terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Mais uma daquelas conversas com a minha consciência

Aquele era mais um daqueles dias estressante em que eu simplesmente não devia ter levantado da cama, mais uma vez tive que aguentar calado as frescuras da minha família em casa, o que aconteceu exatamente eu prefiro não comentar pra não acabar passando mais raiva, mas eu posso dizer que sempre que essas coisas acontecem eu acabo com coisas entaladas na gargantas, boa parte delas são verdades que eu queria muito jogar na cara da pessoa, mas nunca faço. Ai você me pergunta o porquê, simplesmente porque eu sempre acabo dando uma de "bonzinho" e deixo passar pra não criar mais confusão, o que me faz muito mal, principalmente porque nos momentos em que estou sozinho eu sempre fico remoendo aquilo tudo, e também penso em coisas que eu poderia ter dito, e acabo sentindo mais raiva ainda.
E pior ainda, como isso é uma coisa que eu faço desde que me entendo por gente, nessas horas eu começo a lembrar de coisas que me fizeram passar raiva no passado e que eu também deixei passar, e pior de tudo, boa parte dessas coisas aconteceram a anos atrás, mas ainda assim eu fico relembrando delas e sentindo a mesma raiva que eu senti na época, outra consequência disso é quando eu vou desabafar alguma dessas coisas com alguém, o sentimento de raiva sempre me sobe a cabeça e sempre acabo contando o acontecimento gritando de raiva, meus amigos sempre comentam isso quando ocorre.
Bom, era uma quarta-feira, era quase dez da noite e todos aqui em casa tinham ido dormir, para o meu alívio, finalmente eu teria um momento de paz, mas ainda assim aquilo tudo estava entalado na minha garganta, eu simplesmente não parava de pensar naquelas merdas todas, e certamente, eu começava a lembrar das outras coisas no passado que me fizeram passar raiva (em alguns casos, coisas que aconteceram a muitos anos atrás).
Até que depois de uma hora mais ou menos eu fui me deitar um pouco, pra ver se assim eu conseguia esfriar um pouco a cabeça, então depois de ficar uns vinte minutos rolando de um canto pro outro na cama, o sono começou a vir, e aos poucos eu acabei dormindo.
E quando me dei conta, eu abri meus olhos novamente, ai vi que tudo ainda estava ligado no meu quarto, então me levantei ainda sonolento para desligar tudo, sendo que antes de tudo eu iria olhar no meu celular a hora, quando o peguei eu estranhei uma coisa. Havia um vídeo passando nele, sendo que eu não estava fazendo nada no celular antes de pegar no sono, foi então que eu olhei melhor e vi que era um vídeo de um daqueles momentos que eu fico lembrando e tendo raiva.
Até que de repente, eu começo a olhar ao meu redor e vejo as paredes do meu quarto se desmontando, aliás, eu vejo meu quarto inteiro se desfazendo diante dos meus olhos, foi quando me dei conta que eu estava sonhando. Aos poucos meu quarto foi sumindo, até sobrar apenas um fundo branco, então de repente várias imagens começaram a passar pela paredes, todas elas eram lembranças minhas que me faziam ter raiva.
Foi então que eu senti aquela conhecida presença mais uma vez.
- Pode mandar a bronca! - falei pra minha consciência
- Você já está olhando pra ela. - disse ele mais uma vez, assumindo a minha fisionomia.
- Isso tudo que está nas paredes?
- Exato! 
Então ficamos alguns segundos parados observando as imagens que passavam, até minha consciência falar:
- Ás vezes me pergunto se você é masoquista.
- Por que dizes isso? - perguntei
- Porque eu não sei como você aguenta ficar relembrando dessas coisas e sentir a mesma raiva que você sentiu na hora, é angustiante, sério.
- Ás vezes eu me pergunto a mesma coisa. - falei
- E porque você continua fazendo?
- Porque é o que me resta.
- Explique melhor isso ai...
Respirei fundo, e falei:
- Já que eu não arrumo coragem pra falar na cara tudo aquilo que eu quero normalmente, o que me resta é ficar pensando de como as coisas seriam se eu conseguisse.
- O que te faz sentir pior do que você já está sentindo.
Ele tinha razão (mais uma vez).
- Agora me responda uma coisa... - continuou - isso adianta de algo?
Dei outro suspiro e falei bem baixinho:
- Não.
- Eu não ouvi direito! - retrucou minha consciência
- Eu disse que não! - falei mais alto
- E você sabe muito bem o que realmente vai adiantar, né?
- Sei! - respondi
- Então me fale agora em alto e bom som.
Fiquei calado por alguns segundos, e falei
- Falar na cara tudo aquilo que eu penso sem ter medo das consequências.
- Ai, ta vendo? - falou ele - você é um cara inteligente, só falta começar a ter atitude.
Atitude, essa era uma coisa que eu precisava melhorar muito, e urgentemente.
- Cara, irei te da um conselho... - continuou falando a minha consciência - sabe uma boa forma de começar a ter atitude?
- Diga!
- Não ter medo de arrumar confusão por isso, parar de querer ser o "bonzinho"...
Eu o ouvia atentamente.
- Isso porque quem normalmente é "bonzinho"... - continuava - não consegue se impor, não consegue absolutamente nada.
E eu pensava naquilo tudo que ele dizia, e fazia sentido.
- Aliás, veja por esse lado... - ele continuou falando - tu acha que as grandes revoluções da humanidade teriam acontecido se os envolvidos tivessem sido os "bonzinhos" e tivessem ficados quietos só para não arrumar confusão?
- Não. - respondi
- Pronto, essa é a prova de que pra você conseguir o que quer, você precisa se impor vez ou outra, arrumar confusão uma vez ou outra, e batalhar por isso.
- Mas eu prezo pelos meus relacionamentos. - falei
- Eu por acaso disse pra você deixar de fazer isso? - perguntou ele - Eu não disse que você tem que passar por cima das pessoas, e sim que você precisa de vez em quando entrar em algumas discussões, e se isso abalar seu relacionamento com a pessoa você pode tentar se resolver com ela depois.
Eu ainda tinha minhas dúvidas.
Foi então que a minha consciência começou a olhar pra mim, e falou:
- Mas lembre-se disso, não há respeito naquele que se omite.
Depois que ele disse aquilo, tudo começou a tremer, e as imagens nas paredes começaram a se apagar, era sinal de que eu estava prestes a acordar.
Então eu finalmente acordei, eu estava novamente eu meu quarto, e dessa vez de verdade, me levantei da cama e fui olhar o relógio, eram três e quinze da manhã, então nessa hora eu desliguei tudo e voltei para cama, ainda pensando no sonho que eu tive e naquilo tudo que minha consciência disse, e claro, repensando minhas atitudes, ou a falta delas, até finalmente pegar no sono de novo.


Brian

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