terça-feira, 3 de março de 2015

A chegada

Aquele não era um sábado como outro qualquer, mais uma vez eu iria em outro show (sim, tem vindo bastante bandas que eu gosto para cá ultimamente) e pra variar minha animação estava lá em cima, mas apenas pelo show em si, havia um outro fator que fazia eu esperar ainda mais ansiosamente por esse dia. Era o dia que a Helo finalmente se mudaria pra Recife, e certamente ela iria nesse show comigo.
A Helo tinha sido aprovada no curso de enfermagem na federal daqui faz uns dois meses, mas só agora conseguiu acertar tudo para finalmente morar aqui, ela comprou uma casa não muito longe da faculdade e conseguiu também um emprego de meio-período em uma livraria, que ela só ficará temporariamente até a faculdade começar (que no caso seria em agosto). E sim, por incrível que pareça, mesmo com os gastos que foi a mudança toda ela conseguiu um dinheiro sobrando pra ir nesse show (apesar que o preço era até em conta se for comparar com outros shows que eu já fui), e junto com ela vieram alguns amigos dela de Arapiraca que iriam ver o show com a gente e voltariam para casa no dia seguinte.
Quando a Helo chegou em Recife era meio-dia, eu fui esperá-la na rodoviária, eu cheguei por lá umas onze e meia e não esperei mais de meia-hora até o ônibus dela chegar. Quando eu finalmente a vi no meio das pessoas que saiam do veículo junto com ela, não tive outra reação que não fosse ir em sua direção já me preparando para um abraço, e ela fez o mesmo assim que me viu. Aliás, isso era uma coisa que a gente esperava há muito tempo, depois de anos morando em cidades diferentes e só se comunicando via internet, a gente finalmente iria morar na mesma cidade, finalmente iria se ver com constância, finalmente a gente iria poder ir para os cantos juntos, e por ai vai.
Logo após lhe dar um longo abraço, ela me apresentou os amigos que a acompanharam, eram eles Júnior, Vitor, Mateus, Fred e o casal Ana e Bruno. E dali fomos primeiramente procurar um restaurante pra todos almoçarmos, eu estava morrendo de fome, e eles também, mais que eu provavelmente por causa da longa viagem. Achamos um self-service bem em conta não muito longe dali, e então fomos comer lá, enquanto comíamos eu fui conhecendo os amigos de Helo melhor e ela foi me contando das novidades da vida dela, e da viagem também.
Depois de mais ou menos uma hora almoçando naquele restaurante, pagamos a conta e fomos para a casa da Helo, apesar que haveria um problema, ir de ônibus para lá com o tanto de bagagem que eles tinham em mão definitivamente não era uma boa ideia, e um táxi só levaria no máximo quatro pessoas, e como éramos oito tivemos que pedir dois táxis. Ana, Bruno, Fred e Júnior foram em um, e eu, Helo, Vitor e Mateus fomos em outro. Levamos mais ou menos meia-hora para chegar na casa da Helo, cada um pegou sua parte do táxi ao chegar lá e eu os ajudei com as bagagens.
A casa era simples, mas já era o suficiente pra Helo (eu também acharia o suficiente se fosse morar lá). Inicialmente eu ajudei eles a arrumarem tudo que fosse preciso, porque, aliás, era muita coisa, a gente ficou um bom tempo arrumando aquilo tudo, e depois de quase uma hora a gente finalmente tinha concluído pelo menos oitenta porcento de tudo (o resto a Helo decidiu que deixaria pra depois), e a partir dali a gente resolveu aproveitar um pouco a estadia lá.
E assim ficamos lá conversando (algum deles bebendo, também) até a hora do show, que seria lá pras oito da noite, ou seja, a gente ficou um bom tempo pela casa da Helo. Um pouco mais tarde, quando já eram mais ou menos quase cinco horas a gente resolveu rachar uma pizza numa pizzaria que tinha perto pra dali ir pro show.
Era quase sete horas quando a gente pagou a conta, e ai fomos de ônibus para o local, felizmente o mesmo não demorou muito pra passar, ainda mais porque já estava escuro e a rua já tava começando a ficar estranha, e o caminho até o local do show durou apenas quinze minutos, sim, não era muito longe da casa da Helo. Quando chegamos eles ainda iam comprar seus respectivos ingressos (eu era o único que já os tinha em mão), e logo após, entramos.
Não demorou muito para a banda de abertura começar, apesar que a gente não ligou muito para ela, e então ficamos pela parte de trás da casa de show ainda conversando sobre coisas aleatórias, eles tomando as suas bebidas e eu tomando minha água de sempre. Só fomos para a pista quando a banda principal finalmente entrou no palco, que foi lá pra nove e meia da noite, e todos que estavam presentes no local foram a loucura (inclusive a gente), e mais uma vez foi uma noite de puro rock n roll.
