segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A história de uma cadela

Hoje não irei contar exatamente uma história "minha", quer dizer, eu não deixo de estar incluído nela, mas eu não sou o foco principal dessa vez. O foco dessa vez será uma pequena criatura que apareceu de repente não só na minha vida, mas também na vida de todos que treinam na minha academia de kung fu.
Mas antes de começar, eu farei uma breve introdução sobre a minha academia de kung fu (já contei uma vez uma história minha que ocorreu lá, mas sem muitos detalhes sobre a academia em si). Primeiramente, a gente não treina exatamente em uma "academia", não temos um teto propriamente dito, nós treinamos em um espaço público da UFPE que todos chamam de "caixa d'água". E não, a federal não nenhum vínculo com a nossa academia, apenas utilizamos o espaço, e claro, temos as nossas dificuldades por se tratar de um local público.
Como por exemplo, sempre temos que dividir o espaço com o pessoal que frequenta a área (que no geral são famílias, skatistas, ciclistas e outra coisas do gênero, e pessoas que ficam a toa por lá), se chover ou a gente treina na chuva ou simplesmente não treina, se tiver gente falando alto demais no local a gente não tem a moral pra pedir pra que falem mais baixo, isso sem falar na questão da segurança, já que o local em questão é estranho, principalmente a noite, e gente mal intencionada passa aos montes por lá.
Agora, esses detalhes todos são importantes pra história em questão? Bom, pra vocês poderem compreender certas parte eu diria que sim, mas enfim, vamos logo pra parte que interessa.
Eu não sei dizer com precisão a quanto tempo essa "pequena criatura" apareceu por lá, isso porque ela apareceu durante os dois meses em que estive afastado por causa do emprego temporário que eu tinha arrumado cujo o expediente no sábado era das seis da manhã até as seis da tarde, mas enfim, de uma forma ou de outra ela apareceu de repente pela caixa d'água.
Essa "pequena criatura" em que falo é nada mais e nada menos do que uma simples cadela vira-lata, na primeira vez em que vi ela foi na minha volta aos treinos após dois meses afastado. Quando cheguei na caixa d'água ela já veio direto em minha direção pra me cheirar, o normal de qualquer cachorro quando alguém que ele não conhece aparece.
Inicialmente eu achei que ela era a cadela de alguém que estava por lá, ou até mesmo de alguém da academia, já que ela estava de coleira, mas quando perguntei me confirmaram que não era, e o pessoal falou que ela estava por lá já fazia algumas semanas. Ou seja, tudo levava a entender que algum desalmado abandonou a coitada por lá.
Certamente que no início todos achavam que ela não ia ficar por lá por muito tempo, o que realmente não aconteceu. Passaram-se mais semanas e ela ainda estava lá, sempre andando por aquela área, todo treino ela estava lá, sempre que alguém chegava ela ia na direção da pessoa dar as suas "boas-vindas", aos poucos ela foi virando o xodó do pessoal, já podíamos dizer que ela estava virando o mascote da academia, a simples cadelinha já estava conquistando a simpatia e o carinho de todos, inclusive de mim, ela conseguiu conquistar até mesmo a simpatia do nosso mestre.
Até que alguns treinos depois nós finalmente resolvemos adota-la como mascote oficial da academia, a levamos pra ser vacinada num veterinário que havia lá por perto e também finalmente lhe arranjamos um nome, a partir daquele momento a simples cadelinha passou a ser conhecida como Chola. Naquele mesmo dia durante o treino, o mestre falou para gente que a partir daquele dia todos nós teríamos a responsabilidade de cuidar de Chola, e que ela agora era um membro da nossa academia, da nossa família.
E desde então a gente passou a dar água e comida pra ela, felizmente não eramos os únicos, outras pessoas dentro da federal também ajudavam a cuidar dela quando a gente não estava por lá, principalmente na parte de dar banho nela, e sempre que ela precisasse de um veterinário cada um daria uma ajuda para leva-la em um.
Mas esses eram apenas mínimos detalhes, porque no geral ela sabia se virava. Podemos dizer que a gente cuidava dela, mas Chola não era de ninguém, a casa dela era a caixa d'água, ela andava por lá livremente, fazia o que bem queria, mas claro, vez ou outra a gente tinha que ser mais ríspido com ela pra evitar dela fazer alguma bobagem (o que por um lado era um pouco complicado, já que ela não era muito de obedecer ordens), por exemplo, muitas vezes ela sai latindo que nem doida pra cima de outros cachorros que passam pelo local (fazendo isso uma vez até mesmo com um pitbull), ou até mesmo pra cima de algumas pessoas, mas calma, como diz o famoso ditado, cão que ladra não morde, ela nunca atacou ninguém e nem chegou a brigar com outros cães, o máximo que ela faz é rosnar e sair latindo pra cima da pessoa e depois recuar (mesmo assim, isso fez algumas pessoas terem medo dela), mas claro, sempre que ela faz isso alguém da academia dá uma bronca nela.
Outra coisa que ela faz normalmente também é atrapalhar a gente enquanto estamos treinando, uma vez quando estava treino de combate, os que estavam de fora tiveram que fazer um quadrado pra simular um ringue, e vez ou outra Chola tentava entrar nesse quadrado, e claro, alguém a tirava de lá pela coleira quando ela fazia isso. Outro exemplo foi uma vez em que eu estava treinando a minha forma de bastão e ela apareceu no meio, por pouco eu não bati nela, quando isso acontece a gente tem que bater com o bastão no chão pra afasta-la, outro caso é quando a gente está fazendo algum exercício no chão e ela vem pra lamber a nossa cara, nesse caso a gente simplesmente manda ela sair, e também as vezes que a gente ta sentado tendo uma mini-reunião e ela fica pentelhando alguém, mas nesse caso ou alguém manda ela sentar ou então fica paparicando ela mesmo (que ai ela fica quieta um pouco).
Mas mesmo com todos esses detalhes, todo mundo na academia a ama, e não tem como não amar, Chola era uma fofa, ela não precisava de muito pra ficar alegre, muitas vezes um jambo seco no chão já era o suficiente pra ela se divertir. E se tem uma características que eu adoro dos cães, é a sua lealdade, é lindo ver a alegria que Chola fica quando algum de nós chega na Caixa d'água, ou então nas vezes em que a gente vai correr o quarteirão e ela vem correr conosco, e principalmente, nas vezes em que saímos da Caixa d'água após o anoitecer e ela nos acompanhou até o portão de saída da federal.
No fim das contas, Chola realmente virou um membro da nossa família, uma simples cadelinha que apareceu de repente pela Caixa d'água, e assim, por lá ficou, treino após treino, com a mesma alegria com que chegou por lá, e aos poucos ganhou o amor de todos tanto da academia quanto do pessoal de fora.
E não só eu, mas como todos por lá, esperamos que ela fique bastante tempo conosco, porque eu garanto, no dia que ela se for (e espero muito que esse dia demore bastante pra chegar), todo mundo sentirá a falta dela, inclusive eu.

Brian

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