terça-feira, 2 de agosto de 2016

Uma conversa com o Brian de 13 anos

Uma coisa que está na moda hoje em dia nas redes sociais são as chamadas "correntes", as do tipo "curta que direi o que acho de você anonimamente", ou coisas do tipo. Mas nesse caso em específica, vi uma que me chamou bastante a atenção, que era "o que você falaria para o 'fulano' de x anos de idade?", no caso, alguém lhe dava uma idade e você falaria o que diria para o "você" daquela idade.
Eu normalmente costumo participar dessas coisas, por mais besta que elas pareçam, ai no caso, a idade que me deram foi 13 anos. E assim, postei em minha linha do tempo o que eu falaria para o Brian de 13 anos de idade.
O que são essas coisas? Vocês descobrirão daqui a pouco.
E o que achei mais interessante nisso tudo foi a quantidade de pessoas que curtiram isso que postei, provavelmente porque se comoveram com o que eu disse.
Por coincidência do destino (ou não), na mesma noite em que fiz essa postagem, acabei tendo um sonho um tanto que peculiar que tinha a ver com o assunto.
Diferente da maioria das histórias que conto aqui que envolvem algum sonho inusitado que tive, dessa vez, fui dormir com a mente tão leve quanto uma pena no meio de uma tempestade chuvosa, exatamente nada me incomodava por dentro naquele momento. Na ocasião, não demorei muito para entrar em sono profundo, eram quase meia-noite e eu estava muito cansado, isso sem falar que cada vez mais meu sono chegava mais cedo do que normalmente chegava (antes, meia-noite para mim era cedo).
Após pegar no sono, passaram-se alguns minutos (não sei dizer ao certo quanto, já que a noção de tempo dos sonhos é muito diferente da realidade), até que de repente, eu me encontrava no meio de um pátio, mas não de um pátio qualquer, aquele era um local que conhecia bem, aliás, muito bem.
Aquele era o pátio do meu terceiro colégio (dos 4 em que estudei antes de ir para a faculdade), sendo esse o qual onde tive os piores anos da minha vida por conta de questões de bullying (e também outros fatores, fossem eles escolares ou não).
O local se encontrava vazio no momento, o que para mim era estranho, já que era acostumado a ver aquele lugar cheio de crianças e adolescentes, e ao mesmo tempo aquilo era um pouco assustador, já que lugares vazios costumam a ser sinistros, independente da hora do dia.
Comecei a andar um pouco por ali a procura de alguma alma penada, aliás, ainda estava tentando achar um significado para aquilo. Mas realmente o local estava completamente deserto, parecia até que tinha sido abandonado por conta de uma catástrofe nuclear. Ao poucos andava pelo pátio e via o playground, a piscina, a quadra, o campo de futebol, o prédio, os corredores, e etc.
Quanto mais andava, mais tinha certeza de que não havia ninguém ali, a única coisa que ouvia era o som do vento batendo nas folhas das árvores.
Mais a frente, encontrei a cantina do colégio, que claro, estava vazia, mas por incrível que pareça, as suas barracas estavam abertas e com comida dentro. E logo ao lado, via-se o ginásio.
Adentrei na cantina e fiquei olhando barraca por barraca na esperança de encontrar alguma coisa interessante, e com isso, fui lembrando das vezes em que enfrentava longas filas para comprar um lanche por ali.
Após dar uma volta pelo local, passei pela barraca de churros e comecei a rir por conta da lembrança que tive de Roger (o único amigo que tive naquele inferno) quando ele teve a proeza de deixar uma nota de dois reais cair dentro do óleo de fritura da barraca, o que o deu uma bela dor de cabeça naquele dia. Ria bastante disso, até que de repente...
- Brian! - Ouvi uma voz gritar atrás de mim
Claro, tomei um puta susto na hora, antes disso tinha certeza de que estava sozinho por ali.
Olhei para trás assustado, e vi que não era ninguém mais, ninguém menos do que a minha consciência ali sentado em uma das mesas comendo um sanduíche.
- Tu brotou do inferno, foi? - perguntei - não te vi chegar.
- Posso até ter "brotado", como você diz... - falou minha consciência - mas foi de qualquer canto, menos do inferno, isso te garanto. - completou dando mais uma mordida no sanduíche. - aliás, por favor, sente-se!
E assim o fiz.
Após me sentar, ficamos ali por alguns minutos simplesmente olhando para a cara um do outro, quer dizer, pelo menos eu olhava para a cara dele, já minha consciência estava ocupado demais se deliciando com o seu hambúrguer double cheedar, e isso estava me fazendo perder a paciência.