A energia tanto da banda quanto do público eram fortes, a animação estava lá em cima, e a gente se incluía nesse meio (alguns como Júnior, Bruno e Mateus já estavam até um pouco alterados por conta do etílico), mas houve um momento que eu a Helo aproveitamos o show da mesma forma que a gente tinha aproveitado o Festival de Inverno de Garanhuns, apenas eu e ela pouco ligando para os outros ao nosso redor, era ótimo pensar que momento como aqueles iriam acontecer com mais frequência a partir de agora.
E depois de duas horas, o show chegou ao seu final, e claro, sempre deixando aquele gosto de "eu quero mais" no público presente, e quando as luzes se acenderam e os equipamentos começaram a ser retirados do palco que todos se deram conta que o fim tinha finalmente chegado e que era hora de ir para casa. Era quase meia-noite quando a Helo me perguntou.
- Vai voltar como, Brian?
- Vou ver se consigo um táxi agora, e vocês?
- Bom, Mateus vai pegar um táxi para casa de uma tia dele que mora aqui, Fred vai direto pra rodoviária porque ele vai direto pra maceió, Bruno e Ana vão passar a noite em um Hotel e Júnior e Vitor dormirão lá em casa.
- Vocês vão de táxi?
- Não, de ônibus.
- Rapaz, é meio estranho a essa hora, tem certeza que não querem pegar um táxi?
- Relaxa, Brian, vai ficar tudo bem.
- Ok, então... - falei
Mas depois de pensar um pouco, eu falei:
- Quer que eu espere seu ônibus chegar antes de eu ir?
- Precisa não, Brian, se quiser ir logo fique a vontade. - disse a Helo
- Mas eu faço questão de fazer isso.
- Brian, sério, não precisa.
Eu ia contra-argumentar, mas foi então que eu pus a mão no meu bolso e me dei conta de uma pequena merda, eu pretendia voltar de táxi mas eu estava com apenas cinco reais, e a corrida de lá pra minha casa dava uns vinte no mínimo.
- Puta que pariu, mentira, né? - falei indignado
- O que houve? - perguntou a Helo
E enquanto isso, Vitor tinha que aguentar as merdas que Júnior estava falando bêbado na calçada.
- To com a impressão que perdi um pouco o controle dos meus gastos hoje.
- Ta sem dinheiro pro táxi? - perguntou ela
- Exatamente!
E ainda tinha me dado conta que eu achei que tinha saído com uma certa quantia de casa, mas na verdade eu saí com menos, tinha esquecido de pegar uma maldita nota de cinquenta.
- E agora, como tu vai fazer? - perguntou a Helo
- Agora infelizmente é pegar o busão.
- Certeza? - perguntou ela
- Eu sinceramente queria não usar essa opção - falei - mas não me resta outra alternativa.
- Na verdade resta sim... - disse ela
- Como assim? - perguntei
- Você dormir lá em casa e deixar pra pegar o ônibus amanhã de manhã.
- Não Helo, não quero incomodar.
- Mas eu garanto que não será incômodo nenhum.
Disse ela olhando bem pros meus olhos.
Eu realmente não tinha muitas opções naquele momento, e aquela parecia ser a melhor, então acabei aceitando
- Está bem, então.
A Helo esbanjou um grande sorriso depois que eu dei minha respostas, e eu retribui, aliás, de uma forma ou de outra era bom estar com os amigos. Logo após eu fui com eles até a parada de ônibus, e claro, mandei um SMS para a minha mãe explicando a situação e dizendo que não havia razões pra ela se preocupar. No caminho a gente fazia os nossos comentários sobre o show e ríamos do Júnior falando besteira bêbado.
A rua estava realmente estranha naquela hora, mas felizmente não éramos os únicos esperando ônibus naquela parada, havia um número considerado de gente por lá, levou uns quinze minutos até o nosso ônibus passar, o mesmo também estava meio estranho, além da gente só haviam umas três pessoas sentadas por lá, certamente ainda falávamos besteira dentro do ônibus, mas de uma forma ou de outra eu ainda ficava ligado na movimentação ao meu redor.
Depois de quinze minutos a gente finalmente tinha chegado na nossa parada, e andamos ainda mais uns cinco minutos até chegar na casa da Helo. Quando chegamos, a primeira coisa que fizemos foi levar Júnior para a cama dele no quarto de hóspede, onde ele simplesmente apagou no primeiro momento em que deitou, Vitor foi tomar um banho e depois foi dormir no colchão deixado ao lado da cama onde Júnior dormia. Já eu e a Helo, por incrível que parecesse, não tínhamos um pingo de sono, e aí ficamos no sofá da sala conversando sobre coisas aleatórias, isso no caso já era perto de uma da manhã, foi então que em um momento da conversa, a Helo falou:
- Nem acredito, velho.
