sábado, 3 de janeiro de 2015

Um reencontro inusitado

Aquele era mais um dia como qualquer outro nas minhas férias, quer dizer, a não ser pelo fato que eu consegui arrebentar uma corda do meu violão quando eu tava tentando afina-lo, então eu certamente não estava muito feliz naquele momento. Eram 10 da manhã quando esse infeliz fato aconteceu, e o que eu mais queria era ajeita-lo o mais rápido possível, então decidi que logo após o almoço eu iria na loja em que eu o comprei já pra coloca-lo pra consertar.
E assim o fiz, às onze e meia minha mãe colocou o almoço na mesa, e assim que terminei, por volta de quase meio-dia, tomei um banho rápido, me arrumei, coloquei meu violão na capa, o coloquei nas costas, e fui para o shopping (onde a loja ficava).
Cheguei na parada uns 5 minutos depois de sair de casa, e felizmente o ônibus não demorou muito, uns dez minutos depois de eu ter chegado lá ele passou, e o trânsito também estava tranquilo, aliás, eram poucos dias após o ano novo, boa parte do pessoal ainda estava de folga, então por isso o percurso até o shopping durou apenas 15 minutos.
Chegando lá eu não perdi muito tempo e fui em direção a loja, sendo que aquele shopping era grande pra caramba e eu não ia lá com muita frequência, ou seja, rodei um pouco para achar o caminho certo. E nesse meio eu acabei passando pela frente da livraria, uma das maiores que tinha na cidade, então resolvi entrar lá e dar uma olhada e ver se eu achava algo que me interessasse.
Sempre que eu vou lá eu vou diretamente pra ala de CD's, sempre achava algo ali de interessante, e não foi diferente dessa vez, achei alguns discos que eu estava procurando a um bom tempo, alguns com o preço bem em conta. Fim das contas, acabei comprando dois. Fui no caixa, paguei os CD's e segui meu caminho em direção a loja de instrumentos.
Mas saindo da livraria eu acabei encontrando uma pessoa, mas não era qualquer pessoa, era alguém que fez muita diferença na minha vida, que representou uma fase dela. Eu mal tinha posto o pé pra fora da loja quando a ouvi chamar meu nome...
- Brian?
Quando olhei, fiquei surpreso, era Gabriela, minha ex-namorada.
E como eu bem já contei aqui, meu término com ela foi uma das barras mais pesadas que eu tive que superar, isso sem falar que meu último encontro com ela não tinha sido dos mais agradáveis, encontro esse que eu achava até aquele momento que seria o último.
- Gabriela? - falei
Eu estava sem palavras, eu realmente não esperava que um dia eu fosse voltar a falar com ela de alguma forma.
- Oi! - falou ela
- O-Oi! - falei meio sem jeito
E assim ficamos alguns segundos calados olhando um para o outro.
- Quanto tempo, hein? - falei
- Pois é... - falou ela
E de novo ficamos calados...
- Como tem estado? - perguntou ela
- Bem... - respondi - e você?
- Bem também.
E mais uma vez ficamos calados, pelo jeito nem eu e nem ela sabíamos como levar aquela conversa adiante.
E eu naquele momento não estava vendo muito futuro naquela conversa, como nós dois continuávamos calados eu disse:
- Bom, foi bom te rever, até a próx...
- Espera! - falou ela
- Sim?
- Faz tanto tempo que a gente não se fala, vamos nos sentar um pouco e, sei lá, conversar um pouco.
Estranhei um pouco aquele pedido, mas disse:
- Está bem.
E então nos sentamos em um banco que tinha perto dali. Ficamos mais uns segundos calados, até ela falar:
- Então Brian... - falou ela dando um suspiro - como anda sua vida?
- Bom... - falei - vou pro 4º período da faculdade, tive um emprego temporário por dois meses, continuo treinando, e... isso é tudo, eu acho.
- Ta gostando do curso?
- Estou sim, esse 3º período agora me animou bastante, aliás, principalmente em relação a rádio.
- Que bom... - disse ela - aliás, não sei se já te disseram, mas você tem uma voz boa pra rádio.
- Alguns já disseram... - falei - mas, obrigado. - disse sorrindo
Ela retribuiu o sorriso.
- E você... - falei - como anda a sua vida?
- Bom, nada de muito novo, só que eu cheguei a cursar um período de administração na UPE, mas não gostei muito e tranquei.
- Caramba, e agora você ta fazendo o que?
- Bem, por agora ainda não to fazendo nada, mas ainda vou fazer.
- Como assim?
Ela respirou fundo, e falou:
- Estarei indo para Buenos Aires na próxima semana, vou estudar Medicina lá.
Por incrível que pareça, essa notícia me chocou, de uma forma ou de outra.
- Sério? - perguntei
Ela afirmou com a cabeça.
E eu mais uma vez estava sem palavras.
- Que ótimo pra você, fico feliz! - falei
