segunda-feira, 13 de junho de 2016

Uma noite para não esquecer - Parte II - A parte interessante da noite

PARTE I
(...)
Naquele momento, ela apenas olhava seu celular sem prestar atenção no que acontecia ao redor, e eu ia na direção decidido no que ia fazer, mas claro, não podia ser diferente, aquele maldito frio na barriga subiu em mim.
Por momento, quase eu hesitava sobre tomar essa atitude, por mais "foda-se" que estivesse, o meu lado tímido ainda assim falava alto, e até demais. Mas mesmo esses meus velhos pensamentos não foram o suficiente para me fazer dar um passo atrás sobre a minha decisão.
E o pior é que não fazia a menor ideia do que falar quando chegasse nela, e eu estava com uma porra de uma rosa na mão, teria que usar um pouco a minha criatividade que normalmente falha nesses momentos, e ainda teria que pensar rápido, o que só piorava as coisas.
Então chegou a hora H...
- Pra você! - falei entregando a rosa
De início, Marina pareceu um pouco assustada, o que é normal, cheguei nela meio que "repentinamente". Certamente houve um estranhamento da parte dela no início, mas depois de observar bem a situação, ela gentilmente recebeu flor, sorriu e disse:
- Obrigada.
Após isso, veio o momento constrangedor onde eu simplesmente não sabia o que fazer, ou o que dizer, e como não podia deixar de acontecer, minha mão começou a tremer pra caramba e isso ficou MUITO evidente.
- Posso me sentar aqui contigo? - perguntei no impulso, ficando com a sensação de ter feito uma pergunta estúpida.
Ela riu e disse:
- Sim, fique a vontade.
Dessa vez posso dizer que definitivamente eu não estava mais no modo "foda-se", estava tremendo mais do que um porco prestes a ser abatido. No fim, as minhas velhas paranoias de sempre voltaram a me atormentar em questão de segundos, mais uma vez fiquei com esses malditos pensamentos de que provavelmente eu estarei incomodando e que o melhor a fazer seria me retirar.
Mas, o que aconteceu a seguir acabou aliviando um pouco da minha tensão.
- Tudo bem? - perguntou ela
"Bom, se ela perguntou isso primeiro, deve ser porque há um interesse dela de iniciar uma conversa" pensei.
- Sim, e contigo? - perguntei de volta
- Só um pouco entediada, mas estou bem. - respondeu ela
A gente sorriu um pro outro, mas depois ficamos alguns segundos calados, causando mais um daqueles momentos constrangedores onde nenhum dos dois sabiam o que dizer.
- Você é lá da faculdade, né? - perguntou ela
- Sim, sim! - confirmei
- Faz jornalismo, certo?
- Exato! - confirmei mais uma vez - e você também, né?
- Isso mesmo.
- Desconfiei, a gente está sempre nos mesmos locais.
Dei uma leve risada como resposta, uma risada que foi um pouco falsa, mas é uma coisa que faço quando normalmente não sei o que falar.
Aliás, se tem uma coisa que sempre fui ruim nessas horas é puxar assunto com as pessoas que não conheço, tanto que por isso que na grande maioria das vezes que ia para algum local sozinho eu não fazia nenhum amigo, mesma razão também pra o fato que nunca conseguia me envolver com uma garota nesses locais.
- Qual o seu nome? - perguntou ela após mais alguns segundos com os dois calados.
- Ah, prazer, Brian.
- Prazer, Marina. - eu já sabia, mas claro que não falei isso na hora.
Apertamos a mão um do outro, e depois a iniciativa da conversa finalmente veio de mim.
- O que está achando da festa? - perguntei
- Sinceramente? Chatinha, mas posso ta falando isso por não gostar muito desse tipo de ambiente.
Dei uma risadinha baixa, e disse:
- Te entendo, estou me sentindo da mesma forma... - e depois continuei - na verdade, nem estava muito afim de vim, mas meus amigos me encheram tanto o saco que acabaram me convencendo.
- Comigo foi quase a mesma coisa, e eu ainda tinha prometido a minhas amigas que um dia faria o programa delas, e aqui estou.
- Não valeu muito a pena pelo visto, né?
- Não mesmo. - falou ela rindo
Então ela deu uma suspirada e disse:
- Obrigada novamente pela flor.
- De nada. - falei um pouco sem graça.
- Mas, você se importa se eu te fizer uma pergunta bem direta?
- Manda!
Ela respirou fundo, e falou:
- Dada a temática da festa e a razão pela qual essas flores estão sendo distribuídas, isso há um significado a mais, certo?
Já que ela tinha sido tão direta assim, seria cara de pau da minha parte dizer que não, sendo assim, fiz para ela aquele olhar de confirmação, mas sem dizer nada e ficando completamente sem graça.
Marina apenas riu e ficou me encarando como se estivesse achando graça do quão nervoso fiquei após a pergunta.
- Relaxa, menino. - disse ela passando a mão dela sobre a minha
E juro que não é exagero meu, só aquilo foi o suficiente pra eu saber que devia seguir em frente e que provavelmente aquilo daria em algo. Então falei:
- Sim, é que te achei muito, muito bonita, e aí achei interessante vim aqui falar contigo e lhe entregar essa rosa. - minha mão estava tremendo mais que nunca.
Marina ria, mas ao mesmo tempo ficava vermelha, provavelmente ficou sem graça por conta do elogio que fiz.
- Obrigada! - disse ela
Apenas sorri, e depois disse:
- Ah, e outra coisa que me chamou atenção em você são as suas mechas azuis no cabelo, realçam bastante a sua beleza.
Marina não conseguia mais esconder que estava ficando sem graça.
- Muito gentil da sua parte dizer isso.
E assim sorrimos um para o outro e ficamos mais um momento calados.
- Mas enfim... - falei - já que estamos aqui, fale-me um pouco de você.
- Bom, por onde começar...?
Então ela começou a me falar um pouco de sua vida, algumas informações eu já sabia, como o fato dela ter nascido em São Paulo e dela ser uma "gamer" declarada, as novidades foram o fato dela gostar de pelo menos uma parcela das bandas que eu também gosto, dela ter dois gatos e um cachorro (pug), dela ser cinefíla e de seu maior sonho ser morar nos Estados Unidos.
Depois eu falei aqueles fatos que vocês já conhecem sobre mim, que gosto muito de rock, que tenho um gato chamado Riddle, que até certo tempo pratiquei kung fu, que tinha descendência canadense. e entre outros.