- O que? - perguntei
- Que esse dia chegou, o dia que a gente ficaria conversando pessoalmente juntos até tarde da noite.
Eu sorri para ela, e disse:
- Também não caiu a ficha pra mim, ainda.
E assim ela me abriu um belo sorriso, sorriso esse que realçava ainda mais a sua beleza.
O tempo passava e a gente nem via, pelo menos até o momento em que a Helo começou claramente a desabar de sono, foi então que eu disse:
- Tais morrendo de sono, né?
- Um pouco... - respondeu ela
- Se quiser ir dormir, fique a vontade.
- Não, Brian, relaxa.
- Sério, Helo, seu dia hoje foi cheio. teve a viagem e o show, você precisa descansar um pouco.
- Mas não quero te deixar sozinho aí.
- Não precisa se preocupar comigo, e me deito aqui e tento dormir também, ou na pior das hipóteses passo a noite em claro mesmo.
E a Helo lutava pra não cair de sono.
- Tá vendo que você não ta se aguentando? - insisti - sério Helo, eu ficarei bem, pode ir dormir.
Então a Helo falou:
- Tá certo, então. - fez uma leve pausa, e disse - você vai conseguir dormir no sofá?
- Eu me viro aqui. - respondi
Ela pensou um pouco, e disse:
- Ok então, se precisar de qualquer coisa é só gritar, beleza?
- Beleza... - respondi - mas pode dormir tranquila que isso não será problema.
Então ela riu e disse:
- Boa noite, Brian.
- Boa noite!
E assim ela foi pro seu quarto, logo após isso eu desliguei a luz da sala e me deitei no sofá esperando o sono chegar, o que demorou um pouco, eu ainda estava meio agitado, fiquei vinte minutos me revirando até finalmente pegar no sono.
No dia seguinte eu acordei as dez e vinte da manhã ao som do meu celular tocando, era a minha mãe preocupada porque eu não tinha chegado em casa ainda, e certamente eu a acalmei dizendo que estava tudo bem e que daqui a pouco estaria em casa. Depois que desliguei o celular, me levantei e o coloquei no bolso novamente, foi quando eu me dei conta de que horas eram.
"Caramba, dormi isso tudo?" pensei
Foi então eu ouvi a Helo vindo da cozinha.
- Bom dia! - falou ela
- Bom dia, Helo. - falei eu ainda um pouco sonolento
- Dormiu bem?
- Como uma pedra, literalmente... - respondi - e você?
- Posso dizer o mesmo que você. - disse ela rindo
E eu ri junto com ela.
- Acordou de que horas? - perguntei
- Por incrível que pareça, umas oito e pouca.
- Caramba... - falei - e os caras, já acordaram?
- Já acordaram e já foram, pegaram o ônibus bem cedinho.
- E o Júnior?
- Acordou de ressaca, certamente.
E começamos a rir juntos.
Ficamos um momento calados, até que eu disse:
- Bom Helo, obrigado pela hospitalidade, mas acho que é melhor eu ir, minha mãe já ligou me enchendo o saco.
- Mas não vai comer nada antes?
- Ta tudo bem, eu como em casa, não quero dar trabalho.
- Nem venha com essa, Brian, eu insisto e não aceito "não" como resposta.
Bom, eu realmente queria ficar um pouco mais lá de qualquer forma, então aceitei o convite sem hesitar.
Fizemos um sanduíche de mortadela pra nós dois, nos sentamos e começamos a conversar de coisas aleatórias (pra variar), e mesmo depois que terminamos de comer, a gente ainda ficou mais uns vinte minutos sentados na mesa falando besteira, foi quando me dei conta que já eram quase onze da manhã, já tinha passado da hora de ir pra casa.
Fui para a parada e a Helo me acompanhou, e lá ficou até meu ônibus passar, o que não demorou nem quinze minutos, e antes de eu subir nele a gente se abraçou fortemente, e a Helo falou pra mim:
- Obrigada pelo dia, obrigada pela ajuda com a casa e obrigada por tudo. - falou ela me dando três beijos na bochecha.
- De nada, Helo, obrigado você também por tudo, foi um ótimo dia. - falei retribuindo os beijos.
E quando o ônibus finalmente parou a gente se soltou e eu subi nele, quando o veículo deu partida eu ainda vi a Helo acenando para mim, e eu retribuí, e assim fui para casa finalmente, depois daquele belo dia. E me subia uma ótima sensação em pensar que dias como aqueles com a Helo ainda iriam se repetir muito a partir daquele momento.

Brian