terça-feira, 19 de julho de 2016

O garoto da estrada

Começarei a história de hoje de um jeito diferente do usual, desse vez, ao invés de contar sobre algo que aconteceu recentemente na minha vida, irei "viajar" um pouco no tempo, mas para um tempo muito distante do atual, para ser mais exato, falarei de algo que aconteceu comigo lá pelos meus 11 anos de idade, ou seja, uns 10 anos atrás (tenho 21 atualmente).
O que vou contar agora, aconteceu em um período meu de férias escolar, na época, a relação da minha família era muito melhor do que é hoje em dia, meus pais ainda eram casados e ainda não estavam naquela fase difícil de brigas infinitas, e claro, a separação deles ainda era uma ideia que para mim naquele tempo não fazia sentido nenhum, mas a história de hoje não discutirá isso.
Naquela época, era bastante comum a gente ir passar duas semanas ou um mês em Porto de Galinhas durante as férias dezembro e janeiro, e aquela vez foi uma dessas ocasiões, nesse caso, passamos especificamente duas semanas lá.
Estávamos retornando a Recife naquele momento, e se quiserem a minha sincera opinião, as duas semanas que passamos por lá foram extremamente chata, nunca fui muito fã de praia para início de conversa, a gente fazia basicamente as mesmas coisas todos os dias e isso sem falar que aos 11 anos eu já não fazia amizades com a mesma facilidade que tinha aos 6 ou 7 anos (sim, fui ficando mais chato com o tempo ha ha).
Mas enfim, estávamos no meio da estrada, meu pai dirigia calado enquanto ouvia seus CD's no rádio do carro, minha mãe dormia um pouco, enquanto eu e minha irmã (que na época tinha 13 anos) fazíamos aqueles nossos jogos que tínhamos para passar o tempo durante a viagem.
Se estávamos perto ou longe de Recife, não fazia a menor ideia na hora, a única coisa com que eu estava preocupado na hora, era em criar frase com as letras que apareciam nas placas dos carros que passavam (sim, esse era o jogo).
Tudo corria na sua mais perfeita normalidade, até que de repente...
POW!
Ouve-se um grande estrondo vindo do pneu dianteiro do carro, fazendo o mesmo dar uma sacudida brusca que acabou inclusive acordando minha mãe de susto. O veículo tinha acabado de passar por cima de um buraco.
Até aí tudo bem, poderíamos voltar tranquilamente àquilo que estávamos fazendo, se não fosse pelo fato que o carro perdeu um pouco de velocidade depois do ocorrido, ou seja, provavelmente o buraco tinha deixado alguma "marca".Percebendo isso, meu pai encostou o carro e desceu para ver o que provavelmente tinha acontecido.
E aconteceu o que muitos de vocês imaginam, o pneu furou. Com isso, tivemos que descer do carro ali mesmo para esperar meu pai resolver a situação.
Antes de tudo, claro, ele ligou o pisca-alerta e colocou o triângulo no chão para sinalizar aos carros que passavam que ele estava parado ali fazendo reparos no veículo. Enquanto meu pai tentava resolver isso, fiquei observando um pouco os arredores do local, apesar que não havia nada de demais, era o mesmo cenário que você encontra em qualquer rodovia brasileira, uma longa estrada com nada ao redor a não ser plantações, e em alguns casos, animais de fazendas (que sempre tem aos montes naquelas regiões).
Engraçado, é que hoje penso que se isso fosse hoje em dia, eu na hora ficaria o tempo todo desconfiado olhando os arredores achando que algum ladrão iria aproveitar a situação para nos assaltar, mas eu era muito inocente na época ainda, por isso, essa possibilidade nem sequer passou na minha cabeça, e a prova disso vem logo a seguir.
Após alguns minutos desde que passamos por cima daquele buraco que furou o pneu do carro, reparei numa coisa um tanto que peculiar. Um pouco atrás da gente, saindo do meio da plantação que havia logo ao lado, apareceu um menino (que aparentava ter mais ou menos a minha idade na época, senão um pouco mais novo) numa bicicleta, que observando através de suas roupas, parecia ser alguém que morava ali pelo campo.
