sábado, 26 de março de 2016

O espelho de três faces

Possivelmente alguns de vocês chegaram a ler a última história que contei por aqui, onde relatei minha experiência na festa de formatura da minha irmã, em que basicamente falei tudo aquilo que se passa na minha cabeça quando tento "chegar" em alguma garota em alguma festa. Bom, saibam que a história de hoje começa quase que da mesma forma, sendo que meu foco não será exatamente esse, você entenderão já já.
Enfim, tudo começou em um sábado que não foi como qualquer outro, porque dessa vez eu fiz uma coisa que não era lá minha cara, que foi sair para uma balada, programa esse que nunca me imaginei fazendo antes disso.
Para não me prolongar muito vou dar um resumo rápido do que ocorreu lá: Simplesmente nada de interessante.
Quer dizer, sim, foi legal estar com o pessoal, conheci novas pessoas e fiz novas amizades, mas foi apenas isso que fez valer a minha ida pra lá, porque de resto, não valeu tanto assim. Falo isso porque normalmente quem vai para um local desses vai com o intuito de dançar, coisa que eu não sei fazer.
E sim, tentei mais uma vez "chegar" em alguma garota, mas aquelas merdas todas que contei na última história se repetiram, e de novo, nada deu em nada. Enfim, acho que não preciso repetir aquele processo aqui novamente aqui, né? rs
Então, vamos logo ao momento em que decidi a ir para casa (mesmo horário em que todos decidiram, umas 2 da manhã). Bom, peguei o táxi e fui em direção da minha casa, o trajeto levou uns quinze minutos e me custou quase vinte reais, quando entrei em casa a primeira coisa que fiz foi tomar um banho, para depois disso ir dormir.
Como tinha voltado de um local agitado, o sono demorou um pouco pra chegar, coisa normal de acontecer em tal situação. E enquanto eu não adormecia, aqueles velhos questionamentos passavam pela minha cabeça.
"Por que eu sou assim?"
"Qual o meu problema?"
"Por que eu sempre tenho que por dificuldades em coisas simples?"
"Maldita insegurança!"
Enfim, as merdas de sempre.
E isso tudo piorava quando lembrava da conversa que tive com Luís no lado de fora, onde eu choramingava com ele essas coisas todas, e que ele veio me dizer que havia uma garota lá dentro que ficava reparando em mim vez ou outra, coisa que fez me sentir um completo bosta por conta da minha falta de atitude.
Mas enfim, acho que esse "mimimi" já tá muito repetitivo, né? E você deve estar pensando nesse momento: "Cara, para de se auto-torturar com essas coisa, só vai lhe fazer mal".
Se esse for o caso, então lhe respondo: Eu juro que tento, e muito.
Mas enfim, voltando a história... passaram-se mais alguns minutos após minha mente finalmente relaxar um pouco e eu pegar no sono por completo.
Quando me dei conta, estava em uma sala, quer dizer, eu acho que era uma sala, porque na verdade aquilo ali não parecia absolutamente nada, era tudo branco, não havia paredes, nem nada. Quer dizer, a única coisa que havia naquele local, era uma espelho de três faces logo a frente.
Achando aquilo no mínimo curioso, me aproximei mais dele, e claro, já fazia ideia que aquilo se tratava de um sonho maluco, quando cheguei mais perto passei a analisa-lo melhor. De início não vi nenhuma anormalidade, parecia ser apenas um espelho normal como qualquer outro, na face da frente via apenas o meu reflexo, nada anormal até aí, olhei para o da direita e vi a mesma coisa, nenhuma surpresa ainda. 
Foi então que me virei para a face da esquerda e tomei um susto, ela não mostrava simplesmente o meu reflexo, e sim, uma criatura feia, peluda, cheia de verrugas e dentes afiados. Não era a minha imagem que estava sendo mostrada ali, mas supostamente era um reflexo, já que a criatura que estava no espelho repetiu meus movimentos de forma sincronizada.
Após olhar bem para aquela face, olhei para o meu corpo e não vi nenhuma anormalidade nele, olhei na face direita novamente só por garantia e confirmei que eu não tinha virado nenhum monstro, ou coisa do tipo. Até que nesse meio tempo, tornei a olhar para a face da frente e estranhei pela fato dela não seguir meus movimentos, na verdade, ela estava simplesmente parada de braços cruzados me observando, até que...
- BU! - fez meu reflexo
Quase que eu tinha um ataque na hora, enquanto tentava me recompor, meu reflexo ria da minha cara, foi quando me dei conta que a imagem que estava na face da frente era a minha consciência.