Dali pra frente, a conversa passou a fluir normalmente, a coisa realmente parecia que iria pra algum canto, e eu estava gostando muito daquilo. Papo vai, papo vem, até que chegou em momento que Marina olhou pra mim e disse:
- Vamos jogar um pouco? - falou apontando pra mesa de sinuca
- Claro! - falei
Com exceção de Rafael e Duda, os outros ainda se encontravam lá jogando, e pelo visto ainda estavam bastante enrolado com o jogo que estavam fazendo, nos aproximamos, pedimos para entrar no jogo e pegamos um taco cada um.
Naquele momento (sem Marina perceber, certamente), Lúcia me aquele olhar como se dissesse "Ta podendo, hein?", e eu apenas ri.
Enquanto jogávamos, percebi que Marina não tinha lá muito intimidade com o taco e sempre acabava se enrolando na hora de jogar, e claro, fiz questão de ajuda-la em relação a isso, a ensinando como se deve dar a tacada, e da mesma forma sempre procurei apoia-la em toda jogada que fazia, mesmo as mais merdas. E ela também fazia o mesmo quando eu ia fazer as minhas jogadas.
E admito, estava rolando um clima forte entra a gente, e os outros ao redor percebiam isso, tanto que aos poucos eles foram deixando a mesa para nos deixarem sozinhos. Quando percebemos isso, ainda jogamos por um tempinho, mas com o passar dos minutos aquele joguinho já estava ficando chato.
- Isso aqui já cansou, né? - falou Marina
- Também acho. - concordei
Após recolocamos os tacos em seus devidos lugares, perguntei:
- O que faremos agora?
Marina pensou por alguns segundos, e disse:
- Que tal a gente ir dançar?
- Mas eu não sei dançar.
- Ué, eu também não... - disse ela -  e essa é a graça.
Não sei porque, mas aquilo por incrível que pareça foi o suficiente para me convencer.
Então dessa forma descemos para a pista de dança, chegando lá embaixo, a primeira coisa que vi foi Lucas ainda com aquela garota, sendo que dessa vez os dois estavam bebendo e conversando no balcão.
"As coisas tão fluindo pra caralho ali." pensei.
Não muito depois avistei também Rafael e Duda dançando juntos, tendo pouco depois os dois se beijado também. A música tocava era mais um daqueles remixes de músicas pop que estavam na mídia atualmente, boa parte que eu nem sequer curtia direito, mas não reclamava porque se tem uma coisa que já estou acostumado é com o fato desses locais não tocarem o tipo de música que gosto.
Então começamos a tentar dançar no meio daquilo ali, se estávamos conseguindo, aí é outra história, porque realmente, nenhum de nós dois sabíamos dançar, mas a gente àquela altura não nos importávamos mais com isso, inclusive achávamos aquilo engraçado e nos divertíamos bastante por isso. Por mais ridículo que estivéssemos parecendo ali, a gente só fazia rir disso, a ponto que podia está todo mundo daquele local olhando estranho para nós, que não iríamos nos importar.
De início, estávamos dançando ainda separados um do outro, mas o tempo todos soltávamos "aquele olhar" um para o outro, e constantemente ríamos, e seu sorriso sempre a deixava mais linda do que o normal.
Até que chegou um momento que começaram a tocar uma daquelas músicas de forró que todo mundo costuma ouvir, e claro, foi o momento em que os casais começaram a dançar "agarrados". No início fiquei um pouco acanhado de chamar Marina para dançar dessa forma (pra variar), mas acabou nem sendo tão complicado assim, apenas olhei em seus olhos e segurei sua mão que ela já entendeu o recado.
Por incrível que pareça, por mais que não soubéssemos dançar, até que desenrolamos bem, foi menos ridículo do que imaginava. Mas isso já não importava mais pra gente, queríamos apenas curtir o momento.
E assim o clima entre nós dois foi esquentando, tanto que de vez em quando ela me puxava pra junto dela, dando inclusive a impressão que iria me beijar, na verdade, não sei se ela realmente pretendia fazer isso e hesitava, ou se estava provocando mesmo.
Mas de qualquer forma, via-se em seus olhos o seu interesse, tanto que aos poucos nos aproximávamos cada vez mais, tanto que chegou um momento que a música mudou mas a gente nem reparou, continuávamos ali dançando juntos.
O clima entre a gente já estava tão forte que chega era inevitável o que iria acontecer a seguir, e imagino que vocês sabem muito bem o que foi. Não demorou muito e finalmente nos beijamos, e dessa vez foi sem aquela enrolação em que eu ficava na maioria das vezes que vocês que acompanham minhas histórias conhecem muito bem.
Por dentro ri um pouco de mim mesmo e não acreditei que aquilo estava acontecendo, justamente pelo fato que o normal era eu ficar numa enrolação da porra em relação a ela por meses, e dessa vez não demorou nem 24 horas, certamente fiquei feliz, porque significava um avanço meu.
O nosso beijo foi daqueles bem demorado, a ponto de esquecermos todos ao nosso redor, e pior que provavelmente um fotógrafo da festa tirou uma foto da gente nesse meio tempo e nem nos dermos conta, não que isso importasse alguma coisa na hora, estávamos ocupados com algo bem melhor.
Depois de um longo tempo, finalmente nos soltamos um pouco e olhamos nos olhos um do outro, a sensação dela era a mesma que a minha, ainda não havia caído a ficha do que tinha acabado de acontecer, e com isso a gente riu um pouco da situação, e logo depois voltamos a nos beijar.
E após esse beijo terminar, continuamos dançando ali, pouco depois apareceram as amigas delas, Lúcia, Liam, Rafael e Duda pra se juntarem a gente (e Lucas ainda continuava com aquela garota). Provavelmente eles todos já sabiam do que tinha acontecido entre eu e Marina, aliás, com certeza pelo menos um deles viu, mas até aquele momento ninguém comentou, e também nem eu e nem ela demonstramos muito na hora, mas ainda assim a gente não parava de soltar olhares um para o outro.
Àquele ponto tinha conseguido sair do tédio total que eu estava lá para uma das noites mais memoráveis da minha vida, e a coisa ainda não tinha acabado por ali. Em um momento, decidimos todos dar uma pausa na dança e fomos nos sentar, nesse meio tempo, Marina e as amigas foram no banheiro, e eu fiquei ali com o resto do pessoal.
E claro, a primeira que Lúcia me perguntou foi:
- E aí? - me soltando aquele olhar de "safadinho"
- Eu vi vocês dois, hein? - falou Rafael
Eu ri, e disse:
- Então vocês sabem muito bem a resposta. - falei soltando um sorriso bobo.
Claro, na hora me pediram para contar todos os detalhes, e assim o fiz, quer dizer, não tudo porque um tempo depois Marina voltou do banheiro com as amigas e eu desconversei com eles dizendo que contava o resto depois.
