domingo, 1 de julho de 2012

A hora da verdade

Eu estava me preparando para ir pro cursinho de Português, era uma chuvosa tarde de quinta-feira e eu ia de ônibus para lá, ou seja, eu teria que enfrentar uma chuvinha básica.
Estava com tudo pronto, peguei meu guarda-chuva e saí de casa, chamei o elevador e fiquei aguardando. Comecei a pensar em como tinha sido meu dia, bom, foi mais um dia chato de aula, nada de muito diferente de qualquer dia, mas ainda bem que Gabi tinha ido pro colégio naquele dia, ela já estava melhor, o dia todo a gente não saiu de perto um do outro. Eu a amava muito, cada minuto ao lado dela valia a pena, e sempre quando ela não estava por perto eu ficava com uma saudade extrema, ela tinha virado o motivo pra eu sorrir todos os dias.
E finalmente o elevador chegou, entrei e apertei o térreo, quando a porta fechou a única coisa que me passava pela cabeça era pegar logo esse maldito ônibus e chegar no cursinho, e o pior é que a parada era um pouco longe e o ônibus as vezes demorava, e isso ja me desanimava e me deixava com vontade de não ir, mas infelizmente eu tinha que ir, maldito seja o vestibular.
Foi então que o elevador parou no 13º andar, o andar de Júlia. Eu e Júlia estavamos um bom tempo sem falar um com o outro, desde que ela tinha terminado nosso namoro por definitivo, e toda vez que a gente se encontrava no prédio era constrangedor, a gente até dava ''bom dia'' um para o outro, mas não passava disso, depois ficava nós dois calados até que o elevador chegasse em sua destino e um de nós saísse.
Não foi diferente dessa vez, a porta abriu e ela estava lá, ao me ver fez a velha cara de espanto que ela sempre fazia quando me via, já tinha me acostumado.
- Boa tarde! - falou ela baixinho.
- Boa tarde! - respondi
Ela foi pro canto do elevador distante de mim e ficou lá olhando pra baixo, a porta fechou e o elevador andou.
Eu até pensei em falar algo com ela, mas achei melhor não, as coisas entre a gente ainda não estava das melhores. Passaram-se uns segundos de silêncio, até que as luzes do elevador começaram a piscar e o elevador começou a tremer, comecei a ficar assustado e Júlia também. Então ouvimos um grande estrondo, o elevador parou de vez, Júlia gritou e eu quase caia, ficou escuro por alguns segundo, mas depois as luzes se reacenderam.
O elevador ainda estava parado, apertei o botão pra ver se adiantava de algo, mas nada ocorreu, Júlia estava ficando cada vez mais assustada. Peguei o interfone e liguei pra portaria, no 3º toque o porteiro finalmente atendeu.
- Alô? - falou ele
- Seu Zé?
- Sim, sou eu.
- Aqui é Brian do 15º, ta eu e Júlia do 13º aqui presos no elevador, tu sabe dizer o que houve?
- A chuva deve ter danificado um dos fusíveis, já estamos indo verificar, mas vou logo avisando que pode demorar um pouco pra ajeitar.
- Sério mesmo? Porra, eu tenho aula daqui a pouco.
- Sinto muito, mas é tudo que podemos fazer, enquanto isso fiquem calmos e não entrem em pânico, faremos o possível pra que vocês saiam daí bem.
- Ta certo, vamos tentar manter a calma aqui, obrigado.
Desliguei o interfone e fui ver como Júlia estava, e não faltava muito para ela ter um ataque de pânico.
- Ai meu Deus, não acredito que isso estar acontecendo.
- Fica calma, Júlia, eles já estão resolvendo tudo. - primeira vez desde o termino do namoro que eu falava pra ela algo diferente de ''bom dia'' ou ''boa tarde''.
- Eu ouvi a conversa, eu sei que eles vão demorar pra arrumar tudo.
- Sim, mas perder a calma não é uma opção!
- Não da pra manter a calma!
- Pelo menos tente! - fale aumentando um pouco o tom de voz