- Você vai realmente me fazer perguntar? - falei
Minha consciência engoliu o pedaço que tinha mordido, e disse:
- Engraçado, Brian, já faz um tempo desde que começamos a nos falar, e ainda assim você parece que não se acostumou com o jeito que as coisas funcionam comigo.
- To cagando e andando para isso, só quero explicações claras do porquê que estou aqui.
- Calma, você está muito nervoso, deixe eu terminar de comer pelo menos. - falou ele dando um sorrisinho
Aquele senso de humor chato dele me irritava profundamente, e ele sabia disso, tanto que era por isso que ainda fazia essas coisas, ele se divertia quando me via tendo vontade de pular em seu pescoço nessas horas.
Esperei (não muito pacientemente) ele terminar o seu lanchinho, o que até que foi rápido, e quando assim o fez, ele falou:
- Double cheedar é realmente uma invenção dos deuses.
Então eu disse impaciente:
- É, realmente, mas agora podemos ir logo para o que interessa?
- Brian, Brian, tenho fé que um dia você vai melhorar essa sua paciência.
Simplesmente ignorei aquilo que ele disse.
- Bom... - falou minha consciência - antes de tudo me responda uma coisa... - o ouvi atentamente - sabe as vezes que você sabe que sonhou com algo, mas no momento em que acorda, não lembra com o que foi?
- Sim, sei... - respondi - mas o que isso tem a ver com o que vim fazer aqui?
- Calma, cara, deixe de sua agonia. - suplicou minha consciência.
- Desculpe! - falei
Minha consciência ficou surpreso com o fato de eu ter me desculpado, não era uma coisa muito comum de acontecer.
- Tudo bem! - falou ele um pouco desconfiado.
Então continuou:
- E sim, essa pergunta tem tudo a ver com o que você veio fazer aqui.
Dessa vez esperei ele concluir antes de falar qualquer coisa.
- Pois, sabe a postagem que você fez hoje sobre "o que você falaria para o Brian de 13 anos"?
- Sim! - respondi
- Você está prestes a concretizar isso.
Fiquei surpreso com aquilo, e perguntei:
- Como assim?
Então minha consciência se levantou, e disse:
- Me acompanhe.
Sendo assim, me levantei junto com ele, e me surpreendi porque não foi preciso caminhar para nenhum local do colégio. Minha consciência tinha acabado de nos teletransportar para a arquibancada do ginásio, e lá dentro, algumas fileiras mais a frente, se encontrava sentado um garoto, que aparentava estar bastante triste com alguma coisa, apesar de não chegar a chorar. Foi então que falei:
- Por acaso, aquele garotinho sentado é...
- Sim, é você com 13 anos! - respondeu minha consciência antes que eu tivesse a chance de completar a frase.
Eu estava sem palavras no momento, como já não fosse estranho o suficiente falar com uma pessoa que se utilizava da minha fisionomia e aparência (minha consciência), agora estava olhando para mim mesmo 8 anos mais jovem.
- Pode parecer uma pergunta meio besta, mas, o que aconteceu para ele estar triste desse jeito?
- Você não lembra? - perguntou minha consciência
- Refresque minha memória.
- Você é esperto, vai se lembrar.
- Sério mesmo que você vai fazer isso comigo agora? - questionei
Minha consciência suspirou fundo, e disse:
- Tá bom, lhe darei uma simples dica então... - eu o ouvia atentamente - lembra quando há 8 anos atrás você teve aquele problema com um babaca que vivia enchendo seu saco da ali na quadra? Onde vocês dois acabaram saindo na porrada?
Pensei um pouquinho, e lembrei.
- Sim!
- Pronto, foi exatamente depois disso.
Me lembrava muito bem daquele dia, infelizmente.
- Mas cara, me responde uma coisa... - falei
- Diga!
- Quando eu tinha 13 anos, eu tive esse conversa que provavelmente terei com ele, né?
- Tá vendo? Eu disse que você é um cara esperto.
Esperei ele falar mais algo, mas como não veio, continuei:
- Então, se eu não lembro que tive essa conversa, ele também não irá lembrar, certo?
- Certo!
- Então, do que servirá isso exatamente, se ele vai esquecer isso a partir do momento em que acordar?
Então minha consciência respondeu:
- Acredite se quiser, isso o trará tranquilidade e ele acordará com a mente mais leve, mesmo não lembrando de nada.
Ainda não estava muito convencido de que aquilo seria útil em algo.
- Mas, o que eu poderia falar pra ele?
- Ué, você não fez a tal postagem lá? Então você sabe muito bem o que dizer. - falou ele - mas, só um aviso básico.