Quando todos se reuniram novamente, entramos numa longa conversa sobre todos os assuntos possíveis, nisso também, descobrimos um pouco sobre as amigas de Marina, como por exemplos os seus nomes, que eram Laura e Daniela.
No meio disso, não sei se alguns deles repararam, eu e Marina ficamos de mãos dadas o tempo todo e algumas vezes com ela encostando a cabeça no meu ombro.
Já eram quase duas da manhã, e por incrível que parecesse, o pessoal já parecia um pouco cansados, até voltamos um para a pista, zoamos mais um pouquinho, mas o cansaço já era bem visível neles. Mas ainda assim eles ficaram por lá se divertindo até duas e meia da manhã, quando finalmente decidiram ir embora, foi nessa mesma hora que Lucas reapareceu entre nós cheio de marcas de chupões no pescoço, e claro, o zoamos um pouco por conta disso, e mesmo com a gente perguntando os detalhes daquilo e da garota em questão, ele apenas desconversou e disse que depois contava. Também notava-se um alto nível de etílico em sua fala.
Enquanto eles iam pagar tudo que consumiram (nem eu e nem Marina tínhamos consumido nada), Marina veio no meu ouvido e perguntou:
- Depois dele irem, queres ir no Marco Zero comigo?
Sem nem hesitar, falei:
- Claro!
Com isso, ela deu aquele belo sorriso para mim.
Após todos pagarem o que deviam, fomos para o lado de fora da pub e cada um esperou o seu transporte pra voltar pra casa. Lúcia, Liam, Rafael e Duda racharam um táxi, eles moravam praticamente juntos, Lucas esperou o pai dele vim pega-lo, enquanto Laura e Daniela esperaram o pai de Laura vim busca-las. Como Marina tinha vindo com elas, Laura perguntou se realmente não queria uma carona, mas Marina recusou e disse que de uma forma ou de outra pretendia voltar de táxi, as duas simplesmente aceitaram, mas com certeza já sabiam a real razão daquilo.
Após alguns minutos, finalmente sobrou apenas eu e Marina ali.
- Vamos? - perguntou ela
- Vamos!
Antes de tudo, compramos uma garrafa d'água cada um com um ambulante que estava ali, tínhamos bebido nada lá dentro e o preço com ele estava muito mais justos do que os de lá, e depois disso fomos em direção do Marco Zero.
As ruas estavam um pouco vazias, certamente andamos com cuidado por ali sempre olhando se não havia ninguém suspeito, mas felizmente havia um bom número de policiais na área, afinal, ainda tinha bastantes estabelecimentos abertos por ali.
A movimentação no Marco Zero até que estava boa apesar do horário, claro que não tinha gente pra cacete, mas tinha pelo menos um bom número, boa parte era composto por grupo de amigos e principalmente casais que procuravam um momento a sós.
Felizmente, havia um policiamento por ali e também bastante táxis, aliás, os bares dali ainda estavam abertos e a todo vapor.
Nos sentamos em um banco por ali e de início não falamos nada, eu como sempre tinha problemas para começar a puxar um assunto. Nesse meio tempo, Marina segurou mais uma vez em minha mão e encostou a cabeça em meu ombro.
Por um tempinho ficamos calados, apenas curtindo o momento e observando a paisagem que o Marco Zero nos proporcionava. Até que Marina falou:
- Hoje foi divertido, né?
- Sim, com certeza! - concordei
Nessa mesmo tempo, um vento frio mais forte soprou, e com isso Marina me abraçou fortemente, e eu, certamente, retribui.
- Sabe que estou achando isso tudo até engraçado? - disse ela
Dei um sorriso bobo e disse:
- Eu também estou, acredite.
- É, que... Cara... - falava ela - nunca fiquei com alguém dessa forma que a gente ficou com ninguém.
- Está aí mais uma coisa em comum então.
Rimos um pouco, e depois eu disse:
- E olha que normalmente quando esse tipo de coisa acontece, um dos envolvidos, ou os dois, estão bêbados, e a gente está puramente sóbrio.
Ela simplesmente apertou mais o abraço, riu novamente e me deu um beijo no rosto.
Após mais um momento calados, falei:
- Me responder uma coisa...
- Diga.
- O que te chamou a atenção em mim para chegarmos nesse ponto?
Marina se surpreendeu um pouco com a pergunta, e disse:
- Porque perguntas isso?
- É que... sei lá... a ficha não caiu ainda, tipo, lá na faculdade quando a gente se cruzava nunca pareceu que você reparava em mim sabe? - falei - e de início achei que seria a mesma coisa hoje.
Ela riu um pouco, e disse:
- E você reparava em mim?
- Tinha como não reparar? Linda do jeito que você é?
Ela riu novamente, e falou:
- Bom, vou ser sincera, realmente não reparava muito em você na faculdade, mas juro que não é por "não ir com a sua cara" e nem nada do tipo, é só que eu sou muito na minha, sabe? - explicou ela - e normalmente não reparo bem nas pessoas com quem não convivo muito.
- Entendo, mas isso ainda não responde a minha pergunta.
Marina deu uma suspirada, e disse:
- O que me chamou a atenção em você o como chegaste em mim, sei lá, achei muito fofo e nenhum garoto nunca veio falar comigo daquela forma, normalmente sempre chegam falando besteira ou soltando aquelas cantadas podres, sabe?
Eu apenas a ouvia atentamente.
- E você já é bonito a princípio, caso queira saber, e com o jeito que você chegou pra falar comigo foi o diferencial... - ela deu uma rápida pausa e continuou - e vi que independente se rolasse algo entre a gente ou não você poderia melhorar a minha noite de alguma forma, que estava bem chata diga-se de passagem, então resolvi dar uma chance.
Quando ela terminou de explicar, eu não falei mais nada, apenas viramos o rosto um para o outro e nos beijamos mais uma vez.
E assim aproveitamos a companhia um do outro no Marco Zero, não apenas se beijando, mas também se conhecendo um pouco mais. E ficamos nisso até mais ou menos umas três e pouca da manhã, quando a movimentação no local diminuiu mais e decidimos que era hora de ir.
Com isso, acompanhei-la até o táxi que estava logo ali, antes dela entra, ela se virou pra mim e disse:
- Obrigada por essa noite.
- Eu que agradeço. - falei sorrindo.
Demos um último beijo, e depois eu disse:
- Vamos sair novamente algum dia?
- Com certeza, é só chamar.
Claro, a gente tinha trocado contatos antes disso.
Demos um último selinho, e assim ela entrou no táxi.