Qualquer um no meu lugar com certeza pensaria que ele estava ali pra assaltar a gente, acho que com certeza minha mãe achava isso, tanto que ficou com um ar de desconfiança quando olhou para ele. Mas como disse antes, eu era muito inocente na época, de primeira supus que era alguém que viria nos oferecer ajuda, mas no fim não foi nem um e nem outro.
Definitivamente ele não era nenhum ladrão, porque ele tinha a chance perfeita de nos assaltar naquele momento e não fez nada, e por isso também que ele não veio oferecer ajuda, pelo que se observava. O garoto ficou apenas ali nos observando com um meio-sorriso no rosto, por alguma razão, ele achava aquilo tudo intrigante.
Na hora, até pensei em fazer algum tipo de contato, fosse acenar ou ir lá falar com ele pessoalmente, puxar conversa e fazer amizade, quem sabe, mas eu era tímido demais pra isso (pra vocês verem que essa minha extrema timidez não é de hoje), enquanto isso, meu pai se concentrava apenas em trocar o pneu, e minha mãe e minha irmã simplesmente ignoravam a presença do garoto ali.
Passava-se o tempo, passavam-se os carros pela rodovia, e o garoto continuava ali, observando tudo como se fosse um espectador em um programa de TV, provavelmente esperando ansiosamente pelo desfecho final da trama sobre uma família que tentava desesperadamente trocar o pneu do carro para retornar de sua viagem. E durante todo esse processo, o garoto não dava um pio.
Comecei a me perguntar onde estariam os pais daquele garoto, e se eles estariam o procurando naquele momento, aliás, não fazia a miníma ideia de onde seria possivelmente ele mora, então também nem imaginava o quão longe ele estava de casa. Eu era uma criança que foi muito protegida pelos pais, por isso, pra mim não era normal ver alguém da minha idade andando solto por ai sozinho sem a presença dos pais, já que normalmente quando ia para os locais, seja lá qual fosse, se meus pais não fossem, eles só me deixariam ir na presença de algum adulto responsável. E para vocês terem ideia do quanto meus pais me protegeram até demais, só aprendi a andar de ônibus aos 16 anos, mas isso não vem ao caso agora.
Não fazia ideia de quanto tempo tinha se passava, mas se fosse pra dar um palpite, diria que passaram-se meia hora até o momento que meu pai tinha finalmente terminado de trocar o pneu, com isso, a gente pôde finalmente voltar pro carro e seguir viagem. Já dentro do veículo, pouco antes de ser dada a partida, olhei para trás para ver a reação do garoto agora que iríamos embora, e fiquei intrigado ao ver que assim que o automóvel começou a andar, ele acenou em nossa direção dando "tchau", pensei em responder o aceno, sendo que mais uma vez a minha alta timidez não deixou. Após isso, o menino montou em sua bicicleta e voltou para o local de onde veio, provavelmente indo no caminho de volta para casa.
Com isso, conclui que o garoto em questão não passava simplesmente de uma criança curiosa que passava pelo local, viu o que estava acontecendo na hora e resolveu ficar lá assistindo esperando algum desfecho. Ou então, ele aproveitou para usar a criatividade e supor o como tínhamos parado ali, ou até mesmo, começou a criar uma história pra gente, imaginando todo um enredo espetacular que de uma forma ou de outra, nos levaria para aquele momento. Falando assim pode até soar um pouco "viajado", mas era o que eu teria feito no lugar dele, porque afinal, a imaginação de uma criança daquela idade normalmente funciona de uma forma incrível, sendo capaz de transformar uma situação aparentemente chata em uma grande aventura.
Mas no fim, nada aquilo importava mais, sendo assim, voltei a me focar naquele jogo com a minha irmã e aguardei a nossa chegada em Recife.


Brian

Nenhum comentário:

Postar um comentário