- O que?
- Fale do futuro dele de forma indireta, ou seja, não dê nenhum "spoiler" do que irá acontecer na vida dele nos próximos anos.
- Mas ele não vai esquecer de que tivemos essa conversa?
- Sim, mas mesmo assim, não é bom correr o risco, se ocorrer dele se lembrar disso e você contar algo do tipo para ele, o coitado pode enlouquecer.
Respirei fundo, e então disse:
- Ok então, vou lá.
Minha consciência não falou mais nada, apenas ficou observando.
Enquanto me aproximava no "mini-Brian", reparei com o fato que mesmo eu e minha consciência estando ali há alguns minutos conversando, ele pareceu não reparar na nossa presença. E outro detalhe curioso que percebi foi o local onde eles estava sentado na arquibancada, que era o local exato onde havia acontecido o meu primeiro beijo da vida com ma garota que eu gostava na época, exatamente quando tinha 13 anos.
Realmente, aquele era o melhor cenário para alguém tentar esquecer os problemas, o exato local onde teve uma das melhores lembranças de sua vida.
- Oi garotinho! - falei quando me aproximei o suficiente.
Ele olhou para mim assustado, e disse:
- Oi... - em um tom um pouco desconfiado.
E tenho que confessar, era muito estranho eu estar olhando nos meus próprios olhos com 13 anos.
- Tudo bem com você? - perguntei mesmo sabendo a resposta
- Não sei, acho que não. - provavelmente ele ainda não confiava em mim.
- Posso me sentar aí com você?
- Fica a vontade.
E assim o fiz.
Ficamos alguns segundos falando absolutamente nada, eu olhava pro garoto, e ele olhava apenas para o chão, uma mania que sempre tive quando tinha vergonha de olhar nos olhos de alguém que não conhecia.
De qualquer forma, também não queria forçar a barra, aliás, se tinha alguém que sabia muito bem o que se passava na cabeça daquele garotinha era eu.
- Desculpe perguntar, mas, eu te conheço de algum lugar? Porque seu rosto me é muito familiar. - disse ele olhando para mim finalmente.
Me segurei para não rir daquilo, mas que a situação era muito engraçada, isso era.
- Olhe um pouco melhor. - respondi
E assim ele fez, mas ainda com um ar de confuso.
- Ainda não consigo lembrar.
Eu respirei fundo, e disse:
- Olhe os seus traços, e depois olhe os meus.
Ele pegou o seu celular e se olhou no reflexo da tela, e após isso, olhou para mim comparando consigo mesmo.
- Você é muito parecido comigo.
Dessa vez não consegui segurar o riso.
- Vai parecer um pouco assustador quando eu falar, mas, eu sou você daqui a 8 anos.
Ele ficou surpreso após eu falar isso.
- Mas, como assim? O que tá acontecendo? Que porra é essa?
(Sim, desde essa idade eu já era boca suja)
- Caso não tenha percebido ainda, você está sonhando. - falei
- Ah... - falou ele - agora tudo faz sentido.
Mais uma vez, eu ri da situação.
- Então... - continuou ele - se você sou eu com... - Ele deu uma rápida parada para fazer as contas, típico de mim - 21 anos, me responde uma coisa... - já imaginava o que ele iria perguntar - eu reprovei alguma vez no colégio até aí? Que faculdade vou fazer no fim das contas? Finalmente tive uma namorada? Eu vou sair desse inferno de colégio?
Quando ele finalmente parou de falar, respondi:
- Essas são perguntas as quais eu não estou autorizado a lhe responder.
- Por que? - perguntou o mini-Brian decepcionado.
- Ordens superiores. - falei apontando para a minha consciência que apenas nos observava de trás da gente.
Ao que pareceu, diferente de mim naquela hora, o mini-Brian não via mais ninguém ali além de nós dois, mas provavelmente preferiu ficar calado em relação a isso.
- Há algo que você possa me dizer? - perguntou o garotinho
- Sim, há... - respondi - mas algumas delas podem não ser muito agradáveis.
- Sou todo ouvidos.
Respirei fundo, e falei:
- Antes de tudo, digo para você não se preocupar muito com coisas bestas, pois és ainda muito novo, e vá por mim, as dificuldades que você enfrentará agora são fichinhas perto das que você vai encontrar lá na frente... - ele apenas me ouvia atentamente - outra coisa que quero lhe dizer, é para você sempre ter seus estudos em foco, porque sério, seus pais estão certos quando dizem que essa é a sua única obrigação no momento.
