quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Em um carnaval não muito qualquer...

E finalmente tinha chegado a época do ano que eu mais odiava, o carnaval, época que boa parte da população ia pras ruas comemorar uma das festas mais tradicionais da nossa cultura. Mas já pra quem não gosta de carnaval e quer fugir dele de alguma forma, como eu, arrumar o que fazer durante o feriado era difícil, principalmente aqui em Recife, já que praticamente tudo para e só volta a funcionar normalmente na quarta-feira de cinzas.
E lá estava eu, na terça-feira de carnaval de manhã, em casa, fazendo absolutamente nada, quer dizer, fazendo o que eu sempre faço quando to em casa a toa, navegando na internet, tocando violão, ouvindo música, e por ai vai.
Apesar disso tudo no sábado eu ate tinha ido pro centro da cidade de noite, isso porque uma banda que eu curto muito iria tocar, então fui la ver com meus amigos, e certamente, valeu a pena não só pelo show, mas também pela zoeira do pessoal e tudo o mais, tanto que todos só voltamos para casa depois do amanhecer.
Mas enfim, voltando para onde estávamos, eu continuava lá no meu quarto no tédio completo, enquanto também se ouvia algum bloco de carnaval passando pela rua daqui de casa. E eu realmente tava em uma de uns tempos para cá que eu não aguentava mais ficar em casa, sendo que o problema era aquilo que eu disse inicialmente sobre nada estar aberto durante o carnaval, basicamente, na verdade, o cinema é a única opção de diversão existente na semana de carnaval.
Então pensando nisso eu fui olhar o catálogo de filmes em cartaz na internet, havia alguns interessantes, chequei os horários e decidi que iria ver um naquela tarde, sendo que o problema era, com quem?
Minha mãe já tinha visto todos os filmes que ela queria ver que estão em cartaz e minha irmã estava viajando com o namorado, e boa parte dos meus amigos ou já tinham outras coisas pra fazer, ou estavam brincando carnaval, ou estavam viajando ou não queriam ver os respectivos filmes seja lá por qual razão, ou seja, provavelmente se eu quisesse ir no cinema eu teria que ir sozinho.
O que já estava praticamente decidido, já estava me programando e tudo, mas uma coisa era fato, ir no cinema sozinho era uma coisa muito deprimente, por isso eu ainda daria minhas últimas tentativas de conseguir alguém pra ir comigo. Foi então que eu recebi uma mensagem no meu celular, era "Dela", Simone.
"Oi Brian!" dizia a mensagem
"Oi Simone!" respondi de imediato
"Tudo bem contigo?"
Então respondi:
"Sim, e contigo?"
"Também, apesar do tédio" respondeu ela
E então a gente começou a conversar de como estava o nosso feriado, ela tinha ido ver uns parentes no interior durante o fim de semana e tinha voltado no dia anterior, e eu contei para ela da minha ida para o centro da cidade no sábado a noite.
Foi então que me veio em mente a ideia de chamá-la pra ir no cinema comigo, aliás, aquela era a oportunidade perfeita, estávamos nós dois completamente desocupados e seria apenas eu e ela.
"Ei, Simone"
"Diga." falou ela
Então respirei fundo, e escrevi:
"É que hoje eu tô pensando em ir no cinema..."
Então escrevi em outra linha:
"...e tava pensando, queres ir comigo?"
A partir daquele momento eu fiquei tenso em espera da resposta, meu coração chega disparava, até que alguns segundos depois ela respondeu:
"Claro que quero :)"
Simplesmente não haviam palavras que descrevessem a sensação de alegria que eu estava naquele momento. Então a gente começou a acertar tudo direitinho, em qual cinema seria, o horário e que filme seria, e assim eu finalmente dava um importante passo.
Marcamos bem cedinho, no início da tarde logo após o almoço, e assim que terminei o meu eu fui a caminho do shopping, isso eram mais ou menos meio-dia e meia. Cheguei lá eram uma e quinze da tarde, pra variar eu fui o primeiro a chegar, Simone ainda estava no caminho, mas segundo o que ela tinha dito quando eu liguei, ela não iria demorar muito pra chegar, então eu me sentei no primeiro banco que encontrei e fiquei lá a aguardando.
E enquanto isso eu simplesmente fiquei pensando nas minhas expectativas para aquele momento, talvez desse em algo, talvez não desse, só dependeria de mim, era só eu não fazer nenhuma bobagem que estava tudo bem, e enquanto eu pensava nisso tudo, eu apenas observava a movimentação do shopping (que mesmo com as lojas fechadas, ainda tinha bastante gente andando por lá).
Depois de uns vinte minutos, Simone finalmente tinha chegado, ela ligou para mim e pediu pra que eu a encontrasse no cinema, e assim fui para lá. Chegando lá eu ainda esperei alguns minutos até finalmente encontrar Simone.
