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Dylan demorou uns 30 minutos pra deixar o jantar pronto,
tanto que eu ficava beliscando um pouco da comida que eu tinha na mochila e
quase cochilava no sofá, quando eu estava perto de pegar no sono, Dylan chamou
pra mesa.
Sentamo-nos silenciosamente e começamos a comer, a galinha
estava muito longe de ter um gosto bom, mas sabor era uma coisa a qual eu tinha
parado de me importar a muito tempo. Ficamos um bom tempo calado até Dylan
finalmente começar a me fazer perguntas.
- Antes de mim você realmente não tinha encontrado com mais
nenhum outro humano?
- Não! – respondi
- Você e seu pai realmente se isolaram, então?
- Sim!
- Quando foi à última vez que você teve algum contato com um
humano?
- Ainda no início da grande epidemia, quando um pequeno
grupo de sobreviventes tentaram roubar eu e meu pai quando a gente voltava pra
casa com suprimentos.
- Qual foi o desfecho disso?
- Meu pai quase passou com o carro por cima deles.
- Conseguiu?
- Só acertou um de raspão.
- Então seu pai nunca confiou em ninguém de fora?
- Exato!
Dylan se calou por alguns segundos, provavelmente pensando
nas próximas perguntas.
- Esse facão e esse pé-de-cabra são as únicas armas que você
possui? – perguntou ele apontando pra eles em cima da mesa de café da sala.
- Sim! – respondi
- Nenhuma arma de fogo?
- Não!
- Você e seu pai não tinham nenhuma?
- Meu pai tinha uma espingarda, mas nunca me deixou
utiliza-la.
- Por quê?
- A razão que ele me deu foi àquela conversa fiada de que
carregar uma arma, principalmente daquele porte, era uma grande
responsabilidade e blá blá blá.
- Entendi.
- Então, você não tem a mínima ideia de como se manuseia uma
arma?
- Se não for simplesmente pegar, apontar e atirar, então,
não.
- E realmente não é só isso, e seu pai tem razão, é uma
grande responsabilidade, não é simplesmente puxar o gatilho, você tem que
pensar bem antes de fazê-lo, ou as consequências serão grandes.
Aquilo continuava sendo uma grande conversa fiada pra mim.
Pouco depois nós dois terminamos o jantar, e então Dylan se
levantou e disse:
- Bom, eu sei que tá cedo, mas vamos dormir agora porque
amanhã iremos acordar de madrugada pra ir à cidade buscar mais suprimentos, e
então vou querer que você mostre-me um pouco do que é capaz.
- Estou sem sono. – eu sempre dormia tarde
- Então arrume um pouco,
porque independente de qualquer coisa você acordará às 5 da manhã.
- E porque eu tenho que lhe obedecer? Eu nem te conheço
direito ainda. – eu nunca suportei receber ordens, até mesmo as do meu pai.
- Porque se você quiser sobreviver, terá que fazer as coisas
da forma que eu lhe digo.
- Eu consegui sobreviver até agora sozinho, por que eu não
conseguiria mais?
Dylan deu um suspiro de impaciência, e disse:
- Está bem então, vamos fazer o seguinte, por essa noite
você dorme aqui, de que horas você vai dormir? Você decide, mas independente de
tudo eu te acordarei às 5 da manhã, e ai
eu deixarei você decidir se você quer seguir seu caminho com o pouco que você
tem e tentar a sorte, ou se você vai querer a minha ajuda, porque sinceramente?
Você foi forte por conseguir sobreviver 1 mês, mas se continuar assim não
sobreviverá ao segundo, você não tem remédios, você não tem nada que faça fogo,
e por mais que você saiba manusear esse facão ir pro corpo-a-corpo com os
zumbis é muito arriscado, você não só precisará de uma arma de fogo mas também
precisa saber como utiliza-la, porque pode parecer fácil mas eu garanto, não é!
– ele me olhava atentamente nos olhos – eu estou disposto a lhe ajudar com tudo
isso, mas se você não quiser tudo bem, te darei toda liberdade de ir embora
amanhã mesmo, não impedirei.
Ele respirou fundo, e continuou:
- Pense bem nisso... – e logo após disse – se você quiser
pode se acomodar no sofá mesmo ou no quarto ao lado da sala, boa noite.
Antes de ele ir pro seu quarto, eu disse:
- Espere... – eu ainda tinha que fazer as minhas perguntas.
- Fale! – disse ele
- Eu te contei minha história, mas você não me contou a sua
ainda.
Ele respirou fundo, e disse:
- Isso será uma coisa que teremos que deixar pra outra
oportunidade... – suspirou ele – claro, se você decidir continuar aqui, boa
noite. – e assim ele foi pro seu quarto.
Naquela noite eu decidi dormir no sofá mesmo, tentei dormir
logo, mas o sono não veio então fiquei simplesmente olhando para o teto
pensando naquilo tudo que Dylan tinha me falado, e fiquei me perguntando se eu
realmente não tinha o suficiente pra sobreviver. Mas uma coisa eu admitia, a
ajuda dele seria muito bem-vinda, ainda me faltava muitos suprimentos, e depois
de mais ou menos 20 minutos pensando nisso eu finalmente peguei no sono.
Na manhã seguinte eu consegui acordar um pouco antes de
Dylan, então no fim isso não foi problema, depois de 10 minutos de eu ter acordado ele se
levantou, ficou até surpreso em ver que eu me acordei antes, tanto que me
perguntou se eu não tinha virado a noite. Então depois de lavar o rosto e tomar
um copo de leite, ele me perguntou:
- Qual é a sua decisão?
Eu ainda pensei um pouco antes de responder, mas falei com
convicção:
- Eu aceito a sua ajuda! – eu queria muito ver o que ele
tinha pra me ensinar.
- Ótimo... – disse ele – então assim que comermos iremos pra
cidade, leve suas armas, mas pode deixar a mochila aqui.
- Tá certo! – respondi
- E eu quero que você me garanta uma coisa...
- O que?
- Que você fará tudo que eu lhe pedir, sem questionamentos,
está certo?
Eu já tinha ouvido essa conversa antes, meu pai me pedia a
mesma coisa.
- Está certo!
- Então, prepare-se desde já e vamos comer.
Peguei minhas armas e me sentei a mesa, comemos o que
ainda restava de galinha rápido e logo em seguida pegamos a estrada pra cidade,
onde eu iria ter as minhas primeiras lições.
(continua)
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