quinta-feira, 2 de junho de 2016

Consequências de uma noite daquelas

Tudo começa em um domingo em que simplesmente acordei na casa de Thiago, com uma puta dor de cabeça e me lembrando de basicamente nada que tinha acontecido na noite anterior, e pelo que lembrava da casa dele, eu estava especificamente no quarto e ao que parecia ele tinha me deixado lá e foi dormir em algum outro cômodo da casa.
Após me dar conta de onde estava, me sentei um pouco na cama e tentei pensar um pouco, na tentativa de lembrar de como eu tinha parado lá, tentei buscar esse memória em minha mente, mas apenas o que vinha era uma dor de cabeça dos infernos.
E foi durante isso que acabei reparando que eu ainda vestia uma camisa polo e uma calça jeans (sim, eu estava em uma festa na noite anterior), e certamente, estava suado pra caramba por causa do calor, nem o ventilador de teto adiantava de alguma coisa nessas horas. E o mais engraçado de tudo é que havia um balde vazio ao lado da cama.
Antes de tentar mais qualquer coisa, procurei minhas coisas no bolso. Me assustei de início por elas não estarem lá.
"Puta que pariu, não é possível que perdi tudo." pensei.
Mas fiquei aliviado momentos depois ao vê-las em cima da escrivaninha de Thiago, com isso, fui até ela para conferir se estava tudo realmente ali, o que felizmente estava, minhas chaves, meu celular, meus documentos, minha carteira, todos se encontravam ali.
Aproveitei para olhar meu celular, antes de tudo, olhei as horas e tive um choque ao ver que já eram quase meio-dia, e me surpreendi também com o fato que não havia nenhuma ligação perdida ou mensagem da minha mãe, na hora não parei muito para pensar o porquê disso.
Depois disso tudo, finalmente decidi sair um pouco do quarto. Quando abri a porta, a primeira "pessoa" que veio me dá "bom dia" foi Isaac, o Cocker Spainel de Thiago, e assim lhe retribui com um carinho na orelha que ele adorava.
- Agora você pode me indicar aonde seu dono está? - perguntei para o cachorro.
E ao que parecia ele tinha me entendido, tendo assim me acompanhado escada abaixo até a sala, que era onde Thiago se encontrava assistindo algum seriado na televisão em volume alto (e bota alto nisso, e por conta disso minha cabeça doeu ainda mais).
- Bom dia, cara. - disse ele
- Você quis dizer "tarde", não?
- Ah, sim... - disse ele após olhar o relógio - boa tarde.
- Boa tarde... - falei ainda com a cabeça doendo - quer dizer, não tão boa assim, eu acho.
- Quer que eu abaixe aqui? 
- Agradeceria bastante.
E assim ele fez, enquanto Isaac se deitava no lado dele no sofá.
- Como você tá? - perguntou Thiago
- Cansado, com dor de cabeça e confuso pra cacete. - falei me sentando na poltrona do lado.
- Queres algo? Uma água, algo pra comer?
- Também agradeceria muito.
E assim Thiago foi buscar, me deixando ali com o Isaac que naquele momento mais se preocupava em lamber o sofá, enquanto isso, mais uma vez, tentei buscar em minhas memórias os acontecimentos da noite anterior, mas só consegui lembrar o básico, que no caso era uma festa no prédio de Joey (que ele fez em comemoração do seu aniversário), lembro que eu estava meio pra baixo por alguma razão que não conseguia lembrar. Lembro também que houve um momento que o pessoal resolveu fazer uma daquelas brincadeiras que envolvia bebida, e que por incrível que pareça resolvi participar também.
Até que Thiago tinha chegado com um sanduíche de mortadela e um copo d'água para mim.
- Aqui está, Brian.
- Muito obrigado! - falei tomando um gole da água e dando uma mordida no pão.
Enquanto me deliciava com aquele "café da manhã", perguntei pra Thiago.
