sábado, 12 de abril de 2014

O ponto final

Era mais um dia de aula na faculdade, tirando o fato que desta vez a gente iria fazer uma atividade um pouco diferente, mas também, importante, já que envolvia uma coisa que faremos muito na nossa vida profissional, a professora de Introdução à rádio e TV pediu pra a gente andar pela faculdade e entrevistar as pessoas perguntando sobre o que eles achavam sobre o fato de 26% dos brasileiros acharem que mulheres que usam roupa curta merecem ser estupradas, nos dividimos em duplas, pegamos um gravador e nos espalhamos por toda a universidade procurando pessoas para entrevistar.
Eu fiz dupla com Emma, e foi decidido que eu faria as perguntas e ela anotaria o que as pessoas falavam, andamos pelos arredores da faculdade e perguntávamos para praticamente todos que passavam. Nessa atividade eu tive o desafio de perder a minha timidez e ir falar com pessoas cuja as quais nunca tinha tido nenhum tipo de contato na minha vida, e claro, tomar alguns "não" na cara, o que era normal, nem todos sem sentiam a vontade para dar entrevista (apesar que teve algumas pessoas que chegaram a ser grossas com a gente).
Chegamos num ponto em que a gente já tinha rodado quase metade da universidade e já tinha falado com bastantes pessoas e estávamos ambos cansados, eu principalmente, mesmo tendo falado com muitas pessoas eu ainda assim mostrava nervosismo na hora de entrevista alguém chegando a até gaguejar.
- Na moral... - falei pra Emma - era pra tu ta entrevistando e anotando tudo, você consegue lidar com pessoas melhor que eu.
- Besteira menino... - disse ela - tais indo bem, pô.
- Gaguejando?
- Ah, so foram umas poucas vezes.
- Ainda assim, ta gravado, isso meio que estragou um pouco a entrevista!
- Sim, mas a professora não vai colocar todas, senão ficaria longo demais.
- Mas ela observa isso, com certeza...
E enquanto a gente conversava sobre isso a gente ia a caminho da sala de aula pra entregar as gravações pra professora, até que no meio do caminho eu olho pra um lado e vejo uma pessoa a qual eu definitivamente não esperava encontrar por lá. Era Gabriela, ela tava andando naquele momento com alguém que se eu me lembro bem, era a prima dela.
Respirei fundo e disse baixo, mas não o suficiente:
- Só pode ta de brincadeira comigo!
- Que foi? - perguntou Emma
- Nada não. - falei já tentando fugir do assunto
Mas Emma olhou pro mesmo lado que eu tava olhando e viu Gabriela, e disse:
- Ei, aquela dali não é...
- Gabriela, a minha ex? - falei - Sim, é.
- Então é ela a tão falada...
- Sim, mas por favor, vamos andando pra entregar logo isso aqui. - falei interrompendo ela
- Não pô, vamos lá entrevistar ela.
- Como?
- Vamos pô, aproveita e chama ela pra conversar, não é você que diz que queria ter uma chance de conversar com ela?
- Sim, mas...
- Então, bora! - disse ela já indo em direção a Gabriela
- Mas Emma, espera... - disse eu - ai meu Deus! - e fui atrás dela
Quando eu a alcancei já era tarde demais, ela já tinha feito contato com Gabriela.
- Com licença! - falou Emma para as duas.
Naquele momento Gabriela olhou para a gente, provavelmente ficou surpresa em me ver e eu fiquei mais nervoso do que já estava.
- Boa tarde, é que somos estudantes de jornalismo daqui da universidade, e estamos fazendo uma pesquisa... - falou Emma para elas - vocês se importam de responder algumas perguntas?
Eu fiquei torcendo mentalmente pra que elas recusassem, enquanto isso Gabriela cochichava algo no ouvido da prima, provavelmente falavam algo sobre mim. Passaram-se alguns instantes, até que a prima de Gabriela falou:
- Pode ser!
Minha vontade naquele momento era subir até o alto do CFCH (prédio de filosofia e ciências humanas da UFPE onde já houveram muitos casos de suicídio) e me jogar lá de cima.
- Brian, é contigo! - falou Emma no meu ouvido
Naquele momento eu fiz um grande esforço para a minha mão não tremer, o que estava difícil, então respirei fundo, procurei manter a calma, e comecei a entrevista normalmente.