- Avisa quando chegar em casa.
- Está bem!
Nos despedimos e o táxi deu partida.
Após isso, peguei o outro táxi que estava por ali e também segui meu caminho para casa, e claro, praticamente não dormi naquela noite só pensando naquilo tudo.


Brian

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Uma noite para não esquecer - Parte I - O chato começo

Acreditem se quiser, mesmo depois de já ter tido de experiência que provava que isso não é minha praia, meus amigos me convenceram mais uma vez para ir em mais uma dessas festas de pub's da vida.
Por que aceitei? Não sei ao certo, provavelmente porque eles torraram meu saco pra isso, ou então, porque eu não tinha mais nada de melhor pra fazer no dia. Mas também podia ser que eu quisesse simplesmente esquecer um pouco os problemas e tentar me divertir um pouco, apesar que dificilmente me divertia nesses ambientes, de qualquer forma, estava disposto para tentar de novo.
A festa em questão tinha uma temática, como ela aconteceria no sábado anterior ao dia dos namorados, certamente a temática seria essa. Mas sério, na moral mesmo, isso para mim não influenciou em nada, e sinceramente, não estava indo nesse evento com o intuito de "pegar" alguma mina, juro que essa era uma das minhas últimas motivações para ir (que não eram tantas assim, pra falar a verdade), principalmente depois das últimas dores de cabeça que tive relacionados ao assunto que relatei aqui em histórias anteriores, então, o que mais queria é um pouco de distância desse assunto.
Mas enfim, o local em questão era uma daquelas pub's que tinha no centro da cidade, iam comigo Lúcia, Liam (namorado de Lúcia), Rafael, Duda (namorada de Rafael) e Lucas. A festa começaria lá por dez da noite, ou seja, ainda teria muito tempo para perder naquele sábado, tanto que por isso nós nos reunimos na casa de Lúcia naquela tarde para aproveitar um pouco o tempo juntos, afinal, aquela também era a nossa primeira semana de férias.
Durante aquela tarde toda, jogamos conversa fora, jogamos alguns jogos, alguns beberam umas latas de cerveja (eu não) e pedimos duas pizzas para todos, isso até mais ou menos cinco da tarde, após isso, alguns ainda foram se arrumar para apenas de quinze para as sete a gente ir para a parada de ônibus em direção da pub.
Chegamos por lá umas oito e meia, o caminho era longo e o trânsito também não ajudou muito, mas de qualquer forma, ainda era cedo por conta do horário que o evento começaria, mas de qualquer forma, eu e Lucas ainda tínhamos que comprar nossas entradas, podíamos ter comprado mais barato antecipadamente, mas acabamos decidindo ir apenas de última hora.
De qualquer forma, ainda tivemos que esperar um pouco, porque a bilheteria era dentro do local e só seria aberta no mesmo horário de abertura da casa, então, com isso fomos dar umas voltas pelas ruas do centro, que estavam bem movimentadas (claro, era um sábado a noite).
Quando deu próximo de nove e meia da noite, a gente voltou para a frente do local para aguardar a abertura dos portões. Chegando lá, já víamos uma fila ainda pequena começando a ser formada, e assim nos juntamos a ela.
Enquanto isso, continuamos jogando conversa fora, eu ouvia meus amigos atentamente até um certo momento quando reparei na chegada de uma pessoa que mudaria o rumo daquela minha noite, e vocês entenderão o porquê.
Lembram da tal garota com as mechas azuis que falei algumas histórias atrás? A Marina? Pois bem, ela tinha acabado de descer de um carro que parou na frente do local, e estava acompanhada por duas amigas.
Claro, Lúcia também tinha reparado na presença dela, e na mesma hora começou a olhar como se estivesse dizendo "olho só quem está aqui", mas sem falar nada.
Quando Marina passou por mim, apenas agi normalmente, afinal, não havia razão pra eu ficar nervoso, a gente nunca nem sequer conversou direito, mas de uma forma ou de outra a beleza dela me encantava.
Depois disso, voltei a jogar conversa fora com o pessoal, até que quando finalmente deu dez da noite, os portões finalmente foram abertos, Lúcia, Liam, Rafael e Duda logo entraram por já terem os seus ingressos em mão, enquanto eu e Lucas fomos comprar os nossos.
Quando finalmente entramos, nos juntamos aos outro e circulamos um pouco pelo local. Eu e Lucas já tínhamos ido lá em uma ocasião anterior, mas para o resto era a primeira vez dele lá, então, tudo aquilo era uma novidade.
Depois, paramos no balcão e começamos a olhar as opções de bebidas que havia, quer dizer, eles olharam, porque só os preços das coisas lá me assustavam bastante, uma garrafa d'água custava cinco reais, e se antes já não pretendia beber nada que contivesse álcool, ver os valores foi só mais um incentivo pra isso, uma dose de vodka por exemplo, custava sete reais.
"Ainda bem que já tomei duas garrafas d'água lá fora" pensei. Garrafas essas que me custaram dois reais.
Enquanto o pessoal bebia e conversava um pouco, aproveitei para observar a movimentação. Aos poucos, o fluxo de pessoas ia aumentando, afinal a festa só estava começando e provavelmente muitos ainda iam chegar mais tarde. E como vocês podem imaginar, meus olhos procuravam por uma pessoa em específico, e vocês imaginam bem quem seja.
Após alguns segundos procurando, avistei Marina subindo pro andar de cima (onde me encontrava naquele momento), ela e as amigas pareciam também estar explorando o local pela primeira vez. Houve um momento em que elas passaram por mim, mas nessa hora me fiz de desentendido para não deixar tão na cara de que estava observando elas.
Nessa hora, Lúcia e Lucas perceberam o que eu estava fazendo, e mais uma vez me deram aquele olhar de "sei bem pra quem você está olhando, hein?" e eu apenas me fiz de desentendido sem falar mais nada.
Depois disso, finalmente descemos para a pista de dança onde eles foram descer, e eu, tentei fazer o mesmo, mas até agora não identifiquei o que caralhos fiz lá embaixo, mas "dançar" com certeza não era.
Durante isso, no meio da pista avistei mais uma vez Marina e suas amigas dançando por ali, quer dizer, as duas meninas que estavam com ela pareciam estar se divertindo bastante, mas ela em si parecia um pouco acanhada e tentava apenas fazer alguns movimentos que lembrassem uma dança. Uma de suas amigas percebeu isso e meio que começou a tentar ensina-la a dançar melhor, no meio disso ela provavelmente achou aquilo engraçado e começou a sorrir, e cá entre nós, o sorriso dela é simplesmente lindo.