- Seus pais não estão em casa não?
- Foram pedalar, eles fazem isso todo domingo.
E enquanto ele falava isso, Isaac tinha feito uma tentativa frustrada de roubar o meu sanduíche.
- Não Isaac, isso não é pra você... - esbravejou Thiago - sua comida ta lá no quintal.
Com isso, Isaac se afastou um pouco frustrado e se deitou ao pé do sofá.
- Thiago... - chamei
- Diga!
- Cara, me diga com todos os detalhes e sem esconder nada... - suspirei e continuei - o que aconteceu ontem?
- Até onde você lembra exatamente?
- Bom, eu estava com o pessoal jogando aquela brincadeira da roleta que envolve bebida... - (não lembrava o nome exato daquilo) - e a última coisa que lembro que fiz em sã consciência foi ter falado "hoje vou tomar o primeiro porre da minha vida".
- Que foi exatamente o que aconteceu. - disse Thiago.
- Eu imaginei!
E minha cabeça ainda doía.
- Mas depois disso, lembro de mais nada.
Thiago me fez uma cara não muito legal nessa hora.
- Que foi? - perguntei
- Eu estava do lado na hora que você disse isso, aliás, nesse momento eu estava tentando te controlar porque você estava um pouco alterado.
- Alterado como?
- Falando besteira e gritando pra caramba.
- Mas eu já não faço isso normalmente? - falei rindo
- Mas dessa vez estava pior.
- Sim, mas depois disso, o que mais aconteceu? Refresque minha memória.
- Bom, o que vem depois disso chega a ser ridículo.
- Fale assim mesmo, não esconda nada.
Thiago respirou fundo, e continuou...
- Primeiramente, após isso vocês resolveram brincar de "verdade ou consequência", isso estando você e boa parte daquele pessoal bem alterado.
- Eita, lá vem merda... - falei
- Sim, sim, porque você sabe, a junção de pessoas bicadas com essa brincadeira normalmente não é agradável.
- Sei bem...
Então Thiago continuou:
- Bom, uma das coisas que mandaram você fazer, por exemplo, foi dançar sensualmente e sem camisa de frente para a rua.
- É o que?
- Isso mesmo, inclusive o pessoal gravou.
- Tem o vídeo aí?
Sem nem falar nada, ele tirou o celular do bolso e me mostrou aquela coisa ridícula.
- Puta que pariu... - falei jogando as mãos no rosto e me lamentando.
- Calma que não acabou aí.
- Não esperava que estivesse.
E assim ele continuou:
- Vai piorar um pouco, outra consequência que mandaram você fazer foi lamber um cara da barriga até o pescoço.
E mais uma vez, aquela sensação de querer me jogar de um prédio de 20 andares voltou.
- Não me diga que registraram isso também. - falei
Mas antes mesmo de eu completar a frase, Thiago já estava me mostrando a foto que tinham tirado.
- Caralho, o pessoal é filho da puta mesmo.  - fale indignado
- Se você for ver as fotos não só suas, mas de todo mundo que mandaram aqui... meu Deus, é cada pérola.
- Mas, continue.
- Bom, esse ninguém registrou, mas também te mandaram morder a orelha de Joey.
- Porra, velho! - falei limpando a língua (como se fosse adiantar de algo).
Tomei um gole d'água e perguntei:
- Tem mais algo?
- Sim, sendo que não mais no "verdade ou consequência".
- Manda! - falei já me preparando pra ter vontade de me matar de novo.
- Depois que vocês ficaram de saco cheio da brincadeira, ligaram a música e boa parte de vocês foram dançar.
- Eu fui junto?
- Sim!
- Já to vendo a merda... - falei
- Digamos que nunca na minha vida te vi dançando daquela forma.
- Que forma? - falei levando aos mãos no rosto
- Rebolando até o chão.
Eu já estava sem reação naquela altura do campeonato.