Pode ser até clichê eu falar isso mais uma vez, mas ainda assim não deixa de ser verdade, ela estava muito linda, aliás, ela é linda, em todos os momentos, mas enfim. Quando a vi chegando eu acenei para que ela me visse, e assim que viu ela veio em minha direção, e então eu fui ao seu encontro. Quando nos aproximamos, nos cumprimentamos e nos abraçamos, aproveitei para dar um abraço mais apertado nela, e eu a senti retribuindo, o que me deu uma sensação de tranquilidade.
Então logo após a gente foi pra fila pra comprar os ingressos, que felizmente não tava lá muito grande naquela hora, ou seja, não demorou nem dez minutos. Então logo após de comprar os ingressos, Simone falou:
- E agora, o que faremos?
Eu pensei, e disse:
- Vamos andar um pouco por ai, apesar de não ter basicamente nada aberto.
A gente ainda tinha um tempinho de sobra, a sessão começava de duas e quarenta e ainda eram uma e meia da tarde.
Então Simone disse:
- Esse é o problema, mas não tem nada não, a gente fica rodando o shopping conversando mesmo.
"Isso porque as vezes não importa muito o que você vai fazer, e sim com quem você estar" pensei naquele momento, até pensei em falar isso para ela, mas achei melhor deixar quieto.
E aí fomos andar pelo shopping, além de conversar, certamente, a gente também ficou olhando as vitrines de algumas lojas fechadas (aliás, algumas, tipo a livraria, era uma pena que estavam fechadas, porque teria muita coisa de interessante pra gente ver lá).
Uma das poucas partes do shopping que estavam abertas naquele dia era o supermercado, então fomos para lá da uma olhada em tudo, logo na entrada havia umas máscaras e chapéus sendo vendidos pro carnaval, e a gente certamente começou a zoar os experimentando, alguns ficavam legais na gente e outros ficavam toscos pra cacete. E em alguns casos (contra a minha vontade) tiramos algumas fotos da gente usando aquelas porcarias, e claro, rimos pra caramba.
Depois fomos pra alas de CD's e DVD's, que era a parte que mais nos interessava, e chegando lá ficamos falando sobre aqueles que nos interessava, e foi a partir daí que eu vi que eu e ela tínhamos um gosto bastante parecido. E havia alguns que eu até pensei em comprar, mas estavam com um preço bem salgado, então deixei para lá.
Quando nos demos conta, já eram duas e vinte e cinco.
- Melhor a gente ir pra fila, né? - falei
- Concordo contigo. - disse ela
E assim a gente foi em direção do cinema.
Quando chegamos lá, já tinham aberto a sala e logo entramos.
Ainda faltavam uns vinte minutos para o filme começar, e enquanto isso a gente continuava conversando sobre coisas aleatórias, apesar que, foi naquele momento que me passou pela mente:
"Porque você não fala dos seus sentimentos para ela?" pensei "é a oportunidade perfeita, apenas vocês dois numa sala de cinema, tem situação melhor que essa?"
E isso ficou martelando minha cabeça o tempo todo, mas pra variar, me faltou a droga da iniciativa.
"Tu é um cagão mesmo, hein Brian?" pensei
Até que o finalmente o filme começou, as luzes se apagaram e o telão se acendeu, e então ficamos em silêncio e passamos a olhar atentamente pro que se passava na tela.
Ao longo que o filme se desenrolava a gente não falou muito, o máximo que fazíamos era algum comentário rápido no ouvido do outro, e aquilo de falar do que eu sentia pra ela ainda vez ou outra me martelava, mas eu fazia de tudo para deixar isso para lá, o que não estava muito difícil, até um certo momento.
A sala estava fria pra caramba, o que pra mim não era muito problema, eu costumo a aguentar de boas, mas eu percebia que Simone estava simplesmente congelando, e a coitada estava sem um casaco. Foi então que de repente, ela se abraçou comigo.
- Posso? - perguntou ela - to com muito frio.
- Claro que pode. - respondi a abraçando de volta.
E certamente, aquelas coisas voltaram a me martelar ainda mais forte.
"Tu só não fala porque não quer." "Só depende de você." "Porque tu é assim, cara?" "Seja macho, caralho!" eram alguns dos pensamentos que passavam pela minha cabeça, e até mesmo alguns do tipo "Nessas horas me surpreende muito você não ser gay."
E daquela forma ficamos ao longo de todo o filme, e vez ou outra eu a sentia me abraçando mais forte, eu certamente retribuía, e vez ou outra também eu fazia um cafuné nela, e ela também fazia o mesmo em mim, e nessas horas que eu ficava em dúvida se prestava atenção no filme ou nela.
"Cara, eu sinceramente desisto de tu." pensei mais uma vez.