- Porra, precisava disso? - perguntei
- Ué, não posso me divertir um pouco não? - falou minha consciência rindo, e em resposta eu fiquei calado.
- Enfim... - falei finalmente - vai me explicar isso aqui?
- Tão direto assim? Sem nem um momento para colocar o papo em dia?
- Ta de sacanagem comigo? Você é a minha consciência, sabe bem até demais o que se passa na minha vida.
E ele apenas riu.
Ficamos alguns segundos calados, até que eu disse:
- Então...?
- Você não tem senso de humor, hein? - respondeu ele
E eu já estava perdendo a minha paciência.
- Bom... - continuou - antes de eu falar qualquer coisa, observe bem as outras duas faces do espelho e veja se consegue supor algo.
- Sério mesmo que você vai me fazer passar por isso?
- Você sabe que sim.
Eu devia ter imaginado.
Fiz o que ele me pediu, olhei atentamente para as duas faces, tentei reparar qualquer mínimo detalhe que me chamasse a atenção, mas não consegui reparar em nada. Olhei a face da esquerda com mais atenção, foi incômodo olhar aquela imagem por muito tempo, não sei por que, mas ela me causava um grande desconforto, mesmo observando atentamente também não encontrei nada que me desse uma resposta.
Tendo observando tudo, tornei a olhar para a minha consciência na face da frente, ele olhou nos meus olhos e perguntou:
- Então, alguma conclusão?
Respirei fundo, e disse:
- Não...
Minha consciência me deu um olhar de reprovação, e disse:
- Olhe melhor...
Comecei a ficar sem paciência quando ele falou isso.
- Cara, já olhei essas merdas umas dez vezes nesse meio tempo que estamos conversando aqui, então para de me enrolar e me diz logo o que isso significa!
Mais uma vez, ele me deu um olhar de reprovação, respirou fundo e falou:
- Realmente, paciência nunca foi uma das suas virtudes.
Apenas fiquei calado diante dessa afirmação.
- Antes de tudo, lhe farei uma pergunta e quero que me responda com sinceridade.
- Manda! - falei sem hesitar
- Quais dos dois reflexos melhor te representa?
"Nossa, sério mesmo?" pensei
Achei a pergunta bem besta e respondi sem hesitar:
- O da direita.
- Certo... Certo... - respondeu minha consciência com um ar pensativo - agora me diga... - continuou - se a imagem a sua direita melhor te representa, porque você na maioria das vezes só olha para a da esquerda?
Na hora eu não entendi aonde ele queria chegar com aquilo.
- Não to entendendo... - falei
- Então deixe-me falar dessa forma, a imagem da direita mostra quem você realmente é, um garoto de 21 anos normal como qualquer outro que tem seus defeitos e virtudes.
Eu ouvia atentamente a tudo aquilo.
- E a imagem da esquerda representa o monstro que você vive achando que é.
Por mais triste que aquilo fosse, tudo estava fazendo sentido a partir dali.
- E é isso que eu acho engraçado... - continuou minha consciência - você no fundo sabe que és o cara que vês a sua direita, mas você adora se ver como esse monstro da esquerda, sempre acha que as pessoas tem veem dessa forma.
Aquilo me deixou pensativo.
- Você não é nenhum monstro, Brian... - continuou ele - mas se você sempre achar que é um, não conseguirás nada, e ficarás nessa frustração de sempre em relação a tudo.
Pior que eu já sabia dessas coisas todas que ele estava me dizendo, mas ainda assim não tomava uma atitude em relação a isso.
- Tenha mais auto-confiança, você acha que isso difícil, mas vá por mim, não é!
Queria muito acreditar naquilo, mas não conseguia.
Até que de repente, tudo começou a tremer, ou seja, eu estava prestes a acordar. Após isso, minha consciência não falou mais, apenas olhava fixamente para mim com um ar de seriedade, e aos poucos, o espelho o cenário iam desaparecendo no nada.
Foi quando acordei na minha cama, após me dar conta que estava de volta ao mundo real, primeira coisa que fiz foi olhar a hora no celular. Eram oito e meia da manhã.
Mas fiquei mais meia hora deitado pensando naquele sonho, a imagem daquele monstro do espelho não saia facilmente da minha cabeça, e menos ainda as palavras ditas pela minha consciência.
Enquanto pensava nisso tudo, Riddle pulou na minha cama e começou a me cutucar como se estivesse pedindo para que eu me levantasse, com certeza queria que o desse comida, então me levantei e assim o fiz.
De uma forma ou de outra, aproveitei aquele domingo que eu não tinha nada pra fazer para refletir profundamente sobre aquilo tudo.


Brian