- E ainda tem mais... - continuou Thiago.
- O quê?
- Você ficou dando em cima das meninas na festa descaradamente, e falando coisas um tanto que tensas.
Dei um suspiro, e perguntei:
- Tipo o que?
- Tipo, você perguntou para algumas se para elas o fato de você ser virgem seria empecilho e comentou com outras sobre o tamanho do seu pênis.
- Sério, velho? Puta que pariu!
- Sério, nunca imaginei que um dia eu ia ver você falando esse tipo de coisa para uma garota, seja ela quem fosse.
- Só por curiosidade, não fiquei com ninguém não, né?
- Não!
- Não sei dizer se isso uma coisa boa ou ruim, mas enfim, continue.
Thiago suspirou, e disse:
- Agora vem a pior parte.
- Tem coisa que eu fiz que é pior que isso tudo?
- Sim, e você vai entender o porquê.
Tinha muito medo do que ele iria falar:
- Uma das razões de você não ter ficado com ninguém... - falou ele - foi porque sempre uma hora ou outra você começava a choramingar por conta de Simone.
- Estava demorando para uma informação do tipo aparecer.
- E claro... - continuou - você ficou mais carente do que o normal.
- Não me surpreendo nem um pouco.
- Até aí tudo bem, porque uma parte do pessoal pra quem você estava falando essas merdas todas também estava bêbado e estavam nem ligando pro que você estava dizendo.
- Do jeito que você está falando, to sentindo que a coisa vai piorar.
- E acertou... - confirmou ele
- O que eu fiz depois disso?
Thiago suspirou e disse:
- Ligou para Simone.
Quase me joguei da poltrona depois disso.
- E foi de que horas isso? - perguntei
- Três e pouca da manhã.
- Putz, ela deve ter ficado muito puta.
- E imagino que tenha ficado, porque vocês discutiram feio.
- O que eu disse?
- Disse que a amava, que sentia muita falta dela, pediu para que ela te desse uma chance pra você fazê-la feliz.
Nesse ponto, a coisa tinha chegado num nível que eu acabei rindo de mim mesmo de tão patético que a situação foi.
- Ela definitivamente ficou puta. - falei
- Pela forma que você discutiu com ela no celular, tenho nem dúvidas.
- Dou razão pra ela, afinal, quem não ficaria puto com um bêbado carente te ligando de outro estado as três da manhã?
- Sim, mas chegou num ponto em que você a mandou ir se foder e disse que conseguia muito bem viver sem ela.
Com essa, quase me engasgava com o sanduíche.
- Como é que é?
- Exatamente isso que você ouviu...
- Puta merda, ela não deve tá querendo me ver nem pintado de ouro.
- Não duvido.
Depois, terminei finalmente de comer meu sanduíche e finalizei meu copo d'água.
- E o que aconteceu depois disso? - perguntei
- Bom, depois que você desligou, você e Joey ficaram conversando sobre a situação, e juro pra tu, você chegou a chorar.
- Não duvido.
- E depois quando você se acalmou mais, Joey te chamou para se sentar com um pessoal para conversar, sendo que no meio disso, você acabou dormindo.
- E deixa eu adivinhar, nada me acordava, certo?
- Oxi, podíamos sambar em cima de você que não faria diferença nenhuma.
Naquele momento, minha dor de cabeça piorou.
- E como foi pra me trazer até aqui?
- Eu e Joey te carregamos desacordados até meu carro, na movimentação você deu uma acordada, mas ainda alterado, e quando chegamos aqui você vomitou pra caramba.
- Putz velho...
- Depois de você ter vomitado tuas tripas na privada, tomasse uma ducha e depois fosse dormir, mas claro, antes eu deixei um balde ao lado da cama caso fosse necessário.
- Que pelo que vi, felizmente, não foi.
Ficamos um momento em silêncio, até que falei:
- Acabou finalmente?
- Sim!