E depois de uma hora e meia, o filme tinha terminado, foi quando finalmente nos soltamos e fomos em direção da saída da sala. Enquanto saímos de lá, a gente certamente ficou falando do que a gente tinha achado do filme e demos todos os comentários que tínhamos em mente. Foi enquanto isso que eu perguntei pra Simone:
- Ei Simone, tu ta com tempo?
- Sim, por que?
Eu hesitei por um momento, mas falei:
- Quer... sei lá, sentar e comer um lanche, ou,... coisa assim?
Ela riu um pouco, provavelmente do meu nervosismo.
- Sim, claro que quero. - falou ela sorrindo
E ouvindo a sua resposta eu sorri junto com ela. E mais uma vez, vai ser clichê pra cacete eu falando isso, mas é a verdade, o sorriso dela realçava a beleza dela ainda mais.
Depois que decidimos o que iríamos comer, arrumamos uma mesa pela praça de alimentação (que tinha bastante gente, mas não estava lotada, felizmente), nos sentamos e continuamos a conversar enquanto comíamos. E enquanto ela falava, eu observava mais a sua beleza, e dessa forma aqueles pensamentos mais uma vez voltaram a me martelar, e cada vez mais forte, e de alguma forma isso estava me deixando nervoso, nervoso a ponto da minha mão começar a tremer, e Simone acabou percebendo.
- Brian, você tá bem?
Sem jeito, respondi:
- Claro, claro, por que não estaria? - falei com um sorriso meio forçado
- Você ta tremendo. - falou ela apontando pra minha mão.
- Ah, isso? - falei me fazendo de cínico - não é nada demais, é só o frio.
Ela fez uma cara de quem claramente não engoliu aquela história, mas por alguma razão ela deixou passar, para o meu alívio, e dessa forma eu tentava tirar aqueles pensamentos da minha cabeça de todas as formas possíveis.
Passava-se o tempo e a gente ainda estava lá conversando, e isso a gente já tendo terminado de comer há um bom tempo, até que uma hora Simone olhou pro relógio e ficou espantada.
- Caramba, já são quase sete horas. - isso porque quando a gente tinha saído da sala eram quase quatro - melhor a gente ir, não acha.
Na verdade eu não queria ir, eu queria ficar lá mais tempo com ela.
- É... É melhor. - falei meio que a contra-gosto.
Então eu perguntei:
- Você vai voltar como?
- Cara, essa é uma boa pergunta... - disse ela pensando - pela hora eu vou voltar de táxi mesmo.
- Ah, beleza. - falei logo após.
- E tu?
- Eu vou pegar um "busão" mesmo, o percusso não é lá muito longo.
- Beleza, mas você vai agora?
- Não exatamente... - falei - vou esperar tu pegar um táxi e ai eu vou.
- Ah, Brian, precisa disso não, se quiser ir logo pode ir.
- Não, não, faço questão de esperar.
Ela ficou calada por um momento e disse:
- Ta bem então... - disse sorrindo - é muito gentil da sua parte.
E eu mais uma vez retribuí o sorriso.
Fomos até a saída do shopping e ao contrário do que eu pensava, não havia nenhum táxi estacionado por lá (consequência da alta demanda do carnaval, provavelmente), então eu fiquei com Simone fazendo sinal pra todos os táxis que passavam por ali, não foi fácil, mas depois de uns quinze minutos a gente conseguiu.
Então quando um deles finalmente parou, Simone virou pra mim e disse:
- Bom, agora to indo nessa, obrigada Brian, não só pelo convite mas também por me esperar.
- Não precisa agradecer. - falei sorrindo
Ficamos calados por um momento, até que ela disse:
- Nos vemos quinta pela faculdade, então?
- Com certeza! - falei
E mais uma vez, ficamos calados olhando um para o outro por um momento.
- Bom, até lá então. - falou ela me abraçando fortemente e me dando um beijo no rosto.
- Até. - respondi meio sem graça.
E assim ela entrou no táxi e foi para o caminho de casa, enquanto eu fui pra parada de ônibus que ficava bem ao lado, felizmente o local ainda tinha uma movimentação, não muita, mas tinha, o que me deixava mais tranquilo, e assim fiquei lá esperando meu ônibus passar.
Depois de uns quinze minutos ele passou e assim segui meu caminho pra casa, e naquele momento apenas duas coisas passavam pela minha cabeça.
1- De como aquele dia valeu a pena.
2- De como eu preciso vencer a minha timidez urgentemente.
Eu simplesmente tinha desperdiçado a melhor chance que eu tive de falar pra Simone tudo aquilo que eu sentia por ela que estava entalado na minha garganta, foi nessa hora então que mais uma vez eu pensei.
"Caramba, velho, por que eu sou assim?"


Brian 

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