Fiz todas as perguntas normalmente, e assim cada uma delas me responderam, no momento em que fiz as perguntas para Gabriela eu tentei não fazer muito contato visual, o que era difícil, levando em conta a situação. Terminada a entrevista, eu e Emma agradecemos as duas pelo tempo concedido, e nesse mesmo momento ela olhou pra mim de uma forma como se tivesse dizendo "Vá em frente", e isso de alguma forma me deu a iniciativa pra seguir em frente com aquilo.
- Te alcanço depois. - falei pra ela
Emma seguiu seu caminho, e eu estava decidido a fazer aquilo.
- Gabriela! - chamei
Ela olhou pra mim um pouco surpresa.
- Posso falar um momento com você?
Gabriela pareceu um pouco confusa, falou algo no ouvido da prima e veio até mim, a prima dela ficou lá parada aguardando-a.
 Quando ela se aproximou, eu disse:
- Surpresa ver você por aqui.
Ela ficou um momento calada e disse:
- Minha prima estuda aqui, ela me trouxe pra me mostrar um pouco da universidade, pedido meu já que esse é meu ano de vestibular.
- Entendo! - respondi
Ficamos parados olhando um para o outro por um instante, até que eu disse:
- Você já vai embora?
Ela estranhou a pergunta e disse:
- Não, porque?
Pensei bem nas palavras que eu ia usar, e disse:
- Porque... - hesitei por um instante - minha aula agora acaba em 20 minutos, depois disso terei aula vaga, por isso se não for incomodo eu queria falar melhor contigo a sós.
Gabriela parecia assustada.
- Uma conversa... - falei - No café que tem aqui perto depois que essa minha aula terminar, é so o que eu peço, e depois disso se você quiser não precisa mais olhar na minha cara nunca mais!
Ela ficou pensando por alguns segundos, e meu nervosismo aumentou ainda mais, e depois de pensar muito Gabriela disse:
- Ta certo, pode ser. - dava pra sentir a desconfiança na voz dela
- Beleza... - falei - então até já.
Gabriela seguiu seu caminho com a prima e eu fui em direção da sala de aula, chegando lá contei não só a Emma, mas também ao resto do pessoal do que tinha acontecido e do que eu iria fazer depois daquela hora, e certamente todos fizeram seus comentários. Assim que acabou a aula e fui direto para o café, aquela era, finalmente, a hora da verdade.
Me sentei na primeira mesa que vi , pedi uma água e um folhado de frango pra mim e assim fiquei esperando Gabriela chegar. Eu estava angustiado, considerei bastante a possibilidade dela simplesmente não aparecer e me deixar lá esperando com cara de paspalho, tinham se passado 5 minutos e nada dela, eu ja tinha ate terminado de comer meu folhado, já estava pensando em simplesmente desistir e ir embora, até que ela finalmente chegou. Sua expressão facial mostrava que ela estava completamente incerta em relação a isso, provavelmente se perguntando que raios eu queria falar com ela. Não demorou muito até ela me encontrar, ela provavelmente estava tão nervosa quanto eu.
- Olá Gabriela! - falei
- Olá Brian! - respondeu
- Sente-se, por favor! - falei
Ela lentamente se sentou na cadeira a minha frente.
- Quer alguma coisa? - perguntei - por minha conta
- Não, obrigada! - respondeu ela
Deixei quieto, e assim ficamos nos encarando por alguns instantes, sem falar absolutamente nada, como se um tentasse adivinhar o que se passava pela cabeça do outro naquele momento.
- Bom, Brian... - falou Gabriela - tenho certeza que você não me chamou aqui para a gente ficar olhando pra cara um do outro.
- Você está certa. - respondi
- Então, por que me chamasse aqui?
- Porque parece que essa é a única maneira de você olhar pra mim de uma forma que eu exista!
- Do que você está falando?
- Acho que você sabe muito bem.
- Tenha certeza de que, se eu soubesse eu não te perguntaria.
- Bom, se é assim... - falei - vamos do princípio.
Ela me olhou atentamente.
- Me responde uma coisa... - continuei - eu fiz algo de ruim a você?
Gabriela ficou surpresa.
- N-Não, porque a pergunta?