Enquanto estava devaneando por conta de Marina, Lucas me chamou a atenção:
- Brian? - falou ele gritando (o som estava muito alto, certamente)
- Oi? - falei
- Tas olhando o que? - perguntou ele
Pensei até em dizer a verdade, mas desisti e respondi:
- Nada não!
Ele não questionou.
- Olha, tem aquela tinta que brilha ali, a gente vai pintar o rosto com ela, quer também?
Então respondi:
- Eu acompanho vocês, mas não quero passar esse treco na cara não.
- Ok então.
Nessa hora eu pensei, "porra, pareci um velho resmungão falando agora".
Todos eles pintaram a cara com aquela tinta, e eu fui o único chato do grupo que não quis fazer aquilo, mas realmente não estava me importando com aquilo no momento. Depois de todos eles estarem com a cara pintada, voltamos para a pista de dança, e no caminho passei mais uma vez por Marina, sendo que dessa vez com um diferencial, nossos olhares se cruzaram.
No meio da pista, além de tentarmos dançar novamente, Lúcia ficou tirando inúmeras selfies nossas, isso sem falar dos fotógrafos da festa que de vez em quando tiravam fotos nossas também.
Como já tinha dito mais atrás, a temática da festa era do dia dos namorados, e por isso vez ou outra eram distribuídas algumas rosas entre o pessoal, isso servindo de incentivo para alguns chegarem em alguma garota ou garoto. E antes que me perguntem, não, não peguei nenhuma, porque como já tinha dito anteriormente, eu não estava afim de me envolver com nenhuma garota naquela noite (e a partir disso comecei a me perguntar o que raios tinha ido fazer ali).
Rafael e Liam aproveitaram e pegaram uma rosa para as suas respectivas namoradas, e Lucas também pegou uma e deu pra uma garota que tinha meio que puxado ele pra dançar. Em resumo, todos naqueles momento tinham um casal, menos eu, mas juro pra vocês que não estava me importando nem um pouco com aquilo.
Vendo que estava sobrando ali, fui simplesmente me encostar no balcão enquanto eles se divertiam, até pensei em pedir algo pra beber, sendo que mais uma vez a minha pirangagem falou mais alto. Durante isso fiquei apenas vendo a movimentação e pensando comigo mesmo as razões que me fizeram ir pra aquela festa, e ainda assim não encontrava uma boa.
"Porra, eu podia ta em casa dormindo, vendo série, jogando, vendo filme, ou sei lá", e ainda tinha pago 60 reais só pra está ali, definitivamente, tudo indicava que eu tinha entrado num programa de índio.
"To ficando velho e chato, na moral" pensei comigo mesmo rindo disso.
De uma forma ou de outra, se o plano era ter ido lá pra me divertir, ele estava dando miseravelmente errado.
Um tempo depois, o pessoal veio em minha direção (com exceção de Lucas que estava bem ocupado nessa hora, se é que vocês me entendem).
- Você está aí... - falou Lúcia - você sumiu de repente.
- É que vocês todos estavam ocupados e eu não estava fazendo nada ali no meio, então vim me encostar um pouco. - respondi
- Aliás, cadê Lucas? - perguntou Rafael
Apontei o dedo para a pista, e todos viram ele ainda dançando com a tal garota, e ao que parecia estava rolando um clima entre os dois.
- Quem é aquela? - perguntou Lúcia
- Não faço a menor ideia. - respondi
Ninguém falou mais nada depois, principalmente porque estava tudo tão claro quanto o raiar do sol.
- Vamos subir, pessoal? - perguntou Lúcia
- Bora! - responderam todos
- Vamos deixar Lucas se resolver aí com a "boyzinha" dele. - completou ela rindo
Enquanto andávamos, dei uma leve olhada para trás pra ver se encontrava aquela pessoa de novo, mas dessa vez foi sem sucesso.
Quando subimos, a primeira coisa que o pessoal fez foi comprar mais bebida (certamente), e eu, pra variar, só observei. Após isso, Rafael sugeriu que sentássemos um pouco, e assim a gente fez.
Mesmo enquanto conversávamos, eu ainda parecia um pouco "avoado", olhava constantemente para os lados meio que na esperança que aquela pessoa passasse, e foi assim que parei e pensei.
"Caralho, bicho, vocês dois nunca se falaram direito, fica de boa."
Os outros pareciam não reparar, mas Lúcia percebia claramente a minha inquietação.
- Brian? - chamou ela
- Oi! - respondi
- Tá tudo bem?
- Sim, porque não estaria? - percebia-se na minha voz que eu estava mentindo.
- To achando você tão quieto.
- Ah, não é nada demais, só não tenho o que falar mesmo.
- Sei... - falou ela me soltando aquele olhar mais uma vez.
Com isso, voltei minhas atenções de volta para o pessoal, tentava interagir mais, mas não conseguia. Tipo, sério, eu não estava me divertindo nem um pouco ali.
Enquanto isso, Lucas ainda estava lá embaixo com aquela garota. "A coisa deve ta boa" pensei.
Nesse meio tempo, avistamos a mesa de sinuca que tinha ali vazia, então decidimos ir lá jogar. Pra mim poderia ser até bom, já que seria algo para que eu pudesse me divertir um pouco naquele ambiente que não me agradava nem um pouco.
Mas no fim, parecia que nem aquilo estava me entretendo, dava umas tacadas ou outras na maior má vontade possível, até que chegou o momento em que simplesmente deixei o taco de lado e me sentei no sofá que tinha perto da mesa.
De início todos estranharam eu ter desistido de jogar tão repentinamente, mas depois deixaram para lá e continuaram, apesar que percebia já que Lúcia estava inquieta por conta de mim, ela sabia que algo estava errado comigo, mas de qualquer forma, ela voltou sua atenção pro jogo.
Nesse instante reparei que eu era o único desanimado no recinto, normalmente nessa hora começaria a me preocupar com o que os outros ao meu redor estaria pensando de mim nesse momento, mas meu estado de espírito estava tão escroto que realmente não estava me importando com isso, o que é uma coisa boa, dada a ocasião.
Minha mente só se focava nisso, até que adivinha quem apareceu? Exato, Marina!
Ela e as amigas subiram e ficaram perto do balcão, certamente iriam comprar algo para beber. Percebi enquanto isso, que as duas meninas que estavam com Marina também tinham colocado aquela tinta na cara, mas ela pelo visto também não quis, era a única com a cara limpa.
Pelo seu olhar, Marina também parecia um pouco deslocada das outras, como se ela não quisesse estar realmente ali, ou seja, parecia passar pela mesma situação que eu estava passando. Enquanto observava o que ela e sua amigas faziam, meio que percebi Lúcia olhando para mim como se estivesse percebendo o que eu estava fazendo, e com certeza ela já tinha sacado para quem eu olhava, mas de início não se envolveu e continuou jogando.
