
As horas passavam, e eu continuava a me revirar na cama, procurava o sono, mas não o encontrava, eram quase quatro horas da manhã e eu ainda não conseguia limpar a minha mente, foi então que decidi utilizar um artifício que de vez em quando dava certo, e que também era minha última opção para não ficar no ócio até o amanhecer do dia. Peguei meu Ipod e fiquei ouvindo música, e poderia ser que funcionasse, já que muitas vezes já adormeci ouvindo música com o fone, em alguns casos até mesmo ouvindo música pesada.
Tentei me focar apenas na música, procurei relaxar o máximo possível, naquele momento eu estava conseguindo limpar minha mente, e por um instante isso funcionou, consegui pegar no sono, mas infelizmente isso não durou muito.
Se não me engano eu apaguei apenas por vinte minutos, após isso eu despertei novamente sei lá porque, olhei o relógio naquele momento, e ele marcava quatro e meia da manhã, foi quando dei uma olhada de leve pela janela e vi já alguns feixes de luz solar iluminando o céu, tentei voltar a dormir, mas sem sucesso.
Minha mente voltou a ficar cheia de novo, e dessa vez eu não fiz muito esforço pra mudar isso, já tinha perdido as esperanças. A música ainda tocava em meu Ipod, sendo assim aproveitei o momento para refletir sobre o que estaria tirando meu sono, por um lado poderia ser esse maldito trabalho, mas a probabilidade maior para mim era o fato de eu ter cochilado enquanto esperava o slide ficar pronto e depois ter acordado e ficado no computador, eu deveria naquele momento, ter voltado a dormir após checar aquela porcaria.
Com certeza ter ficado no computador depois de ter concluído o trabalho foi um erro, tanto que eu disse isso lá para o início desse texto, mas enfim, agora era tarde demais para ficar chorando sobre o leite derramado.
Voltei a me concentrar na música, mas dessa vez não obtive o mesmo resultado, o sono parecia que ia não ia voltar mais dessa vez, e realmente me dei conta disso quando deu cinco da manhã e o sol já estava batendo na minha janela, nesse mesmo momento eu pensei:
"Agora que eu não consigo dormir mesmo!"
Então eu oficialmente desisti de tentar, mas mesmo assim continuei deitado na cama ouvindo música no meu Ipod, só era melhor eu me levantar da cama após que houvesse a certeza de que eu estaria sozinho em casa (para evitar comentários chatos do tipo "Por que acordasse agora?").
Poucos minutos depois, Riddle acordou, foi a hora em que eu tirei o fone de ouvido, o peguei e o coloquei na cama comigo, certamente ele estava com fome, mas como eu disse anteriormente, só era bom eu sair do quarto depois que tivesse certeza que só estaria eu em casa, Riddle teria que esperar um pouquinho.
Tentei brincar com ele, mas ele quando acordava não tinha disposição para nada, assim como eu próprio. Riddle também não era o único com fome, minha barriga roncava fortemente, e eu ainda estava com uma grande vontade de ir no banheiro.
Tivemos que esperar uma hora e meia até eu ouvir a porta da sala sendo fechada, foi quando tive certeza que todos tinham saído de casa, coloquei Riddle no chão e abri a porta, quando a fiz ele saiu do quarto rapidamente em direção a sua tigela de comida. Após ir no banheiro, eu a enchi e também fui comer alguma coisa, encerrando finalmente aquela noite angustiante que parecia não ter fim.
E minha lição foi aprendida, nessas horas de sono, apenas vá dormir sem nem ao menos pensar duas vezes.