Ela começou a respirar fundo, mas eu percebia que aquilo não estava ajudando em nada.
- EU NÃO CONSIGO! - gritou ela
Comecei a ficar impaciente.
- Ai meu Deus! - falei
E então ficamos um momento sem falar nada, Júlia se desesperava a cada segundo que se passava e minha paciência diminuía cada vez mais.
- O que vamos fazer? - perguntou ela
- Não há mais nada pra fazer que não seja esperar!
- Ai, que droga.
- Tenta manter a calma.
- JÁ FALEI QUE NÃO DA!
- Puta que pariu.
Eu estava me segurando para não ser grosso com ela.
Passaram-se mais um tempinho de silêncio, até que Júlia falou:
- Faz um tempo que a gente não fica muito tempo no mesmo ambiente, né?
- Pois é! - respondi
- E em pensar que a algum tempo a gente não saia do pé um do outro.
- Pois é, eu tenho pensado bastante nisso.
- Ficasse um bom tempo arrasado depois que terminamos, né?
- Tu acha? Tu num sabe nem de metade do que eu senti.
- Sinto muito por isso!
- Não sinta, por favor, não sinta.
- Eu via como você estava quando a gente se encontrava no prédio, eu me sentia mal por isso sempre.
- Mas o que você pode fazer? O que eu posso fazer a respeito? Nada!
- Não me faça me sentir pior.
- Tarde demais!
Passou-se outro momento de silêncio e ela disse:
- Eu simplesmente não podia continuar te enganando, você é um ótimo cara, você não merece isso.
- Ao menos me explicava o porque!
- Eu te disse o porquê, eu não estava mais sentindo aquilo tudo por você.
- Eu acho que não é so isso.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Eu simplesmente sei.
Ela estava ficando impaciente.
Comecei a andar de um canto pro outro, aquilo estava ficando cada vez mais desconfortante, isso sem falar no fato do porteiro não ter nos dado novidade nenhuma sobre a situação.
- Ta bom... - disse ela - eu realmente não disse tudo.
- Eu sabia! - disse eu
- É que eu realmente não me sentia bem te contando isso.
- Mas devia ter contado!
- Eu sei!
Ela respirou fundo, e disse:
- Umas duas semanas antes da gente terminar, eu conheci um garoto em uma festa, ele também tem 17 anos e é um amigo da minha prima, e lá a gente conversou, dançou, se divertiu e tudo o mais, a gente trocou números e depois disso a gente passou a se falar constantemente... - eu ouvia tudo atentamente - Aí eu meio que comecei a me interessar por ele, no inicio fiquei assustada, tentei relevar, mas não deu.
Eu não estava feliz por estar ouvindo aquilo.
- Passou-se uns dias e eu passei a ter certeza de que eu realmente estava afim dele, foi então que te pedi o tempo. - ele fez uma pausa - E esse tempo me ajudou a confirmar tudo.
Fiquei calado, eu simplesmente não tinha palavras para aquilo tudo.
- Brian, por favor, fale algo.
- Me deixa processar isso tudo!
Fiquei alguns minutos pensando naquilo, eu simplesmente não estava acreditando nisso tudo, ela se aproximou de mim, ela ia tocar no meu ombro, mas eu a desviei.
- Eu simplesmente não acredito... - falei - estou completamente sem palavras.
- Vai, para com isso.
- Não da, me deixe pensar.
Poucos segundos depois o elevador voltou a funcionar, ficamos calados o caminho todo, sem olhar pra cara um do outro, quando finalmente chegou no térreo, Júlia falou:
- Brian...
- Pare - falei - me de um tempo, so isso.
Olhei pro rosto dela, e vi uma lágrima em seus olhos.
- Adeus, Júlia! - e saí do elevador
Eu ouvi o choro dela, isso me fez me sentir mal, mas eu precisava esquecer daquilo. Eu já estava atrasado para a aula, peguei o ônibus já pensando em pegar a segunda aula.
Depois daquele dia a minha relação com Júlia foi de mal a pior.


Brian

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