Ela percebeu que eu tinha ficado chocado com a notícia, mas provavelmente resolveu não comentar nada.
E naquele momento eu tive a certeza de que aquela seria a última vez que eu iria ver Gabriela por um bom tempo.
- Ai você vai pra la na próxima semana, certo? - perguntei
- Sim. - ela respondeu
- Já vai começar as aulas?
- Não, começarão em março.
- Entendi.
Então eu respirei fundo, e disse:
- Boa sorte lá!
- Obrigada. - respondeu ela
Houve mais um momento de silêncio, até ela perguntar:
- Agora que eu lembrei de perguntar, por que tais com o violão aqui?
- Ah... - falei - uma corda arrebentou, to levando pra loja pra ser consertado.
- Ah, entendi.
E de novo ficamos em silêncio, foi quando eu percebi que era hora de eu tocar em um assunto não muito agradável.
- Ei Gabriela, posso te perguntar uma coisa?
- Diga.
- Vai ser meio chato da minha parte tocar nesse assunto mas, desde aquela nossa última conversa eu achei que você nunca mais me dirigiria a palavra de novo, o que te fez mudar de ideia, exatamente?
A sensação de perguntar isso foi simplesmente uma merda.
- É que... - falou ela - vai parecer estranho eu falando isso, até mesmo porque foi muita coincidência, tipo, ontem quando eu estava juntando as coisas pra viagem, eu achei umas fotos antigas, e havia fotos nossas entre elas, ai tipo... - ela deu uma leve pausa e continuou - comecei a relembrar dos nossos momentos, sabe?
- Sei bem. - e como eu sabia.
- Não vou mentir, às vezes eu sinto falta de você, sinto falta da amizade que a gente tinha.
Aquilo me tocou, eu até pensei em falar que eu também sentia saudades da minha amizade com ela, principalmente porque eu realmente sentia, mas sei lá, achei melhor não falar nada.
- Sei como é... - respondi - e como sei.
Tivemos mais um momento de silêncio, até eu perguntar outra coisa que poderia ser incômoda.
- Como estão as coisas contigo e Jonas?
- Ah, terminamos.
- Sério?
- Sim, faz uns cinco meses mais ou menos.
Aquilo tinha sido uma outra surpresa pra mim. Então eu perguntei:
- Se não for muito intromissão da minha parte, o que aconteceu?
- Digamos que ele sempre foi uma pessoa bastante complicada de se conviver, entende?
- Entendo, eu acho. - achei melhor não pedir mais informações sobre aquilo e também pouco me importava.
- Mas ei, me responde uma coisa... - disse ela
- Mande!
- E o coração, como ta, gostando de alguém?
E dessa vez ela que tinha tocado em um assunto delicado.
- Sim, estou. - respondi
Gabriela pensou um pouco, e falou:
- Quer falar um pouco dela?
Eu sinceramente não queria, mas ainda assim dei uns detalhes básico sobre Simone pra ela, nada muito aprofundado.
- Bom, e quando você pretende falar o que sente pra ela?
Esse era um assunto mais delicado ainda.
- Bom, por enquanto, ainda não pretendo.
- Por que?
- É complicado... - falei - até mesmo de explicar.
Gabriela me olhou com um ar de desaprovação e falou:
- Pelo que to vendo você ainda não venceu essa sua timidez exagerada, né Brian?
Eu respirei fundo e disse:
- Timidez é um dos fatores, mas não o único, entende?
- Mais ou menos.
- Sério, é difícil de explicar.
Eu percebi que ela não tinha engolido bem aquilo, mas que tinha achado melhor não insistir.
- Bom, só lhe digo uma coisa, não desista antes de tentar, porque eu tenho certeza de que se ela se sentir da mesma forma por você ela vai querer ficar contigo.
Eu apenas acenei com a cabeça.
- E você... - falei já na tentativa de desviar o assunto - tem gostado de alguém?
- Nem tenho... - falou ela - e acho que assim ficarei por um bom tempo.
- Entendo, eu acho.
Logo após, Gabriela olhou pro relógio e disse:
- Bom, tenho que ir agora.
- Tá certo então. - falei
- Foi bom falar contigo novamente, - disse ela
- Idem.
E tivemos mais um momento em que nós dois ficamos em silêncio.
- Até algum um dia, eu suponho. - falei
- É, até algum dia. - falou ela enquanto a gente se levantava.
Quando eu ia seguir o meu caminho, ouvi Gabriela falar:
- Brian, só mais uma coisa.
- Diga! - falei
- Sempre que quiser falar comigo, pelo facebook, ou sei lá, sinta-se a vontade, sempre estarei lá.
Sorri para ela e disse:
- Tá certo, fico feliz em saber disso.
Ela retribuiu o sorriso.
- Tchau! - disse ela acenando
- Tchau! - acenei de volta
E assim seguimos nossos caminhos, daquela que seria provavelmente a última vez que a gente se encontraria, e ainda pensando nisso eu segui meu caminho até a loja de instrumentos pra finalmente consertar aquela maldita corda.


Brian

Nenhum comentário:

Postar um comentário