Brian

terça-feira, 21 de julho de 2015

Algo completamente inesperado... - Parte 3/FINAL

Eu sabia que durante as férias Júlia costumava a acordar tarde pra cacete, então estava convicto de que só conseguiria falar com ela após o almoço, sendo assim, naquela manhã procurei nem me preocupar muito com isso e ocupar minha mente com alguma outra coisa. Então eu fiquei brincando com o Riddle pelo resto daquela manhã.
Quando deu próximo de meio-dia, Riddle já parecia um pouco cansado, foi quando percebi que era a hora de lhe dar um descanso, isso sem falar que a fome tinha batido, na hora eu estava sozinho em casa, tanto minha mãe quanto minha irmã estavam no trabalho, ou seja, eu teria que me virar pra fazer meu almoço.
Eu poderia ter assado uma carne, esquentado um arroz, umas verduras, ou coisa assim, mas a preguiça de mexer no fogão naquele dia estava enorme, então fui pelo simples e esquentei uma lasanha congelada no micro-ondas.
Enquanto comia, eu fiquei com o meu celular do meu lado apenas esperando um sinal de vida de Júlia, até que finalmente ela apareceu online, por pouco não lhe mandava uma mensagem logo de cara, mas achei melhor esperar um pouquinho, dar um tempinho para ver se ela não entraria em contato primeiro, e também pra não parecer aquele cara desesperado (pode parecer frescura minha, mas enfim, realmente não espero que entendam isso). Decidi que só tomaria alguma iniciativa em relação àquilo depois do almoço, mas ainda assim fiquei na expectativa que ela o fizesse logo, o que parecia que não iria ocorrer.
E claro, eu comecei a pensar no que raios estaria se passando na cabeça dela naquele momento, eu e minhas paranoias para variar, na minha mente havia todo tipo de explicação, e em boa parte delas acabava com Júlia não querendo olhar na minha cara nunca mais, como eu disse, paranoias minhas.
Depois que terminei de comer ainda fiquei mais um pouco nessa frescurinha de que se falava logo com ela ou não, de que se a esperava falar algo ou se tomava logo uma iniciativa, fiquei mais ou menos uns quinze minutos olhando o celular vez ou outra tentando decidir isso.
Até que eu decidi finalmente parar de frescura e simplesmente tomar a iniciativa, também decidi que não faria isso por mensagem e que ligaria pra ela antes de tudo.
Então sem hesitar, peguei o celular e liguei para ela,
Na primeira tentativa, o telefone chamou uma, duas, três, quatro... E nada dela atender, desliguei e esperei alguns minutos, me deitei no sofá da sala enquanto isso e fiquei olhando para o teto. Após cinco minutos eu dei minha segundo tentativa.
Liguei novamente e aguardei ela atender, e assim chamava, chamava, chamava...
- Alô?
- Júlia?
- Ah... oi Brian... - a voz dela soou um pouco insegura nesse momento
Na hora, eu não soube o que falar, fiquei meio sem graça, sei lá, a situação ainda era bastante constrangedora.
- Errr, tudo bem? - falei meio sem jeito
- Sim, estou... e você? - falou ela da mesma
- Também... eu acho...
E mais uma vez, ficamos alguns segundos calados esperando o outro falar alguma coisa, via-se claramente que o clima estava estranho entre nós, até que eu finalmente falei:
- Tas ocupada agora?
Depois de alguns segundos, ela respondeu:
- Err, não... por que?
Senti um pouco de receio na voz dela.
- É que... eu... errr... - simplesmente não sabia quais palavras usar, eu estava bastante nervoso, minha mão tremia pra caramba.
Foi quando aquela voz dentro de mim praticamente gritou também me dando um tapa na cabeça "DESEMBUCHA, PORRA!"
- A gente precisa conversa sobre o que aconteceu ontem.
Por um lado foi aliviante falar aquilo, mas também desesperador.
Depois de alguns segundos calada, Júlia respondeu:
- Ok, então... - ainda sentia o receio em sua voz. - quer que a gente se encontra lá em cima?
Eu ia dizer "sim", até que parei para pensar em um detalhe, que o melhor era eu não falasse com ela na área de lazer do prédio, e por que? Simples, porque lá é o local mais calmo do prédio, ou seja, iria ser a brecha perfeita para que ocorresse de novo, eu sei bem disso porque na época que a gente namorava, íamos direto para lá quando queríamos um tempinho sozinhos.
- Na verdade... - falei - posso falar contigo ai mesmo na sua casa?
Eu sabia que naquela hora teria gente na casa dela, o que já seria uma garantia de que nada aconteceria, teríamos menos privacidade, mas era o preço a se pagar.
- Tá, pode ser... - falou ela
- Não tem problema não, né?