Pouco depois, percebi que Marina e suas amigas estavam olhando na direção da mesa de sinuca, quando reparei, tentei disfarçar o fato que estava olhando para elas no mesmo instante e comecei a agir como se estivesse fazendo outra coisa. Ao que parecia, elas estavam afim de jogar, ou seja, provavelmente viriam se juntar a nós.
E foi o que de fato acontecei, elas vieram para mesa e falaram alguma coisa com Rafael e Duda, provavelmente pedindo para jogarem também, Marina e Lúcia também aproveitaram a oportunidade para se cumprimentarem (elas se conheciam, mas não era tão amigas assim). Mas, ao que parecia, Marina não estava muito lá interessada em jogar e apenas se sentou no sofá que tinha no lado em que ela estava. Nesse mesmo instante Lúcia tinha desistido de jogar, entregou o seu taco para uma das garotas e veio sentar do meu lado.
- E aí, Brian? - perguntou ela após se acomodar.
- E aí? - falei sem saber o que responder.
- O que está achando da festa?
Respirei fundo, e disse:
- Quer que eu seja sincero?
- Sim! - respondeu Lúcia
- To aqui com uma animação equivalente a de um urso hibernando.
Ela riu com a comparação que fiz, e perguntou:
- Tá tão ruim assim?
- Eu não diria que tá ruim, eu que não tô no clima... - falei - aliás, sinceramente não sei o que vim fazer aqui.
- Não fale assim, pelo menos você ta com a gente.
Fiz uma cara de aceitação para essa resposta dela. Depois de alguns segundos calados olhando para o chão, Lúcia falou:
- De qualquer forma, você podia aproveitar que está aqui e arrumar uma "boyzinha" pra você, Lucas mesmo tá ai se divertindo com uma.
- Talvez... - falei - vou parecer um velho chato falando agora, mas é que depois dos últimos acontecimentos da minha vida, nem estou tão interessado em procurar uma garota para me envolver seja la de que forma, tanto que se não conseguir ninguém hoje para mim nem fará diferença.
- Não é isso que tenho observado em você.
- Como assim?
- Vai, não fica me enrolando, já percebi que desde que chegamos aqui você tem estado de olho em uma pessoa, e você sabe muito bem de quem estou falando. - disse ela direcionando o olhar para Marina, que estava sentada logo ali.
- Nessa você me pegou. - seria cara de pau da minha parte negar o óbvio.
- Sabia!
Realmente, tinha horas que as coisas que sentia ficavam estampadas na minha testa para todos verem.
- Agora... - continuou ela - você não vai lá falar com ela por que...?
Antes de eu falar qualquer coisa, ela disse:
- E não me venha com essa de que é porque vocês nunca conversaram direito, a gente tá numa festa, não tem ocasião melhor pra você tomar uma iniciativa pra isso.
Por incrível que pareça, dessa vez eu não rebati com nenhuma desculpa esfarrapada.
- É, você está certa. - falei
- Nossa, você dizendo isso? - falou Lúcia surpresa - não esperava por essa.
Eu ri, e disse:
- Nem eu, sinceramente... - depois continuei - deve ser porque nesse momento estou no meu modo "foda-se".
- Isso é bom?
- Em partes, sim... - falei - tipo, se essa minha investida der errado eu nem sequer vou me importar.
- Que bom, eu acho.
A gente riu por alguns segundos, até Lúcia falar:
- Uma dica, aproveita essas rosas que estão distribuindo e entrega uma pra ela, já te dará alguns pontos, aliás... - ela pegou uma das rosas que estava no amontoado de coisas do pessoal que estava no sofá, e continuou - eu tinha pego essa pra Liam, mas como ele já me entregou uma, então usa ela pra chegar em Marina.
Eu realmente estava com o "foda-se" ligado, porque naquele momento nem sequer coagitei em recuar. "Esse realmente sou eu?" pensei.
- Ok então!
- É assim que se fala... - disse Lúcia - agora vai lá e boa sorte.
- Valeu! - falei me levantando e indo em direção a Marina.
Acho que podemos dizer que esse foi um dia histórico na minha vida, porque finalmente tinha tomado a atitude de chegar numa menina sem ficar com muita frescura ou desculpa esfarrapada para não fazer isso, mas de qualquer forma, ficava aquele frio na barriga por conta da expectativa que se realmente daria em algo.
E assim fui na fé...



(Continua... )

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Consequências de uma noite daquelas

Tudo começa em um domingo em que simplesmente acordei na casa de Thiago, com uma puta dor de cabeça e me lembrando de basicamente nada que tinha acontecido na noite anterior, e pelo que lembrava da casa dele, eu estava especificamente no quarto e ao que parecia ele tinha me deixado lá e foi dormir em algum outro cômodo da casa.
Após me dar conta de onde estava, me sentei um pouco na cama e tentei pensar um pouco, na tentativa de lembrar de como eu tinha parado lá, tentei buscar esse memória em minha mente, mas apenas o que vinha era uma dor de cabeça dos infernos.
E foi durante isso que acabei reparando que eu ainda vestia uma camisa polo e uma calça jeans (sim, eu estava em uma festa na noite anterior), e certamente, estava suado pra caramba por causa do calor, nem o ventilador de teto adiantava de alguma coisa nessas horas. E o mais engraçado de tudo é que havia um balde vazio ao lado da cama.
Antes de tentar mais qualquer coisa, procurei minhas coisas no bolso. Me assustei de início por elas não estarem lá.
"Puta que pariu, não é possível que perdi tudo." pensei.
Mas fiquei aliviado momentos depois ao vê-las em cima da escrivaninha de Thiago, com isso, fui até ela para conferir se estava tudo realmente ali, o que felizmente estava, minhas chaves, meu celular, meus documentos, minha carteira, todos se encontravam ali.
Aproveitei para olhar meu celular, antes de tudo, olhei as horas e tive um choque ao ver que já eram quase meio-dia, e me surpreendi também com o fato que não havia nenhuma ligação perdida ou mensagem da minha mãe, na hora não parei muito para pensar o porquê disso.
Depois disso tudo, finalmente decidi sair um pouco do quarto. Quando abri a porta, a primeira "pessoa" que veio me dá "bom dia" foi Isaac, o Cocker Spainel de Thiago, e assim lhe retribui com um carinho na orelha que ele adorava.
- Agora você pode me indicar aonde seu dono está? - perguntei para o cachorro.