Definitivamente, nunca me imaginei falando aquilo pra alguém, ainda mais sendo algo de que sempre reclamei.
- Você é muito inocente, e infelizmente hoje em dia isso é muito mais um defeito do que uma virtude, por isso, tome cuidado, porque muitos vão tentar se aproveitar da sua inocência para te fazer de otário. - dei uma leve suspirada, e continuei - Sobre esses babacas que você costuma chamar de amigos, minha dica é que você se afaste deles, porque na real, nenhum deles liga para você, eu sei que é duro ouvir isso, mas é a verdade.
- Mas, eu não tenho amigos por aqui, e eu não gostar de ficar por aí sozinho.
Nessa hora me deu um aperto no peito ao ouvir aquilo, isso me trouxe lembranças não muito boas.
- Eu sei, infelizmente eu sei. - falei fazendo um cafuné em sua cabeça - sei que pedir isso para você é difícil, sei que você é uma pessoa companheira, mas gaste essa sua virtude com quem realmente merece, porque caso contrário isso, só lhe fará mal.
Ele não parecia muito feliz em ouvir aquilo.
- E sobre os outros babacas que enchem seu saco sempre, incluindo o que você brigou hoje, apenas tente os ignorá-los, porque não vale a pena você gastar suas energias com idiotas do tipo, eles são apenas pessoas dignas de pena que precisam humilhar os outros para se sentirem melhor. - meus olhos começaram a ficar molhados após isso - E outra, saiba o seu valor, tenha amor-próprio, você não é esse bosta que esses filhos da puta dizem que você é, és melhor do que isso, muito melhor!
Nessa hora não consegui mais segurar as lágrimas, e percebi que o mini-Brian também não.
- E claro, seja você mesmo SEMPRE, não mude por NINGUÉM, pois aqueles que gostarem de você e forem seu amigo, o farão pelo que você é, e não pelo que os outros querem que você seja.
O Brian de 13 anos fazia todo esforço do mundo para não cair aos prantos, e provavelmente por isso me perguntou:
- Você tem alguma notícia boa para me dar?
Enxuguei as lágrimas do rosto, e disse:
- Sim, tenho... - suspirei, e falei - Mas antes disso, quero que você se prepare para outra má notícia que irei te dar.
- Manda!
- Você passará agora pelos anos mais conturbados da sua vida, e certamente os mais difíceis, onde você irá se sentir triste, sozinho e com a sensação de não poder contar com ninguém para se sentir melhor... - de novo, as lágrimas insistiam em cair dos meus olhos - mas a boa notícia é que, pode até demorar para acontecer, mas as coisas irão melhorar para você, os piores anos da sua vida serão recompensados com os melhores, e você finalmente irá se sentir bem consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor, aliás, finalmente terás a companhia de bons amigos que merecem receber todas as suas virtudes.
O Brian de 13 anos agora sorria para mim, aquilo que falei provavelmente tinha o confortado um pouco.
- E lembre-se... - continuei - haverá um momento em sua vida que receberás a chance de recomeçar do zero e traçar um destino melhor para você mesmo, e quando essa oportunidade aparecer, a agarre com todas as forças e não a deixe passar.
O mini-Brian me olhou nos olhos e disse ainda com algumas lágrimas no rosto:
- Sim, pode deixar!
Ele me deu um grande sorriso, e eu o retribuí com um abraço, que não durou muito, já que pouco depois ele simplesmente desapareceu nos meus braços.
- Suponho que ele acabou de acordar, certo? - perguntei para a minha consciência.
- Exatamente! - falou ele se aproximando de mim.
Até que de repente, todo o cenário em que estávamos começou a tremer.
- E pelo visto, é hora de você acordar também. - falou minha consciência
Após alguns segundos, quando ele começou a se afastar de mim, eu gritei:
- ESPERA!
Ele parou, olhou para mim e perguntou:
- Pois não? - enquanto isso, o cenário continuava tremendo.
- Essa foi a única vez que conversei com um "eu" mais velho, ou houveram outras?
E como era de se esperar, ele simplesmente respondeu:
- Você saberá em breve!
Após isso, aquela cena tinha simplesmente desaparecido diante dos meus olhos, e eu tinha acabado de acordar em minha cama, com o Riddle lambendo minha cara.
- Riddle, por favor... - falei o colocando no chão.
Peguei o celular que estava ao lado da minha cama, e olhei a hora, eram exatos sete e meia da manhã, sendo assim não tardei para me levantar, já que tinha algumas coisas para fazer, e por isso, procurei não pensar muito naquilo que tinha acabado de sonhar, embora fosse difícil.

Brian