- Não, claro que não. - não senti muita firmeza no tom de voz dela
- Ok então, apareço ai em cinco minutos.
- Ok!
- Até já!
- Até!
E assim eu me arrumei rapidamente, apenas fiz trocar de roupa de escovar os dentes, como de costume, dei um cafuné no Riddle e fui me encontrar com ela.
Cheguei na porta do apartamento de Júlia em exatos cinco minutos, hesitei um pouco em tocar a campainha, mas assim o fiz e aguardei alguém atender. Quando a porta se abriu, quem estava nela era a mãe de Júlia, Dona Selma.
- Oi Brian! - falou ela
- Olá Dona Selma. - falei um pouco sem graça
- Tudo bem com você? - disse ela me abraçando
- Sim, está, e com a senhora? - respondi retribuindo o abraço
- Tudo ótimo, graças a Deus.
- Que ótimo... - e logo após não hesitei em perguntar - Júlia ta ai?
- Ela ta se arrumando, mas já já aparece. - disse Dona Selma - mas entre, você pode esperar ela aqui no sofá.
- Ah, claro, obrigado.
E assim entrei e me acomodei no sofá.
- Quer alguma coisa? Uma água, qualquer coisa?
- Não, obrigado, não se preocupe com isso.
- Nem um pedaço de bolo?
- Agradeço, mas não precisa.
- Eu insisto.
Foi quando eu percebi que ela iria trazer de qualquer forma, então simplesmente aceitei. Era um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, então o aproveitei bem, aliás, sempre adorei qualquer coisa com cobertura de chocolate, mas enfim, quando terminei fiz questão de levar o prato até a cozinha, apesar da mãe de Júlia ter insistido pra que eu a deixasse fazer isso.
Após isso, Dona Selma foi fazer suas coisas, e eu fiquei aguardando Júlia no sofá, pouco depois o gato dela passou, era um persa branco, tentei fazer um carinho nele, mas ele não parecia ser do tipo que gostava de socializar, me esnobou no mesmo instante.
- Brian? - Foi quando Júlia finalmente apareceu
- Oi Júlia.
Dessa vez mal nos cumprimentamos direito, sem abraço, sem aperto de mão, nem nenhum outro tipo de contato físico, ela apenas se sentou ao meu lado no sofá.
- E então... - falou ela sem graça
E eu estava da mesma forma, sem saber como começar aquilo, ficamos por um momento apenas sentados olhando para a cara de bobo do outro.
"Que bosta de clima, hein?" pensei.
Enquanto isso, o gato dela apareceu de novo, sendo que dessa vez pulou no colo de Júlia e lá ficou com ela lhe dando um cafuné, e acreditem, ele ficou me olhando com uma cara nem um pouco amigável, podem achar até que é doideira minha, mas eu juro que não é.
- Prefere falar num local com mais privacidade? - perguntou Júlia
- Sim, claro. - falei
- Então vamos pro escritório.
Júlia tirou o gato do colo e se levantou, ele não pareceu muito feliz com aquilo e foi andar pela casa. A segui até o escritório, que ficava exatamente ao lado do quarto dela, entramos lá e ela fechou a porta para garantir ainda mais que ninguém iria ouvir a nossa conversa, depois que nos sentamos, eu finalmente comecei a falar:
- Ok, vamos logo com isso então, não era pra ter acontecido aquilo com a gente ontem. - falei sem hesitar.
E também sem hesitar, Júlia falou:
- Concordo.
Fiquei até intrigado com a resposta dela.
- Me deixei levar pela emoção, não pensei direito, enfim, fui idiota.
- Não Júlia, o idiota fui eu que não impedi, acabei me deixando levar pela carência, foi errado o que eu fiz.
- Não precisa se culpar.
- Preciso sim, me senti mal por isso a noite toda.
Então Júlia pensou um pouco, e disse:
- Eu também.
Eu suspirei, e disse:
- Acho que no fim nós dois fomos idiotas.
- Concordo. - disse Júlia rindo.
Comecei a rir junto com ela, chegamos no ponto em que aquela situação toda era engraçada.
- Bom... - falei - fico feliz que a gente concorde nisso.
Júlia apenas sorriu.
- Enfim... - continuei - que isso não aconteça de novo, ok?
- Ok! - concordou Júlia ainda sorrindo.
Selamos esse "acordo" com um abraço de amigos, apesar que ainda havia um detalhe para ser ressaltado:
- Ei Júlia, me responde uma coisa.
- O que?
- Você chegou a comentar o que aconteceu pra alguém?
- Não, por que?
- Ótimo, vamos manter dessa forma, isso morre aqui entre a gente, pode ser?
Ela pareceu um pouco confusa, mas concordou.
- Ok, melhor que fique assim mesmo.
E de novo, sorrimos um para o outro e nos abraçamos novamente.
No fim, tudo acabou bem, depois de ter tudo aquilo acertado com Júlia, ainda fiquei um pouquinho por lá conversando com ela, até que depois de uns vinte minutos ela precisou sair com a mãe para resolver umas coisas, foi depois disso que eu voltei para casa tranquilo e com a consciência limpa.