E ao que parecia ele tinha me entendido, tendo assim me acompanhado escada abaixo até a sala, que era onde Thiago se encontrava assistindo algum seriado na televisão em volume alto (e bota alto nisso, e por conta disso minha cabeça doeu ainda mais).
- Bom dia, cara. - disse ele
- Você quis dizer "tarde", não?
- Ah, sim... - disse ele após olhar o relógio - boa tarde.
- Boa tarde... - falei ainda com a cabeça doendo - quer dizer, não tão boa assim, eu acho.
- Quer que eu abaixe aqui? 
- Agradeceria bastante.
E assim ele fez, enquanto Isaac se deitava no lado dele no sofá.
- Como você tá? - perguntou Thiago
- Cansado, com dor de cabeça e confuso pra cacete. - falei me sentando na poltrona do lado.
- Queres algo? Uma água, algo pra comer?
- Também agradeceria muito.
E assim Thiago foi buscar, me deixando ali com o Isaac que naquele momento mais se preocupava em lamber o sofá, enquanto isso, mais uma vez, tentei buscar em minhas memórias os acontecimentos da noite anterior, mas só consegui lembrar o básico, que no caso era uma festa no prédio de Joey (que ele fez em comemoração do seu aniversário), lembro que eu estava meio pra baixo por alguma razão que não conseguia lembrar. Lembro também que houve um momento que o pessoal resolveu fazer uma daquelas brincadeiras que envolvia bebida, e que por incrível que pareça resolvi participar também.
Até que Thiago tinha chegado com um sanduíche de mortadela e um copo d'água para mim.
- Aqui está, Brian.
- Muito obrigado! - falei tomando um gole da água e dando uma mordida no pão.
Enquanto me deliciava com aquele "café da manhã", perguntei pra Thiago.
- Seus pais não estão em casa não?
- Foram pedalar, eles fazem isso todo domingo.
E enquanto ele falava isso, Isaac tinha feito uma tentativa frustrada de roubar o meu sanduíche.
- Não Isaac, isso não é pra você... - esbravejou Thiago - sua comida ta lá no quintal.
Com isso, Isaac se afastou um pouco frustrado e se deitou ao pé do sofá.
- Thiago... - chamei
- Diga!
- Cara, me diga com todos os detalhes e sem esconder nada... - suspirei e continuei - o que aconteceu ontem?
- Até onde você lembra exatamente?
- Bom, eu estava com o pessoal jogando aquela brincadeira da roleta que envolve bebida... - (não lembrava o nome exato daquilo) - e a última coisa que lembro que fiz em sã consciência foi ter falado "hoje vou tomar o primeiro porre da minha vida".
- Que foi exatamente o que aconteceu. - disse Thiago.
- Eu imaginei!
E minha cabeça ainda doía.
- Mas depois disso, lembro de mais nada.
Thiago me fez uma cara não muito legal nessa hora.
- Que foi? - perguntei
- Eu estava do lado na hora que você disse isso, aliás, nesse momento eu estava tentando te controlar porque você estava um pouco alterado.
- Alterado como?
- Falando besteira e gritando pra caramba.
- Mas eu já não faço isso normalmente? - falei rindo
- Mas dessa vez estava pior.
- Sim, mas depois disso, o que mais aconteceu? Refresque minha memória.
- Bom, o que vem depois disso chega a ser ridículo.
- Fale assim mesmo, não esconda nada.
Thiago respirou fundo, e continuou...
- Primeiramente, após isso vocês resolveram brincar de "verdade ou consequência", isso estando você e boa parte daquele pessoal bem alterado.
- Eita, lá vem merda... - falei
- Sim, sim, porque você sabe, a junção de pessoas bicadas com essa brincadeira normalmente não é agradável.
- Sei bem...
Então Thiago continuou:
- Bom, uma das coisas que mandaram você fazer, por exemplo, foi dançar sensualmente e sem camisa de frente para a rua.
- É o que?
- Isso mesmo, inclusive o pessoal gravou.
- Tem o vídeo aí?
Sem nem falar nada, ele tirou o celular do bolso e me mostrou aquela coisa ridícula.
- Puta que pariu... - falei jogando as mãos no rosto e me lamentando.
- Calma que não acabou aí.
- Não esperava que estivesse.
E assim ele continuou:
- Vai piorar um pouco, outra consequência que mandaram você fazer foi lamber um cara da barriga até o pescoço.
E mais uma vez, aquela sensação de querer me jogar de um prédio de 20 andares voltou.
- Não me diga que registraram isso também. - falei
Mas antes mesmo de eu completar a frase, Thiago já estava me mostrando a foto que tinham tirado.
- Caralho, o pessoal é filho da puta mesmo.  - fale indignado
- Se você for ver as fotos não só suas, mas de todo mundo que mandaram aqui... meu Deus, é cada pérola.
- Mas, continue.
- Bom, esse ninguém registrou, mas também te mandaram morder a orelha de Joey.
- Porra, velho! - falei limpando a língua (como se fosse adiantar de algo).
Tomei um gole d'água e perguntei:
- Tem mais algo?
- Sim, sendo que não mais no "verdade ou consequência".
- Manda! - falei já me preparando pra ter vontade de me matar de novo.
- Depois que vocês ficaram de saco cheio da brincadeira, ligaram a música e boa parte de vocês foram dançar.
- Eu fui junto?
- Sim!
- Já to vendo a merda... - falei
- Digamos que nunca na minha vida te vi dançando daquela forma.
- Que forma? - falei levando aos mãos no rosto
- Rebolando até o chão.
Eu já estava sem reação naquela altura do campeonato.
- E ainda tem mais... - continuou Thiago.
- O quê?
- Você ficou dando em cima das meninas na festa descaradamente, e falando coisas um tanto que tensas.
Dei um suspiro, e perguntei:
- Tipo o que?
- Tipo, você perguntou para algumas se para elas o fato de você ser virgem seria empecilho e comentou com outras sobre o tamanho do seu pênis.
- Sério, velho? Puta que pariu!
- Sério, nunca imaginei que um dia eu ia ver você falando esse tipo de coisa para uma garota, seja ela quem fosse.
- Só por curiosidade, não fiquei com ninguém não, né?
- Não!
- Não sei dizer se isso uma coisa boa ou ruim, mas enfim, continue.
Thiago suspirou, e disse:
- Agora vem a pior parte.
- Tem coisa que eu fiz que é pior que isso tudo?
- Sim, e você vai entender o porquê.
Tinha muito medo do que ele iria falar:
- Uma das razões de você não ter ficado com ninguém... - falou ele - foi porque sempre uma hora ou outra você começava a choramingar por conta de Simone.