- Então me fale por que razão você simplesmente me ignora quando eu passo por você? - a cada palavra que eu falava, mas nervoso eu ficava - Por que você me trata agora como se eu fosse ninguém?
Ela ouvia tudo atentamente.
- Isso sem falar naquele dia em que eu fui no colégio, te cumprimentei e em troca recebi um olhar frio.
- Bom... - suspirou ela - uma coisa eu te digo com convicção, esse dia em que você diz que eu "te dei um olhar frio" eu te garanto que essa não foi a intenção, e te peço mil desculpas se eu realmente te magoei com isso.
Respirou fundo, e disse:
- Bom, fico feliz que você tenha esclarecido isso. - foi um pequeno momento de alívio, mas também, o único - mas, enquanto as outras perguntas, quais respostas você me dar?
Desta vez, ela foi quem respirou fundo.
- Bem... - disse ela - acho que as respostas pra essas perguntas são um pouco óbvias.
Pensei um pouco, e disse:
- Porque somos exs, certo?
Ela confirmou com a cabeça.
- Sério... - suspirei - eu nunca quis que a gente chegasse nesse ponto de simplesmente fingir que o outro não existe, por mim a gente taria sendo amigos até agora.
- Mas talvez, tenha sido melhor assim.
- Por que você acha isso?
- Porque assim você não ficaria iludido, e também assim você não sofreria tanto.
Pensei um pouco, e disse:
- Justo! - mas depois disse - mas veja, eu e Júlia somos exs e ainda assim conseguimos ser amigos, por que não pode ser igual com a gente?
- Porque cada caso, é um caso, eu mesmo nunca consegui manter uma amizade com nenhum ex.
Eu queria questionar, mas achei melhor deixar quieto.
- Isso sem falar, que agora eu to com Jonas, e sei lá, ele é muito ciumento, provavelmente ele não gostaria de me ver falando com nenhum ex meu. - disse ela
- Pelo amor de Deus, Gabriela, isso é uma grande besteira!
- Pra mim não é!
Foi difícil engolir aquilo, mas me esforcei ao máximo.
- E acho, que você estava ligado que eu sempre gostei de Jonas, não é?
- Na época não dei muita atenção, mas eu percebia que havia um sentimento a mais quando você falava dele. - falei lembrando de todas as vezes que Gabriela falou dele pra mim.
Pensei até em perguntar se ele influenciou para o termino do nosso namoro, mas achei melhor não.
- Enfim... - falei - quero lhe propor uma coisa.
- Fale! - disse ela
Respirei fundo, e disse:
- Eu lembro que há muito tempo atrás, no auge do nosso namoro, eu lhe fiz uma promessa e disse que nunca sairia da sua vida, mesmo se a gente terminasse... - lembrei disso com muito desgosto, aquela situação toda era a prova do quanto essa promessa tinha sido cumprida - eu estou disposto a manter essa promessa, claro, apenas se você quiser.
A olhei nos olhos, e falei:
- Então, o que me diz?
Ela ficou calada por alguns minutos, provavelmente pensando no que eu disse, e eu esperava atentamente por sua resposta, até que ela me olhou nos olhos e balançou a cabeça dizendo "não", seu olhar dizia melhor do que qualquer palavra.
- Está certo então... - falei - deixemos tudo do jeito que está!
- Talvez seja melhor assim. - falou ela
Peguei minhas coisas, paguei a minha conta, olhei pra Gabriela e disse:
- Lhe desejo toda felicidade do mundo. - respirei fundo e disse - passar bem.
E assim segui o meu caminho, e não olhei para trás.
Já dentro da universidade, eu me sentei no primeiro banco que achei, botei meu ipod no ouvido e comecei a refletir sobre aquilo tudo, e percebi que no fim das contas foi bom eu ter tido aquela conversa, apesar de tudo, pude esclarecer umas coisas que me incomodavam a um bom tempo e assim pude confirmar que definitivamente, não foi culpa minha, essa que era a dúvida que mais me incomodava, mas agora eu estava com a consciência limpa, eu estava ciente que em hora nenhuma eu descumpri com a minha promessa, eu fiz a minha parte, não deu certo porque também dependia da outra parte. No fim das contas, eu finalmente podia dizer que essa longa história finalmente teve seu ponto final.


Brian

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