Brian

terça-feira, 14 de julho de 2015

Algo completamente inesperado... - Parte 2

Depois de esperar alguns minutos lá em cima, eu finalmente desci para a minha casa, ainda bastante encucado, certamente, sei lá, ainda não acreditava no que tinha acabado de acontecer, aquilo tudo demorava para processar na minha mente, e como eu disse, por um lado eu tinha gostado e pelo outro tinha feito uma puta besteira, e eu estava ciente dos riscos, que não eram pequenos.
Quando cheguei em casa, comi alguma e coisa e fiquei no meu quarto, tentei me distrair com alguma coisa, mas certamente o ocorrido não saia da minha cabeça, e pra piorar, eu ficava de minuto em minuto olhando pro meu celular esperando que Júlia me mandasse alguma mensagem, claro, foi em vão.
E o pior era que eu queria mandar uma mensagem pra ela, mesmo sem saber o que dizer, sabia que seria uma má ideia, mas eu queria da mesma forma, porém, felizmente consegui me controlar, sendo que continuava a checar a porra do celular sem para, não apenas o celular mas também as redes sociais.
Ela estava online, mas mesmo assim não falava nada, não que eu esperasse que ela fosse falar algo, provavelmente ela ainda estava processando aquilo tudo também, provavelmente estava na mesma situação que a minha.
Talvez o melhor fosse realmente deixar aquilo quieto por enquanto, nenhum de nós dois sabíamos o que falar depois que aconteceu, a gente precisava pensar um pouco antes de tomar qualquer outra atitude, principalmente porque essa aconteceu sem nenhum dos dois pensar na merda que podia dar.
Até pensei em conversar sobre isso com alguém, conta o que aconteceu e ir atrás de aconselhamento, mas achei melhor deixar quieto por enquanto e esperar até o dia seguinte, que seria quando eu e Júlia provavelmente conversaríamos sobre isso.
Foi então que eu resolvi jogar alguma coisa no computador para esquecer um pouco isso, e felizmente por um instante funcionou, aproveitei também e deixei uma música tocando no meu celular para ajudar um pouco nisso também.
Fiquei umas cinco horas nisso (pode me chamar de viciado), até acabar cansando, então resolvi assistir alguns episódios das minhas séries, e assim fiquei por mais três horas. Até que quando deu meia-noite e meia, o sono começou a vim, eu já não conseguia mais acompanhar o que estava na tela do meu computador e cochilava por alguns segundos vez ou outra.
Então decidi que veria aquele episódio num outro dia quando eu estivesse com menos sono e fui dormir. Não demorou mais do que quinze minutos para eu pegar no sono.
Foi quando eu tive um sonho estranho, na verdade não tão estranho assim, e sim, marcante, vocês entenderão o porquê...
No sonho, eu estava na área de lazer do prédio, e claro, estava esperando Júlia, para que exatamente, eu não sei, talvez fosse para a gente ficar de novo ou para conversar sobre o ocorrido, mas só sei que eu estava esperando ela. Então, sendo assim, me sentei na borda da piscina, coloquei meus pés na água e fiquei aguardando.
Não demorou muito para eu ouvir uns passos chegando no local, e assim que os ouvi, me levantei e fiquei na expectativa, mas acabei tendo uma desagradável surpresa, não era Júlia que estava vindo.
- Olá, Brian! - falou minha consciência entrando no local
"Estou fodido." pensei
- Esperando alguém? - falou ele de novo
- Você, eu acho... - falei
- Não, você não estava me esperando, sua expressão facial diz tudo.
- Quem eu estaria esperando, então?
- Não sei... - falou ele - alguém, possivelmente, uma garota, para ser mais exato...
Sabia muito bem aonde ele queria chegar, mas o deixei falar.
- Acho que você deve saber quem é, ela começa com "JÚ" e termina com "LIA". - falou ele já cara a cara comigo naquele momento.
- Chegue no seu ponto logo. - falei
Minha consciência respirou fundo, e disse:
- Se é assim que deseja...
E quando dei por mim, minha consciência tinha acabado de me dar um soco no rosto.