- Estava demorando para uma informação do tipo aparecer.
- E claro... - continuou - você ficou mais carente do que o normal.
- Não me surpreendo nem um pouco.
- Até aí tudo bem, porque uma parte do pessoal pra quem você estava falando essas merdas todas também estava bêbado e estavam nem ligando pro que você estava dizendo.
- Do jeito que você está falando, to sentindo que a coisa vai piorar.
- E acertou... - confirmou ele
- O que eu fiz depois disso?
Thiago suspirou e disse:
- Ligou para Simone.
Quase me joguei da poltrona depois disso.
- E foi de que horas isso? - perguntei
- Três e pouca da manhã.
- Putz, ela deve ter ficado muito puta.
- E imagino que tenha ficado, porque vocês discutiram feio.
- O que eu disse?
- Disse que a amava, que sentia muita falta dela, pediu para que ela te desse uma chance pra você fazê-la feliz.
Nesse ponto, a coisa tinha chegado num nível que eu acabei rindo de mim mesmo de tão patético que a situação foi.
- Ela definitivamente ficou puta. - falei
- Pela forma que você discutiu com ela no celular, tenho nem dúvidas.
- Dou razão pra ela, afinal, quem não ficaria puto com um bêbado carente te ligando de outro estado as três da manhã?
- Sim, mas chegou num ponto em que você a mandou ir se foder e disse que conseguia muito bem viver sem ela.
Com essa, quase me engasgava com o sanduíche.
- Como é que é?
- Exatamente isso que você ouviu...
- Puta merda, ela não deve tá querendo me ver nem pintado de ouro.
- Não duvido.
Depois, terminei finalmente de comer meu sanduíche e finalizei meu copo d'água.
- E o que aconteceu depois disso? - perguntei
- Bom, depois que você desligou, você e Joey ficaram conversando sobre a situação, e juro pra tu, você chegou a chorar.
- Não duvido.
- E depois quando você se acalmou mais, Joey te chamou para se sentar com um pessoal para conversar, sendo que no meio disso, você acabou dormindo.
- E deixa eu adivinhar, nada me acordava, certo?
- Oxi, podíamos sambar em cima de você que não faria diferença nenhuma.
Naquele momento, minha dor de cabeça piorou.
- E como foi pra me trazer até aqui?
- Eu e Joey te carregamos desacordados até meu carro, na movimentação você deu uma acordada, mas ainda alterado, e quando chegamos aqui você vomitou pra caramba.
- Putz velho...
- Depois de você ter vomitado tuas tripas na privada, tomasse uma ducha e depois fosse dormir, mas claro, antes eu deixei um balde ao lado da cama caso fosse necessário.
- Que pelo que vi, felizmente, não foi.
Ficamos um momento em silêncio, até que falei:
- Acabou finalmente?
- Sim!
E depois de um tempo refletindo sobre essas merdas todas, falei:
- Putz velho, que merda, na moral.
- Calma, cara, acontece com qualquer um.
Eu respirei fundo, e disse:
- Desculpa aí ter te dado esse trabalho todo.
- Relaxa cara, amigos são pra essas coisas.
- É que, porra, 21 anos na cara e dou um vacilo desses.
- Tem gente que é mais velha que tu e faz pior do que você, fica peixe, velho.
Respirei fundo, e continuei:
- Enfim, obrigado mesmo por tudo.
- Não tem o que agradecer, sei que você faria o mesmo por mim.
Após isso não falei mais nada, apenas apertei a mão dele e lhe dei um abraço de amigo.
- Bom, já te dei trabalho demais, hora de eu ir pra casa.
Mas Thiago retrucou:
- Pera aí, cara, já é hora do almoço, almoça por aqui que depois eu te levo em casa.
- Relaxa, bicho, precisa não, já te dei trabalho demais.
- Não vai ser trabalho nenhum, te garanto.
Mas ainda assim insisti:
- Sério cara, isso sem falar que minha mãe já deve estar preocupada.
- Isso também não vai ser problema, porque você acha que ela não veio encher teu saco até agora? Eu mesmo liguei pra ela explicando a situação.
Ainda pensei em refutar, mas desisti.
- Ok então.
Afinal, provavelmente minha mãe estava muito puta comigo por conta disso, e ficar lá por mais um tempo adiaria um pouco a bronca que eu iria tomar ao chegar em casa.
Enquanto Thiago preparava o almoço, aproveitei para mandar um pedido de desculpa para todos aqueles quem eu possivelmente incomodei na festa, começando por Joey, claro. Mas essa parte era mais de boas, afinal, muitos deles já estiveram no meu lugar (principalmente Joey), o mais difícil de tudo seria me desculpar com Simone, porque a situação com ela foi a pior de todas.
Mas mesmo assim eu arrisquei, e diferente dos outros em que mandei mensagens ou para os celulares ou para as redes sociais, com ela decidi ligar.
Após três tentativas em que ela não atendeu (não se porque não quis ou porque realmente não podia), na quarta decidi deixar uma mensagem de voz.
- Simone? - comecei após o sinal - é Brian aqui...
Parei pra pensar um pouco, e continuei:
- Veja, não sei se o que vou falar vai fazer alguma diferença pra você, aliás, não sei nem se você vai se dar o trabalho de ouvir essa mensagem, mas... - dei um suspiro e continuei - me desculpa pelas merdas que falei ontem a noite, eu estava completamente fora de mim, e se você não quiser mais olhar na minha cara vou compreender, mas de qualquer forma, só quero dizer que se você quiser, estou disposto a conversar com você sobre isso tudo, ok? - parei por mais uns segundos, e falei - beijos, espero que você esteja bem. - e assim desliguei o telefone.
Caso queiram saber, ela até hoje não respondeu a mensagem, aliás, acho bem provável que nem sequer tenha a ouvido.
Depois de ter almoçado com Thiago, eu tomei um banho e troquei de roupa (Thiago me emprestou algumas dele), tendo após isso ele me levado pra minha casa.
O percurso demorou menos de 20 minutos, e quando finalmente chegamos no portão do meu prédio, falei pra Thiago:
- Valeu mesmo cara, e desculpa mais uma vez pelo trabalho.
- Relaxa cara, se cuida.
Mas antes de sair do carro, falei:
- Só mais uma coisa.
- O que?
- Próxima vez, não me deixa fazer isso novamente, nem que você precise me encher de porrada pra isso.
- Pode deixar! - respondeu ele apertando minha mão.
Após me despedir dele mais uma vez, desci do carro e segui meu caminho para casa, e claro, quando cheguei lá tive que ouvir umas poucas e boas da minha mãe.


Brian