E depois de um tempo refletindo sobre essas merdas todas, falei:
- Putz velho, que merda, na moral.
- Calma, cara, acontece com qualquer um.
Eu respirei fundo, e disse:
- Desculpa aí ter te dado esse trabalho todo.
- Relaxa cara, amigos são pra essas coisas.
- É que, porra, 21 anos na cara e dou um vacilo desses.
- Tem gente que é mais velha que tu e faz pior do que você, fica peixe, velho.
Respirei fundo, e continuei:
- Enfim, obrigado mesmo por tudo.
- Não tem o que agradecer, sei que você faria o mesmo por mim.
Após isso não falei mais nada, apenas apertei a mão dele e lhe dei um abraço de amigo.
- Bom, já te dei trabalho demais, hora de eu ir pra casa.
Mas Thiago retrucou:
- Pera aí, cara, já é hora do almoço, almoça por aqui que depois eu te levo em casa.
- Relaxa, bicho, precisa não, já te dei trabalho demais.
- Não vai ser trabalho nenhum, te garanto.
Mas ainda assim insisti:
- Sério cara, isso sem falar que minha mãe já deve estar preocupada.
- Isso também não vai ser problema, porque você acha que ela não veio encher teu saco até agora? Eu mesmo liguei pra ela explicando a situação.
Ainda pensei em refutar, mas desisti.
- Ok então.
Afinal, provavelmente minha mãe estava muito puta comigo por conta disso, e ficar lá por mais um tempo adiaria um pouco a bronca que eu iria tomar ao chegar em casa.
Enquanto Thiago preparava o almoço, aproveitei para mandar um pedido de desculpa para todos aqueles quem eu possivelmente incomodei na festa, começando por Joey, claro. Mas essa parte era mais de boas, afinal, muitos deles já estiveram no meu lugar (principalmente Joey), o mais difícil de tudo seria me desculpar com Simone, porque a situação com ela foi a pior de todas.
Mas mesmo assim eu arrisquei, e diferente dos outros em que mandei mensagens ou para os celulares ou para as redes sociais, com ela decidi ligar.
Após três tentativas em que ela não atendeu (não se porque não quis ou porque realmente não podia), na quarta decidi deixar uma mensagem de voz.
- Simone? - comecei após o sinal - é Brian aqui...
Parei pra pensar um pouco, e continuei:
- Veja, não sei se o que vou falar vai fazer alguma diferença pra você, aliás, não sei nem se você vai se dar o trabalho de ouvir essa mensagem, mas... - dei um suspiro e continuei - me desculpa pelas merdas que falei ontem a noite, eu estava completamente fora de mim, e se você não quiser mais olhar na minha cara vou compreender, mas de qualquer forma, só quero dizer que se você quiser, estou disposto a conversar com você sobre isso tudo, ok? - parei por mais uns segundos, e falei - beijos, espero que você esteja bem. - e assim desliguei o telefone.
Caso queiram saber, ela até hoje não respondeu a mensagem, aliás, acho bem provável que nem sequer tenha a ouvido.
Depois de ter almoçado com Thiago, eu tomei um banho e troquei de roupa (Thiago me emprestou algumas dele), tendo após isso ele me levado pra minha casa.
O percurso demorou menos de 20 minutos, e quando finalmente chegamos no portão do meu prédio, falei pra Thiago:
- Valeu mesmo cara, e desculpa mais uma vez pelo trabalho.
- Relaxa cara, se cuida.
Mas antes de sair do carro, falei:
- Só mais uma coisa.
- O que?
- Próxima vez, não me deixa fazer isso novamente, nem que você precise me encher de porrada pra isso.
- Pode deixar! - respondeu ele apertando minha mão.
Após me despedir dele mais uma vez, desci do carro e segui meu caminho para casa, e claro, quando cheguei lá tive que ouvir umas poucas e boas da minha mãe.


Brian

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