- O QUE VOCÊ TINHA NA CABEÇA? - vociferou ele
Fiquei calado, sabia que qualquer coisa que eu falasse ele não iria engolir.
- RESPONDA! - gritou ele me dando outro soco.
Continuei calado por alguns segundos, e falei:
- Carência, possivelmente...
Não me senti bem respondendo aquilo, e claro, ele não engoliu aquela conversa e me deu outro soco.
- Você não sabe controlar seus instintos, por acaso? - falou minha consciência mais uma vez.
- É como dizem, a carne é fraca... - eu sabia que não iria dar certo eu falar aquilo
Dito e feito, mais um soco.
- Porra nenhuma, você que é fraco.
- Já ta bom de socos, né? - questionei
E claro, ele me deu mais um.
- Não, não está, NADA está bom nessa história!
- Ok, mas podemos conversar que nem pessoas civilizadas por um momento?
Pelo visto, finalmente o que eu falei fez algum efeito nele (o que raramente acontece), então ele afastou um pouco de mim.
- Você está ciente da merda que isso pode dar, né? - falou ele
- Claro que estou, só tenho pensado nisso pelo resto do dia.
- E na hora? PENSOU?
Simplesmente não falei nada.
- Pior de tudo, que na hora eu fiquei me esgoelando dizendo que era uma péssima ideia, e eu sei que você me ouviu, mas ainda assim o fez.
E eu continuava calado.
- Por que não impediu que isso acontecesse?
Demorei um pouco para falar, mas depois que vi a cara de sério que a minha consciência estava fazendo, achei melhor dizer alguma coisa:
- Sei lá... não quis desaponta-la, talvez.
- Mentira, você queria que acontecesse, por isso não tentou impedir.
Continuei o ouvindo.
- Aproveitou que ela estava emocionalmente "vulnerável" e agiu que nem os "playboyzinhos" filhos da puta agem, agora me diga, você tem orgulho disso?
Respirei fundo, e disse:
- Não.
- Fico feliz que você ainda tem essa consciência. - disse ele - e isso sem falar, se ela e o Roland voltarem, e ele descobre essa história, tu já imagina a confusão que pode dar, né?
- Sei sim. - falei baixo
- Pois é cara, vez ou outra é bom usar essa cabeça pra pensar.
Não falei mais nada porque eu merecia aquilo tudo.
- Mas agora é o seguinte... - falou ele praticamente me empurrando pra beirada da piscina - você vai consertar essa merda toda que você fez, você vai falar com Júlia amanhã na primeira oportunidade que tiver e vai garantir que isso não ocorra de novo, ta entendendo?
Eu apenas concordei com a cabeça tentando evitar que eu caísse na piscina.
- Pois bem, então não me decepcione de novo, porque se você o fizer, eu não largarei do seu pé tão fácil, e você sabe muito bem o quão chato eu consigo ser quando eu quero, né?
Mais uma vez concordei com a cabeça sem dizer nada.
- Ótimo, e uma última coisa... - nesse momento, ele me forçou a olhar nos seus olhos - próxima vez que eu avisar que algo não é uma boa ideia, trate de me obedecer! - falou ele irritado
Ele me olhou profundamente nos olhos com aquele olhar de irritação, e depois de alguns segundos, me jogou dentro da piscina. O momento que eu senti a água batendo em minhas costas foi o momento em que acordei.
Acordei assustado, aquilo tudo ainda me martelava, não só o que ocorreu comigo e com Júlia, mas também essa conversa que tive com a minha consciência, pouco depois eu olhei meu celular e certifiquei de que horas eram.
Era nove e quinze da manhã, o horário que eu costumava a acordar nessas férias, e ao lado da minha cama se via o pequeno Riddle me pedindo pra por a comida dele, aliás, foi a motivação que precisava para me levantar.
Após por a comida do Riddle e tomar o meu café da manhã, eu fiquei ligado tanto no celular quanto nas redes sociais esperando por um sinal de Júlia, ela provavelmente ainda estava dormindo, então sabia que iria demorar um pouco.
Aproveitei esse tempo para pensar no que dizer para ela, poderia ser uma conversa simples, ou não, era impossível prever a reação dela, mas eu realmente estava decidido a desfazer aquela merda toda.

(continua...)